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Mostrando postagens de janeiro, 2020

Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer

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Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer: dirigido por Alfonso Gomez-Rejon É ÓTIMO TROPEÇAR NUM FILME CRIATIVO E SENSÍVEL – Já passou da hora de cancelar a TV por assinatura – sentenciou Ludy, esbanjando convicção. Estávamos apenas começando nossa caminhada matinal, mas já havíamos encontrado um motivo de discussão.        – Vamos dar mais um mês, pelo menos – retruquei, sem a mesma confiança, ainda tentando formar uma opinião sensata. Mas minha mulher insistiu:        – Hoje em dia tá tudo no streaming! Quem é que ainda vê TV?        – Eu, ora!        A minha geração tem um caso sério com a televisão. Fomos criados na frente dela. Por meio dela fomos alfabetizados na linguagem do cinema. Há uma ligação afetiva... uma espécie de cordão umbilical, ligando nossa poltrona ao aparelho de TV. Romper com ele significa nascer para uma outra forma de consumir entretenimento.        – Pra que tanta celeuma? É só a mídia que está se transformando, o conceito de TV continua o mesmo – diriam os d

Viver Duas Vezes: sobram razões emocionais para assistir a esse drama

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Viver Duas Vezes: filme dirigido por Maria Ripoll COMO NÃO SE EMOCIONAR COM UM FILME QUE FALA DE ALLZHEIMER?         Viver Duas Vezes , filme dirigido pela espanhola Maria Ripoll em 2019, tirou do pedestal este cronista dedicado a escrever críticas e resenhas de filmes. Apertei o play disposto a fazer uma análise compenetrada, para depois desfiar minhas impressões num texto objetivo. Pensei que me manteria frio, concentrado nas técnicas cinematográficas e nos recursos narrativos, avaliando as atuações e as linhas de diálogo, a fotografia, a trilha sonora... Se assim tivesse feito, passaria pelo filme sem viver a imensa variedade de emoções que o enredo suscita. Mas não! Acabei me envolvendo emocionalmente. Fiquei cego para o cinema que acontecia diante dos seus olhos!           – Ora, se é para ignorar o cinema, vá ler um romance sobre o tema – diriam com razão os cinéfilos tecnicamente engajados. Tenho que concordar. Então, só me resta emitir uma declaração de impedimento: sim, confe

Coringa: a trilha sonora reforça a mensagem do filme

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Coringa: filme dirigido por Todd Phillips AQUI, A TRILHA SONORA VIROU O GRANDE DESTAQUE A badalação em torno do filme Coringa , dirigido em 2019 por Todd Phillips, capturou minha atenção. Há tempos não me entregava às infantilidades dos filmes de super-heróis, mas a indicação para onze Óscares e a conquista das duas estatuetas  –  melhor ator para Joaquin Phoenix e trilha sonora para Hildur Gudnadottir  –  vieram como uma intimação para conferir a produção. Batman era  meu super-herói favorito desde a tenra infância  e o vilão Coringa já era meu velho conhecido. A promessa de ser apresentado a novas camadas da sua personalidade confusa, ainda não exploradas no cinema, trouxeram uma empolgação adicional. Paguei para ver e saí satisfeito. O filme contém cinema de verdade!         Nesse  Coringa , o que salta aos olhos logo nos primeiros instantes é a fotografia áspera, em tons saturados e muito contrastada, imitando o jogo de luzes e sombras das histórias em quadrinhos – muito embora os

À Beira-Mar: filme sobre um casal em crise

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À Beira-Mar: filme dirigido por Angelina Jolie ANGELINA JOLIE ROUBA A CENA FINAL, LITERALMENTE – Ela pisou no tomate – reclamei, deixando clara minha irritação. Ludy foi bem mais incisiva e preferiu não ficar nas meias palavras:           – Não gostei! Estiloso demais e nada envolvente. Começamos nossa caminhada matinal falando sobre uma promessa de bom entretenimento que não se cumpriu: À Beira-Mar , filme escrito, dirigido e estrelado por Angelina Jolie – que aqui atua ao lado do marido Brad Pitt. De início, achei que assistiria a um filme romântico. Mais adiante, percebi que poderia se tratar uma obra densa e intimista, dedicada a explorar o mundo interno de personagens enigmáticos e carismáticos. Lá pelas tantas, comecei a bocejar.           Eis aqui o caso interessante de um filme construído a partir de elementos sólidos, mas que não consegue ganhar consistência. Tem uma bela ambientação, personagens com conteúdo, uma história envolvente e incontáveis oportunidades de fisg

Dois Papas: realidade dramatizada e ficção plausível

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Dois Papas: filme dirigido por Fernando Meirelles PERSONAGENS MIDIÁTICOS? GENTE DE CARNE E OSSO? NESSE FILME HÁ ESPAÇO PARA TODOS O filme Dois Papas , dirigido em 2019 por Fernando Meirelles, traz uma cena que se tornou, para mim, inesquecível: é quando os dois protagonistas dividem, em pé, numa salinha do Vaticano, uma deliciosa pizza marguerita! Deve ter vindo diretamente de alguma pizzaria no entorno da Praça São Pedro. Veio acondicionada numa caixa quadrada. Certamente foi preparada com massa de fermentação lenta, com aquele molho pomodoro, folhas de basílico fresco...           É claro que estou exagerando! Há muito cinema de qualidade  em Dois Papas . Devo dizer que Fernando Meirelles nos brindou com um filme envolvente, salpicado por cenas que aparentam banalidade, mas que só fizeram ressaltar o quão extraordinários são seus personagens: dois homens à frente do catolicismo, que reinam no centro do mundo, mas se esforçam para comunicar simplicidade. Um prefere Fanta Laranja, ou

Estamos virando ouvintes desatentos

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QUEM NUNCA ERROU A LETRA DE UMA CANÇÃO, OU ARRISCOU UM INGLÊS FAKE? O rapaz esparramado no assento do ônibus, bocejando de sono a caminho da primeira aula, ajeita os fones de ouvido que o conectam ao celular. Os sons que ele escuta nenhum outro ser humano na face da terra compartilha. Outros podem ter escolhido a mesma canção, mas somente ele decidiu iniciá-la naquele dado instante. Não há sincronismo nem simultaneidade. Não há a necessidade de sintonizar transmissões públicas. Não há razão para se submeter à ditadura do gosto coletivo.           Acostumado a ouvir apenas o que gosta, no momento em que bem entende, o rapaz não se dá conta de que desfruta um privilégio. Houve um tempo em que as oportunidades de ouvir uma canção – qualquer canção – eram raras. Antes das técnicas de gravação, só mesmo nas performances ao vivo, executadas na igreja, nas festas, no teatro ou em salas de concerto. Quantas vezes, ao longo da vida, um sujeito conseguia ouvir uma determinada obra musical? Três?

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