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Mostrando postagens com o rótulo Baseado em Literatura

O Exorcista: um clássico que continua assustador

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O Exorcista: filme dirigido por Willian Friedkin EFEITOS ESPECIAIS AJUDAM, MAS O IMPORTANTE É SABER CONTAR A HISTÓRIA Quando foi lançado em 1973, O Exorcista virou fenômeno por toda a mídia. Nas rodas de conversas, era assunto obrigatório. Nunca um filme de terror havia conquistado tanto espaço no imaginário do público, nem na crítica especializada. Para um garoto de 14 anos, interessado em cinema, assistir ao filme seria uma conquista – prova de coragem e oportunidade de se aproximar do mundo adulto. O problema é que ele não era permitido para menores de 18 anos. Naquela época, a censura era dura e implacável!           Mas encontrei a solução: um amigo três anos mais velho me emprestou um exemplar do livro O Exorcista , escrito por William Peter Blatty, também autor do roteiro que foi às telas de cinema. A capa, que não seguia o padrão gráfico dos cartazes do filme – lembro que trazia uma ilustração medieval – era mais artística do que assustadora. Mergulhei na leitura.           Pe

12 Anos de Escravidão: uma história verídica

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12 Anos de Escravidão: filme dirigido por Steve McQueen ELE SOFREU A PIOR DAS INJUSTIÇAS Em 1841, Solomon Northup era um homem exemplar. Casado, pai de três filhos, era instruído e letrado. Apaixonado por música, exercitava sua liberdade e levava uma vida honesta e produtiva, numa Nova Iorque repleta de oportunidades. Por outro lado, também conheceu o lado sombrio da humanidade e viveu horrores inimagináveis. Ele os registrou em  sua autobiografia intitulada  12 Anos de Escravidão , uma narrativa de grande valor literário e relevância histórica publicada em 1853 . O cineasta Steve McQueen e o roteirista John Ridley transportaram sua história para as telas e realizaram um dos mais importantes filmes sobre o drama dos escravos no sul dos Estados Unidos.           12 Anos de Escravidão , de 2013, é um filme arrebatador. Conta como Northup, enganado por dois sujeitos abjetos, acaba sequestrado e levado para Nova Orleans, onde é vendido como escravo. Sem identidade, sem direitos individuais

A Escolha de Sofia: diante de um dilema devastador

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A Escolha de Sofia: filme dirigido por Alan J. Pakula UM CLÁSSICO COM DENSIDADE DRAMÁTICA ESMAGADORA Que mundo emergiu da Segunda Guerra Mundial? Depois que as bombas cessaram, que os soldados se cansaram, que a paz foi instituída por decreto, quem eram as pessoas que tentavam seguir com suas vidas? Willian Styron tentou nos dar uma ideia em seu livro A Escolha de Sofia , lançado em 1979. O diretor Alan J. Pakula adaptou a obra para o cinema e realizou um clássico, que de tão denso e contundente até hoje emociona.           Pelas lentes de Pakula, A Escolha de Sofia é um filme enclausurado, confinado a uma linguagem teatral e solene. E não poderia ser diferente! Conta a história de Stingo, interpretado por Peter MacNicol, que em 1947 chega ao Brooklyn perseguindo o sonho de se tornar escritor. Vai morar numa pensão, onde conhece Sofia Zawistowska, vivida por Meryl Streep e seu namorado Nathan Landau, vivido por Kevin Kline. Ela, uma sobrevivente do holocausto que se esforça para parec

O Último Rei da Escócia: um thriller inspirado na história real

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O Último Rei da Escócia: filme dirigido por Kevin Macdonald FICÇÃO E REALIDADE DESENHANDO O RETRATO VERDADEIRO DE UM DITADOR A história real que inspirou o romance escrito por Giles Foden, no qual este filme foi baseado, diz respeito aos atos de autoritarismo podre e monstruoso que marcaram o governo de Idi Amin Dada, o ditador que imperou absoluto em Uganda por toda a década de 1970. Já o personagem que serve de fio condutor para a narrativa, o médico escocês Nicholas Carrigan, é fictício, mas graças à arte de contar histórias, ganha uma aura de autenticidade que emana grande força dramática.     O filme  O Último Rei da Escócia ,  dirigido em 2006 por Kevin Macdonald não é um filme denúncia sobre as injustiças e mazelas que insistem em se abater sobre o continente africano. Prefere falar sobre os tentáculos do poder e de como eles envolvem gente bem-intencionada, distraindo com benesses e seduzindo com falsas promessas. É o que acontece com o médico interpretado por James McAvoy, um

O Iluminado: um dos melhores filmes de terror já realizados

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O Iluminado: filme dirigido por Stanley Kubrick UMA HISTÓRIA ESCRITA POR STEPHEN KING, BURILADA POR STANLEY KUBRICK E REESCRITA NO IMAGINÁRIO DOS CINÉFILOS – Quando você vai escrever sobre O Iluminado ?           Desde que inventei a Crônica de Cinema, já ouvi essa pergunta inúmeras vezes. Mas a quantidade assustadora de informações disponíveis na internet sobre esse filme sempre me inibiu. Que comentários poderia fazer que os cinéfilos já não soubessem de cor e salteado? O Iluminado , realizado em 1980 por Stanley Kubrick é um dos melhores e mais elaborados filmes de terror de todos os tempos. Sobre ele há documentários, entrevistas, cenas de bastidores, fotografias, curiosidades, fofocas... Há inclusive uma complexa teia de especulações sobre a obsessão do diretor com a simetria do seu filme, expressa nos números ocultos em diversas cenas, como se fossem os easter eggs de um videogame.           Para começar a falar sobre o filme  O Iluminado , preciso deixar claro que Stanley Kubric

À Espera de Um Milagre: mistério, fantasia e... esperança!

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À Espera de Um Milagre: filme de Frank Darabont HÁ SERES HUMANOS VAGANDO PELO CORREDOR DA MORTE! Para nós, brasileiros, o corredor da morte não passa de uma invencionice dos americanos. Por aqui, não temos pena morte. Não temos nem prisão perpétua! Quantos anos cumpre, de verdade, um criminoso hediondo nas prisões brasileiras? Vinte, trinta anos? Matou a própria mãe? Esquartejou o marido? Torturou a namorada?... Se inspirar bom comportamento, ganha progressão da pena – não seria mais lógico chamar de regressão da pena, pois é ela quem vai se apequenando enquanto o criminoso se alivia do castigo?           Para tais perguntas retóricas, já sabemos as respostas: o sistema de justiça no Brasil está mais interessado em demonstrar complacência para com os criminosos. A prioridade não é reparar os danos às vítimas e aos seus familiares, mas recuperar os malfeitores e devolvê-los o quanto antes ao convívio da sociedade – essa sim, o grande monstro que merece arcar com toda a culpa. Porém, com

O Nome da Rosa: a Idade Média em tom de mistério policial

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O Nome da Rosa: direção de Jean-Jacques Annaud PANORAMA SOMBRIO DA IDADE MÉDIA A literatura deixa o leitor viajar nas entrelinhas e se abre para várias interpretações. Esta possibilidade foi trabalhada com prazeroso empenho por Umberto Eco, filósofo da arte que difundiu o conceito de obra aberta e ganhou fama mundial como romancista no início dos anos 80. O Nome da Rosa , seu romance mais famoso, virou filme nas mãos do diretor Jean-Jacques Annaud em 1986 e deu ao ator Sean Cannery uma das melhores oportunidades em sua carreira de exibir o imenso carisma que irradia nas telas.           Acontece que, no cinema, uma história narrada em livro não consegue ser tão... aberta! A sétima arte nos entrega um pacote mais fechado, com imagens, vozes e atmosfera musical arquitetadas em minúcias e precisão. Os realizadores devem impor sua visão e, aquela que nos chega pelo filme O Nome da Rosa , forma um retrato sombrio da idade média na Europa – bem mais soturno que o apresentado no livro. Ainda

Ensaio Sobre a Cegueira: a metáfora da luz branca que está cegando a humanidade

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Ensaio Sobre a Cegueira: filme dirigido por Fernando Meirelles POUCOS FILMES SOBRE O APOCALIPSE MEXEM TANTO COM A NOSSA VISÃO DE MUNDO As palavras de José Saramago impressas em seu livro Ensaio Sobre a Cegueira , de 1995, possuem dimensão gráfica. Podemos sentir o cheiro da tinta apegada ao papel. Podemos perceber o ar se deslocando sobre o nosso rosto, na medida em que desfolhamos as páginas com o polegar. Até um cego, auxiliado por um leitor, pode apreciar o texto e fruir a obra desse aclamado autor, laureado com o Nobel de Literatura em 1998. No filme Ensaio Sobre a Cegueira , realizado em 2008 por Fernando Meirelles, isso fica mais complicado.          Transpor literatura para o cinema é uma arte complexa. O texto do livro nos chega diferente ao ser formatado para a linguagem visual, verbal e musical do filme. Há nuances que os realizadores precisam compreender para solucionar os componentes narrativos, estabelecer a caracterização dos personagens, construir uma ambientação ade

O Quarto de Jack: o amor indestrutível de uma mãe por seu filho

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O Quarto de Jack: filme dirigido por Lenny Abrahamson UMA HISTÓRIA FICTÍCIA, ESCRITA COM IMAGINAÇÃO A escritora irlandesa-canadense Emma Donoghue é autora de best-sellers, premiada internacionalmente e festejada por uma legião de leitores. Talentosa e dona de uma grande capacidade imaginativa, ela produz romances, contos e peças de teatro. E produz também roteiros de filmes! Antes mesmo de publicar seu romance Quarto , de 2010, ela tratou de escrever uma adaptação paras as telas, que se materializou no filme O Quarto de Jack , dirigido por Lenny Abrahamson em 2015. E, de quebra, obteve uma indicação para o Óscar de melhor roteiro adaptado.           Seu romance alcançou um estrondoso sucesso, ao contar uma história fictícia, mas tão perturbadora e envolvente que irradia verossimilhança. O tema é o amor de uma mãe corajosa para com seu filho indefeso, sua capacidade de superação e sua compreensão da maternidade, que a tornam invencível e indestrutível diante das circunstâncias trágicas

Um Homem de Sorte: adaptação competente de um Nobel de Literatura

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Um Homem de Sorte: filme dirigido por Bille August UM DIRETOR COMPETENTE, CRIANDO FORA DOS PADRÕES DE HOLLYWOOD –  Ah, já vi esse filme! É aquele do soldado que encontra a foto de uma garota e quando volta da guerra sai à procura dela...          –  Não, não! Esse tem o mesmo título, mas é um outro homem de sorte. Foi realizado na Dinamarca.          –  E pode isso? Dois filmes com o mesmo nome?         A pergunta de Ludy foi pertinente, mas não encontrei uma resposta apropriada. Apenas dei de ombros. Em poucos minutos estávamos, minha mulher e eu, assistindo ao filme dinamarquês Um Homem de Sorte , com os olhos tão fixos na tela que esquecemos o assunto do título. E ficamos, minha mulher e eu, tão concentrados que sequer vimos passar suas 2 horas e 47 minutos de duração.         Escrito, dirigido e estrelado por gente desconhecida para nós, brasileiros, Um Homem de Sorte impressiona. Primeiro, pelo espetáculo visual que proporciona. Retratando a Dinamarca do final do século XIX, a

Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo

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O Mestre dos Mares: o Lado Mais Distante do Mundo: direção: Peter Weir A ARMA SECRETA DE QUALQUER ESQUADRA Filmes de corsários e piratas, com duelos de espada, homens pendurados nos mastros e outros tantos agarrados a cordas, voando feito pêndulos de estibordo para bombordo, fazem parte do imaginário de qualquer cinéfilo. Talvez estejam fora de moda, mas já foram populares em outras décadas. Depois de queimar todo o estoque de clichês, o gênero deixou de capturar o interesse do público e a indústria partiu para explorar outros nichos. Mas deixou como legado alguns títulos memoráveis – até Roman Polanski se esbaldou rodando Piratas , de 1986! A grande pergunta que sempre me fiz ao assistir a esse tipo de filme era de natureza filosófica: o que leva um bando de marujos confinados numa embarcação precária a desafiar a fúria do mar, lutar contra inimigos ensandecidos e enfrentar a morte certa? A resposta que ainda hoje me ocorre é uma só: liderança!           É disso que se trata Mestre do

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