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Mostrando postagens com o rótulo Comédia Dramática

Adeus, Lenin!: uma comédia sutil, que enaltece os valores familiares

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Adeus, Lenin!: filme de Wolfgang Becker À PROCURA DA FELICIDADE, APESAR DO ESTADO Em 1989, a queda do muro de Berlim foi transmitida ao vivo e em cores para o resto do mundo. Cenas de jovens eufóricos, festejando empoleirados ao som de uma trilha sonora moderna e nervosa, anunciavam o começo de uma nova era de liberdade. Não havia mais espaço para os desmandos autoritários, vícios burocráticos ou interferências do estado policial, sustentado à base de privilégios para os dirigentes. Os cidadãos da RDA comemoravam o direito de ir e vir e faziam questão de mostrar que não queriam mais ser tutelados pela coletividade. Foram noites e dias de uma espécie de carnaval fora de época, deixando implícito a inevitável chegada de uma quarta-feira de cinzas com gosto azedo de ressaca. E ela chegou rápido para os alemães. O processo de reunificação foi complexo e penoso, mas rápido. Em pouco mais de dez anos, já não se encontravam vestígios da vida que se levava intramuros. Assim, quando o cineasta

O Grande Ditador: uma sátira brilhante criada por Charlie Chaplin

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O Grande Ditador: filme de Charlie Chaplin UM BIGODINHO CURTO NA FRONTEIRA ENTRE O BEM E O MAL Quando criança, os filmes de Charlie Chaplin exibidos vez ou outra na TV me faziam sentar diante da telinha. Ficava magnetizado pela estampa do vagabundo de bigodinho curto, chapéu coco e bengala, movimentando-se na velocidade mais acelerada dos filmes mudos. Quando, na aula de história, a professora mostrou uma foto de Hitler, lá estava de novo o tal bigodinho curto. Perguntei se era irmão do Carlitos e ela caiu na risada, mas desconversou. Havia muita semelhança física entre os dois personagens, mas também semelhanças biográficas – nasceram com poucos dias de diferença, em berço pobre e percorreram trajetórias de sucesso ancoradas na capacidade de realização – ainda que em direções opostas da linha entre o bem e o mal. No final dos anos 1930, fascinado por essas semelhanças e seus significados – e incentivado pelo produtor Alexander Korda – Chaplin decidiu realizar o filme O Grande Ditador

Patch Adams - O Amor É Contagioso: uma história real

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Patch Adams - O Amor É Contagioso: dirigido por Tom Shadyac SOBROU COMÉDIA E AÇUCAR, FALTOU O DRAMA Há muitos erros em Patch Adams - O Amor é Contagioso , dirigido em 1998 por Tom Shadyac. Mas há pelo menos dois acertos que ajudaram a conquistar uma legião de fãs para o filme. O primeiro deles foi trazer à tona um tema sensível, que sempre resvalou nossas vidas, ainda que não nos déssemos conta: a impessoalidade com a qual somos tratados pela classe médica. De repente, nos damos conta de que saúde e doença são estados que expressam a nossa individualidade, mas a sociedade teima em enxergá-los como manifestações padronizadas, que só se materializam no coletivo. Os sintomas servem apenas para levar ao diagnóstico. Os tratamentos que funcionam com uns, devem funcionar com a maioria. A cura é um processo que vem ao nosso encontro, de fora para dentro... Enquanto tais conceitos questionáveis saltam aos olhos, o filme nos faz confrontar duas realidades, que se tangenciam: de um lado, a angús

Não Olhe Para Cima: sátira política para os bons entendedores

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Não Olhe Para Cima: dirigido por Adam McKay SOBRAM FARPAS E CRÍTICAS PARA TODOS OS LADOS Pronto, o impacto midiático de Não Olhe Para Cima , filme de 2021 dirigido por Adam McKay, já passou. A onda de sucesso ressoou por vários dias – será que durou duas semanas? Seu estrondo se fez ouvir por todos os sites de entretenimento e feeds das redes sociais. Virou o assunto da hora. Todos tentaram tirar proveito do filme, garantindo audiência para seus comentários, críticas, análises, comparações... Quem tinha algo de inteligente a dizer, já o fez. Quem teve ideia para um meme, já postou. Quem precisava marcar território no campo ideológico, fincou sua bandeira. Agora, sobraram o vento e o silêncio. O sabor de novidade se diluiu no caldo morno da cultura popular e voltamos ao habitual estado de espera pela próxima sensação do momento.           Não Olhe Para Cima foi feito da mesma substância fugitiva que tentamos agarrar todos os dias nas telas dos nossos celulares, mas que insiste em escor

Loucos por Justiça: Mads Mikkelsen não está para brincadeiras

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Loucos Por Justiça: filme de Anders Thomas Jensen SALTANDO DE GÊNERO EM GÊNERO, SEM PERDER A VEROSSIMILHANÇA Close no militar embrutecido pelo estresse pós-traumático, tão calejado de guerra que só consegue enxergar o mundo pela perspectiva da violência. Transformado em máquina de guerra poderosa e incontrolável, sua razão de ser é causar dor nos inimigos incautos que cruzam seu caminho. Suas feições gélidas intimidam. Seu olhar não deixa entrever qualquer emoção. Suas expressões jamais se alteram. É... Não restam dúvidas, estamos diante de um personagem padrão nos filmes de ação hollywoodianos. Mas espere! Esse é um filme dinamarquês! E repare bem: a mente do tal militar não é um recipiente vazio de emoções! Elas fervilham em aflição e angústia. Escapam pelas microexpressões do ator! E que ator é esse? O Mads Mikkelsen, com a cabeça raspada e uma barba imensa! Ah, esse Loucos Por Justiça , filme de 2020 dirigido por Anders Thomas Jensen é mesmo de prender a atenção!           Uma únic

Tempos Modernos: até hoje, o ícone mais palpável da modernidade

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Tempos Modernos: filme de Charlie Chaplin A PANTOMIMA QUE RESISTE AO CINEMA FALADO Não há escapatória! Os profissionais da comunicação que criam para a internet, concebendo anúncios, postagens, vídeos e peças promocionais, precisam lançar mão de um recurso gráfico que se tornou obrigatório: o ícone. Esses signos, pequenas imagens que carregam extraordinário poder de síntese, valem por todas as palavras que não pronunciamos porque estamos sempre apressados. Decidiu qual produto comprar? Então clique no desenho do carrinho de supermercado. Quer mostrar seu apreço pela foto postada por um amigo? Então clique no desenho da mão gesticulando um positivo. Tudo muito intuitivo, rápido e fácil, como nos cabe nesses... tempos modernos!           Por óbvio que os ícones não são invenções dessa geração que agora está no comando. Remontam ao surgimento da própria escrita e são utilizadas desde sempre para representar variados conceitos. Não sei se Charlie Chaplin os tinha em mente quando criou seu

Druk - Mais uma Rodada: um filme... etílico!

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Druk - Mais uma Rodada: filme de Thomas Vinterberg BEBER É ARRISCADO, MAS PODE SER UMA JORNADA DE APRENDIZADO Apenas quatro dias depois de iniciar as filmagens de Druk - Mais uma Rodada , seu filme de 2020, o diretor Thomas Vinterberg recebeu uma ligação que o pôs devastado: tragicamente, sua filha Ida, de 19 anos, perdera a vida num acidente de carro. Ela estava escalada para interpretar a filha de um dos protagonistas e se mostrava empolgada com a produção, que abordaria o universo dos estudantes do ensino médio. Inclusive, várias cenas seriam filmadas na sala de aula que frequentava, com alguns de seus colegas como figurantes. Vinterberg, certo de que seria desejo da filha ver o filme concluído, encontrou forças para seguir em frente. Realizou um filme denso, complexo e tocante.           Começar a escrever sobre um filme partindo de circunstâncias trágicas, que não têm relação direta com seu enredo, pode ser arriscado. Pode criar um gatilho emocional que termine por contaminar a op

Feitiço do Tempo: um personagem na trilha do autoconhecimento

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Feitiço do Tempo: filme dirigido por Harold Ramis CADA UM APRENDE NO SEU TEMPO, MAS PHIL CONNORS TEVE TODO O TEMPO DO MUNDO No cinema, quem é o dono de uma história, afinal? O seu autor? O roteirista que a estruturou num discurso palatável para as audiências? O diretor que a concebeu visualmente, a envolveu na atmosfera adequada e lhe deu um ritmo apropriado? O detentor dos seus direitos de exibição? Há um sem número de pendengas jurídicas tribunais afora, na tentativa de encontrar respostas. Há também muitos descontentes que se consideram plagiados. O filme  Feitiço do Tempo , comédia dramática de 1993 dirigida por Harold Ramis, não escapou dessa polêmica. Mas para tocar nesse assunto, é preciso partir da sua sinopse.           O filme conta a história de Phil Connors (Bill Murray), um repórter do tempo presunçoso e arrogante. Alcançou o status de subcelebridade e já não se contenta com o pedestal onde subiu. Quer alcançar um mais alto. Antes, porém, terá que roer os ossos do ofício e

Django Livre: era escravo, mas virou pistoleiro implacável

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Django Livre: filme dirigido por Quentin Tarantino TARANTINO VAI DIRETO NA ESSÊNCIA DO WESTERN: A LIBERDADE! Digamos que você esteja escrevendo um roteiro e precisa tomar uma série de decisões envolvendo o protagonista. As escolhas e ações por ele empreendidas determinarão o desenrolar da trama. Porém, para transmitir credibilidade, você precisará alcançar a verdade interior do personagem. Precisará responder a uma pergunta essencial: qual é a sua principal motivação? O que de fato o move em sua jornada ao longo da história? Personagens complexos se alimentam de um composto de motivações. Personagens rasos, precisam de apenas uma obsessão e fazem o tipo mais comum entre aqueles que povoam os filmes de ação.           Pensando comercialmente, talvez você prefira definir a motivação mais óbvia e fácil de ser aceita e compreendida pelo grande público: a vingança! Qualquer criança sabe se colocar no lugar de quem anseia por desforra, principalmente se ela serve como reparação de uma injust

O Último Grande Herói: sátira inteligente dos filmes de ação, com toques de metalinguagem

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O Último Grande Herói: filme de John McTiernan UM COMPLETO E INESPERADO EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM Minhas postagens na Crônica de Cinema são sempre aleatórias, resultado do meu humor e estado de espírito. É assim que garanto o caráter autoral do blog. Mas, de vez em quando, na hora de escolher um filme para comentar, esbarro numa boa sugestão dos amigos. Dessa vez, quando li o comentário da Jane Chiesse Zandonadi sobre o filme O Último Grande Herói , pensei: – Boa ideia! Eis aqui um filme que pode render uma boa conversa com os cinéfilos!           Para quem ainda não associou o nome à figura, o filme em questão é aquela comédia de ação de 1993 estrelada por Arnold Schwarzenegger e dirigida por John McTiernan, sobre o garoto que, de repente, se vê transportado para a realidade paralela dos filmes de ação. Tornou-se um estrondoso fracasso de bilheteria, causado por uma série de decisões equivocadas tomadas pelos marqueteiros do estúdio – foi lançado praticamente junto com Jurassic Park

Amarcord: as lembranças de Fellini e seus significados

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Amarcord: filme dirigido por Federico Fellini HUMOR, LIRISMO, NOSTALGIA E UMA ATMOSFERA ONÍRICA Só consegui assistir ao filme Amarcord , realizado em 1973 por Federico Fellini, no começo dos anos 1980. Foi pela televisão. Na época, apesar de já ser apresentado como um grande clássico, com relevância na história da sétima arte, o título ainda evocava um certo clima de safadeza, dada a sua temática sexual – eram tempos bem mais puritanos!           Amarcord é uma comédia dramática costurada a partir de um amontado de cenas e esquetes, que não estão presos a uma linha de tempo ou a uma trama estruturada. Não há uma história a ser seguida. Tudo o que temos são situações que lampejam como recordações da infância e da adolescência de Fellini, vividas em Rimini, sua cidade natal. Amor, sexualidade, vida familiar, religião, política, educação, cinema, causos... Tudo é contado com doses generosas de humor, lirismo, nostalgia e emoções verdadeiras.           O significado do título desperta c

A Vida é Bela: um humorista colhido pelo holocausto

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Direção: Roberto Benigni UM COMEDIANTE VIVENDO OS HORRORES DO HOLOCAUSTO Para uns, belo e poético, para outros, esquizofrênico e desrespeitoso. O fato é que o filme  A Vida é Bela , comédia dramática de 1997 dirigida por Roberto Benigni, brincou com um assunto sério e navegou num mar de polêmicas, mas terminou atracando nas docas do sucesso. Venceu o Grand Prix do Festival de Cannes em 1998 e faturou três Óscares: melhor filme estrangeiro, melhor ator e melhor trilha sonora – composta por Nicola Piovani. Escrito pelo próprio Benigni em parceria com o roteirista Vincenzo Cerami, o filme ainda suscita discussões acaloradas entre os cinéfilos.          O filme  A Vida é Bela se passa durante a Segunda Guerra Mundial, na cidade de Arezzo na região da Toscana. Guido Orefice, interpretado pelo próprio Benigni, é um judeu destrambelhado, que tenta ganhar a vida como garçom, mas sonha em abrir uma livraria. Conhece Dora, interpretada por Nicoletta Braschi – mulher de Benigni – com quem vive u

A Morte de Stalin: uma sátira sobre a disputa pelo poder

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A Morte de Stalin: filme dirigido por Armando Iannucci UMA COMÉDIA QUE EXALA HUMOR REFINADO E ELEGANTE Quando examinei a capa no serviço de streaming, fiquei em dúvida: que tipo de filme é esse? Um drama histórico? Uma cinebiografia? Precisei consultar o buscador na internet para entender que se trata de uma comédia, o que aumentou ainda mais minha relutância – sou exigente em relação às comédias e não é qualquer rompante de humor escrachado que me agrada. Porém, uma rápida olhada na ficha técnica do filme me convenceu de que A Morte de Stalin , realizado em 2017 por Armando Iannucci, merecia uma chance.           Em primeiro lugar, o diretor tem ótimas credenciais: o escocês tornou-se um expoente da comédia política entre o público americano, por meio da série Veep , que escreveu, produziu e dirigiu para a HBO. Em segundo lugar, o elenco reúne nomes de peso entre os americanos e britânicos. Foi o suficiente para deduzir que o filme poderia trazer boas doses de humor refina

Cães de Aluguel: o que há de novidade nesse Tarantino?

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Cães de Aluguel: filme dirigido por Quentin Tarantino O ESTILO TARANTINO DE FAZER CINEMA De quais substâncias é feita uma novidade? Originalidade? Ineditismo? Singularidade? Quando Quentin Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel , em 1992, seu filme exalava novidade. Era diferente de qualquer outro já feito. Contava uma história brutal, mas o fazia com pitadas de humor, insinuando algo de improvisado e realizado com certo desleixo. Era uma obra que parecia não se levar a sério. Lembrava mais um mero fragmento do verdadeiro drama policial que tentava narrar.           Cães de Aluguel é um filme sobre um assalto bem-sucedido, realizado por um bando de homens que não se conhecem. Mas a ação, que nas mãos de um diretor convencional seria tratada como a cereja do bolo, foi solenemente ignorada por Tarantino. Ele prefere contar os fatos que acontecem após o assalto, quando se encontram em um galpão abandonado para dividir os diamantes roubados.           Mas onde, exatamente, está

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