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Mostrando postagens com o rótulo Policial

Mad Max 1: aqui, a matéria-prima é a insanidade

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Mad Max: filme dirigido por George Miller O PONTO MÁXIMO DA LOUCURA PÓS-APOCALIPTICA No final dos anos 1970, costumava ir depois da aula até os sebos no centro da cidade, para vasculhar as estantes à procura de livros baratos e histórias em quadrinhos. Era frequente encontrar exemplares em inglês da revista Heavy Metal e em francês da Metal Hurlant , os quais colecionava. O universo gráfico que vislumbrava no folhear de cada página era feito de pura modernidade; não havia estética mais ousada e imaginativa chegando por meio da mídia convencional. Até que me deparei com o filme Mad Max , realizado em 1979 por George Miller.           Na tela, reconheci imediatamente o visual pós-apocalíptico e a abordagem distópica dos quadrinhos que tanto apreciava. O filme  Mad Max veio como um sopro de novidade, impondo um tratamento diferente para os elementos de ação e perseguição, comuns nos filmes do gênero. As doses de violência eram mais intensas, as velocida...

Cães de Aluguel: o que há de novidade nesse Tarantino?

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Cães de Aluguel: filme dirigido por Quentin Tarantino O ESTILO TARANTINO DE FAZER CINEMA De quais substâncias é feita uma novidade? Originalidade? Ineditismo? Singularidade? Quando Quentin Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel , em 1992, seu filme exalava novidade; era diferente de qualquer outro já feito. Contava uma história brutal, mas o fazia com pitadas de humor, insinuando algo de improvisado e realizado com certo desleixo. Era uma obra que parecia não se levar a sério; lembrava mais um mero fragmento do verdadeiro drama policial que tentava narrar.           Cães de Aluguel é um filme sobre um assalto bem-sucedido, realizado por um bando de homens que não se conhecem. Acontece que a ação, que nas mãos de um diretor convencional seria tratada como a cereja do bolo, foi solenemente ignorada por Tarantino. Ele prefere contar os fatos que acontecem após o assalto, quando os personagens se encontram em um galpão abandonado para dividir os dia...

Crime Sem Saída: filme policial com Chadwick Boseman

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Crime Sem Saída: filme dirigido por Brian Kirk UM POLICIAL INFALÍVEL, AGINDO DO LADO CERTO Tem certos dias em que tudo o que preciso é relaxar; esfriar a cabeça depois de atender os meus clientes, com os textos publicitários que invariavelmente demandam urgência e atenção. Estatelado no sofá, é quando o cinema de entretenimento se torna a melhor pedida; nada de tramas intrincadas, abordagens psicológicas, referências literárias, criações artísticas que exigem bagagem cultural... Um filminho leve, despretensioso e escapista é um santo remédio!           Quando compartilho a televisão com Ludy, a escolha relaxante recairá sobre uma comédia romântica, uma aventura ou mesmo um drama leve; minha mulher não suporta filmes violentos. Se estou sozinho, prtefiro um filme de ação, com tiros, perseguições, lutas... O problema é encontrar um filme de ação leve, despretensioso e escapista que seja bom. No último final de semana tive sorte!      ...

A Mula: a idade não põe limites em Clint Eastwood

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A Mula: filme dirigido por Clint Eastwood ATOR, DIRETOR E PERSONAGEM SE FUNDEM NUM ÍCONE DO CINEMA Um escritor em pleno ato da criação, enquanto lida com as palavras, pode incorporar qualquer personagem e assumir sua voz. Oculto do leitor, pode se passar por um homem, uma mulher, uma criança, um jovem ou alguém da terceira idade; se for um contador de histórias experiente e talentoso, pode f alar no lugar de qualquer um e ainda assim passar credibilidade.  Um ator de cinema, por outro lado, está exposto por inteiro para o espectador;  por melhores que sejam os seus recursos dramáticos,  não consegue esconder a sua estampa. Se quiser transmitir credibilidade, precisa encontrar um personagem que lhe sirva, em uma história apropriada. Já um artista experiente e talentoso como Clint Eastwood é capaz de transformar essa limitação em  uma vantagem! Foi o que fez em  A Mula , filme que dirigiu e estrelou em 2018.          O diretor filmou um ro...

Operação França: linguagem inovadora e Gene Hackman na linha de frente

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Operação França: filme dirigido por Willian Friedkin O FILME QUE DITOU UM PADRÃO ESTÉTICO PARA O GÊNERO Sim... Operação França já foi um filme moderno, intenso, ousado e arrebatador. Isso foi há mais de 50 anos; em 1971, quando William Friedkin o realizou, causou comoção nos cinemas. Era um filme para adultos, que escancarava o submundo do tráfico de drogas em Nova Iorque – uma cidade que, vejam só, se mostrava suja, com bolsões de pobreza, barulhenta... Os protagonistas eram policiais, mas ficavam a dever em refinamento; desgrenhados, vulgares e moralmente questionáveis, não se furtavam ao uso da brutalidade e da violência. Os bandidos, bem... esses eram refinados, elegantes, sutis, discretos...           Câmera instável, cores não saturadas, cortes secos, locações realistas... Aos olhos do espectador atual, nenhuma novidade; há meio século, uma linguagem inovadora, que fez escola e influenciou os thrillers policiais. Podemos encontrar em Operação França ...

Os Intocáveis: mais que thriller, um drama envolvente

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Os Intocáveis: filme dirigido por Brian de Palma UMA HISTÓRIA EMBLEMÁTICA SOBRE A CHICADO DOS ANOS 1930 De tempos em tempos me pego assistindo ao filme Os Intocáveis , aquele realizado em 1987 por Brian de Palma. Lembro de todas as cenas em seus mínimos detalhes e até sei algumas falas de cor; ainda assim, é um deleite mergulhar por duas horas no atraente universo visual criado pelo diretor. Quando vi o filme pela primeira vez – foi no cinema –, fiquei empolgado; Eliot Ness e seus intocáveis ganharam na telona uma nova dimensão, bem mais heroica do que aquela guardada nas minhas memórias de criança.           Quando era pequeno, havia uma série de TV intitulada Os Intocáveis , realizada num mofado preto-e-branco e exibida com uma dublagem que já me soava antiquada. Lembro de não ter permissão para assistir àqueles episódios tão violentos e com temática voltada para adultos. Intrigado com o título, perguntei a um tio qual era o significado:    ...

Noite Sem Fim: filme de ação com Liam Neeson

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Noite Sem fim: filme dirigido por Jaume Collet-Serra UM THRILLER BEM DIRIGIDO, BEM FOTOGRAFADO E MUITO BEM INTERPRETADO Desconhecido , Sem Escalas , O Passageiro ... Esses são títulos de filmes de ação que trazem pelo menos dois pontos em comum com Noite Sem Fim : a presença de Liam Neeson no papel do protagonista e o comando de Jaume Collet-Serra na direção, responsável por criar uma atmosfera envolvente de tensão e suspense. A fórmula que empregaram se mostrou comercialmente poderosa e aqui chega ao seu estado da arte.           O thriller Noite Sem Fim , realizado em 2015, traz doses mais opulentas de violência e trata do universo das várias máfias que se estabeleceram em Nova Iorque; dessa vez as famílias retratadas são irlandesas, de fé católica. Há muita fúria, alguns estereótipos e exageros típicos do gênero, mas encontramos personagens mais densos e elaborados – é claro, guardadas todas as proporções com os grandes dramas sobre a máfia já realizamos...

Mississípi em Chamas: caçada real aos racistas corruptos

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Mississípi em Chamas: filme dirigido por Alan Parker DOIS ÓTIMOS PERSONAGENS, EM UM DRAMA CONTUNDENTE E ATUAL Naquele “verão da liberdade” de 1964, a temperatura segregacionista subiu no sul dos Estados Unidos. Homens de preto, de terno e gravata sob o calor escaldante, estão atolados até a cintura no rio pantanoso; procuram pistas de três ativistas dos direitos civis desaparecidos  –  desconfiam que foi obra da Klu Klux Klan. O espectador, no entanto, não tem dúvidas de que foram mortos; até mesmo sabe quem os matou, porque a magistral cena de abertura do filme Mississípi em Chamas , dirigido em 1988 por Alan Parker, deixa claro que a polícia local, infectada por racistas monstruosos e intolerantes, chafurda em podridão.           É esse embate entre os agentes do FBI e os corruptos do estado do Mississípi que vamos acompanhar ao longo de todo o filme. De antemão, percebemos que não será uma luta fácil. Os cínicos racistas são agarrados a...

A Testemunha: filme de 1985 continua emocionante

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A Testemunha: filme dirigido por Peter Weir DNA DE FAROESTE E UM ARSENAL DE CENAS MEMORÁVEIS Ao entrar no cinema para assistir ao filme A Testemunha , dirigido em 1985 por Peter Weir, trouxe comigo a vontade de consumir entretenimento de qualidade; a estampa do astro Harrison Ford, moldada em ótimos filmes como Blade Runner e Os Caçadores da Arca Perdida , era todo o aval que precisava. Entretanto, logo nos primeiros minutos de projeção, percebi que trouxe também uma outra companhia: minha total ignorância sobre a existência, nos Estados Unidos, de uma comunidade religiosa exótica, conhecida como os Amish da Velha Ordem, que vive estagnada no século XIX, amarrada em tradições e preceitos rigorosos.           A trama do filme gira em torno de um policial – um gentio, agarrado ao paganismo – que se vê obrigado ao convívio dessas pessoas tão excêntricas, enquanto foge de perigos que só existem no mundo dos gentios, agarrados ao paganismo! É esse choque cultur...

O Silêncio dos Inocentes: um psiquiatra culto, refinado, sedutor e... canibal

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O Silêncio dos Inocentes: filme dirigido por Jonathan Demme UM DOS FILMES MAIS EMBLEMÁTICOS DOS ANOS 1990 Nos grandes filmes, as forças narrativas devem estar equilibradas: metade áudio, metade visual – ainda que as doses exatas possam variar conforme o talento do cineasta! Esse sim, é quem precisa ter refinamento artístico e domínio da expressão gráfica, para capturar os planos certos, posicionar a câmera na distância necessária e lidar com a luz  – ou a ausência dela; porém, se ele descuidar do universo sonoro, jamais conseguirá criar a atmosfera adequada para conduzir as emoções do espectador. Em Hollywood, um dos diretores que reunia qualificações nas duas áreas era Jonathan Demme – além de comédias dramáticas ele filmou vários espetáculos musicais. Seu filme de 1991, O Silêncio dos Inocentes , tornou-se um dos mais emblemáticos daquela década.           Quando se fala em O Silêncio dos Inocentes , o primeiro nome que vem à mente é Hannib...

Se7en - Os Sete Crimes Capitais: um filme forte com final surpreendente

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Seven- Os Sete Crimes Capitais: filme de David Fincher UM THRILLER ONDE AS VÍTIMAS SÃO PECADORES E OS POLICIAIS, ATORMENTADOS Quando um velho à beira da aposentadoria reclama da decadência moral que se abateu sobre a sociedade, os mais jovens tendem a pensar que se trata apenas disso mesmo: da velhice que se abraça com a rabugice, para implicar com os novos comportamentos moldados pela modernidade. O erro dos velhos que acusam a pouca-vergonha é a generalização – a decadência moral é real, mas acontece desde sempre, restrita a certos nichos. O erro dos jovens que se defendem é o desdém – abrem mão de certas regras de conduta para tolerar um novo comportamento, só porque ele é... novo.           Agora, quando um jovem reclama da decadência moral, é algo mais grave; é sinal de que o problema ultrapassa os limites do aceitável. O jovem a quem me refiro é Andrew Kevin Walker, o roteirista que escreveu Se7en: Os Sete Crimes Capitais , filme de 1995 dirigido por ...

Caçadores de Emoção: esportes radicais e ação policial

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Caçadores de Emoção: filme dirigido por Kathryn Bigelow AÇÃO RADICAL A SERVIÇO DE UM CINEMA ENTUSIASMADO O que é, afinal, um filme de ação? Aquele repleto de lutas, tiros e perseguições em ritmo frenético, que envolvem dublês, efeitos especiais e soluções tecnológicas? Anualmente são lançadas dezenas de produções recheadas com tais ingredientes – sejamos sinceros, a maioria é esquecível! Entre os que se salvam, encontramos filmes que priorizam histórias e personagens de gêneros específicos: dramas de guerra, ficção científica, policial, aventura, mistério... A ação pela ação costuma resultar em filmes infantilizados, mas quando é posta a serviço da narrativa, como resultado das escolhas de personagens verossímeis, é um atrativo poderoso. É o que vemos no filme  Caçadores de Emoção , de 1991, dirigido por Kathryn Bigelow.           Este filme se tornou um clássico do gênero e ainda hoje fisga admiradores e cinéfilos à caça de bons thrillers. Tem Keanu R...

O Segredo dos Seus Olhos: estrelado por Ricardo Darin

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O Segredo dos Seus Olhos: filme de Juan Jiosé Campanella SEGREDOS BEM GUARDADOS ATIÇAM NOSSA CURIOSIDADE Um crime sem solução, um inquérito sem conclusão e motivos de sobra para querer ver a justiça ser feita. Dito assim, fica fácil rotular O Segredo Dos Seus Olhos , dirigido em 2010 por Juan José Campanella e estrelado por Ricardo Darín, como um filme de mistério policial. A verdade é que essa produção argentina, vencedora do Óscar de melhor filme estrangeiro em 2010, vai muito além; nos conta uma história envolvente, salpicada de momentos de tensão, pitadas de humor e uma certa atmosfera romântica.           Lembro de ter festejado muito esse Óscar. Primeiro, por se tratar de um filme argentino – tratei de puxar a brasa para o nosso cantinho sul-americano. Depois, porque para além dos bairrismos, deliciei-me com uma história muito bem roteirizada, dirigida, interpretada e produzida. É cinema de... encher os olhos. Porém, não se engane; tudo o que o cinéfi...

O Nome da Rosa: a Idade Média em tom de mistério policial

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O Nome da Rosa: direção de Jean-Jacques Annaud PANORAMA SOMBRIO DA IDADE MÉDIA A literatura deixa o leitor viajar nas entrelinhas e se abre para várias interpretações. Esta possibilidade foi trabalhada com prazeroso empenho por Umberto Eco, filósofo da arte que difundiu o conceito de obra aberta e ganhou fama mundial como romancista no início dos anos 80. Seu livro intitulado O Nome da Rosa vendeu mais de 4 milhões de exemplares e se tornou leitura obrigatória para todos os que tentavam formar uma opinião sobre estética, semiótica e outras subtramas da comunicação pregadas pelos pós-modernistas – como era o caso deste então jovem que frequentava a faculdade de publicidade e ainda colecionava muitas dúvidas.           Quando O Nome da Rosa virou filme em 1986, pelas mãos do diretor Jean-Jacques Annaud, muitos correram ao cinema esperando encontrar a mesma densidade intelectual que haviam respirado nas páginas do livro. Acontece que, no cinema, nenhuma hist...

Pulp Fiction: roteiro agarrado aos diálogos

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Pulp Fiction: filme dirigido por Quentin Tarantino O MUNDO DO CRIME, COM UM REALISMO QUE SÓ EXISTE NO CINEMA O ano de 1995 foi pródigo para o cinema; basta lembrar que entre os concorrentes ao Óscar de melhor filme estavam Forrest Gump , Um Sonho de Liberdade e Pulp Fiction . Até hoje os torcedores colecionam motivos de sobra para enaltecer suas preferências. Não tenho intenção de atravessar esse fogo triplamente cruzado; tudo o que pretendo é chamar a atenção para o texto que recebeu a estatueta de melhor roteiro original, assinado por Quentin Tarantino e Roger Avary.          No começo dos anos 90 a dupla trabalhava numa locadora de vídeos em Los Angeles. Tarantino parecia estar no lugar certo: cercado de filmes por todos os lados, os quais devorava com gana. Pouco tempo depois, o diretor estava à frente de um marco no cinema americano;  Pulp Fiction se tornou o filme independente com maior bilheteria na época e influenciou várias produções e cineast...

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