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No Escuro da Floresta: Vai muito além do apocalipse!

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No Escuro da Floresta: filme dirigido por Patricia Rozema O APOCALIPSE SE TORNA INTIMISTA AO GANHAR UM TOQUE FEMININO – Não dá pra se guiar pela sinopse. Esse filme é muito melhor do que dizem – reclamou Ludy, apertando o passo para ultrapassar o casal de idosos à nossa frente. Enquanto a seguia pela pista movimentada do parque, retruquei:         – Ah, mas pense que é difícil resumir um filme inteiro em pouquíssimas palavras. Ainda mais um tão denso!         – Não tem desculpa! Quem escreve essas sinopses só pode ser um estagiário!         Minha mulher estava indignada. Por pouco deixamos de assistir ao filme  No Escuro da Floresta , escrito e dirigido em 2016 pela canadense Patricia Rozema. Classificado no serviço de streaming como drama e descrito rapidamente como um filme pós-apocalíptico, não causou empolgação quando nos deparamos com ele na lista de sugestões. O que me motivou mesmo foi a capa do filme, ilustrada com a foto de Ellen Page e Evan Rachel Wood, duas atrizes conhecid

Transformers - O Filme: o primeiro da franquia

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Transformers: filme dirigido por Michael Bay OS FILMES DE AÇÃO ESTÃO NOS DEIXANDO DISTRAÍDOS Alice tem 4 anos. É o xodó da família e foi o centro das atenções em nosso último encontro festivo. Filha de nossa afilhada, desperta em Ludy, minha mulher, o ímpeto de tia-avó coruja. Quanto a mim, me divirto com suas tiradas engraçadas, que misturam ingenuidade com a lógica peculiar das crianças muito pequenas e adoráveis. A mais recente travessura que Alice aprontou foi na praia, enquanto fazia um castelo de areia com um amiguinho. Proibidos de se aproximar do mar, em dado momento decidiram inundar o fosso do castelo, mas precisavam de água. Como obtê-la? Ela foi logo traçando um plano:         – Vou distrair meu pai. Enquanto isso, você vai no mar e enche o balde de água. – Alice só se esqueceu de sussurrar no ouvido do amiguinho. Ingenuamente, tramou a conspiração em voz alta, bem ao lado do pai, que estava de vigia. Depois de tudo combinado, Alice virou-se para o pai, arregalou os olhos e

Ferrugem: é sobre as nossas dificuldades de comunicação!

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Ferrugem: filme dirigido por Aly Muritiba É SOBRE JOVENS E PARA JOVENS, MAS CONVERSA COM OUTRAS GERAÇÕES Ludy e eu tínhamos um forte motivo para assistir ao filme Ferrugem , dirigido em 2018 por Aly Muritiba. Nada a ver com o fato de ter sido rodado em Curitiba – cidade onde vivemos – nem com as críticas favoráveis que circulavam na mídia. Naquela fria noite de quarta-feira, fomos a um cinema de shopping por um único motivo: prestigiar nosso sobrinho, que participara da produção como assistente de direção.         Sim, leitor, pode me acusar de nepotismo! Mas, se entrei naquela sala de cinema pelo motivo errado, quando me levantei da poltrona, ao final da projeção, estava redimido.  Ferrugem é um ótimo filme e festejei a oportunidade de tê-lo visto na telona, em sua plenitude. Tem roteiro bem costurado – assinado pelo próprio Aly Muritiba e por Jessica Candal. Traz ótimas interpretações, segue num ritmo envolvente e tem uma direção segura. O filme aborda um tema relevante e univers

Oscar 2020

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OSCAR: MUITA GENTE QUESTIONA, MAS TODO MUNDO ACOMPANHA  Oscar 2020: boa safra de filmes             Acordei muito cedo e me levantei atordoado de sono. Mesmo assim fui arrastado a contragosto para a caminhada matinal pelas ruas do bairro. Ludy não teve pena:             – Quem mandou ficar até tarde vendo a entrega do Oscar?             – O pior é que não consegui ir até o fim... Fiquei com sono. Capotei no sofá!             Minha mulher balançou a cabeça e sorriu. Não viu nisso nada de novo.             Há muito deixei de acompanhar a festa do Oscar, mas neste ano a curiosidade foi maior que o meu desprezo pelo desfile das celebridades. Na disputa havia um filme sul-coreano feito com uma mistura de vários gêneros, um filme de guerra encenado como uma ópera num palco gigantesco e em tempo real, um filme de super-heróis onde só o vilão aparece, um filme onde Hitler e o nazismo são abordados em tom de comédia, um filme dirigido por um brasileiro falando sobre um Papa argentino... A safra

Fernando Meirelles no Roda Viva

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Fernando Meirelles no Programa Roda Viva em 3/02/2020 A AVENTURA DE FILMAR DOIS PAPAS Tinha 18 anos e estagiava numa pequena agência de propaganda. Tudo era novidade! Queria ser ilustrador e certo dia tive a oportunidade de acompanhar o Diretor de Arte na criação de um cartaz usando aerógrafo. Empolgado, puxei meu banquinho para a prancheta dele e o enchi de perguntas.           – Ah! Nem vem... Não sou professor e não sei ensinar – avisou ele, mostrando sua impaciência com fedelhos curiosos.           – Mas eu sei aprender! Vai fazendo aí, que eu observo – Minha resposta soou um tanto insolente, mas veio ligeira e desconcertou o Diretor de Arte. Ele acabou tendo que trabalhar a tarde toda comigo em seus calcanhares.           Os anos se passaram e continuei acreditando que poderia aprender qualquer coisa neste mundo. Bastaria ter vontade e oportunidade. Quando a internet chegou, as oportunidades explodiram e eu aproveitei. Artigos, vídeos, tutoriais, dicas... Vasculhei sobre todos os

Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer

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Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer: dirigido por Alfonso Gomez-Rejon É ÓTIMO TROPEÇAR NUM FILME CRIATIVO E SENSÍVEL – Já passou da hora de cancelar a TV por assinatura – sentenciou Ludy, esbanjando convicção. Estávamos apenas começando nossa caminhada matinal, mas já havíamos encontrado um motivo de discussão.        – Vamos dar mais um mês, pelo menos – retruquei, sem a mesma confiança, ainda tentando formar uma opinião sensata. Mas minha mulher insistiu:        – Hoje em dia tá tudo no streaming! Quem é que ainda vê TV?        – Eu, ora!        A minha geração tem um caso sério com a televisão. Fomos criados na frente dela. Por meio dela fomos alfabetizados na linguagem do cinema. Há uma ligação afetiva... uma espécie de cordão umbilical, ligando nossa poltrona ao aparelho de TV. Romper com ele significa nascer para uma outra forma de consumir entretenimento.        – Pra que tanta celeuma? É só a mídia que está se transformando, o conceito de TV continua o mesmo – diriam os d

Viver Duas Vezes: sobram razões emocionais para assistir a esse drama

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Viver Duas Vezes: filme dirigido por Maria Ripoll COMO NÃO SE EMOCIONAR COM UM FILME QUE FALA DE ALLZHEIMER?         Viver Duas Vezes , filme dirigido pela espanhola Maria Ripoll em 2019, tirou do pedestal este cronista dedicado a escrever críticas e resenhas de filmes. Apertei o play disposto a fazer uma análise compenetrada, para depois desfiar minhas impressões num texto objetivo. Pensei que me manteria frio, concentrado nas técnicas cinematográficas e nos recursos narrativos, avaliando as atuações e as linhas de diálogo, a fotografia, a trilha sonora... Se assim tivesse feito, passaria pelo filme sem viver a imensa variedade de emoções que o enredo suscita. Mas não! Acabei me envolvendo emocionalmente. Fiquei cego para o cinema que acontecia diante dos seus olhos!           – Ora, se é para ignorar o cinema, vá ler um romance sobre o tema – diriam com razão os cinéfilos tecnicamente engajados. Tenho que concordar. Então, só me resta emitir uma declaração de impedimento: sim, confe

Coringa: a trilha sonora reforça a mensagem do filme

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Coringa: filme dirigido por Todd Phillips AQUI, A TRILHA SONORA VIROU O GRANDE DESTAQUE A badalação em torno do filme Coringa , dirigido em 2019 por Todd Phillips, capturou minha atenção. Há tempos não me entregava às infantilidades dos filmes de super-heróis, mas a indicação para onze Óscares e a conquista das duas estatuetas  –  melhor ator para Joaquin Phoenix e trilha sonora para Hildur Gudnadottir  –  vieram como uma intimação para conferir a produção. Batman era  meu super-herói favorito desde a tenra infância  e o vilão Coringa já era meu velho conhecido. A promessa de ser apresentado a novas camadas da sua personalidade confusa, ainda não exploradas no cinema, trouxeram uma empolgação adicional. Paguei para ver e saí satisfeito. O filme contém cinema de verdade!         Nesse  Coringa , o que salta aos olhos logo nos primeiros instantes é a fotografia áspera, em tons saturados e muito contrastada, imitando o jogo de luzes e sombras das histórias em quadrinhos – muito embora os

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