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Jojo Rabbit: drama temperado com doses de humor

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Jojo Rabbit: filme dirigido por Taika Waititi O DESCABIDO AMIGO IMAGINÁRIO DÁ PERSONALIDADE AO FILME Outro dia, Ludy e eu decidimos assistir ao filme Jojo Rabbit , dirigido em 2019 por Taika Waititi. Minha mulher não tinha opinião formada – não fora contaminada pelo falatório em torno desse vencedor do Óscar de melhor roteiro original. Quanto a mim, bombardeado pelos palpites dos cinéfilos nas redes sociais, acreditava que assistiria a uma comédia animada, engajada nas causas antinacionalistas e feita para destilar ironia ácida sobre o nazismo atroz e ultramilitarizante, que robotizou a juventude alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Estava enganado. Descobri que o filme não é propriamente uma comédia, mas um drama sensível e criativo, bem temperado com doses generosas de humor. A história que ele nos conta é consistente, focada em personagens cativantes.         Depois do filme me perguntei:         – Mas por que raios continuo me empanturrando nesse banquete de críticas e resenhas

O Oficial e o Espião: o caso real de Dreyfus narrado como um thriller

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O Oficial e o Espião: filme dirigido por Roman Polanski ROMAN POLANSKI NOS LEMBRA COMO SE FAZ CINEMA DE VERDADE Acomodados no sofá, controle remoto nas mãos, Ludy e eu vasculhamos o serviço de streaming à cata de algo que valha a pena. Tarefa exaustiva, essa. Examina-se as capas dos filmes, lê-se as sinopses sintéticas e quase sempre mal redigidas, procura-se por mais informações no celular... Enquanto isso, o tempo passa e a impaciência aumenta. Mas num dia desses , a busca terminou de repente. Ludy até se espantou quando gritei:         – Uau! Esse é o último filme do Polanski! Vai ser esse e pronto!         Ludy não questionou meu arroubo autoritário. Ela também aprecia o talento do diretor. Clicamos no play e em instantes estávamos assistindo a um dos melhores filmes do ano: O Oficial e o Espião , realizado com requinte e competência em 2019, por um dos mais brilhantes diretores da história do cinema. É cinema de qualidade, como não se vê com frequência.         Bem, talvez o meu

Busca Implacável: o ator Liam Neeson faz a diferença num filme de ação

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Busca Implacável: filme dirigido por Pierre Morel UM PRODUTO HONESTO, QUE CUMPRE A PROMESSA DE BOM ENTRETENIMENTO O que há de cativante no filme  Busca Implacável ? Ele foi dirigido por Pierre Morel em 2008 e contabilizou enorme sucesso comercial. A história de um pai feroz, lutando para resgatar a filha das mãos de traficantes de mulheres, oferece oportunidades dramáticas para construir várias cenas de ação e suspense. Luc Besson e Robert Mark Kamen souberam aproveitá-las: escreveram um roteiro objetivo, simples e eficiente. Porém, o grande trunfo acabou  sendo o ator Liam Nesson, que emprestou seu nome e reputação ao filme, em troca do ingresso num nicho de mercado bastante lucrativo.        Perseguições a pé e de carro, socos e pontapés, tiros, facadas, explosões, mortes… Muitas mortes! Não há surpresas em Busca Implacável e talvez seja essa a razão para que ele resulte tão cativante. O espectador prepara seu balde de pipoca, abre a garrafa de refrigerante, aperta o play e por uma

Bastardos Inglórios: Quentin Tarantino subverte a verdade em favor do bom cinema

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Bastardos Inglórios: filme de Quentin Tarantino UMA TRILHA SONORA REPLETA DE BOAS SURPRESAS Ludy detesta filmes violentos e não compartilha meu gosto por thrillers de guerra. Quando decido revisitar um desses filmes pela enésima vez, minha mulher se lembra que tem mais o que fazer e sai da sala. Prefere me deixar sozinho, exercendo minha obsessão de cinéfilo esmiuçador. Entre os filmes que faço questão de rever de vez em quando está Bastardos Inglórios , de 2009, escrito e dirigido por Quentin Tarantino. Tenho vários motivos para fazê-lo, mas hoje quero falar da trilha sonora que o diretor escolheu.           Ninguém consegue ficar impassível diante de  Bastardos Inglórios . É amá-lo ou odiá-lo! O senso de humor peculiar, a preferência pelas cenas violentas retratadas com requintes gráficos, a precisão dos diálogos conduzindo a narrativa afiada e ritmada... Tarantino é único. Mas confesso que o filme me pegou logo na cena inicial. Para ilustrar meu ponto, deixe-me tentar descr

Eu Sou a Lenda: remake de a Última Esperança da Terra

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Eu Sou a Lenda: filme dirigido por Francis Lawrence RUAS DESERTAS, SILÊNCIO PERTURBADOR, O VENTO SOPRANDO... ACHO QUE JÁ VI ESSE FILME! Assim que surgiu a pandemia do Covid19, Ludy e eu nos trancafiamos no apartamento por duas semanas. O governo estadual impôs um confinamento draconiano, que julgamos excessivo. Porém, como não vimos necessidade de sair – consigo atender meus clientes a partir do home office e minha mulher está aposentada – preferimos ficar espiando o desenrolar dos acontecimentos pela televisão. No começo, ficamos preocupados com nossas mães já idosas, com nossa filha morando sozinha na cidade de São Paulo, com a necessidade de ir ao supermercado, com as aglomerações... Mas depois, como qualquer cinéfilo que se preza, relaxei e resolvi assistir aos filmes e séries na TV. Decidi me alienar!           Ah, o verbo alienar! Como ele é cruel quando usado para rotular os cinéfilos. Nos faz parecer fúteis, desligados do mundo,  hipnotizados por uma espécie de feitiço audiovis

Onde os Fracos Não Têm Vez: no final, os irmãos Coen conseguem surpreender

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Onde os Fracos Não Têm Vez: direção de Ethan e Joel Coen HÁ ALGO QUE VOCÊ JAMAIS ENXERGARÁ NESSE FILME Há toneladas de críticas, resenhas, especulações e até dossiês completos na internet sobre o  filme  Onde os Fracos Não Têm Vez , dirigido em 2007 pelos irmãos Coen. Não estamos falando de um mero filme de sucesso. Trata-se de um verdadeiro objeto de culto, que reúne adoradores e detratores das mais variadas facções. Confesso que relutei antes de escrever uma crônica sobre esse filme. Não queria ser repetitivo, nem cair no lugar comum, então decidi comentar sobre aquilo que pode ter passado despercebido pela maioria dos espectadores.         Na hora de avaliar um filme, os cinéfilos costumam examinar certos parâmetros técnicos: desempenho dos atores, qualidade da fotografia, pertinência da trilha sonora, cuidados com a produção, realismo dos efeitos visuais... Porém, na saída do cinema, a soma das notas dadas a cada critério não consegue fechar a conta! E a razão é simples: de nada a

Guerra Mundial Z: é "Z" de Zumbi mas tem muito "A" de ação!

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Guerra Mundial Z: filme dirigido por Marc Forster BASTAM DEZ SEGUNDOS PARA O VIRUS INFECTAR E POUCAS CENAS PARA CAPTURAR SUA ATENÇÃO Resolvi comentar aqui na Crônica de Cinema sobre o filme Guerra Mundial Z , uma produção americana de 2013 estrelada por Brad Pitt. – Ora, mas é um filme de zumbis! – reclamariam aqueles mais interessados em ler sobre produções autorais e edificantes. Confesso que relutei em assistir a esse filme. Zumbis sempre foram repugnantes e deveriam ficar restritos aos trash movies . Mas, depois que embarquei no enredo que ele descreve, adorei a experiência!           Em Guerra Mundial Z os zumbis são produto de um vírus desconhecido, que se alastra com rapidez assombrosa – em apenas dez segundos a vítima se transforma em um voraz transmissor da doença, cujo único propósito é disseminar o vírus. L ogo nas primeiras cenas, a  velocidade e o sentido de urgência assumem o comando. Somos conduzidos assim até o final, num ritmo impecável. Note

Parasita: direto da comédia para tragédia, sem escalas

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Parasita: filme dirigido por Bong Joon-Ho RICOS E POBRES, ESPERTOS E OTÁRIOS, COMÉDIA E SUSPENSE... O FOCO É NO  DUALISMO ORIENTAL  Há tempos não acompanhava a festa do Oscar, mas em 2020 a curiosidade foi maior que o meu desprezo pelo desfile das celebridades. Naquele ano, a disputa era entre um filme sul-coreano feito com uma mistura de vários gêneros, um filme de guerra encenado como ópera em tempo real, um filme de super-heróis onde só o vilão aparece, um filme onde Hitler e o nazismo são abordados em tom de comédia, um filme cujo título faz merchandising para duas marcas da indústria automobilística, um filme dirigido por um brasileiro falando sobre um Papa argentino... Entre cochilos, vi a premiação transcorrer como sempre: surpresas aqui e ali, barbadas confirmadas e estatuetas distribuídas a rodo entre todos os setores da indústria do cinema. O grande vitorioso foi o filme Parasita , dirigido em 2019 por Bong Joon-ho e o resultado forneceu munição para uma saraivada de críti

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