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O Irlandês: o DNA é de cinemão!

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O Irlandês: filme dirigido por Martin Scorsese O MAGNETISMO DOS ATORES COMPENSA O MAU-CARATISMO DOS PERSONAGENS Histórias sobre gângsteres são sempre violentas. Geralmente falam de personagens torpes, com sérios desvios de caráter. Invariavelmente narram trajetórias de ascensão e queda em busca de dinheiro e poder. Falam de traições, de rompantes passionais, de ambição desmedida... Curiosamente, histórias sobre gângsteres acabam centradas nos valores morais. Sim! Os criminosos que se organizam em gangues o fazem ao redor de estritos códigos de ética – ainda que uma ética enviesada, agarrada aos interesses mesquinhos de criminosos poderosos. Apesar de abjetas, algumas dessas histórias são tão surpreendentes que merecem ser contadas em filme. Mas quando seus personagens são asquerosos, o que faz um diretor criativo? Aposta tudo no carisma dos atores que vão interpretá-los! É isso que vemos no filme  O Irlandês , filme de 2019 dirigido por Martin Scorsese.           O filme nos traz a his

Sem Limites: fantasia sobre a droga da inteligência

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Sem limites: filme dirigido por Neil Burger UMA BOA IDEIA CONTADA COM ESTILO E HABILIDADE PARA ENTRETER Pensar mais rápido, lembrar de tudo o que já leu na vida, aprender qualquer coisa em segundos... Quem não sonha em ter o superpoder da inteligência? Esse é o tema fascinante desfiado em  Sem Limites , filme de 2011 dirigido por Neil Burger. Trata-se de um filme de ação acima da média e seu trunfo está no roteiro escrito pela experiente Leslie Dixon. Ela criou um script repleto de oportunidades para que o espectador imagine o que faria no lugar do personagem. Suas armações para escapar das enrascadas, que se acumulam em série, ganham credibilidade na direção segura de Neil Burger.           O filme conta a história de Eddie Morra (Bradley Cooper), um pretenso escritor, deprimido e desleixado com a vida, que topa com uma poderosa droga capaz de amplificar sua capacidade intelectual. De comprimido em comprimido, ele vai se tornando um gênio em qualquer assunto que desperte seu intere

Um Homem de Sorte: adaptação competente de um Nobel de Literatura

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Um Homem de Sorte: filme dirigido por Bille August UM DIRETOR COMPETENTE, CRIANDO FORA DOS PADRÕES DE HOLLYWOOD –  Ah, já vi esse filme! É aquele do soldado que encontra a foto de uma garota e quando volta da guerra sai à procura dela...          –  Não, não! Esse tem o mesmo título, mas é um outro homem de sorte. Foi realizado na Dinamarca.          –  E pode isso? Dois filmes com o mesmo nome?         A pergunta de Ludy foi pertinente, mas não encontrei uma resposta apropriada. Apenas dei de ombros. Em poucos minutos estávamos, minha mulher e eu, assistindo ao filme dinamarquês Um Homem de Sorte , com os olhos tão fixos na tela que esquecemos o assunto do título. E ficamos, minha mulher e eu, tão concentrados que sequer vimos passar suas 2 horas e 47 minutos de duração.         Escrito, dirigido e estrelado por gente desconhecida para nós, brasileiros, Um Homem de Sorte impressiona. Primeiro, pelo espetáculo visual que proporciona. Retratando a Dinamarca do final do século XIX, a

Nasce Uma Estrela: já são cinco versões!

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Nasce Um Estrela: direção de Frank Pierson RECEITA DE SUCESSO, QUE JÁ RENDEU CINCO VERSÕES Já faz tempo que a palavra sucesso vaga pelas nossas falas e conversas, rondando feito assombração. Sibila provocações, atiçando as almas ambiciosas e aquelas em busca de reconhecimento. Sopra insinuações, para nos fazer acreditar que só há êxito verdadeiro quando os aplausos são ensurdecedores, quando os “likes” se contam aos milhões, quando nossos feitos alcançam multidões. Foi quando passou a andar abraçado com a fama que o sucesso deixou de ter escala individual. Ganhou dimensão coletiva, medida em cifras. Sem fama, não há sucesso. Sucesso é a escada que leva à fama!           Para muitos, sucesso e fama se tornaram objetivos de vida. Há dois caminhos para alcançá-los, o mais difícil é seguir pelo trabalho duro, obstinado e disciplinado. O mais fácil – e também o menos acessível – é encontrar um atalho, geralmente proporcionado por um patrocinador. O primeiro caminho é pavimentado pelo mérit

Jadotville: a história real do ataque à tropa de paz da ONU

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Jadotville: fime com roteiro de Kevin Brodbin OS MOCINHOS SÃO DA TROPA DE PAZ, MUNIDOS DE MUITA CORAGEM A história da humanidade é a história das nossas guerras, geralmente narrada pelo lado vencedor. Basta abrir um livro didático do ensino médio e constatar que ele estará organizado de acordo com a expansão dos impérios, conquistas de territórios, revoluções, lutas por independência... As guerras estruturam a história que aprendemos nos bancos escolares, mas também são fontes inesgotáveis de... boas histórias!  Me refiro ao s dramas pessoais vividos durante as guerras, que sempre forneceram conteúdo para a literatura e depois para o cinema, onde o gênero se desdobrou em subgêneros, englobando desde os filmes que se detém especificamente nos combates, até aqueles onde a guerra vira apenas pano de fundo. Encontramos produções grandiosas e elaboradas, mas também tropeçamos em filmes B, onde o que manda é a ação, pura e simples.          O filme  Jadotville , dirigido em 2016 por Richi

O Ovo da Serpente: é preciso matar o monstro ainda dentro da casca

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O Ovo da Serpente: filme dirigido por Ingmar Bergman ALERTA: É PRECISO MATAR O FASCISMO AINDA NA CASCA! O Sétimo Selo , Gritos e Sussurros , A Flauta Mágica , Fanny e Alexander , Sonata de Outono ... Na extensa filmografia de Ingmar Bergman, figuram algumas das mais importantes produções da história do cinema. O cineasta é reverenciado como um dos principais nomes da sétima arte, por lidar com uma estética apurada, por ampliar o alcance da linguagem cinematográfica e por tratar seus personagens com inigualável profundidade psicológica. Por isso, é curioso perceber que o título O Ovo da Serpente , que ele dirigiu em 1977, é citado sempre lá no final dessa lista, classificado como uma realização menor – juntamente com A Hora do Amor , forma a dupla de filmes falados em inglês que o cineasta rodou.           Investigando a crítica especializada, é fácil encontrar narizes torcidos para O Ovo da Serpente . Dizem que é seu filme mais... hollywoodiano. Lembram que o diretor focalizou apenas

Rocketman: verdade dramatizada tocando nos temas polêmicos

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Rocketman: filme estrelado por Taron Egerton CINEBIOGRAFIA SINCERA, COMO AS CANÇÕES DE ELTON JOHN Cinéfilo desatento às dinâmicas do show business, cliquei no serviço de streaming para assistir a Rocketman , filme de 2019 dirigido por Dexter Fletcher. Acreditava que veria apenas uma resposta comercial aos artistas rivais, retratados em Bohemian Rhapsody . Tinha bons motivos para pensar assim: esse mesmo diretor havia trabalhado um bom tanto naquela cinebiografia de Freddie Mercury e abandonou o projeto por divergências criativas com os produtores, deixando a bomba nas mãos de Bryan Singer. Ledo engano! Fletcher abraçou Rocketman com grande avidez e o dotou com luz própria. Retratou a vida de Elton John com mais competência, desenvoltura narrativa e sensibilidade artística. E embora a obra nos chegue com aquela aparência de... cinebiografia autorizada, foi construída com a mesma sinceridade que percebemos nas canções de Elton John.           Tudo que vem de Elton John é complicado e s

Tubarão: o filme de 1976 que consagrou Steven Spielberg

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Tubarão: filme dirigido por Steven Spielberg MEDO E SUSPENSE, EM DUAS NOTAS QUE VALEM POR UMA SINFONIA Quando uma cena é bem escrita, basta um olhar do personagem para saber o que se passa na sua cabeça, entender seus medos, calcular suas reações... A arte de contar histórias é sobre criar chances para gerar empatia com o público. Elas são fabricadas durante a escrita do roteiro e depois, os grandes diretores e atores tiram delas o melhor proveito. Steven Spielberg fez isso de forma magistral ao longo de toda a sua extensa filmografia, mas no filme Tubarão , de 1975, quando contava apenas 26 anos, realizou uma grande proeza.          Sua maior façanha n ão foi a de dar vida a um monstro assustador por meio de uma geringonça mecânica. Também não foi a de sincronizar o momento exato do suspense com a ajuda do seu diretor musical John Willians. Foi a de colocar o espectador no lugar do Xerife e deixá-lo imaginando o que faria se estivessem em seu lugar. Conseguiu  isso chegando a um rote

Zabriskie Point

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Zabriskie Point: filme dirigido por Michelangelo Antonioni Há 50 anos Michelangelo Antonioni realizou Zabriskie Point, um filme que retrata a juventude empenhada em destruir os valores culturais da época e pregar a contracultura. Embora não consiga ir além do mero escapismo, o filme vem com uma estética sedutora. Ao som de Pink Floyd, oferece um final deliciosamente catártico. ------------------------------ A popularização das supercâmeras digitais, que conseguem capturar imagens a mais de 2 mil frames por segundo, deflagrou na internet uma febre de vídeos em câmera lenta. Quando vejo um desses me lembro do impacto de assistir ao filme Zabriskie Point no cinema. O que poderia haver de mais moderno?

E La Nave Va: a expressão de um cinema superlativo

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E La Nave Va: filme dirigido por Federico Fellini CINEMA SINGRANDO OS MARES DA ÓPERA E La Nave Va é um filme... musical! Não apenas no sentido que empregamos para evocar o gênero consagrado em Hollywood, onde as canções ocupam a fala dos personagens e conduzem toda a narrativa. Esse é musical porque foi feito da mesma substância com a qual os músicos materializam suas criações. É ópera, é circo, é uma invenção surreal, é uma comédia, é abordagem histórica... É Federico Fellini. Foi realizado em 1983 e está entre os seus grandes filmes. Aqui o cineasta empenhou considerável esforço criativo e nos brindou com sua inconfundível sensibilidade artística. É cinema superlativo, costurado com metáforas, provocações metalinguísticas, rompantes de humor e momentos de um delicioso regozijo estético.           E La Nave Va é sobre o vapor Glória N, que parte de algum porto italiano. O ano é 1914 e o objetivo é seguir num cruzeiro fúnebre até a ilha de Erimo, terra natal da falecida cantora Edmea

A Noite Americana: um filme sobre a paixão de fazer cinema

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A Noite Americana: filme de François Truffaut A AVENTURA DE RODAR UM FILME, NA VISÃO DE UM APAIXONADO PELA SÉTIMA ARTE Realizar um filme sobre o drama de realizar um filme é como sonhar que se está sonhando. Assistir ao filme A Noite Americana , realizado em 1973 por François Truffaut, é como passar quase duas horas enxergando com os olhos do diretor. É como ter o prazer de ser aquela mosquinha que zanza despercebida por todos os cenários, testemunhando segredos e fatos omitidos. Enfim, é um deleite para qualquer cinéfilo! Mas não se trata de mero exercício acadêmico de metalinguagem, ou de uma obra com caráter documental. É cinema em estado puro.           A Noite Americana narra a saga do cineasta Ferrand, álter ego do próprio Truffaut, que roda um filme intitulado “Je Vous Présente Pamela”, um drama como tantos outros gestados pela indústria do cinema e destinado ao circuito comercial. Os percalços e as complicações são incontáveis: atores em pé de guerra, casos amorosos interferi

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