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O Destino de Uma Nação: Winston Churchill arca com a maior das responsabilidades

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O Destino de Uma Nação: filme dirigido por Joe Wirght UM GRANDE POLÍTICO, TRAZIDO À VIDA POR UM GRANDE ATOR Não sei como está o cartaz de Winston Churchill nos dias de hoje. E emprego essa expressão antiquada – ainda existem cartazes sobrevivendo ao imperativo digital? – para deixar claro minhas suspeitas de que, entre os estudantes brasileiros, o grande primeiro-ministro britânico não passa de um borrão reticulado, impresso num capítulo qualquer da apostila de história. No máximo, um nome de rua! Em popularidade, sua estampa rechonchuda e embaçada pela fumaça do charuto parece perder terreno para a do guerrilheiro barbudo e de boina. É que muitos jovens ainda não atinaram para o fato de que, sem a intervenção dele, hoje estaríamos todos falando alemão e cansando o braço em saudações nazistas. Ainda bem que Joe Wright, cineasta que traz no currículo filmes como Orgulho e Preconceito , Desejo e Reparação , O Solista e Hanna , arregaçou as mangas para realizar, em 2017, o filme O Destin

7 Dias em Entebbe: a história real de um resgate bem-sucedido

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7 Dias em Entebbe: filme dirigido por José Padilha DECISÕES TOMADAS POR GENTE DE CARNE E OSSO Quando era adolescente, volta e meia via o terrorismo entrar na sala de estar, para atormentar nossa vida em família. Chegava pela porta do noticiário, assustando com imagens repletas de tensão e carimbadas como reais. Ao contrário das cenas de ficção, meticulosamente recriadas em estúdio, essas eram borradas, em baixa definição e trêmulas de tanto nervosismo. O episódio do sequestro do voo 139 da Air France, que ia de Paris para Tel Aviv, mas acabou desviado para Uganda, foi um desses eventos que marcou aquele ano de 1976. Lembro que havia, pairando ao redor dessa história, uma certa atmosfera de modernidade: o mundo se configurava como uma aldeia global, tensa, veloz e em constante transformação, onde as ideias de pequenos grupos políticos eram mais emocionantes do que a rotina dos cidadãos comuns. Todos queriam ser revolucionários!           Tinha vívidas essas memórias da adolescência quan

Bird Box: entidades sobrenaturais monstruosas criam o apocalipse

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Bird Box: filme dirigido por Susane Bier ABRIRAM A CAIXA DE CLICHÊS! A dinamarquesa Susanne Bier ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, com o filme Em um Mundo Melhor . Infelizmente, tal façanha não fez diferença alguma quando ela dirigiu Bird Box , de 2018, estrelado por Sandra Bullock. Nesse thriller pós-apocalíptico, com uma protagonista feminina às voltas com criaturas misteriosas e mortais – que o público coloca, por comparação, na mesma prateleira de Um Lugar Silencioso – há doses generosas de suspense e tensão. Mas se a ideia inicial é boa, o roteiro de Eric Heisserer não conseguiu evitar os clichês do gênero. Faltou originalidade. Antes de começar a descer a lenha, vamos examinar a sinopse:           A protagonista de Bird Box é Malorie (Sandra Bullock), uma mulher grávida, em plena maturidade, que não está preparada para ser mãe. De repente, seus temores em relação à maternidade se apequenam diante de uma estranha catástrofe que se abate sobre o mundo, feito apo

O Jogo da Imitação: como Alan Turing ajudou a derrotar os nazistas

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O Jogo da Imitação: dirigido por Morten Tyldum UMA HISTÓRIA BASEADA EM FATOS, CONTADA COM IMAGINAÇÃO Já havia ouvido falar sobre Alan Turing, mas não sabia nada a respeito da sua vida pessoal. Nos bancos do curso técnico em eletrônica, que frequentei na adolescência, aprendi que foi ele um dos gênios que trouxeram a humanidade para a era digital. E das minhas leituras dos clássicos da ficção científica, soube que existe um certo teste de Turing, que consiste em uma série de perguntas feitas a um interlocutor, com o intuito de descobrir se ele é um humano ou... uma máquina!           O sujeito era mesmo um visionário. Acreditava que as máquinas estavam destinadas a se tornar inteligentes. Suas proezas tecnológicas entraram para os livros de história, porém, como personagem, Alan Turing permaneceu um desconhecido do grande público. Até que, em 2014, chegou aos cinemas o filme O Jogo da Imitação , dirigido pelo norueguês Morten Tyldum. Por meio dessa produção independente, vemos que suas

Estrelas Além do Tempo: elas tiveram papel importante nas conquistas da NASA

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Estrelas Além do Tempo: filme dirigido por Theodore Melfi PARA CONQUISTAR O ESPAÇO FOI PRECISO VENCER AS BARREIRAS DA INTOLERÂNCIA Ser um garotinho durante os anos áureos da corrida espacial foi divertido. Meu imaginário estava repleto de heróis autênticos, de carne e osso. Ao invés dos capitães Kirks e dos Senhores Spocks, confinados na telinha em branco e preto na sala de estar, os astronautas da NASA habitavam os jornais, as revistas e os noticiários – que era onde a realidade dava de lavada na ficção científica! Armstrong, Aldrin, Collins... Além de conhecer a vida dos personagens, sabia tudo sobre o enredo: foguete em três estágios, módulo de comando, módulo de pouso, dificuldades do acoplamento, ponto cego durante as órbitas na Lua... Tudo envolto numa atmosfera de vitória e superação. A história da conquista da Lua podia ser vivida em tempo real, como uma epopeia repleta de atos de coragem. Material mais do que suficiente para render muitos e muitos filmes empolgantes.          

Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida

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Indiana Jones: filme de Steven Spielberg UM GRANDE ROTEIRO, QUE MISTURA DOSES EXATAS DE AÇÃO E EXPOSIÇÃO Há 40 anos, em 1981, fui ao cinema num domingo à tarde em busca de distração. Em cartaz, Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida , uma produção lançada com pompa e estrondo, referendada por duas grifes populares: Steven Spielberg e Harrison Ford, o primeiro na direção e o segundo exibindo seu carisma na frente das câmeras. Terminado o filme, não tive dúvidas: permaneci na poltrona para acompanhar a sessão seguinte. Tinha que examinar aquela avalanche de cinema com mais cuidado.           Aventura, fantasia, mistério e muita ação desenfreada, numa história envolvente, protagonizada por um herói infalível e capaz das proezas mais improváveis. Foi um lançamento arrebatador! Mas falar do sucesso de Indiana Jones é desnecessário. Prefiro lembrar aqui do impacto que senti ao ser apresentado pela primeira vez ao personagem. Você também deve se lembrar da cena: no meio da selva um gru

A Chegada: os aliens querem nos ensinar os significados da linguagem

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A Chegada: filme dirigido por Denis Villeneuve A REAL INTENÇÃO É EXPANDIR NOSSOS CONCEITOS DE LINGUAGEM Realizado em 2016 pelo diretor Denis Villeneuve, o filme A Chegada é denso, repleto de significados e exige atenção por parte do espectador. É uma obra estimulante, que vai além dos temas humanistas, para enveredar por questões quase... espirituais. Para explicar esse ponto, precisarei contar sobre as reuniões do  grupo de estudos sobre espiritismo,  que Ludy e eu frequentávamos semanalmente.  Na verdade, não sou espírita. Participava apenas com a intenção de provocar e polemizar. Lembro que numa das discussões entrei de sola, especulando sobre a linguagem:         – Ora, se os espíritos não possuem trato vocal, não podem se comunicar em nosso idioma. E se o fazem por pensamento, então não precisam estruturar o discurso de forma narrativa, com começo meio e fim! A língua deles deve ser uma doideira...         Minha mulher me deu um chute na canela, para avisar que estava me excede

Cidade de Deus: dramatizando um compilado de histórias verdadeiras

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Cidade de Deus: filme dirigido por Fernando Meirelles UM BOM NARRADOR. É TUDO O QUE PRECISAMOS PARA COMPRAR UMA HISTÓRIA Cidade de Deus nasceu livro. Paulo Lins o escreveu na condição de morador da favela que fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro e lhe emprestou o nome para usar no título. É uma obra de valor literário, que narra centenas de histórias reais, que aconteceram com um incontável número de personagens. Então, pelas mãos de Fernando Meirelles, virou filme. E que filme! Essa produção de 2002 está, seguramente, entre os melhores filmes brasileiros de todos os tempos.           A trama se atém às décadas de 60 e 70 e narra o nascimento da favela juntamente com o do crime organizado, movido pelo narcotráfico. Para contar essa trajetória, Meirelles escolheu algumas das histórias narradas no livro e incumbiu o roteirista Bráulio Mantovani de costurar um roteiro viável. Acontece que ter boas histórias para contar, sobre fatos surpreendentes que aconteceram com personagens marcantes

A Caça: vítima da mentira ele vira animal perseguido

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A Caça: filme dirigido por Thomas Vinterberg NINGUÉM, ALÉM DO ESPECTADOR, SABE O TAMANHO DESSA INJUSTIÇA Logo no começo de A Caça , filme de 2012 dirigido por Thomas Vinterberg, o espectador vira testemunha ocular dos fatos e entende a verdade incontestável: o professor Lucas é inocente da acusação de abusar sexualmente de uma garotinha. Mas os únicos que sabem disso são Lucas e... o espectador. Ninguém mais! A partir daí, só nos resta assistir atônitos à escalada de ódio que assola o mundo ao redor, enquanto o professor tenta inutilmente se defender. Esta produção dinamarquesa/sueca é de deixar com os nervos à flor da pele!           O protagonista Lucas (Mads Mikkelsen) é professor do jardim de infância em uma pequena cidade. Recém-divorciado, tenta fortalecer seu relacionamento com o filho adolescente, mas vive integrado à pequena comunidade e às tradições locais em torno dos grupos de caça. Todos o admiram e o respeitam, até o dia em que Klara (Annika Wedderkopp) uma garotinha de

Florence: Quem é Essa Mulher?: filme sobre a pior cantora do mundo

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Florence: Quem é Essa Mulher?: filme dirigido por Stephen Frears, com roteiro de Nicholas Martin SOBRA TALENTO, SENSIBILIDADE E PAIXÃO PELA MÚSICA Quando decidi assistir a esse filme sobre “a pior cantora do mundo”, temia que o roteiro ficasse só nas piadas óbvias, tripudiando sobre a falta de talento da personagem. Mas não! Florence: Quem é Essa Mulher? Filme de 2016 dirigido por Stephen Frears, foi realizado com sensibilidade e talento. O roteiro nos apresenta a personagens humanos e verdadeiros, repletos de conteúdo. A atmosfera romântica, a ambientação aristocrática e o senso de ritmo impecável tornam o filme envolvente e ágil. E apesar de espancada pela total falta de noção da protagonista, a música é muito bem tratada, com o devido respeito e a necessária reverência.           Para quem ainda não sabe quem é essa mulher, o filme nos dá um vislumbre: Florence Foster Jenkins era uma socialite de Nova Iorque, apaixonada por música erudita e fundadora do The Verdi Club, onde promov

Sonhos: Kurosawa apresenta seu filme mais cativante

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Sonhos: filme de Akira Kurosawa UMA CONVERSA INDIVIDUAL, COM CADA ESPECTADOR Filmes são como espelhos. Refletem a vida real, ainda que às vezes as imagens cheguem distorcidas, manipuladas e ordenadas segundo alguma lógica peculiar. Filmes nos falam por meio de metáforas e nos alcançam com símbolos e arquétipos. São projeções que nos confrontam com nossas emoções, nossos desejos, nossas frustrações... Filmes dialogam com nosso inconsciente. Também poderíamos chamá-los de... sonhos!           Desde os seus primórdios, a função onírica do cinema ficou clara. A linguagem que estabeleceu, guarda similaridade com a linguagem dos sonhos – trazida como herança do teatro, do circo, dos espetáculos operísticos... Os cineastas sempre compreenderam tal relação e se esbaldaram com a possibilidade de trazer para as telas os misteriosos eventos que nos visitam enquanto estamos dormindo. Mas foi Akira Kurosawa quem realizou um filme intitulado Sonhos ! Lançado em 1990, é uma das suas obras mais cativa

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