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Náufrago: numa ilha deserta, na companhia de Wilson

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Náufrago: filme dirigido por Robert Zemeckis A QUINTESSÊNCIA DO MERCHANDISING NO CINEMA Náufrago é um filme de sucesso. Estrondoso, aliás! Dirigido em 2000 por Robert Zemeckis, ele primeiro fez barulho nos cinemas, enfileirando espectadores na frente das bilheterias. Depois, continuou brilhando no videocassete. Depois, no DVD, na TV por assinatura, na TV aberta, nos serviços de streaming... Náufrago é cercado de sucesso por todos os lados e às vezes me pergunto: há algum vivente nesse planeta que ainda não tenha assistido a esse filme? Só se for algum sujeito isolado, sobrevivendo em algum lugar remoto e inacessível – com o perdão do trocadilho!           Mas se ao invés disso resolvermos perguntar por que motivos esse filme chegou ao topo, as respostas virão certeiras: por causa do carisma de Tom Hanks, do marketing milionário, do merchandising das bolas de vôlei e empresas de entrega expressa, da simplicidade do roteiro, da temática rasa e popular, das velhas fórmulas consagradas e

O Curioso Caso de Benjamin Button: Brad Pitt em todas as idades

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O Curioso Caso de Benjamin Button: filme dirigido por David Fincher MÁGICA DIGITAL PARA TRANSFORMAR UM CONTO EM CINEMA Escrito na década de 1920 por F. Scott Fitzgerald, um dos mais renomados escritores americanos, o conto O Curioso Caso de Benjamin Button virou filme nas mãos do diretor David Fincher em 2008. O projeto circulava há décadas pelos estúdios de Hollywood, tendo passado pelas mãos de diretores como Steven Spielberg e Spike Jonze. Pelas lentes de Fincher – que traz no currículo filmes como Se7en – Os Sete Crimes Capitais , Clube da Luta e o recente Mank – a história ganhou um tratamento visual refinado, subordinando a computação gráfica ao contexto dramático, sem usar a tecnologia como mera pirotecnia.           Ainda assim, foram as mágicas digitais que tornaram possível contar a fascinante história do sujeito que nasce velho e rejuvenesce a cada dia, na contramão de todos nós. Benjamin Button nasceu octogenário, numa Nova Orleans à época da Primeira Guerra Mund

A Pé Ele Não Vai Longe

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SEM VITIMAR SEU PERSONAGEM, ESSE FILME TEM MUITO DO ESPÍRITO BEATNIK A Pé Ele Não Vai Longe: filme dirigido por Gus Van Sant De novo, Gus Van Sant está às voltas com personagens desajustados! Em A Pé ele Não Vai Longe, de 2018, conta a história de John Callahan, que ficou tetraplégico aos 21 anos depois de um acidente causado pela bebedeira e virou um cartunista famoso nos Estados Unidos, ácido, irreverente e controverso. Encontrar a vocação, vencer o alcoolismo, vencer os demônios internos... Sua trajetória de superação é edificante. Joaquim Phoenix dá um show de atuação! ------------------------------ Joaquim Phoenix encara a câmera, mostrando que seu personagem jamais sente pena de si mesmo. Sente raiva, culpa, medo... E um sem número de emoções que vão se desenhando ao longo do filme. Por meio do seu roteiro bem costurado, Gus Van Sant soube conter os impulsos transgressores e nos conta uma história edificante – que não deixa de ser incômoda, afinal, o personagem não veio ao mundo

Glória Feita de Sangue: um ótimo drama de guerra

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Glória Feita de Sangue: filme dirigido por Stanley Kubrick QUANDO OS CANALHAS SE REFUGIAM NAS FILEIRAS DO PATRIOTISMO           Na primeira vez em que assisti ao filme Glória Feita de Sangue , realizado em 1957 por Stanley Kubrick, devia ter uns 20 anos. Era de madrugada, estava com insônia e liguei a TV. Por coincidência o filme começou a ser exibido naquele instante. Me acomodei no sofá e pensei:           – É um filme velho, de 1957 e ainda por cima em preto-e-branco... Em pouco tempo vou estar dormindo.           Como me enganei! Não só acompanhei com entusiasmo como decidi que aquele seria, dalí em diante, um dos dez filmes que levaria comigo se tivesse que passar um tempo em uma ilha deserta. Uma obra incrível, que Kubrick dirigiu antes de completar seus 30 anos!           Glória Feita de Sangue baseou-se no romance escrito em 1935 por Humphrey Cobb, inspirado num artigo que leu no New York Times, sobre cinco soldados franceses na Primeira Guerra Mundial, que foram executados po

Green Book: O Guia: viajantes discriminados pela cor da pele

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Green Book: O Guia: filme dirigido por Peter Farrelly UM FILME SOBRE O RACISMO QUE EMBAÇA A VISÃO DE ALGUNS Muitos consideram o racismo um tema delicado, dada sua elevada octanagem quando misturado a componentes ideológicos. Não vejo assim. Na verdade, a questão é simples: raça e cor da pele não são determinantes dos fatores mentais, morais e espirituais que definem o ser humano. Caráter, talento, inteligência, dignidade, honra... Quem enxerga correlação entre esses valores e as características raciais de um indivíduo o faz por puro preconceito. O faz por algum tipo de conveniência. E ponto final.           Em Green Book: O Guia , filme de 2018 dirigido por Peter Farrelly, esse é apenas o ponto de partida. É de racismo que ele nos fala o tempo todo, mas não de forma panfletária. Faz isso usando o que o cinema tem de melhor: põe diante dos nossos olhos personagens verdadeiros e os deixa interagir em profundidade a partir de suas próprias atitudes e decisões. Dramatiza acontecimentos qu

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: fantasia, horror e compromisso com o belo

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A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: dirigido por Tim Burton TERROR CLÁSSICO E MODERNO NUMA MISTURA EQUILIBRADA   Histórias de fantasia e suspense, quando contadas por um diretor que domina a linguagem visual e é dono de uma estética original, preenchem a tela com cenas inusitadas, surpreendentes e marcantes. A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça , de 1999, é um dos filmes mais bonitos de Tim Burton – sem deixar de ser bastante assustador! É um filme de terror e suspense onde o que mais salta aos olhos é a sensibilidade artística com a qual foi realizado.           Estamos diante de uma obra claramente inspirada nos clássicos filmes realizados pela produtora inglesa Hammer Films, que se especializou em produções góticas de terror e fantasia. Por meio delas, personagens memoráveis, como o Barão Victor Frankenstein, Conde Drácula e a Múmia, ganharam vida para além da literatura e ressuscitaram nas salas de cinema dos anos 50, 60 e 70, fazendo a festa dos cinéfilos apreciadores do gênero. É verdade

Império Do Sol: Christian Bale era só um garoto

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O Império do Sol: filme dirigido por Steven Spielberg UMA HISTÓRIA ÉPICA, CONTADA COM IMAGENS ARREBATADORAS Jim é um garoto mimado. Não podemos culpá-lo por ter nascido no seio de uma família abastada, que o cerca de conforto e proteção por todos os lados. Nem pela postura altiva e aristocrática que assume com tamanha naturalidade nos ambientes assépticos em que circula. Mesmo assim, em se tratando do protagonista de um filme dirigido por Steven Spielberg, fica difícil nutrir por ele a simpatia que gostaríamos. Em Império do Sol , produção de 1987, a primeira pergunta que emerge é: o que esse fedelho arrogante teria para nos ensinar? Então, o diretor deixa claro o motivo pelo qual estamos com os olhos grudados na tela: para vê-lo aprender! E como ele aprende!           Com habilidade, Spielberg vai nos levando a estabelecer uma relação de empatia com o garoto Jim, e nos deixa acompanhar o notável arco de transformação que descreverá. De criança privilegiada, membro de um exclusivo club

Mr. Bean Photoshopped

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O CINEMA VIRA MATÉRIA-PRIMA Não sei quem começou essa história, mas... palmas para ele – ou ela! Mr. Bean é um personagem conhecido e seu rosto empresta novo significado aos personagens de outros filmes. As cenas e cartazes aqui reunidos foram garimpados no Google e certamente representam uma pequena fração do movimento Mr. Bean Photoshopped. É o cinema como matéria-prima para a criatividade. Divirta-se! Mr. Bean na Tropa de Elite: Photoshopped by Crônica de Cinema

The Night Of: minissérie com John Turturro e Riz Ahmed

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The Night Of: minissérie é oito episódios UMA MINISSÉRIE COM A DENSIDADE DE VÁRIOS LONGA-METRAGENS Desde garoto me tornei viciado em TV. Nasci em 1960 e faço parte da primeira geração de brasileiros criada na frente desse aparelho mágico – ainda em branco e preto e a válvula. Acumulei horas de desenhos animados, séries, novelas, programas de auditório, filmes... muitos filmes! Foi através da TV que tomei contato com preciosos clássicos, como A Noite Americana , Amarcord e Glória Feita de Sangue . Todos foram exibidos na TV, ainda que com anos de atraso em relação aos cinemas.           Mas é claro que a TV também exibia lixo! Além das séries bobinhas e despretensiosas, era frequente tropeçar em filmes tolos, produzidos especialmente para a televisão. Nesses, a temática era leve, a abordagem superficial e os planos sempre fechados, com enquadramentos mais adequados à telinha. Mas desenvolvi um macete para evitar esse tipo de filme: ficava de olho nos créditos iniciais, até o mo

Os Sete Samurais

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Os Sete Samurais: filme dirigido por Akira Kurosawa Quando as histórias se tornam patrimônio comum e universal, podem ser contadas e recontadas sem perder a originalidade ------------------------------ Akira Kurosawa influenciou, mas também foi influenciado pelo western. Em Os Sete Samurais, de 1954, trouxe arquétipos que foram teletransportados para as pradarias americanas. Primeiro, no filme Sete Homens e Um Destino, dirigido em 1960 por John Sturges. Depois, no remake de 2016 dirigido por Antoine Fuqua. Enjeitados que se redimem, malfeitores que pagam por seus erros, indefesos que se descobrem corajosos... O cinema tem permissão para retomar as boas histórias, desde que traga uma leitura pertinente. Drops de Cinema Os Sete Samurais Data de produção: 1954 Direção: Akira Kurosawa Roteiro: Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni Elenco: Takashi Shimura, Toshirô Mifune e Yoshio Inaba

O Quarto de Jack: o amor indestrutível de uma mãe por seu filho

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O Quarto de Jack: filme dirigido por Lenny Abrahamson UMA HISTÓRIA FICTÍCIA, ESCRITA COM IMAGINAÇÃO A escritora irlandesa-canadense Emma Donoghue é autora de best-sellers, premiada internacionalmente e festejada por uma legião de leitores. Talentosa e dona de uma grande capacidade imaginativa, ela produz romances, contos e peças de teatro. E produz também roteiros de filmes! Antes mesmo de publicar seu romance Quarto , de 2010, ela tratou de escrever uma adaptação paras as telas, que se materializou no filme O Quarto de Jack , dirigido por Lenny Abrahamson em 2015. E, de quebra, obteve uma indicação para o Óscar de melhor roteiro adaptado.           Seu romance alcançou um estrondoso sucesso, ao contar uma história fictícia, mas tão perturbadora e envolvente que irradia verossimilhança. O tema é o amor de uma mãe corajosa para com seu filho indefeso, sua capacidade de superação e sua compreensão da maternidade, que a tornam invencível e indestrutível diante das circunstâncias trágicas

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