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Ex Machina: Instinto Artificial - Já foi máquina, agora é quase gente!

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Ex Machina: Instinto Artificial: filme dirigido por Alex Garland UMA OBRA VISUAL ELEGANTE, SUSTENTADA POR UM ROTEIRO PRECISO Por que diabos o filme Ex Machina , no Brasil, ganhou o subtítulo de Instinto Artificial ? É um mistério! Não faz sentido demolir o maravilhoso conceito colado no trocadilho involuntário criado em português com o termo ex-máquina e confundi-lo com instinto – um mero impulso inato nos animais, dissociado da razão e da inteligência. A simples ideia de uma máquina que deixou de ser máquina já basta para cutucar a imaginação do espectador, sugerindo uma história envolvente, instigante e repleta de implicações éticas e filosóficas. Foi o que conseguiu materializar com brilhantismo o diretor e roteirista Alex Garland, nesse filme de 2015.           Mas antes de seguir com os elogios, quero aproveitar para lembrar que o conceito de Deus ex Machina, consagrado na narrativa teatral como solução improvisada pelos roteiristas incautos, que não conseguem livrar seus protagon

2001 - Uma Odisseia no Espaço: um monólito de sentinela

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2001 Uma Odisseia no Espaço: filme dirigido por Stanley Kubrick IMAGENS EXUBERANTES E UMA TRILHA SONORA MARCANTE   Digamos que você seja um cineasta ambicioso e perfeccionista, interessado em realizar um filme especulando sobre a existência de vida extraterrestre. Você não se contenta com clichês, nem está interessado em bater recordes de bilheteria. Tudo o que deseja é realizar o melhor e mais realista filme de ficção científica. O problema é que você não faz a menor ideia de como seria esse filme. Por onde você começaria? Aposto que a sua resposta foi: pediria ajuda ao melhor e mais visionário autor de ficção científica do mundo!           Foi exatamente isso que Stanley Kubrick fez em 1964, depois de terminar Doutor Fantástico . Para iniciar seu projeto ele procurou o famoso escritor Arthur C. Clark e propôs uma parceria. Os dois quebraram a cabeça, até que Kubrick encontrou a resposta num conto de Arthur C. Clark intitulado The Sentinel , onde ele narra a descoberta de

A Morte de Stalin: uma sátira sobre a disputa pelo poder

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A Morte de Stalin: filme dirigido por Armando Iannucci UMA COMÉDIA QUE EXALA HUMOR REFINADO E ELEGANTE Quando examinei a capa no serviço de streaming, fiquei em dúvida: que tipo de filme é esse? Um drama histórico? Uma cinebiografia? Precisei consultar o buscador na internet para entender que se trata de uma comédia, o que aumentou ainda mais minha relutância – sou exigente em relação às comédias e não é qualquer rompante de humor escrachado que me agrada. Porém, uma rápida olhada na ficha técnica do filme me convenceu de que A Morte de Stalin , realizado em 2017 por Armando Iannucci, merecia uma chance.           Em primeiro lugar, o diretor tem ótimas credenciais: o escocês tornou-se um expoente da comédia política entre o público americano, por meio da série Veep , que escreveu, produziu e dirigiu para a HBO. Em segundo lugar, o elenco reúne nomes de peso entre os americanos e britânicos. Foi o suficiente para deduzir que o filme poderia trazer boas doses de humor refina

A Mulher na Janela: crime de verdade é esse roteiro!

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A Mulher na Janela: filme dirigido por Joe Wright SUSPENSE PSICOLÓGICO COM FINAL NADA SUTIL Ah, os testes de audiência! Para a indústria da comunicação – especialmente para os operários da publicidade – submeter uma peça acabada à avaliação de grupos focais para descobrir se ela funcionará com o grande público, é parte de um processo já estabelecido. Há custos envolvidos, mas para quem está investindo seu dinheiro suado, é uma forma de obter alguma segurança. Há também muitas técnicas envolvidas, dominadas por marqueteiros e pesquisadores, mais preocupados com os resultados financeiros do que com as idiossincrasias artísticas. Os criativos odeiam a ditadura dos grupos focais. Os marqueteiros, no final das contas, se acham os mais criativos!           A indústria do cinema, especialmente em Hollywood, transformou os testes de audiência em gênero de primeira necessidade. Filmes com orçamento polpudo jamais chegam às salas de cinema com o mesmo corte idealizado pelo diretor. São reeditado

22 de Julho: ataque terrorista na Noruega

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22 de julho: film e dirigido por Paul Greengrass PESADO PARA QUEM ASSITE E PARA OS QUE SE DISPUSERAM A REALIZÁ-LO Estamos diante de uma história triste. Um trauma, que talvez fosse mais fácil tentar esquecer. Mas traumas esquecidos latejam no inconsciente e influenciam nossos atos, conduzem nossas decisões. Melhor seria superá-lo. Talvez tenha sido essa a intenção de Paul Greengrass quando decidiu escrever e dirigir 22 de Julho , filme que realizou em 2018, contando os trágicos episódios que aconteceram na Noruega em 2011, quando 77 pessoas morreram pelas mãos de um terrorista insano – talvez esse não seja o melhor adjetivo a ser empregado para qualificar o cretino!           22 de Julho mostra em detalhes como Anders Behring Breivik, um radical de ultradireita, se disfarçou de policial e plantou uma bomba na frente do gabinete do primeiro-ministro em Oslo, matando oito pessoas e ferindo 200. Depois, como um exterminador frio e implacável, foi até a ilha de Utoya, onde um

Mank: uma história real sobre cinema, para cinéfilos

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Mank: filme dirigido por David Fincher UM ÓTIMO FILME CONSTRUÍDO NOS BASTIDORES DE OUTRO ÓTIMO FILME   Mank é um filme sobre cinema. Se fosse uma canção, diria que é daquelas criadas para agradar os músicos ou iniciados, que conhecem teoria musical e harmonia, e são capazes de valorizar sutilezas técnicas. Na plateia, os leigos podem aplaudir a beleza do resultado final, mas não devotam paciência a detalhes aborrecidos. Certamente não conseguirão disfarçar os bocejos. Por outro lado, os cinéfilos que costumam enxergar além das histórias contadas pelos filmes – e que vêm a maneira como eles são feitos afetando seu conteúdo – encontrarão nesse filme um programa imperdível.           Dirigido por David Fincher, consagrado por filmes como Se7en: Os Sete Crimes Capitais , Clube da Luta e O Curioso Caso de Benjamin Button , Mank narra o drama do escritor Herman Mankiewicz, interpretado por Gary Oldman, que trabalhou como roteirista do filme Cidadão Kane – considerado o maior

O Preço de um Resgate: um remake ágil e envolvente

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O Preço de um Resgate: filme dirigido por Ron Howard DOSES GENEROSAS DE AÇÃO E AFLIÇÃO Sequestro é crime hediondo. Sequestro de uma criança, então, eleva a sordidez do criminoso à enésima potência! Um tal sequestrador renuncia à condição de humano e permite que o vejam como um monstro, digno dos castigos mais atrozes que pudermos imaginar. O cinema já tratou do tema em inúmeras produções, sempre explorando o turbilhão de dor e emoções envolvidos nesse tipo de história. O Preço de Um Resgate , filme de 1996 dirigido por Ron Howard, é mais um dos tantos, mas realizado com notável competência.           Trata-se de um remake do filme Decisão Amarga , de 1956, dirigido por Alex Segal. Nessa nova versão, Mel Gibson interpreta Tom Mullen, um milionário do setor de aviação, que vive o ápice do sucesso. Sua mulher Kate – vivida por Rene Russo – e seu filho Sean desfrutam despreocupados as benesses de uma vida tranquila e confortável. Isso muda rapidamente quando o garoto é sequestrado. O FBI é

Cães de Aluguel: o que há de novidade nesse Tarantino?

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Cães de Aluguel: filme dirigido por Quentin Tarantino O ESTILO TARANTINO DE FAZER CINEMA De quais substâncias é feita uma novidade? Originalidade? Ineditismo? Singularidade? Quando Quentin Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel , em 1992, seu filme exalava novidade. Era diferente de qualquer outro já feito. Contava uma história brutal, mas o fazia com pitadas de humor, insinuando algo de improvisado e realizado com certo desleixo. Era uma obra que parecia não se levar a sério. Lembrava mais um mero fragmento do verdadeiro drama policial que tentava narrar.           Cães de Aluguel é um filme sobre um assalto bem-sucedido, realizado por um bando de homens que não se conhecem. Mas a ação, que nas mãos de um diretor convencional seria tratada como a cereja do bolo, foi solenemente ignorada por Tarantino. Ele prefere contar os fatos que acontecem após o assalto, quando se encontram em um galpão abandonado para dividir os diamantes roubados.           Mas onde, exatamente, está

Um Sonho de Liberdade: o tema é a redenção!

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Um Sonho de Liberdade: filme dirigido por Frank Darabont UM FILME DE PRESÍDIO QUE NÃO EXALTA A FAÇANHA DA FUGA Redenção. Eis a palavra que falta no título em português desse filme. Sua omissão rouba uma boa fatia de significado e nos leva a sentar na poltrona esperando acompanhar a saga de personagens ansiosos por liberdade. E para complicar, em se tratando de um filme sobre a vida num presídio, a palavra liberdade também vem amputada de significados e parece pronunciada apenas como antônimo de cárcere. Mas Um Sonho de Liberdade , filme de 1994 dirigido por Frank Darabont, está longe de ser um filme de presídio feito para exaltar a façanha da fuga. É um filme sobre... redenção!           Baseado no conto Rita Hayworth and Shawshank Redemption , escrito por Stephen King e publicado no livro Quatro Estações , o filme se tornou uma das mais celebradas produções do cinema e conquistou uma legião de fãs de todas as idades. Seu fracasso nas bilheterias, atribuído à concorrência d

Meu Pai: no final, as explicações estão na realidade e também no delírio

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Meu Pai: filme dirigido por Florian Zeller UM QUADRILÁTERO QUE SE ESTABELECE ENTRE PERSONAGEM, ATOR, DIRETOR E ROTEIRISTA Quando estava na faculdade, certa vez recebemos o ator Paulo Autran para uma palestra. Era um monstro sagrado do nosso teatro, que tinha a generosidade de falar aos estudantes de comunicação por onde passava. Nessas ocasiões, ele sempre dizia que “o teatro é a arte do ator, o cinema a do diretor e a TV a do patrocinador”. Jamais esqueci essa tirada e fiquei com ela em mente enquanto assistia ao filme Meu Pai , de 2020, dirigido pelo francês Florian Zeller. Pensei que estava vivendo uma experiência fronteiriça entre o cinema e o teatro, onde ator e diretor dividem o poder.          O filme  Meu Pai é sobre a demência que se apodera de um octogenário e não é preciso dizer mais do que isso para se ter uma sinopse aceitável. Mas é também sobre transpor teatro para o cinema e entregar ao espectador uma experiência sensorial convincente dessa demência. O diretor consegui

Radioactive: a história real de Madame Curie

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Radioactive: filme dirigido por Marjane Satrapi A PERSONAGEM BRILHA RADIANTE, GRAÇAS AO DESEMPENHO DA ÓTIMA ATRIZ Foi muito fácil clicar no play para assistir a esse filme. Bastou olhar a imagem da atriz Rosamund Pike e ler na sinopse que se tratava de uma cinebiografia de Marie Curie. Empolgados, Ludy e eu nos preparamos para bons momentos de entretenimento. Enquanto os créditos iniciais ainda eram exibidos, chegamos a especular sobre o imenso potencial dramático de um filme narrando as descobertas científicas de tão renomada personagem.           Mas a verdade é que sabíamos muito pouco sobre Madame Curie – o suficiente apenas para acertar as questões básicas nas provas do ensino médio. A personagem apresentada no filme Radioactive , realizado em 2019 por Marjane Satrapi, ganhou contornos claramente romanceados e surpreendeu pela personalidade forte e pela genialidade, mas também pelo forte senso de família e dedicação em viver uma intensa história de amor com Pierre, o igualmente ge

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