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A Vida é Bela: um humorista colhido pelo holocausto

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Direção: Roberto Benigni UM COMEDIANTE VIVENDO OS HORRORES DO HOLOCAUSTO Para uns, belo e poético, para outros, esquizofrênico e desrespeitoso. O fato é que o filme  A Vida é Bela , comédia dramática de 1997 dirigida por Roberto Benigni, brincou com um assunto sério e navegou num mar de polêmicas, mas terminou atracando nas docas do sucesso. Venceu o Grand Prix do Festival de Cannes em 1998 e faturou três Óscares: melhor filme estrangeiro, melhor ator e melhor trilha sonora – composta por Nicola Piovani. Escrito pelo próprio Benigni em parceria com o roteirista Vincenzo Cerami, o filme ainda suscita discussões acaloradas entre os cinéfilos.          O filme  A Vida é Bela se passa durante a Segunda Guerra Mundial, na cidade de Arezzo na região da Toscana. Guido Orefice, interpretado pelo próprio Benigni, é um judeu destrambelhado, que tenta ganhar a vida como garçom, mas sonha em abrir uma livraria. Conhece Dora, interpretada por Nicoletta Braschi – mulher de Benigni – com quem vive u

Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres

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Gainsbourg: Filme dirigido por Joann Sfar O ÍCONE DA CULTURA POP FRANCESA RETRATADO POR UM DOS MAIORES NOMES DOS QUADRINHOS Dentro de todo autor de histórias em quadrinhos vibra uma alma de cineasta e todo cineasta é aficionado por histórias em quadrinhos. É claro que uma afirmação tão categórica soa arrogante e generalista, mas é a impressão que se tem depois de assistir ao filme Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres . Realizado por Joann Sfar em 2010, o filme é uma cinebiografia de Serge Gainsbourg, o ícone da cultura pop francesa, que fez sucesso como compositor, poeta, músico e pintor, além de ter transitado pelo cinema. Polêmico, para dizer o mínimo, foi profícuo em provocar e escandalizar os franceses ao longo de décadas.           Já o diretor Joann Sfar, também francês, tornou-se um dos mais consagrados artistas do mundo dos quadrinhos e é autor de inúmeros títulos que se tornaram best-sellers. É um contador de histórias inveterado, e desenvolveu um estilo inconfundível, q

Sully - O Herói do Rio Hudson: tinha que virar filme!

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Sully: filme dirigido por Clint Eastwood O NOTICIÁRIO MOSTROU A HISTÓRIA, MAS QUEM DESVENDOU O PERSONAGEM FOI O CINEMA O ano é 2009, durante o mês de janeiro. Você está sentado diante da TV, provavelmente com uma cerveja ou uma bebida refrescante nas mãos, quando arregala os olhos diante de uma notícia incrível: um avião da US Airways com 155 passageiros a bordo faz um pouso de emergência em pleno rio Hudson – o emblemático rio que corta Nova Iorque e banha Manhattan. Por milagre todos se salvam, graças à perícia do piloto e o rápido atendimento das equipes de resgate – e apesar do frio polar que faz lá no hemisfério norte.           Diante desse fato impressionante, não sei qual seria seu primeiro pensamento, entre tantas possibilidades. Porem, sabendo que você é um cinéfilo, aposto que o segundo poderia ser:           – Uau! Isso daria um ótimo filme!           A grande pergunta é: como você contaria essa história? O evento todo, desde a decolagem até o resgate dos passageiros não du

Platoon: as duas faces angustiantes da Guerra do Vietnã

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Platton: filme dirigido por Oliver Stone A EXPERIÊNCIA REALISTA DE SER UM JOVEM COMBATENTE Platoon foi um ponto de virada nos dramas de guerra. Realizado em 1986 pelo cineasta Oliver Stone, o filme impôs um novo padrão para o gênero, que passou a incorporar elementos de realismo e permitir que a câmera opere infiltrada entre os personagens, para inserir o espectador no meio do fogo cruzado. E diferente do grande filme sobre a guerra do Vietnã que o antecedeu – Apocalipse Now  – esse não veio com uma abordagem política: trazia tão somente o ponto de vista do guerreiro que revida os tiros do inimigo, cuja ideologia não tem importância diante da letalidade da sua munição.           Talvez esse tenha sido o segredo do enorme sucesso de Platoon . Os americanos, ainda preocupados em soprar a ferida política causada pela Guerra do Vietnã, encontraram no filme um drama sobre a guerra – qualquer guerra – mostrando seus impactos nos corações e mentes dos seus soldados. É claro que o único cinea

Agente 86: remake da série dos anos 60

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Agente 86: filme dirigido por Peter Segal O VELHO TRUQUE DO REMAKE QUE FAZ JUS À SÉRIE ORIGINAL Para se divertir assistindo ao filme Agente 86 , realizado em 2008 e dirigido por Peter Segal, não é necessário que o espectador tenha acompanhado a série homônima apresentada na TV dos anos 60. Mas quem teve esse prazer, certamente fará melhor proveito, lendo com maior fluência as espaçosas entrelinhas que se formam entre uma piada hilariante e outra.           Para começo de conversa, o nome mais vistoso por trás do filme é o de... Mel Brooks, que se tornaria um dos grandes nomes da comédia no cinema. Junto com Buck Henry, ele foi responsável pela criação do personagem e pela formatação da série, exibida entre 1965 e 1970 ao longo de cinco temporadas, totalizando 138 episódios. Depois da primeira temporada, Mel Brooks teve pouco envolvimento com a produção, que serviu de base para esse remake de 2008. A sinopse de ambos é a mesma:           Maxwell Smart, o tal Agente 86 , acaba de ser pro

Guerra dos Mundos: releitura de um clássico da ficção científica

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Guerra dos Mundos: filme dirigido por Steven Spielberg E ASSIM, A FICÇÃO CIENTÍFICA VIROU GÊNERO LITERÁRIO Baseado no clássico da ficção científica escrito por Herbert George Wells  –  publicado pela primeira vez em 1897, na Inglaterra  –  o filme  Guerra dos Mundos , dirigido em 2005 por Steven Spielberg, foi realizado para ser um arrasa-quarteirão. Podemos dizer que é fruto da parceria do diretor com o ator Tom Cruise, nascida durante a realização do sucesso comercial  Minority Report – A Nova Lei . O astro de Hollywood e o cineasta especializado em... extraterrestres decidiram que seu próximo projeto seguiria na mesma trilha.          Acontece que o tema i nvasão alienígena já estava batido. Além do mais, o livro de H.G. Wells narra uma história sombria, trágica e com passagens repletas de horror. Então, Spielberg precisou encontrar uma mensagem auspiciosa, que ressaltasse o lado bom do ser humano, aquele que aflora diante das grandes tragédias. Para esta adaptação de Guerra dos Mun

Hotel Ruanda: história real, contada no tom certo

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Direção: Terry George UM PROTAGONISTA IRRADIANDO VERDADE EMOCIONAL Em 1994, Ruanda era um país à beira da explosão. Havia três ingredientes com elevada octanagem fervilhando num caldeirão político: o ódio racial entre as etnias Hutu e Tutsi, uma estrutura de poder baseada em privilégios construída pelo[s colonizadores belgas e uma mídia enfurecida, dedicada a incentivar a violência e a promover atos insanos. Quando o avião do presidente cai, num suposto atentado atribuído à minoria Tutsi, os Hutus saem às ruas e se dedicam, ao longo de quatro meses, a assassinar homens, mulheres e crianças, promovendo um genocídio sistemático que ceifou quase um milhão de vidas.           Essa história tragicamente verdadeira faz parte do enredo de Hotel Ruanda , filme de 2014 dirigido pelo cineasta irlandês Terry George. Mas o diretor toma o cuidado de não descambar para a mera exposição gráfica da violência, nem sucumbe à tentação de filmar um dramalhão lacrimoso. Seu filme é contundente,

O Fugitivo: era série e virou filme estrelado por Harrison Ford

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Direção: Andrew Davis UM THRILLER À MODA ANTIGA Meu pai adorava assistir aos episódios da série  O Fugitivo . Exibida às noites, no horário nobre, era sucesso nos anos 60. Ainda não tinha idade  para acompanhá-la  –  nem paciência – , mas sabia o essencial: o Doutor Kimble era um médico acusado de matar a esposa e fugira pelos Estados Unidos tentando provar a inocência. Perseguido por um tenente implacável, saltava de cidade em cidade à procura do tal homem com apenas um dos braços, esse sim o verdadeiro assassino.           Havia três certezas irrefutáveis na série O Fugitivo . A primeira: o Doutor Kimble era inocente. A segunda: a cada episódio ele tentaria ajudar alguém, como bom médico que era, mas tinha a identidade revelada e precisava partir no final. A terceira: a cada episódio veríamos o desfile de atores e atrizes conhecidos, participando como convidados especiais. Essa fórmula rendeu 120 episódios em quatro temporadas, exibidas entre 1963 e 1967.           Quando o filme  O

Cavalo de Guerra: um livro infantil que virou filme de Steven Spielberg

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Cavalo de Guerra: filme dirigido por Steven Spielberg UMA OBRA MADURA, ADAPTADA DE UM LIVRO INFANTIL De um filme sobre a Primeira Guerra Mundial dirigido por Steven Spielberg, os mais apressados podem esperar por momentos de horror e violência, numa abordagem gráfica crua e realista. Nada disso! Cavalo de Guerra , realizado em 2011, é um filme para toda a família, baseado em um livro infantil escrito por Michael Mopurgo. A guerra, em toda a sua tristeza, é retratada como pano de fundo, mas o foco de Spielberg vai para os personagens, seus dramas e suas trajetórias.           Cavalo de Guerra conta a história de Joey, um cavalo que pertence a Albert Narracott, garoto cuja família humilde vive numa pequena propriedade em Devon, na Inglaterra. Estamos às portas da Primeira Guerra e os fortes laços emocionais entre o garoto e seu cavalo são postos à prova quando Joey é vendido para o Exército e destacado para as batalhas na França. Mortes, doenças, violência extrema e uma exte

Águas Rasas: mais do que um filme de tubarão, é um drama de sobrevivência

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Águas Rasas: filme dirigido por Jaume Collet-Serra CONTORNANDO A TRADICIONAL ABORDAGEM SANGUINÁRIA DO GÊNERO Antes de mais nada, é preciso que se diga: Águas Rasas , filme de 2016 dirigido por Jaume Collet-Serra, não é um filme de terror, com cenas sanguinárias de monstros aterrorizantes. Também não é um filme de tubarão nos moldes daquele que nos vem à mente quando tal palavra é pronunciada. Trata-se de um filme de sobrevivência. A protagonista passa por situações aterrorizantes, o tubarão é uma monstruosa máquina de matar e o sangue é inevitável, mas o diretor prefere focar suas lentes no ancestral embate entre o homem e a natureza.           Águas Rasas conta a história de Nancy Adams, vivida pela ótima Blake Lively, uma estudante de medicina que chega pela manhã numa praia remota e desabitada do México, com o firme propósito de... surfar. Abalada com a recente morte da mãe, tudo o que ela deseja é expurgar a dor e rever os rumos da própria vida. À tarde, aproveitando s

Ex Machina: Instinto Artificial - Já foi máquina, agora é quase gente!

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Ex Machina: Instinto Artificial: filme dirigido por Alex Garland UMA OBRA VISUAL ELEGANTE, SUSTENTADA POR UM ROTEIRO PRECISO Por que diabos o filme Ex Machina , no Brasil, ganhou o subtítulo de Instinto Artificial ? É um mistério! Não faz sentido demolir o maravilhoso conceito colado no trocadilho involuntário criado em português com o termo ex-máquina e confundi-lo com instinto – um mero impulso inato nos animais, dissociado da razão e da inteligência. A simples ideia de uma máquina que deixou de ser máquina já basta para cutucar a imaginação do espectador, sugerindo uma história envolvente, instigante e repleta de implicações éticas e filosóficas. Foi o que conseguiu materializar com brilhantismo o diretor e roteirista Alex Garland, nesse filme de 2015.           Mas antes de seguir com os elogios, quero aproveitar para lembrar que o conceito de Deus ex Machina, consagrado na narrativa teatral como solução improvisada pelos roteiristas incautos, que não conseguem livrar seus protagon

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