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A Cor Púrpura: onde foram parar as cartas de Miss Celie?

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A Cor Púrpura: filme de Steven Spielberg ADAPTAÇÃO DESFOCADA DE UM ROMANCE CONTUNDENTE Eis que, em 1985, Steven Spielberg se vê às voltas com seu primeiro drama, depois vencer como diretor de grandes sucessos de bilheteria. Certamente foi colocado à frente do projeto para transformar A Cor Púrpura em um arrasa-quarteirão. E conseguiu, mas conseguiu também mergulhar em um mar infestado de polêmicas e críticas desfavoráveis. Revisitei o filme recentemente e continuo achando que o diretor errou a mão, embora tenha nos entregado uma produção caprichada, com uma narrativa ágil e envolvente.           Mas antes de cutucar nos problemas, vamos falar um pouco do livro que originou o filme. Trata-se do romance A Cor Púrpura , escrito em 1983 por Alice Walker. Esse estrondoso sucesso, que rendeu a ela o Prêmio Pulitzer, traz uma característica importante: é construído por meio das cartas escritas pela protagonista – endereçadas ao Querido Deus e à sua irmã Nettie. Segue um formato literário pop

Django Livre: era escravo, mas virou pistoleiro implacável

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Django Livre: filme dirigido por Quentin Tarantino TARANTINO VAI DIRETO NA ESSÊNCIA DO WESTERN: A LIBERDADE! Digamos que você esteja escrevendo um roteiro e precisa tomar uma série de decisões envolvendo o protagonista. As escolhas e ações por ele empreendidas determinarão o desenrolar da trama. Porém, para transmitir credibilidade, você precisará alcançar a verdade interior do personagem. Precisará responder a uma pergunta essencial: qual é a sua principal motivação? O que de fato o move em sua jornada ao longo da história? Personagens complexos se alimentam de um composto de motivações. Personagens rasos, precisam de apenas uma obsessão e fazem o tipo mais comum entre aqueles que povoam os filmes de ação.           Pensando comercialmente, talvez você prefira definir a motivação mais óbvia e fácil de ser aceita e compreendida pelo grande público: a vingança! Qualquer criança sabe se colocar no lugar de quem anseia por desforra, principalmente se ela serve como reparação de uma injust

Taxi Driver: cinema visceral, realizado com garra e estilo

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Taxi Driver: filme de Martin Scorsese UM PERSONAGEM ATORMENTADO, UMA CIDADE CÚMPLICE E UM TEMA PARA SAXOFONE Ao volante, o jovem e perturbado Travis Bickle está com os olhos arregalados, revelando desconfiança e apreensão. Pelo retrovisor observa o passageiro no banco de trás, um sujeito tão sinistro que consegue parecer o mais perturbado dos dois. Pede a Travis que pare em frente a um prédio e observe numa janela a silhueta de uma mulher. A sua mulher! A mulher infiel, flagrada em pleno ato de traição. A mulher a quem pretende matar com requintes de perversidade! Seu tom de voz irradia dor de cotovelo e desejo de vingança e assim consegue incutir em Travis a noção de que, sim, é possível matar alguém, como forma de corrigir o que julga estar errado.           Dentro do taxi, em mais uma jornada pela madrugada nova-iorquina, um episódio banal e em aparente desconexão com a trama do filme pode parecer apenas uma tentativa de causar estranhamento ou de criar uma atmosfera soturna. Não é

O Gângster: thriller com atmosfera dos grandes clássicos sobre a máfia

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O Gângster: filme dirigido por Ridley Scott UM FILME DE GÂNGSTERES QUE MERECE ESTAR ENTRE OS CLÁSSICOS DO GÊNERO O filme O Gângster , dirigido em 2007 por Ridley Scott, tem um atrativo poderoso: é baseado em fatos. Narra a história de Frank Lucas (Deenzel Washington), um bandido do Harlem que, em 1968, herdou os negócios do mafioso Ellsworth Johnson. Ele teve a ideia ousada de eliminar os intermediários no circuito da droga e passou a importar heroína diretamente do Vietnã, usando a logística de militares corruptos. Em questão de meses desbancou a máfia italiana e acumulou uma fortuna descomunal. Porém, como levava uma vida discreta e sem ostentação, as autoridades nem sequer tinham conhecimento da sua existência. Vivia no melhor dos mundos.           Na outra ponta dessa história real, está Richie Roberts (Russel Crowe), um policial tão honesto que certa vez devolveu aos cofres públicos 1 milhão de dólares em dinheiro de suborno, que havia encontrado numa batida. Só tinha um objetivo

Erin Brockovich: ganhou fama e fortuna

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Erin Brockvich: filme dirigido por Steven Soderbergh UM FILME DESTINADO A BRILHAR Sucesso! Essa é a palavra que me vem à mente quando penso em Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento . Esse filme do ano 2000 foi dirigido por Steven Soderbergh e estrelado por Julia Roberts. Há muito sucesso enchendo a tela e transbordando para a vida real. Vamos fazer as contas: primeiro, temos o sucesso da própria... Erin Brockovich, a personagem que dá título ao filme. Ela teve sua história incrível revelada para o mundo, depois de acumular uma fortuna nos tribunais lutando para revelar um dos maiores crimes ambientais da história americana.           Temos também o sucesso de Julia Roberts, que quando aceitou o papel da protagonista estava no auge da carreira e por ele acabou ganhando seu Óscar de melhor atriz.           E para completar, precisamos computar o sucesso do próprio diretor, que mais uma vez foi indicado ao Óscar. Com esse filme, ele se viu no topo da indústria, entre os melhores diretor

Laranja Mecânica: um clássico que já foi proibido

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Laranja Mecânica: filme dirigido por Stanley Kubrick UMA HISTÓRIA SOBRE A VIOLÊNCIA, O CONTROLE DO ESTADO E A LINGUAGEM COMO INSTRUMENO DE TRANSFORMAÇÃO Era um garoto de dez anos quando Laranja Mecânica foi realizado por Stanley Kubrick em 1971. Por volta dos quinze, fiquei sabendo da existência do polêmico filme, porque a mídia o abordava em frequentes reportagens – o próprio diretor, vejam só, havia pedido para banir a película das salas de exibição na Inglaterra, por ser hiperviolenta e sexualmente apelativa. Além disso, as estrelas do rock britânico estavam sempre fazendo referências ao filme, mantendo acesa a curiosidade do resto do mundo. Enquanto isso, no Brasil, Laranja Mecânica estava proibido de pôr os pés.           Por óbvio, minha curiosidade se voltou primeiro para o título do filme. Que serventia teria um tal mecanismo em forma de laranja? Mais tarde descobri se tratar de uma expressão criada pelo autor do livro, Anthony Burgess, para se referir ao sujeito que, por for

Ghost - Do Outro Lado da Vida: o amor nunca morre

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Ghost - Do Outro Lado da Vida: filme dirigido por Jerry Zucker UMA HISTÓRIA DE AMOR DESPUDORADAMENTE SENTIMENTAL Patrick Swayze sentado atrás de Demi Moore, ambos manipulando a argila sobre a roda de oleiro, ao som da canção Unchained Melody. Há muito essa imagem deixou de ser cena de filme e virou ícone romântico, com potencial para continuar arrancando suspiros de futuras gerações. Ghost – Do Outro Lado da Vida foi realizado em 1990 e continua funcionando muito bem. Ludy e eu tropeçamos nele outro dia, enquanto vasculhávamos a programação da TV por assinatura e imediatamente nos acomodamos no sofá, para acompanhar essa história já conhecida, mas envolvente.           É muito fácil se render ao filme. Ele foi construído ao redor de dois conceitos poderosos, há muito incrustrados na cultura ocidental: o amor romântico e apaixonado como pilar dos relacionamentos e a imortalidade da alma, que arrefece nossas angústias diante da finitude da vida. Apesar de contar uma história de amor des

Doutor Jivago: uma história de amor ofuscando a revolução russa

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Doutor Jivago: filme dirigido por David Lean CINEMA ELEGANTE QUE CONTINUA IRRADIANDO EXUBERÂNCIA Quando me dei por gente, Doutor Jivago já era um dos maiores clássicos da história do cinema. Sabia praticamente nada sobre o filme, apenas o que ouvia de minha mãe e de minhas tias, quando conversavam sobre filmes, romances açucarados e a vida das atrizes e atores de Hollywood – tudo muito chato para um garoto mais interessado em ação e aventuras. No entanto, conhecia muito bem a música do filme. Volta e meia o Tema de Lara estava na vitrola da sala, nos programas de rádio e nos assobios da minha mãe enquanto pendurava para secar as roupas no varal. Virou lembrança de infância, mais associada às preferências e ao gosto de outras gerações.           Quando finalmente assisti ao filme, já era adulto – apto a apreciar e compreender o gosto e as preferências das outras gerações. Fiquei surpreso com essa obra de 1965 dirigida por David Lean. Não me deparei com as cenas emboloradas, textos ult

Mare of Easttown: uma personagem em sua comunidade

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Mare of Easttown: minissérie dirigida por Craig Zobel EM PRIMEIRO PLANO, OS PERSONAGENS. O MISTÉRIO FICA COMO PANO DE FUNDO Em Easttown, município do condado de Chester, na Pensilvânia, há muita qualidade de vida, que podemos intuir só de olhar as ruas pavimentadas, o paisagismo cuidadoso, o trânsito pacato e as residências belas e confortáveis. Há também uma investigadora de polícia chamada Mare Sheehan, de quem imediatamente desejamos nos tornar íntimos, só de olhar o semblante maduro, grave e atormentado que assume por estar vestida com a pele da atriz Kate Winslet. A força de Mare of Easttwon , a minissérie da HBO que se tornou sucesso imediato e arrebatador, talvez esteja ancorada nesses três elementos: uma personagem, uma atriz e uma comunidade!           Desenvolvida em sete episódios, Mare of Easttown nos traz um drama policial, que gira ao redor de um misterioso assassinato. Sabemos que ele será resolvido, mas não sabemos a que custo emocional para os incontáveis personagens

O Último Grande Herói: sátira inteligente dos filmes de ação, com toques de metalinguagem

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O Último Grande Herói: filme de John McTiernan UM COMPLETO E INESPERADO EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM Minhas postagens na Crônica de Cinema são sempre aleatórias, resultado do meu humor e estado de espírito. É assim que garanto o caráter autoral do blog. Mas, de vez em quando, na hora de escolher um filme para comentar, esbarro numa boa sugestão dos amigos. Dessa vez, quando li o comentário da Jane Chiesse Zandonadi sobre o filme O Último Grande Herói , pensei: – Boa ideia! Eis aqui um filme que pode render uma boa conversa com os cinéfilos!           Para quem ainda não associou o nome à figura, o filme em questão é aquela comédia de ação de 1993 estrelada por Arnold Schwarzenegger e dirigida por John McTiernan, sobre o garoto que, de repente, se vê transportado para a realidade paralela dos filmes de ação. Tornou-se um estrondoso fracasso de bilheteria, causado por uma série de decisões equivocadas tomadas pelos marqueteiros do estúdio – foi lançado praticamente junto com Jurassic Park

Amarcord: as lembranças de Fellini e seus significados

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Amarcord: filme dirigido por Federico Fellini HUMOR, LIRISMO, NOSTALGIA E UMA ATMOSFERA ONÍRICA Só consegui assistir ao filme Amarcord , realizado em 1973 por Federico Fellini, no começo dos anos 1980. Foi pela televisão. Na época, apesar de já ser apresentado como um grande clássico, com relevância na história da sétima arte, o título ainda evocava um certo clima de safadeza, dada a sua temática sexual – eram tempos bem mais puritanos!           Amarcord é uma comédia dramática costurada a partir de um amontado de cenas e esquetes, que não estão presos a uma linha de tempo ou a uma trama estruturada. Não há uma história a ser seguida. Tudo o que temos são situações que lampejam como recordações da infância e da adolescência de Fellini, vividas em Rimini, sua cidade natal. Amor, sexualidade, vida familiar, religião, política, educação, cinema, causos... Tudo é contado com doses generosas de humor, lirismo, nostalgia e emoções verdadeiras.           O significado do título desperta c

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