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O Mistério do Farol: a história real da ilha Flannan, só que não!

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O Mistério do Farol: filme dirigido por Kristoffer Nyholm UM THRILLER PSICOLÓGICO EMOCIONANTE, COM ÓTIMAS ATUAÇÕES Há várias confusões em torno desse filme. Antes de começar a desfazê-las, é preciso que se diga: O Mistério do Farol , dirigido em 2019 por Kristoffer Nyholm, é um bom thriller psicológico. Trata-se de uma produção escocesa realizada com competência, que oferece bom entretenimento para os amantes do gênero.           A primeira confusão sobre a produção envolve datas: para promovê-la, os realizadores dizem que foi baseada numa história real, conhecida de boca em boca como "O Mistério da Ilha de Flannan", sobre o desaparecimento de três faroleiros em circunstâncias jamais esclarecidas, enquanto cumpriam seu turno de seis semanas operando o farol. O fato aconteceu em 1894, naquela pequena ilha ao norte da Escócia, a 30 milhas da costa. Quando os homens da marinha vieram para rendê-los, a porta estava escancarada, a mesa posta para o jantar e uma das cadeiras estava

King Richard: Criando Campeãs: um mestre da autopromoção

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King Richard: Criando Campeãs: filme de Reinaldo Marcus Green UMA RAQUETADA NOS MEDÍOCRES! Dia desses acordei revoltado com a pandemia de infantilidade que tomou conta do cinema mainstream e descarreguei minha ira numa crônica sobre a tolice dos filmes de super-heróis. Então, só para me fazer morder a língua, vem o cinema mainstream e aparece com King Richard: Criando Campeãs , filme de 2021 dirigido por Reinaldo Marcus Green. Finalmente, depois de anos, Hollywood decide investir em uma temática mais elevada, contando uma história real para enaltecer os valores familiares e mostrar que o esforço individual é o impulsionador das grandes conquistas. Esse drama biográfico nos apresenta um personagem desconhecido do público brasileiro: Richard Williams, pai e treinador das tenistas Venus e Serena Williams, duas das maiores atletas das últimas décadas. Mesmo quem não acompanha o tênis, conhece o impacto que as duas irmãs oriundas da plebe provocaram nas quadras desse esporte requintado e el

Moonfall - Ameaça Lunar: um filme de catástrofe que é... catastrófico!

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Moonfall - Ameaça Lunar: direção de Roland Emmrich O DESASTRE COMEÇA PELO ROTEIRO! Para contar uma história da melhor maneira possível, é legítimo que um cineasta subverta as leis da física, ignore as forças da natureza e chute para o espaço os princípios da lógica. Só não pode abrir mão da verossimilhança. É preciso manter coerência entre as situações extraordinárias que inventa e o universo interno dos seus personagens. Enquanto o espectador seguir reconhecendo a verdade no fluxo emocional que chega irradiado da tela, pouco importa se a história parece irreal e improvável. Pelo menos ela é verossímil! No filme Moonfall – Ameaça Lunar , dirigido em 2022 por Roland Emmerich, todos os baldes foram chutados, respingando absurdos por todos os lados. Foi tudo em nome do entretenimento, é verdade, mas quem gosta de cinema não se contenta com passatempos. Para ficar no trocadilho, o filme é um desastre.           Quem entra na sala de cinema para assistir a um filme sobre a destruição catast

Distrito 9: ação e suspense numa ficção científica provocativa

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Distrito 9: filme dirigido por Neill Blomkamp UMA DISTOPIA INTELIGENTE FILMADA COM REALISMO PERTURBADOR Em 2005, o cineasta Neill Blomkamp pôs em prática o que aprendeu na Vancouver Film School e realizou um curta-metragem de seis minutos, intitulado Alive in Joburg . Era ficção científica na veia, filmado em Joanesburgo, na África do Sul, cidade natal de Blomkamp. Explorava temas ao redor do regime de apartheid, combinando uma linguagem documental com efeitos visuais realistas. Mostrava como refugiados alienígenas, vindos do espaço, estavam disputando território e recursos com a população empobrecida da cidade, despertando medo, ódio e fúria xenófoba. Uma metáfora provocativa que ganhou a internet e alavancou a carreira do cineasta.           Por uma conjunção de fatores comerciais, Neill Blomkamp se viu novamente diante do tema em 2009, dessa vez para rodar o filme Distrito 9 , uma adaptação daquele seu curta. Juntou-se à sua colega Terri Tatchell e escreveram o roteiro, expandindo a

Logan: filme de 2017 mostra o ocaso de Wolverine

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Logan: filme dirigido por James Mangold PARA OS FÃS QUE GOSTARIAM DE VER O PERSONAGEM COM MAIS PROFUNDIDADE DRAMÁTICA Acordei, olhei minha imagem no espelho enquanto cuspia a espuma azulada de uma droga de pasta de dente que comprei por engano e sacudi a cabeça, num gesto irritado de negação: estou ficando velho e rabugento! Quisera que fosse mais rabugento do que velho, mas temo que o tempo esteja vencendo essa corrida. Na noite anterior havia assistido ao filme Logan , dirigido em 2017 por James Mangold e ainda estava atordoado com aquele rápido mergulho no mar raso dos filmes de super-heróis. Por insistência da minha filha – ela jurou que esse era menos infantilizado - resolvi encarar o desafio.           Antes que o leitor me acuse de preconceituoso, deixe-me esclarecer: adoro histórias em quadrinhos e as considero uma arte narrativa riquíssima. Já consumi muitos quadrinhos e muita literatura sobre o assunto. Já assisti a vários filmes de super-heróis e outros originados dos quadri

A Festa de Babette: quando o alimento ganha significado para o espírito

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A Festa de Babette: filme dirigido por Gabriel Axel UM FILME MADURO, REALIZADO COM GRANDE COMPETÊNCIA ARTÍSTICA Ah, como é bom ser humano! Poder aproveitar por inteiro os nacos de realidade que nos chegam por meio dos cinco sentidos. Ter essa capacidade de atribuir significados a tudo o que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos e degustamos. Compartilhar nossa humanidade e cultivar relacionamentos por meio das experiências que temos em comum com todos os demais humanos. É daí que decorre a arte – na verdade, todas as sete: arquitetura, escultura, pintura, música, dança, literatura e cinema. Mas espere aí! Quem disse que a arte precisa estar submissa à ditadura da visão e da audição? Há muito material artístico para ser fruído por meio de outros sentidos, como por exemplo, o paladar. É disso que nos fala o filme A Festa de Babette , escrito e dirigido em 1987 pelo dinamarquês Gabriel Axel.           O filme ficou consagrado como uma ode à gastronomia e foi a primeira produção dinamarquesa

Rota Selvagem: no final, é um filme sobre o abandono e a solidão

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Rota Selvagem: filme dirigido por Andrew Haigh CINEMA MADURO E COMPETENTE, ABORDANDO UM TEMA DIFÍCIL E PENOSO – Descobri um ótimo filme pra gente assistir agora – fui avisando enquanto entrava no quarto de supetão, pegando Ludy de surpresa. Ela tirou os olhos do livro que estava lendo e me encarou, à espera de algo que a surpreendesse. Então, anunciei solene: – Rota Selvagem !           – Rota Selvagem ? Fala sério! – retrucou Ludy, voltando os olhos para o livro. – Não estou disposta a encarar um filme violento, cheio de tiros e perseguições.           – Não é nada disso! A sinopse diz que é um drama. Um road movie contando a trajetória de amadurecimento de um garoto de 15 anos na companhia de um cavalo chamado Pete. Acho que você vai gostar.           Ludy resolveu dar uma chance, assistiu ao filme comigo e gostou! Suspeito que, assim como ela, muitos cinéfilos podem ter saltado essa opção no serviço de streaming, em razão do título inapropriado. Por outro lado, aqueles que deram o p

Não Olhe Para Cima: sátira política para os bons entendedores

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Não Olhe Para Cima: dirigido por Adam McKay SOBRAM FARPAS E CRÍTICAS PARA TODOS OS LADOS Pronto, o impacto midiático de Não Olhe Para Cima , filme de 2021 dirigido por Adam McKay, já passou. A onda de sucesso ressoou por vários dias – será que durou duas semanas? Seu estrondo se fez ouvir por todos os sites de entretenimento e feeds das redes sociais. Virou o assunto da hora. Todos tentaram tirar proveito do filme, garantindo audiência para seus comentários, críticas, análises, comparações... Quem tinha algo de inteligente a dizer, já o fez. Quem teve ideia para um meme, já postou. Quem precisava marcar território no campo ideológico, fincou sua bandeira. Agora, sobraram o vento e o silêncio. O sabor de novidade se diluiu no caldo morno da cultura popular e voltamos ao habitual estado de espera pela próxima sensação do momento.           Não Olhe Para Cima foi feito da mesma substância fugitiva que tentamos agarrar todos os dias nas telas dos nossos celulares, mas que insiste em escor

Sabor da Vida: tudo ao redor tem algo a nos dizer!

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Sabor da Vida: dirigido por Naomi Kawase QUANDO SONS E IMAGENS GANHAM EXPRESSÃO LÍRICA Estava ansioso para retomar as crônicas de cinema, depois de passar pela Covid. A variante que Ludy e eu contraímos foi aquela menos agressiva, que se alastrou na virada do ano, mas não podemos dizer que as duas últimas semanas foram aproveitadas como férias. Nada disso! Esse vírus é um pé-no-saco! Febre, dor no corpo, cansaço permanente, tosse... Para complicar, percebi diminuição na acuidade visual e senti dificuldade para fixar os olhos numa tela ou página de livro. Pode haver maior perda de tempo? Mesmo assim, consegui assistir a alguns filmes – não tantos quanto gostaria! Acumulei assunto para alimentar o blog e saciei minha fome de bom cinema. Aliás, o primeiro filme que degustei nesse período de convalescença foi um verdadeiro banquete: Sabor da Vida , realizado em 2015 pela diretora japonesa Naomi Kawase.           Eis aqui um filme delicado e ao mesmo tempo denso, realizado com sensibilidade

Feliz Ano Novo!

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PRETENDO OLHAR PARA O CÉU NOTURNO E ENXERGAR MAIS DO QUE FOGOS DE ARTIFÍCIO A luz elétrica revolucionou a vida em nosso planeta e alçou a humanidade a um patamar de conforto antes inimaginável, mas nos impôs um efeito colateral. Nossas cidades iluminadas ofuscaram o céu noturno e nos deixaram cegos para o esplendor da abóbada celeste. Aquilo que maravilhava nossos ancestrais cotidianamente, os intrigava e incitava a imaginação, apagou-se. Da minha varanda, numa noite sem nuvens e sem a luz do luar, tudo o que consigo enxergar olhando para cima são vários pontos luminosos, esparsos. Ainda assim suficientes para me pôr divagando sobre a imensidão do universo e as razões da existência.           Quando era garoto, aprendi na escola que a Terra está localizada na Via Láctea, uma galáxia como tantas outras. Lembro de uma foto num livro de geografia onde uma seta indicava o local exato. Fiquei intrigado: como é possível saber isso com tanta precisão, apenas olhando para o céu? O próprio nome

Um Crime de Mestre: um honesto suspense de tribunal

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Um Crime de Mestre: dirigido por Gregory Hoblit TIRANDO PROVEITO DO EMARANHADO JURÍDICO Lá pelos doze anos, o que me estimulou para a leitura foi Sherlock Holmes. As histórias do famoso detetive e seu assistente, Doutor Watson, mantinham-me ocupado por horas nas tardes de férias. Foi nas páginas de Sir Arthur Conan Doyle que encontrei a comprovação: o crime não compensa, mentira tem perna curta e não existe crime perfeito! O arrogante criminoso sempre deixará pistas na cena do crime, que estarão gritando na direção da verdade. Basta usar as ferramentas da dedução para montar o quebra-cabeça e fechar o circuito lógico.           Quando virava a última página do livro e encontrava a palavra “fim”, começava uma nova aventura: a de tentar imaginar como o autor havia construído tão intrincada história. A única possibilidade, conforme minhas próprias deduções lógicas, era seguir o caminho reverso: começar bolando a trama e depois criar os detalhes do crime, imaginando as pistas que seriam de

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