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Mostrando postagens de janeiro, 2022

A Festa de Babette: quando o alimento ganha significado para o espírito

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A Festa de Babette: filme dirigido por Gabriel Axel UM FILME MADURO, REALIZADO COM GRANDE COMPETÊNCIA ARTÍSTICA Ah, como é bom ser humano! Poder aproveitar por inteiro os nacos de realidade que nos chegam por meio dos cinco sentidos. Ter essa capacidade de atribuir significados a tudo o que vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos e degustamos. Compartilhar nossa humanidade e cultivar relacionamentos por meio das experiências que temos em comum com todos os demais humanos. É daí que decorre a arte – na verdade, todas as sete: arquitetura, escultura, pintura, música, dança, literatura e cinema. Mas espere aí! Quem disse que a arte precisa estar submissa à ditadura da visão e da audição? Há muito material artístico para ser fruído por meio de outros sentidos, como por exemplo, o paladar. É disso que nos fala o filme A Festa de Babette , escrito e dirigido em 1987 pelo dinamarquês Gabriel Axel.           O filme ficou consagrado como uma ode à gastronomia e foi a pr...

Rota Selvagem: no final, é um filme sobre o abandono e a solidão

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Rota Selvagem: filme dirigido por Andrew Haigh CINEMA MADURO E COMPETENTE, COM TEMÁTICA DIFÍCIL E PENOSA – Descobri um ótimo filme pra gente assistir agora – avisei, enquanto entrava no quarto de supetão e pegava Ludy de surpresa. Ela tirou os olhos do livro e me encarou, à espera de algo que a surpreendesse. Então, anunciei solene: – Rota Selvagem !           – Rota Selvagem ? Fala sério! – retrucou Ludy, enquanto voltava os olhos para o livro. – Não estou disposta a encarar um filme violento, cheio de tiros e perseguições.           – Não é nada disso! A sinopse diz que é um drama. Um road movie que conta a trajetória de amadurecimento de um garoto de 15 anos, na companhia de um cavalo chamado Pete. Acho que você vai gostar.           Minha mulher resolveu dar uma chance ao meu otimismo e assistiu ao filme comigo. Gostou! Suspeito que, assim como ela, muitos cinéfilos podem ter saltado essa opçã...

Não Olhe Para Cima: sátira política à procura de bons entendedores

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Não Olhe Para Cima: dirigido por Adam McKay SOBRAM FARPAS E CRÍTICAS PARA TODOS OS LADOS Quando foi lançado,  Não Olhe Para Cima , filme de 2021 dirigido por Adam McKay, causou um enorme impacto midiático. A onda de sucesso ressoou por vários dias – será que durou duas semanas? Seu estrondo se fez ouvir por todos os sites de entretenimento e feeds das redes sociais; virou o assunto da hora. Todos tentaram tirar proveito do filme e garantir audiência para seus comentários, críticas, análises, comparações... Quem tinha algo de inteligente a dizer, já o fez; quem teve ideia para um meme, já postou; quem precisava marcar território no campo ideológico, já fincou sua bandeira. Agora, sobraram o vento e o silêncio. O sabor de novidade se diluiu no caldo morno da cultura popular e a humanidade voltou ao habitual estado de espera pela próxima sensação do momento.           Não Olhe Para Cima foi feito da mesma substância fugidia que tentamos agarrar diariamen...

Sabor da Vida: tudo ao redor tem algo a nos dizer!

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Sabor da Vida: dirigido por Naomi Kawase QUANDO SONS E IMAGENS GANHAM EXPRESSÃO LÍRICA Depois de passar pela Covid, estava ansioso para retomar as crônicas de cinema. A variante que Ludy e eu contraímos naqueles auges da pandemia foi a menos agressiva; não posso dizer, entretanto, que as duas semanas de confinamento que nos impusemos foram aproveitadas como um período de férias. Nada disso! Aquele vírus foi um pé-no-saco! Febre, dor no corpo, cansaço permanente, tosse... Para complicar, percebi diminuição na acuidade visual e senti dificuldades para fixar os olhos numa tela ou página de livro. Pode haver maior perda de tempo? Mesmo assim, consegui assistir a alguns filmes – não tantos quanto gostaria! Acumulei assunto para alimentar o blog e saciei minha fome de bom cinema. Aliás, o primeiro filme que degustei naquele período de convalescença foi um verdadeiro banquete: Sabor da Vida , realizado em 2015 pela diretora japonesa Naomi Kawase.           Eis aqu...

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