Direto ao Conto - 7
NOVAS EVIDÊNCIAS Minha aspiração era ser escritor, mas não! Sou policial. Ao invés de palavras, reúno provas, salpicadas sem nexo pelas cenas dos crimes. Pinço substantivos e os empacoto, etiqueto e catalogo. Colho depoimentos, mas não cultivo narrativas. Ao contrário, as desmonto. Depois remonto. Deixo de fora qualquer vestígio autoral. Ouço vozes ativas e passivas, estapafúrdias, ameaçadoras, apavoradas, rancorosas, meliantes... Exerço uma datilografia disléxica, despreocupada com eventuais revisores xeretas. É assim que registro crimes gramaticais e atentados ortográficos. Laudos periciais, boletins de ocorrência, relatórios de inquérito, alegações... São os formatos literários que me cabem. Participei, certa vez, de uma reconstituição muito comentada. Foi meu ápice narrativo. Senti-me um diretor de cinema, ao apontar minhas lentes subjetivas na direção da materialidade. Derramei as luzes no encalço da ação. Gritei cortes, para desencadear ...