Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Fantasia

Brazil – O Filme: uma distopia inspirada em George Orwell

Imagem
Brazil - O Filme: direção de Terry Gillian QUANDO MONTY PYTHON ENCONTRA GEORGE ORWELL No Brasil do começo dos anos 1980, o humor anárquico do grupo inglês Monty Python não era popular. Poucos tiveram a oportunidade de assistir no cinema ao filme Monty Python em Busca do Cálice Sagrado . Com o advento dos videocassetes, as fitas com os programas de TV da trupe britânica apareceram nas locadoras e ajudaram a atrair espectadores para as salas de exibição, quando chegaram os filmes A Vida de Brian e Monty Python – O Sentido da Vida . Na época, poucos enxergaram a conexão entre esses títulos e Brasil – O Filme , dirigido em 1985 por Terry Gillian – aliás, uma conexão sutil e se a menciono aqui, é apenas para criar um efeito narrativo.           Acontece que Terry Gillian, o diretor, foi um dos integrantes dos Monty Python – o único americano do grupo. Como cartunista, contribuiu com as animações que permeiam os filmes da trupe, além de ter colaborado nos roteir...

Encontro Marcado: explicando para a morte qual é o sentido da vida

Imagem
Encontro Marcado: direção de Martin Brest SE TIVESSE MAIS COMÉDIA, SERIA MELHOR O que poderia dar errado? Você tem dois atores no auge da popularidade, que atuaram juntos em 1994 no sucesso Lendas da Paixão . Você tem um diretor festejado em Hollywood, que contabilizou em 1992 o estrondoso sucesso comercial chamado Perfume de Mulher . Você tem uma história charmosa, filmada e testada pela primeira vez em 1934, com o título de Uma Sombra que Passa – Death Takes a Holiday , no original. Você tem um certo verniz de dramaturgia, que marcou o teatro com a peça La Morte in Vacanza , escrita em 1923 pelo italiano Alberto Casella. Mas esse histórico de sucesso de nada adiantou quando Encontro Marcado , filme de Martin Brest, foi lançado em 1998: o ceifador cobrou seu preço nas bilheterias e o diretor ficou em maus lençóis com os executivos do estúdio – estourou cronogramas, foi além do orçamento e entregou um filme excessivamente longo, que desagradou a audiência e os exibidores.    ...

Asas do Desejo: um poema cinematográfico sobre o que é ser humano

Imagem
Asas do Desejo: direção de Wim Wenders UM FILME QUE SÓ SE MATERIALIZA NOS OLHOS DE CADA ESPECTADOR O cinema nasceu mudo, mas sempre flertou com as palavras. Elas foram o recurso do qual os cineastas lançaram mão, quando precisaram costurar narrativas e lidar com conteúdo expositivo. Por meio de letreiros, intercalados aqui e ali, a sétima arte deu sua contribuição para ampliar a expressividade da língua, usada para comunicar e emocionar. Os meios estilísticos da literatura apontaram caminhos seguros, mas foi nas mãos dos cineastas mais inventivos que apareceram novas oportunidades de relacionar palavras e imagens, para aprimorar a representação do vasto universo mental que nos torna humanos. É disso que se trata o filme Asas do Desejo , realizado em 1987 pelo alemão Wim Wenders. Essa produção impecável, vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes, ganhou status de filme cult e foi recentemente restaurada. Trouxe seu importante legado de celuloide para o mundo da tecnologia digital...

O Grande Truque: o segredo é surpreender no final

Imagem
O Grande Truque: direção de Christopher Nolan O MUNDO DA MÁGICA TRATADO COM FANTASIA E IMAGINAÇÃO Já não há mais palcos para os espetáculos de magia em nossos tempos digitais. Mas no final do século XIX, os mágicos de fraque e cartola eram celebridades, que assombravam as plateias com truques desconcertantes. Faziam questão de atiçar a curiosidade do público e jamais revelavam seus segredos. Alguns fizeram fama e fortuna, até o momento em que as façanhas da tecnologia começaram a criar outras atrações mais... midiáticas.         O escritor britânico Christopher Priest se interessou por esses tempos áureos da mágica e encontrou assunto para escrever seu romance Prestige , publicado em 1996. Partiu da história real do mágico chinês conhecido como Ching Ling Foo, cuja especialidade era fazer surgir objetos por debaixo de seu lenço de seda. Alguns eram grandes e pesados, como um aquário cheio d’água, com vários peixes dourados. Ninguém sabia como ele conseguia tal façanh...

Mussum, Keanu Reeves e os Beatles: uma combinação inusitada

Imagem
Submarino Amarelo: filme dirigido por George Dunning SARGENT PEPPER E SUA BANDA ACABAM COM QUALQUER PANDEMIA DE TRISTEZA Alguém aí anotou a placa do ano que furou o sinal, atropelou nossos planos e passou por cima das nossas rotinas? Como diria o Mussum, Keanu Reeves! Começamos 2020, ano em que eclodiu a pandemia do Coronavirus, com a ambição de prosperar, mas tivemos que nos contentar em apenas sobreviver. 2021, 2022, 2023 e 2024 não foram diferentes. O que esperar de 2025?           A politicagem berrou o ano inteiro, desafinada e estridente, com uma insistência de enlouquecer. Falsas dicotomias surgiram a cada dia nos noticiários, para insinuar que o bem comum e os direitos individuais são irreconciliáveis. Escolhemos um dos lados e nos entrincheiramos nas redes sociais. Disparamos sem piedade contra quem vai erradamente contra as nossas certezas. Angustiados, estamos na iminência de explodir.           Enquanto escrevo, ol...

O Curioso Caso de Benjamin Button: Brad Pitt em todas as idades

Imagem
O Curioso Caso de Benjamin Button: filme dirigido por David Fincher MÁGICA DIGITAL PARA TRANSFORMAR UM CONTO EM CINEMA Nestes tempos digitais, o que me preocupa é o destino dos escritores. Há muito planejo ser um deles, mas agora temo que eles estejam com os dias contados. Não digo que deixarão de existir. São teimosos! Suas contrapartes, os leitores, é que parecem desaparecer. Os escritores serão o que sempre foram, só não sei se ainda escreverão da mesma forma. Certamente terão que ser mais sucintos. Usar emoticons. Abandonar a dimensão tipográfica do texto. Assumir a palavra falada... Talvez deva pesquisar sobre isso, numa consulta ao CharGPT!           Escritores são os que têm ideias e as colocam no papel, para que os demais reflitam sobre elas. Quando o mundo não era tão urgente e não demandava velocidade e fúria, faziam isso sem pressa, a exemplo de Mark Twain, o maior escritor americano do século XIX. Certa vez ele disse: “A vida seria infinitamente...

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: fantasia, horror e compromisso com o belo

Imagem
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça: dirigido por Tim Burton MISTURA DE TERROR CLÁSSICO COM MODERNO Histórias de fantasia e suspense, quando contadas por um diretor que domina a linguagem visual e é dono de uma estética original, preenchem a tela com cenas inusitadas, surpreendentes e marcantes. A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça , de 1999, é um dos filmes mais bonitos de Tim Burton – sem deixar de ser bastante assustador! É um filme de terror e suspense onde o que mais salta aos olhos é a sensibilidade artística com a qual foi realizado.           Estamos diante de uma obra claramente inspirada nos clássicos filmes realizados pela produtora inglesa Hammer Films, que se especializou em produções góticas de terror e fantasia. Por meio delas, personagens memoráveis, como o Barão Victor Frankenstein, Conde Drácula e a Múmia, ganharam vida para além da literatura e ressuscitaram nas salas de cinema dos anos 50, 60 e 70. Fizeram a festa dos cinéfilos apreciadores do gê...

A Casa do Lago: atmosfera romântica com toque poético

Imagem
A Casa do Lago: filme dirigido por Alejandro Agresti PRODUÇÃO AMERICANA, DIRETOR ARGENTINO E ENREDO ORIENTAL – Como é que ainda não tinha visto esse filme? – perguntei em voz alta, enquanto inspecionava os créd itos finais co m o controle remoto na mão.          – Pois eu é que te pergunto! – ironizou Ludy. – Com essa, é a terceira vez que assisto!         – Ah, pensava que era apenas de mais um romancezinho enjoado...         Para minha surpresa, A Casa do Lago , filme de 2006 dirigido pelo argentino Alejandro Agresti, está longe de ser uma daquelas produções românticas feitas para agradar apenas ao público ávido por histórias açucaradas, com apelos fáceis e clichês em série. O filme tem conteúdo narrativo, personagens expostos em profundidade, senso de ritmo, uma atmosfera envolvente e muito charme. Ou seja: é cinema de qualidade.         Na minha mente, o par Keanu Reeves e Sandra Bullock ainda estav...

Bird Box: entidades sobrenaturais monstruosas criam o apocalipse

Imagem
Bird Box: filme dirigido por Susane Bier ABRIRAM A CAIXA DE CLICHÊS! A dinamarquesa Susanne Bier ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, com o filme Em um Mundo Melhor . Infelizmente, tal façanha não fez diferença alguma quando ela dirigiu Bird Box , de 2018, estrelado por Sandra Bullock. Nesse thriller pós-apocalíptico, com uma protagonista feminina às voltas com criaturas misteriosas e mortais – que o público coloca, por comparação, na mesma prateleira de Um Lugar Silencioso – há doses generosas de suspense e tensão. Mas se a ideia inicial é boa, o roteiro de Eric Heisserer não conseguiu evitar os clichês do gênero. Faltou originalidade. Antes de começar a descer a lenha, vamos examinar a sinopse:           A protagonista de Bird Box é Malorie (Sandra Bullock), uma mulher grávida, em plena maturidade, que não está preparada para ser mãe. De repente, seus temores em relação à maternidade se apequenam diante de uma estranha catástrofe que se a...

Sem Limites: fantasia sobre a droga da inteligência

Imagem
Sem limites: filme dirigido por Neil Burger UMA BOA HISTÓRIA, CONTADA COM ESTILO A ideia de ingerir uma poção mágica e ganhar poderes extraordinários, brota na mente humana desde tempos imemoriais, talvez plantada por curandeiros em busca de alívio para males mundanos. Magos, bruxas, alquimistas, feiticeiros e druidas elevaram o nível das promessas e inventaram fórmulas mirabolantes, que terminaram nas páginas da literatura. De Ulisses a Dr. Jekyll, muitos personagens experimentaram drogas transformadoras e pagaram um preço alto para se livrar dos seus efeitos indesejáveis. Com o cientificismo, a crença de que é possível misturar as substâncias certas, nas proporções certas, para obter qualquer efeito que se possa imaginar, tornou-se uma certeza. Daí para o mercado mundial das drogas, foi um pulo.           O homem moderno consome drogas de todos os tipos. Complexos vitamínicos, aspirina, comprimidos para dormir, pastilhas para deixar de fumar... As drog...

A Origem: uma jornada pelo mundo dos sonhos

Imagem
A Origem: direção de Christopher Nolan HISTÓRIA INTRINCADA, ROTEIRO PRECISO Uma ideia original e um roteiro trabalhado à exaustão. Tratamento visual apurado e trilha sonora emocionante. Ação bem orquestrada e elenco carismático.... Com tantos atributos positivos, A Origem , realizado em 2010 por Christopher Nolan, já seria um grande filme. Mas então nos deparamos com um protagonista bem construído, revelado em sua profundidade psicológica e que descreve um arco dramático comovente. Isso eleva a qualidade do filme e o destaca dentro do gênero ficção científica. Não foi à toa que amealhou fãs de todas as faixas etárias.           A Origem consumiu um orçamento milionário, com o qual poucos realizadores conseguem... sonhar. Mas nesse caso, dinheiro não foi tudo! A habilidade de Christopher Nolan para contar com agilidade uma história tão intrincada, foi crucial. Aqui ele aborda um tema com densidade incomum para um filme de ação e nos leva a percorrer, liter...

Siga a Crônica de Cinema