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Mostrando postagens com o rótulo Drama

O Leitor: verdade ou ficção?

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O Leitor: direção de Stephen Daldry COMO VIVER À SOMBRA DOS CRIMES DO NAZISMO? É empolgante esbarrar em grandes títulos escondidos nos serviços de streaming. Outro dia, Ludy e eu já estávamos desanimados – quase prontos para nos render a um filminho qualquer – quando nos surge a capa de O Leitor , filme dirigido em 2008 por Stephen Daldry. As estampas de Kate Winslet e Ralph Fiennes apareceram como um alento. Pronto! Não precisávamos mais nos conformar com a mediocridade! Foi dar o play e fruir cinema de verdade.           De imediato me ocorrem três pontos que precisam ser destacados sobre O Leitor : primeiro, Kate Winslet venceu o Óscar por sua atuação nesse filme, com justiça. Que interpretação! Segundo, o filme remete ao Holocausto, mexendo com a culpa que remoeu a consciência dos alemães nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra. E terceiro, as pitadas de erotismo, espalhadas com pertinência e sensibilidade por todo o primeiro ato do filme, elevaram ainda mais a qualidade do dr

The Chosen / Os Escolhidos: é impossível não maratonar!

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The Chosen / Os Escolhidos: série criada por Dallas Jenkins COMO NA BÍBLIA, MAS NUMA LINGUAGEM MAIS... ATUAL! Não sou espectador habitual de filmes, séries ou novelas religiosas. Meus vínculos com o catolicismo se desfizeram na minha juventude – preferi vagar por aí sem uma religião para seguir. Embora tenha me apresentado desde então como um descrente, aviso que não atirei pela janela os valores cristãos que minha família fez questão de me incutir. Se me pus contrário às distorções corporativas que enxergava na Igreja e me atrevi a discutir os dogmas que não conseguia engolir, continuei agarrado à moral e aos valores éticos que aprendi. Os considero essenciais para que a humanidade possa seguir com o processo civilizatório.           Essa longa introdução tem uma finalidade: deixar claro que se decidi conferir a série The Chosen / Os Escolhidos , criada em 2017 por Dallas Jenkins, foi por pura curiosidade de cinéfilo inveterado, interessado mais na sétima arte do que nos temas religio

A Sociedade da Neve: história real contada de forma mais verdadeira

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A Sociedade da Neve: direção de J. A. Bayona PARA ALÉM DA AÇÃO, FICAMOS COM O EMOCIONAL E O ESPIRITUAL Quando li no serviço de streaming a sinopse de A Sociedade da Neve , dirigido em 2023 por Juan Antonio Bayona, de imediato fui açoitado por uma pergunta incômoda: por que raios alguém se atreveria a recontar essa história tão penosa dos sobreviventes dos Andes? Mas em se tratando do cineasta Juan Antonio Bayona, diretor do excelente O Impossível , deduzi que a justificativa deveria ser das boas! É de fato é!           O cinéfilo atento já percebeu que se trata de um remake do filme Vivos , de 1993, que por sua vez é um remake de Os Sobreviventes do Andes , de 1976. Conta a história do fatídico voo 571 da Força Aérea Uruguaia que em 1972 transportava 45 passageiros – entre eles 18 jovens jogadores de um time de rugby de Montevideo – quando acabou se espatifando nas montanhas geladas dos Andes. Sobreviveram apenas 16 passageiros, depois de amargarem 72 dias de sofrimento e precisarem s

Amnésia: sem memória recente, não há realidade

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Amnésia: direção de Christopher Nolan DELÍRIOS SOBRE FOTOS, ANOTAÇÕES E TATUAGENS Sabe quem está enfrentando problemas para lidar com memórias recentes? O mundo! Quando deixamos embolorar as páginas da história, só conseguimos ler aquelas escritas há pouco. Ontém, enxergávamos as de uma década. Antes disso, as de 50 anos, um século, duzentos anos... Atualmente, parece que só as dos últimos cinco anos são legíveis. Quer um exemplo? Vou dar um muito bobo, mas simbólico. Quando era rapaz, adorava ouvir rock e fingir que estava tocando a guitarra na hora do solo. Fazia caras e bocas e me divertia. Chamava isso de... fingir que estava tocando guitarra. Os jovens que me sucederam batizaram a prática de Air Guitar – chegaram a criar concursos e campeonatos mundiais da modalidade! Os jovens que sucederam a esses jovens, se esqueceram desse nome criativo. Outro dia tropecei num post na rede social, onde um deles dizia gostar de... fingir que está tocando guitarra na hora do solo! O que foi que

Nyad: uma história real, com elementos de dramatização

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Nyad: direção de Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin CASAMENTO DE DRAMA COM DOCUMENTÁRIO Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin ficaram conhecidos por dirigir documentários como Free Solo e Meru , onde acompanham alpinistas destemidos em façanhas capazes de tirar o fôlego de qualquer espectador. O casal de documentaristas também dirigiu The Rescue , onde acompanharam o esforço da equipe de resgate que salvou 12 garotos e seu treinador, presos numa caverna alagada na Tailândia. A matéria-prima com a qual estão acostumados a lidar é, portanto, a verdade. Aquela que se exibe despudorada na tela, em sua crueza desconcertante. O mundo do esporte, território da tenacidade e da superação, é onde se sentem em casa. Assim, nada mais natural que tenham sido escolhidos para dirigir Nyad , filme de 2023 que celebra a proeza da nadadora de 64 anos Diana Nyad, famosa por ter saído de Cuba e chegado na Flórida, numa jornada de braçadas extenuantes que duraram 53 horas ininterruptas.           Em

Nefarious: terror psicológico inteligente

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Nefarious: direção de Chuck Konzelman e Cary Solomon REVELANDO A VERDADEIRA NATUREZA DO MAL Filmes de terror jamais me empolgaram. Para me fazer ocupar uma poltrona na sala de exibição, o título precisa vir acompanhado de ótimas referências – dos amigos, da crítica especializada ou dos cinéfilos que seguem a Crônica de Cinema. No entanto, Nefarious , filme de 2023 dirigido pela dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon, chamou minha atenção, porque chegou etiquetado pela mídia como... terror cristão! Fiquei curioso. Ainda não sabia da existência de tal subgênero – aqui, o termo cristão vem carregado com um certo tom pejorativo. Então, tratei de conferir!           Vamos colocar as cartas na mesa de uma vez: Nefarious é um filme de terror, mas um terror psicológico. Não busca provocar sustos nem nos fazer desviar o olhar diante de cenas macabras de horror sanguinário. É um filme religioso, porque trata da possessão demoníaca, tema que está presente nos fundamentos do catolicismo. Está sendo

1984: a data continua como um mau presságio

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1984: direção de Michael Radford AINDA NÃO FOI EM 1984, MAS... Estava com 23 anos em 1984. Já não era mais um estudante e labutava numa multinacional para fazer minha carreira na publicidade. Então aconteceu uma revolução! Um comercial inovador, dirigido por ninguém menos que Ridley Scott, invadiu nossas televisões e mudou o jeito de pensar a comunicação. O produto anunciado era um novo computador da Apple, batizado de Macintosh – nome de uma variedade de maçã cultivada na Califórnia. O roteiro, criado pelos publicitários Steve Hayden, Brent Thomas e Lee Clow, da agência Chiat\Day, usava como mote o romance 1984 , escrito por George Orwell.           Observe que este famoso comercial de TV, com apenas um minuto de duração, não foi feito para vender um computador, mas para vender uma ideia! Recria a perturbadora cena dos pálidos trabalhadores robotizados, que servem de audiência para uma imensa tela com a imagem ameaçadora do Big Brother. Mas então, acontece algo que não estava no scrip

Alexandre: o grande rei que dominou o mundo antigo

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Alexandre: direção de Oliver Stone A MARCHA DO PROCESSO CIVILIZATÓRIO Sabia muito bem que, um dia, Alexandre o Grande acabaria caindo... na prova! Por isso tratei de estudar o básico: guardei na memória que aquele rei da Macedônia viveu no século 4 a.C, venceu suas mais importantes batalhas quando tinha apenas 18 anos e ao morrer, com 33, dominava 90% do mundo conhecido. Estudou com Aristóteles e montava Bucéfalo, um cavalo tão majestoso quanto ele. Era inteligente, corajoso e um líder capaz de mobilizar multidões em prol de sua desmedida ambição. Pacificou a Grécia, dominou o Egito, conquistou a Pérsia e rumou para o oriente, sem jamais aniquilar a cultura dos povos sob seu jugo. Ao contrário, promoveu uma integração com as crenças e valores que trazia de berço e assim disseminou a cultura helenística. Fundou várias cidades, todas elas chamadas de Alexandria. O sujeito foi rápido, implacável e eficiente. Em apenas 11 anos se tornou o homem mais poderoso do seu tempo e conquistou para

Som da Liberdade: uma história tristemente real

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Som da Liberdade: direção de Alejandro Monteverde LUTANDO CONTRA UM MONSTRO REAL Ah, o burburinho! Ele é essencial na promoção e divulgação de qualquer produto da indústria cultural. No caso de Som da Liberdade , filme de 2023 dirigido por Alejandro Monteverde, ele alcançou níveis de decibéis tão altos que virou estrondo nas bilheterias – façanha notável para uma produção independente de baixo orçamento. Espirrou polêmicas para todos os lados e alvoroçou as lombrigas ideológicas dos que se interessam por cinema e também por política. Ou seja, todos nós! Antes de comentar sobre esse filme, portanto, é melhor examinar como isso aconteceu.           O diretor começou a gestar o filme em 2015 e realizou as filmagens em 2018 com o financiamento de investidores mexicanos. A produção foi engavetada em 2019, quando a 21st Century Fox, que faria a distribuição, foi adquirida por uma Disney entupida de lançamentos já programados. Nesse meio tempo, o ator Jim Caviezel, que faz o papel do protagon

A Árvore da Vida: a densidade de um poema cinematográfico

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A Árvore da Vida: direção de Terrence Malick BUSCANDO UM SENTIDO ESPIRITUAL Com qual finalidade alguém clica no play e começa a assistir a um filme no serviço de streaming? Tal pergunta, feita assim, de supetão, gera uma diversidade de respostas: para passar o tempo, para se divertir, para se aprofundar em algum assunto, para aprender algo, para se emocionar... No final das contas, todas as respostas convergem para um único ponto: o objetivo é sempre fruir uma boa história. Quem se põe a assistir ao filme A Árvore da Vida , dirigido em 2011 por Terrence Malick, certamente espera acompanhar uma boa narrativa – nada mais natural para quem se depara com as fotos de Brad Pitt, Sean Penn e Jessica Chastain na capa e lê a sinopse sobre as desventuras de uma família texana na década de 1950. O problema, para os desavisados, é que o diretor é notório por seu estilo não narrativo e a história que se propõe a contar está tão entranhada nos corredores secretos da sua própria alma, que vem codific

Os Fabelmans: filmando verdades emocionais

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Os Fabelmans: direção de Steven Spielberg A VERDADE ESTÁ NO... CINEMA! O impulso de realizar um filme autobiográfico sempre apareceu para cutucar o diretor Steven Spielberg – tentação para qualquer contador de histórias contumaz. Os Fabelmans , que ele dirigiu em 2022, é finalmente essa tão aguardada obra. E nos chega com tamanha graça, vivacidade e profundidade emocional, que ouso colocá-lo entre seus filmes mais envolventes e arrebatadores.           Os cinéfilos – e a crítica cinematográfica – sempre enxergaram nos filmes de Spielberg diversos elementos reveladores de sua personalidade e de sua herança familiar. Sempre aparecem expostos nas entrelinhas dos seus roteiros e se tornaram conhecidos do público, na medida em que ele virou celebridade e se firmou como um dos maiores diretores da história do cinema. Agora, chegou o momento de Spielberg se revelar por inteiro, ousando um nível de exposição inédito.           Os Fabelmans é, sim, uma ousadia. Certamente provocou momentos int

A Luta Pela Esperança: uma história incrivelmente real

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A Luta Pela Esperança: direção de Ron Howard ESTÁ MAIS PARA PAI DE FAMÍLIA DO QUE PARA PUGILISTA Minha última crônica foi sobre o lutador de boxe asqueroso e desagradável retratado por Martin Scorsese no seu excelente Touro Indomável . Para ficar no tema, decidi escrever agora sobre o seu exato oposto, o lutador de boxe bom caráter e aferrado a sólidos valores éticos, que foi nocauteado pela grande depressão econômica na década de 1930, despencou para a miséria, mas conseguiu se reerguer e conquistar o título de campeão mundial dos meio-pesados. Sua história está contada no filme A Luta Pela Esperança , dirigido em 2005 por Ron Howard.           O protagonista dessa história verdadeira e tocante é James J. Braddock, um boxeador compenetrado no ringue e pai de família dedicado fora dele. Sua trajetória de superação, que lembra um conto de fadas, rendeu-lhe o apelido de Cinderella Man, dado por um jornalista esportivo chamado Damon Runyan – o que explica o título original do filme. A dim

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