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Mostrando postagens com o rótulo Drama

O Paciente Inglês: personagens reais, numa história fictícia

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O Paciente Inglês: direção de Anthony Minghella UMA FAÇANHA CINEMATOGRÁFICA Que achado! Encontrar O Paciente Inglês disponível no serviço de streaming foi a salvação para este cinéfilo entediado, aborrecido com tamanha oferta de bobagens que prevalece nesses nossos dias apressados. Realizado em 1996 por Anthony Minghella, o filme conquistou seu lugar no panteão da sétima arte – ficou com nove Óscares e mais uma avalanche de prêmios internacionais até mais importantes. Virou consenso: trata-se de um grande filme, para ser apreciado em suas minúcias e revisitado sempre que precisarmos relembrar como é que se faz cinema de verdade.           Sim, O Paciente Inglês é uma façanha cinematográfica, mas escrever sobre o filme é transitar pela ponte pênsil que separa o cinema da literatura. É assumir de uma vez por todas que se trata de uma adaptação, um produto diferente do romance que o originou. Os fãs do mundo inteiro que se deliciaram com as páginas escritas, encontram na tela uma versão

Amor Esquecido: inspirado em fatos

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Amor Esquecido: direção de Michal Gazda UMA PRODUÇÃO COMPETENTE, MAS COM SABOR AÇUCARADO Serei sincero! A foto do ator polonês personificando um andarilho sem rumo, ilustrando a curta sinopse na plataforma de streaming, deixou-me tomado por dúvidas. Seria mais um daqueles dramalhões apelativos, criado apenas para provocar torrentes de lágrimas? Sem pestanejar, Ludy avisou que a busca terminara. Minha mulher tem preferência por romances e farejou a ótima oportunidade de entretenimento. É claro que concordei! Assistimos ao filme Amor Esquecido , dirigido em 2023 por Michal Gazda e fizemos bom proveito.           Sim, esse é um filme com vocação para entreter, que intercala passagens dramáticas com outras românticas. Parece que está sempre a um passo de ser apelativo, mas o diretor consegue a proeza de se conter. É verdade que acaba ficando ao nível dos estereótipos, sem se aprofundar na psique dos seus personagens, mas sua direção é segura e compenetrada. O espectador chega ao final sem

Yellowstone: uma série destinada ao sucesso

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Yellowstone: série dirigida por Taylor Sheridan RENOVADO, O WESTERN GANHA UMA NOVA CHANCE Eis aqui uma série de TV envolvente, realizada como um faroeste moderno, que resgata os melhores atributos do gênero e nos apresenta a personagens inesquecíveis. Trata-se de Yellowstone , um título no qual você já deve ter tropeçado enquanto fuçava os serviços de streaming. O que me fez dar o play sem pestanejar foi a presença de um nome importante: o de... Taylor Sheridan! Talvez você esperasse que o nome citado fosse o de Kevin Costner, astro do primeiro time de Hollywood que encabeça o elenco, mas como cinéfilo interessado em esmiuçar a arte da escrita, fiquei empolgado quando vi o nome do diretor e roteirista imperando nos créditos.           Se você ainda não associou o nome à figura, lembro que Taylor Sheridan é o autor de três roteiros de grande sucesso nas bilheterias: Sicario: Terra de Ninguém , A Qualquer Custo e Terra Selvagem . Seu estilo enxuto e objetivo, centrado em personagens que

O Leitor: verdade ou ficção?

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O Leitor: direção de Stephen Daldry COMO VIVER À SOMBRA DOS CRIMES DO NAZISMO? É empolgante esbarrar em grandes títulos escondidos nos serviços de streaming. Outro dia, Ludy e eu já estávamos desanimados – quase prontos para nos render a um filminho qualquer – quando nos surge a capa de O Leitor , filme dirigido em 2008 por Stephen Daldry. As estampas de Kate Winslet e Ralph Fiennes apareceram como um alento. Pronto! Não precisávamos mais nos conformar com a mediocridade! Foi dar o play e fruir cinema de verdade.           De imediato me ocorrem três pontos que precisam ser destacados sobre O Leitor : primeiro, Kate Winslet venceu o Óscar por sua atuação nesse filme, com justiça. Que interpretação! Segundo, o filme remete ao Holocausto, mexendo com a culpa que remoeu a consciência dos alemães nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra. E terceiro, as pitadas de erotismo, espalhadas com pertinência e sensibilidade por todo o primeiro ato do filme, elevaram ainda mais a qualidade do dr

The Chosen / Os Escolhidos: é impossível não maratonar!

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The Chosen / Os Escolhidos: série criada por Dallas Jenkins COMO NA BÍBLIA, MAS NUMA LINGUAGEM MAIS... ATUAL! Não sou espectador habitual de filmes, séries ou novelas religiosas. Meus vínculos com o catolicismo se desfizeram na minha juventude – preferi vagar por aí sem uma religião para seguir. Embora tenha me apresentado desde então como um descrente, aviso que não atirei pela janela os valores cristãos que minha família fez questão de me incutir. Se me pus contrário às distorções corporativas que enxergava na Igreja e me atrevi a discutir os dogmas que não conseguia engolir, continuei agarrado à moral e aos valores éticos que aprendi. Os considero essenciais para que a humanidade possa seguir com o processo civilizatório.           Essa longa introdução tem uma finalidade: deixar claro que se decidi conferir a série The Chosen / Os Escolhidos , criada em 2017 por Dallas Jenkins, foi por pura curiosidade de cinéfilo inveterado, interessado mais na sétima arte do que nos temas religio

A Sociedade da Neve: história real contada de forma mais verdadeira

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A Sociedade da Neve: direção de J. A. Bayona PARA ALÉM DA AÇÃO, FICAMOS COM O EMOCIONAL E O ESPIRITUAL Quando li no serviço de streaming a sinopse de A Sociedade da Neve , dirigido em 2023 por Juan Antonio Bayona, de imediato fui açoitado por uma pergunta incômoda: por que raios alguém se atreveria a recontar essa história tão penosa dos sobreviventes dos Andes? Mas em se tratando do cineasta Juan Antonio Bayona, diretor do excelente O Impossível , deduzi que a justificativa deveria ser das boas! É de fato é!           O cinéfilo atento já percebeu que se trata de um remake do filme Vivos , de 1993, que por sua vez é um remake de Os Sobreviventes do Andes , de 1976. Conta a história do fatídico voo 571 da Força Aérea Uruguaia que em 1972 transportava 45 passageiros – entre eles 18 jovens jogadores de um time de rugby de Montevideo – quando acabou se espatifando nas montanhas geladas dos Andes. Sobreviveram apenas 16 passageiros, depois de amargarem 72 dias de sofrimento e precisarem s

Amnésia: sem memória recente, não há realidade

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Amnésia: direção de Christopher Nolan DELÍRIOS SOBRE FOTOS, ANOTAÇÕES E TATUAGENS Sabe quem está enfrentando problemas para lidar com memórias recentes? O mundo! Quando deixamos embolorar as páginas da história, só conseguimos ler aquelas escritas há pouco. Ontém, enxergávamos as de uma década. Antes disso, as de 50 anos, um século, duzentos anos... Atualmente, parece que só as dos últimos cinco anos são legíveis. Quer um exemplo? Vou dar um muito bobo, mas simbólico. Quando era rapaz, adorava ouvir rock e fingir que estava tocando a guitarra na hora do solo. Fazia caras e bocas e me divertia. Chamava isso de... fingir que estava tocando guitarra. Os jovens que me sucederam batizaram a prática de Air Guitar – chegaram a criar concursos e campeonatos mundiais da modalidade! Os jovens que sucederam a esses jovens, se esqueceram desse nome criativo. Outro dia tropecei num post na rede social, onde um deles dizia gostar de... fingir que está tocando guitarra na hora do solo! O que foi que

Nyad: uma história real, com elementos de dramatização

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Nyad: direção de Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin CASAMENTO DE DRAMA COM DOCUMENTÁRIO Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin ficaram conhecidos por dirigir documentários como Free Solo e Meru , onde acompanham alpinistas destemidos em façanhas capazes de tirar o fôlego de qualquer espectador. O casal de documentaristas também dirigiu The Rescue , onde acompanharam o esforço da equipe de resgate que salvou 12 garotos e seu treinador, presos numa caverna alagada na Tailândia. A matéria-prima com a qual estão acostumados a lidar é, portanto, a verdade. Aquela que se exibe despudorada na tela, em sua crueza desconcertante. O mundo do esporte, território da tenacidade e da superação, é onde se sentem em casa. Assim, nada mais natural que tenham sido escolhidos para dirigir Nyad , filme de 2023 que celebra a proeza da nadadora de 64 anos Diana Nyad, famosa por ter saído de Cuba e chegado na Flórida, numa jornada de braçadas extenuantes que duraram 53 horas ininterruptas.           Em

Nefarious: terror psicológico inteligente

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Nefarious: direção de Chuck Konzelman e Cary Solomon REVELANDO A VERDADEIRA NATUREZA DO MAL Filmes de terror jamais me empolgaram. Para me fazer ocupar uma poltrona na sala de exibição, o título precisa vir acompanhado de ótimas referências – dos amigos, da crítica especializada ou dos cinéfilos que seguem a Crônica de Cinema. No entanto, Nefarious , filme de 2023 dirigido pela dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon, chamou minha atenção, porque chegou etiquetado pela mídia como... terror cristão! Fiquei curioso. Ainda não sabia da existência de tal subgênero – aqui, o termo cristão vem carregado com um certo tom pejorativo. Então, tratei de conferir!           Vamos colocar as cartas na mesa de uma vez: Nefarious é um filme de terror, mas um terror psicológico. Não busca provocar sustos nem nos fazer desviar o olhar diante de cenas macabras de horror sanguinário. É um filme religioso, porque trata da possessão demoníaca, tema que está presente nos fundamentos do catolicismo. Está sendo

1984: a data continua como um mau presságio

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1984: direção de Michael Radford AINDA NÃO FOI EM 1984, MAS... Estava com 23 anos em 1984. Já não era mais um estudante e labutava numa multinacional para fazer minha carreira na publicidade. Então aconteceu uma revolução! Um comercial inovador, dirigido por ninguém menos que Ridley Scott, invadiu nossas televisões e mudou o jeito de pensar a comunicação. O produto anunciado era um novo computador da Apple, batizado de Macintosh – nome de uma variedade de maçã cultivada na Califórnia. O roteiro, criado pelos publicitários Steve Hayden, Brent Thomas e Lee Clow, da agência Chiat\Day, usava como mote o romance 1984 , escrito por George Orwell.           Observe que este famoso comercial de TV, com apenas um minuto de duração, não foi feito para vender um computador, mas para vender uma ideia! Recria a perturbadora cena dos pálidos trabalhadores robotizados, que servem de audiência para uma imensa tela com a imagem ameaçadora do Big Brother. Mas então, acontece algo que não estava no scrip

Alexandre: o grande rei que dominou o mundo antigo

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Alexandre: direção de Oliver Stone A MARCHA DO PROCESSO CIVILIZATÓRIO Sabia muito bem que, um dia, Alexandre o Grande acabaria caindo... na prova! Por isso tratei de estudar o básico: guardei na memória que aquele rei da Macedônia viveu no século 4 a.C, venceu suas mais importantes batalhas quando tinha apenas 18 anos e ao morrer, com 33, dominava 90% do mundo conhecido. Estudou com Aristóteles e montava Bucéfalo, um cavalo tão majestoso quanto ele. Era inteligente, corajoso e um líder capaz de mobilizar multidões em prol de sua desmedida ambição. Pacificou a Grécia, dominou o Egito, conquistou a Pérsia e rumou para o oriente, sem jamais aniquilar a cultura dos povos sob seu jugo. Ao contrário, promoveu uma integração com as crenças e valores que trazia de berço e assim disseminou a cultura helenística. Fundou várias cidades, todas elas chamadas de Alexandria. O sujeito foi rápido, implacável e eficiente. Em apenas 11 anos se tornou o homem mais poderoso do seu tempo e conquistou para

Som da Liberdade: uma história tristemente real

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Som da Liberdade: direção de Alejandro Monteverde LUTANDO CONTRA UM MONSTRO REAL Ah, o burburinho! Ele é essencial na promoção e divulgação de qualquer produto da indústria cultural. No caso de Som da Liberdade , filme de 2023 dirigido por Alejandro Monteverde, ele alcançou níveis de decibéis tão altos que virou estrondo nas bilheterias – façanha notável para uma produção independente de baixo orçamento. Espirrou polêmicas para todos os lados e alvoroçou as lombrigas ideológicas dos que se interessam por cinema e também por política. Ou seja, todos nós! Antes de comentar sobre esse filme, portanto, é melhor examinar como isso aconteceu.           O diretor começou a gestar o filme em 2015 e realizou as filmagens em 2018 com o financiamento de investidores mexicanos. A produção foi engavetada em 2019, quando a 21st Century Fox, que faria a distribuição, foi adquirida por uma Disney entupida de lançamentos já programados. Nesse meio tempo, o ator Jim Caviezel, que faz o papel do protagon

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