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Mostrando postagens com o rótulo Ação

Som da Liberdade: uma história tristemente real

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Som da Liberdade: direção de Alejandro Monteverde LUTANDO CONTRA UM MONSTRO REAL Ah, o burburinho! Ele é essencial na promoção e divulgação de qualquer produto da indústria cultural. No caso de Som da Liberdade , filme de 2023 dirigido por Alejandro Monteverde, ele alcançou níveis de decibéis tão altos que virou estrondo nas bilheterias – façanha notável para uma produção independente de baixo orçamento. Espirrou polêmicas para todos os lados e alvoroçou as lombrigas ideológicas dos que se interessam por cinema e também por política. Ou seja, todos nós! Antes de comentar sobre esse filme, portanto, é melhor examinar como isso aconteceu.           O diretor começou a gestar o filme em 2015 e realizou as filmagens em 2018 com o financiamento de investidores mexicanos. A produção foi engavetada em 2019, quando a 21st Century Fox, que faria a distribuição, foi adquirida por uma Disney entupida de lançamentos já programados. Nesse meio tempo, o ator Jim Caviezel, que faz o papel do protagon

Sangue e Ouro: uma espécie de western germânico

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Sangue e Ouro: direção de Peter Thorwarth CONTRIBUIÇÃO DOS ALEMÃES PARA O CINEMA DE AÇÃO Os filmes de bangue-bangue espaguete foram uma invenção inusitada no início dos anos 1960. Rodados na Sicília e na Espanha por diretores italianos em busca da mesma atmosfera dos westerns americanos, trouxeram um sopro de renovação para o gênero, além de toques de um humor mais... mediterrâneo. E trouxeram também a certeza de que outras nacionalidades poderiam ousar seus próprios faroestes, apropriando-se dos clichês narrativos consolidados por cineastas como Sergio Leone e seus seguidores.           Dentre todos os países, o mais improvável de tal ousadia seria a Alemanha. Não por incompetência, é claro! Seu cinema de peso e repleto de contribuições significativas para a construção da sétima arte está nítido na mente de todo cinéfilo. Mas porque é dos alemães que nos costumam chegar algumas das produções mais compenetradas. Títulos como Metrópolis , O Enigma de Kaspar Hauser e Asas do Desejo  , j

Atirador: a história de Bob Lee Swagger

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Atirador: direção de Antoine Fuqua TEM COISAS QUE SÓ CONSEGUIMOS RESOLVER A BALA! Depois de um dia intenso de trabalho, são diversos os motivos que nos fazem deitar no sofá e assistir a um filme. O mais comum é a busca por diversão – que tal qual a busca pela felicidade, é sempre uma jornada individual. Porém, às vezes, levamos sorte e topamos com cinema de qualidade, aquele que surpreende e entrega mais do que mero entretenimento. Traz reflexões, provocações, dúvidas, elevação intelectual, regozijo estético... Atirador , filme de 2007 dirigido por Antoine Fuqua, definitivamente não é esse tipo de filme. Mas traz um bônus valioso: catarse!           Não me refiro ao efeito que os psicólogos adoram provocar nos seus pacientes, cutucando o inconsciente para fazer jorrar as emoções traumáticas que ficaram represadas desde a infância. A catarse aqui é justamente aquela aristotélica, que tem função purificadora e purgatória, usada desde a tragédia grega para trazer alívio ao espectador, liv

Treze Dias Que Abalaram o Mundo: a crise dos mísseis cubanos

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Treze Dias Que Abalaram o Mundo: direção de Roger Donaldson POLÍTICA É UM PROBLEMA, MAS TAMBÉM É A SOLUÇÃO! John F. Kennedy foi aquele presidente americano que teve um caso com a loira Marilyn Monroe e acabou morto enquanto passeava de conversível com a Jaqueline Onassis, ao levar um tiro na cabeça disparado por Lee Harvey Oswald. Resumi de forma tosca? Sim! Mas é praticamente tudo o que o grande público de hoje guarda na memória sobre um dos presidentes mais populares dos Estados Unidos. É curioso como ninguém mais se refere a esse personagem glamouroso como um político. Como tal, era dado a politicagens e badalações, mas sua curta carreira não foi uma festa permanente. Kenedy precisou lidar com o estresse de um dos episódios mais tensos da Guerra Fria. É assim que ele aparece em Treze Dias Que Abalaram o Mundo , filme de 2000 dirigido por Roger Donaldson.           O filme vai se esgueirando pelos bastidores da crise dos mísseis de Cuba, que em 1962 colocou o mundo à beira de uma gue

O Pacto: será uma história é real?

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O Pacto: direção de Guy Ritchie NÃO SENTI FALTA DA TRADICIONAL EXTRAVAGÂNCIA DO DIRETOR No agitado mundo dos filmes de ação, o diretor britânico Guy Ritchie é uma usina de criatividade a serviço da diversão e do entretenimento. Desde que surgiu em 1998 com seu ótimo Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes , dirigiu vários sucessos, entre eles Sherlock Holmes , Snatch: Porcos e Diamantes , O Agente da U.N.C.L.E. e mais recentemente, Esquema de Risco - Operação Fortune . A narrativa sempre ágil e envolvente, os letreiros invadindo a tela, os diálogos afiados e o humor inteligente se tornaram suas marcas registradas. Esperava ver todos esses elementos reunidos em O Pacto , filme que ele dirigiu em 2023, mas não! Ao invés disso, assisti a um thriller de guerra compenetrado, com boa profundidade dramática, um enredo sólido e altas doses de tensão.           Devo dizer que a tradicional extravagância de Guy Ritchie não faz a menor falta em O Pacto . Ao invés dela, o diretor preferiu ressalt

Horizonte Profundo: Desastre no Golfo: foi assim que tudo aconteceu!

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Horizonte Profundo: Desastre no Golfo: direção de Peter Berg HÁ MUITA EMOÇÃO POR TRÁS DE TODA A PIROTECNIA Sou um cinéfilo convicto, mas sigo uma dieta rica em outros produtos audiovisuais: séries, reality shows, documentários, programas de variedades... Quando meu lado nerd vem à tona, gosto de assistir às séries educativas do Discovery Chanel, como Mundo Gigante com Richard Hammond . Num dos episódios, lembro que o jornalista inglês visitou a maior plataforma de petróleo do mundo, em operação no Golfo do México. Hammond é carismático e sabe capturar o interesse dos espectadores. Além de nos pôr surpresos com o gigantismo da plataforma e suas complexidades operacionais, desceu ao nível dos detalhes mais banais, mostrando o dia-a-dia dos trabalhadores que lá passam confinados de quinze em quinze dias. Mais que isso, Hammond conseguiu passar uma noção espacial de toda a plataforma, dando uma compreensão das distâncias e da localização dos seus diferentes recintos. Ao final do programa,

A Lenda de Tarzan: o rei da selva continua em forma

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A Lenda de Tarzan: direção de David Yates O PONTO ALTO ESTÁ NA ORIGEM DO PERSONAGEM Quando publicou sua primeira história sobre Tarzan, em 1912, o escritor americano Edgar Rice Burroughs jamais havia posto os pés na África. Precisou apenas de criatividade para conquistar uma posição cativa no imaginário popular – e na indústria cultural em escala global. Ah, e também usou um pouco de esperteza! Inspirou-se na obra de Rudyard Kipling, mais precisamente em O Livro da Jângal , publicado em 1894, que conta a história de Mogli, o menino-lobo, ambientada na Índia e protagonizada pelo órfão adotado por lobos. Para escapar do plágio, Burroughs transferiu sua história para a África e idealizou seu personagem como um filho da aristocracia inglesa, que termina adotado por macacos. Mesmo sem aprofundar seus conhecimentos sobre o continente africano, conseguiu escrever 25 livros de sucesso.           Em 1929, Tarzan ganhou materialidade nas páginas dos jornais, por meio de uma tira desenhada pelo a

Uma Saída de Mestre: remake hollywoodiano de um clássico inglês

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Uma Saída de Mestre: Direção de F. Gary Gray VEROSSIMILHANÇA? QUEM ESTÁ PREOCUPADO COM ISSO? Ah, a vida moderna! Ela às vezes se parece com um massacre de dificuldades. Nos atinge com insistentes golpes de aborrecimentos e consegue nos molestar com os assuntos mais desagradáveis: os preços pela hora da morte, a falta de segurança nas ruas, a avalanche de impostos, a selvageria do trânsito, a cara de pau dos políticos desonestos... Ainda bem que a vida moderna também nos deixa experimentar a contraparte da realidade: o escapismo! É ótimo chegar em casa, largar-se no sofá, vasculhar os serviços de streaming e mergulhar no oceano de entretenimento ligeiro. Há dias em que tudo o que precisamos é tropeçar em um filme leve, despretensioso, raso e descomplicado. Há dias em que tudo o que precisamos é encontrar Uma Saída de Mestre , filme de 2003 dirigido por F. Gary Gray!           Não estou pregando o escapismo como norma! Lembro apenas que até mesmo os cinéfilos mais engajados, de vez em qu

Midway – Batalha em Alto Mar: fatos históricos e personagens reais

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Midway - Batalha em Alto Mar: direção de Roland Emmerich UM FILME DE AÇÃO FIEL AOS FATOS Nas mãos de Roland Emmerich, até a guerra vira entretenimento! E dos bons! Mais conhecido por seus filmes de catástrofe, como O Dia Depois de Amanhã , 2012 , Idependence Day e Moonfall , o diretor alemão se tornou uma das máquinas mais lucrativas de Hollywood. Especializou-se num tipo de espetáculo grandioso, que atrai pelo ritmo acelerado e pela profusão de cenas de destruição, às quais jamais poderemos assistir no mundo real – provavelmente estaremos mortos antes de atinar para os acontecimentos ao redor! Em Midway – Batalha em Alto Mar , seu filme de 2019, Emmerich lança mão de todos os seus truques para narrar uma das mais importantes batalhas navais da Segunda Guerra Mundial, mostrando a estratégia e as ações tanto dos americanos como dos japoneses. E faz isso agarrado a uma notável precisão histórica.           Por vinte anos, Emmerich alimentou o desejo de realizar um filme sobre a batalha

Vidas em Jogo: thriller envolvente com a grife David Fincher

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Vidas em Jogo: direção de David Fincher O JOGO MAIS ESTIMULANTE É AQUELE ENTRE O DIRETOR E O ESPECTADOR Onde estava em 1997? Deixe-me ver... Estava aqui mesmo, em Curitiba. Ocupado demais tentando ganhar a vida numa agência de publicidade que acabara de fundar com outros dois sócios. A paixão pelo cinema estava em segundo plano, dadas as circunstâncias estressantes – a ousadia de virar empresário cobrava seu preço e os filmes viraram artigo de luxo, presentes apenas nos poucos momentos em que podia relaxar. Numa época sem internet e com a TV a cabo recém-nascida, acompanhar as novidades do cinema era uma dificuldade. Por isso não assisti a Vidas em Jogo , dirigido naquele ano por David Fincher. Por isso nem sequer tomei conhecimento da existência desse filme.           – Mas que cinéfilo de araque – diriam os enciclopédicos, diante das minhas desculpas esfarrapadas. Ao invés disso, prefiro dizer que sou um cinéfilo redimido! Dia desses, zapeando pelo serviço de streaming, tropecei no t

O Reino: ação, suspense e combate ao terrorismo

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O Reino: direção de Peter Berg O FILME VAI DIRETO AO PONTO: É AÇÃO PURA! Na sétima arte, assim como na vida, não existe almoço grátis! Até mesmo os filmes que lidam com valores artísticos, histórias densas e personagens complexos precisam se pagar. Ficam à mercê das bilheterias. Porém, os que levam maior vantagem no circuito comercial são os filmes leves e rasos, que não se importam em martelar clichês e preferem os estereótipos. Miram o público-alvo mais numeroso e lucrativo, composto por aqueles que só buscam entretenimento ligeiro e escapista. É nessa categoria que encontramos quase todos os filmes de ação, produzidos para oferecer quase nada além de velocidade e fúria.           Por sorte, há os realizadores ousados, que se atrevem a dosar ação e emoção em proporções mais... equilibradas. Peter Berg é um deles. Começou como ator e virou um dos diretores mais habilidosos do gênero. Seus filmes privilegiam a ação e estão repletos de cenas espetaculares, mas vêm com uma narrativa ágil

Jogador Nº1: ficção científica embriagada de nostalgia

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Jogador N⁰1: direção de Steven Spielberg UM ÉPICO FUTURISTA ENVOLTO EM MELANCOLIA Os cinéfilos costumam reservar seus adjetivos mais suntuosos para a sétima arte: imersiva, simbólica, elevada, envolvente, reflexiva... Mas quem acaba roubando a cena é mesmo a paixão pelos filmes. São eles que guardamos na memória e revisitamos sempre que precisamos fruir algumas doses de regozijo. Geralmente empregamos a palavra filme para nos referir a um longa-metragem, porém, há mais de um século o cinema vem se expressando por meio de outros formatos: curtas, seriados, comerciais de TV, telenovelas, videoclipes, reality shows, histórias em quadrinhos e... videogames. Os cinéfilos também têm olhos para esses outros formatos, afinal, todos empregam linguagens derivadas do cinema. Em todos, o imperativo é a narrativa, mas nos videogames, a interatividade coloca a narrativa nas mãos do jogador!           As últimas gerações testemunharam o crescimento exponencial da indústria dos videogames, cuja receit

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: nada importa, nem o cinema!

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Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo: direção de Daniel Kwan e Daniel Scheinert É SÓ MAIS UM FILME DE SUPER-HERÓIS PROTAGONIZADO POR GENTE COMUM O humor anárquico e absurdo sempre foi um instrumento de demolição, usado sem piedade para estilhaçar o sistema e os poderosos da vez. Nas mãos de cineastas talentosos e criativos, o gênero costumava irradiar críticas para todas as direções, em estilo irônico e mordaz, escrachando zombarias que faziam pensar. Além de escarnecer, usando até mesmo os elementos mais mórbidos e macabros, o objetivo era desconcertar, desmascarar, encabular, tirar o espectador da zona de conforto, o fazendo duvidar das verdades que trazia consigo para a sala de cinema. Infelizmente, aqui, o humor anárquico e absurdo é usado para acomodar, acalmar os ímpetos contestadores, distrair... Em Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo , realizado em 2022 por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, o maior esforço é para estabelecer três conceitos mentirosos:           Conceito mentiroso 1:

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