Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Ação

Falcão Negro em Perigo: um docudrama com enorme poder bélico

Imagem
Falcão Negro em Perigo: direção de Ridley Scott UM FILME DE GUERRA INOVADOR Falcão Negro em Perigo , filme de 2001 dirigido por Ridley Scott, tornou-se uma realização desafiadora e complexa. Nasceu na cabeça do experiente e renomado produtor Jerry Bruckheimer, que decidiu adaptar o best seller escrito em 1999 pelo jornalista americano Mark Bowden, intitulado Falcão Negro em Perigo: Uma História de Guerra Moderna . Depois que o diretor Simon West abandonou o projeto, Bruckheimer jogou a batata quente nas mãos do seu velho amigo, Ridley Scott, o que foi uma sábia decisão. Antes de examinar o cinema resultante, porém, será preciso falar da história; esse é o tipo de filme que está fortemente agarrado à realidade e que exige um esforço narrativo compenetrado e quase documental.           Falcão Negro em Perigo é sobre uma ação militar empreendida pelos norte-americanos, que fracassou de forma estrondosa. O objetivo do filme, portanto, não é enaltecer os atos d...

O Refém - Atentado em Madri

Imagem
O Refém - Atentado em Madri: direção de Daniel Calparsoro UM HOMEM COMUM GOLPEDO PELO DESTINO Com tantas opções nos serviços de streaming, como escolher o filme certo? Enquanto dedilho o controle remoto com gestos apressados, sigo um método criterioso, que desenvolvi ao longo de décadas no exercício da cinefilia: tomo decisões emocionais! É claro que ao me deixar guiar pelo estado de espírito, corro o risco de tropeçar nos preconceitos e ignorar títulos proveitosos; quantos ótimos filmes fui conferir com anos de atraso, só porque impliquei com algum detalhe da sinopse ou da ficha técnica? Muitos! Mas é do jogo. O Refém - Atentado em Madri , filme de 2023 dirigido por Daniel Calparsoro, é um desses casos: quando percebi que esse thriller policial foi produzido na Espanha, torci o nariz, afinal, o gênero é dominado pelos anglo-saxões, que moldaram seus elementos e seus clichês; os espanhóis, por outro lado, têm maior tendência ao melodrama e costumam derrapar nas cenas de ação.  ...

O Conde de Monte Cristo: mais uma versão

Imagem
O Conde de Monte Cristo: direção de Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière UM UNIVERSO DRAMÁTICO... REPAGINADO! O clássico da literatura O Conde de Monte Cristo é um dos romances mais populares do escritor francês Alexandre Dumas; foi publicado pela primeira vez como folhetim em 1844. Já inspirou diversas adaptações para o teatro e para o cinema – desde que o cinema foi inventado, a cada década uma nova versão é lançada, para deleite dos cinéfilos mais exigentes. Não é para menos: a trama minuciosa e envolvente traz elementos de ação, suspense, drama, romance e aventura; além disso, a história poderosa tem um protagonista multifacetado e nos apresenta a uma variedade de personagens odiosos, além de outros que conquistam a nossa simpatia.           Todos nós já conhecemos a sinopse de O Conde de Monte Cristo , já que o livro está na grade curricular do ensino médio – ao menos estava quando frequentei os bancos escolares, mas como isso já tem pratic...

Kill Bill: o poder narrativo de um diretor inovador

Imagem
Kill Bill: direção de Quentin Tarantino UM SÓLIDO CASTELO DE REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS Tinha doze para treze anos quando entrei pela primeira vez no Cine Arlequim, um pulgueiro no centro de Curitiba, que mantinha uma promoção imperdível: pelo preço de um único ingresso, era possível assistir a três filmes, exibidos em sequência. Esse não era, entretanto, o maior atrativo; o que me animava era o fato de que um dos três filmes era sempre uma pornochanchada, proibida para menores de 18 anos. Se chegasse no começo da sessão e comprasse uma entrada inteira, o bilheteiro fazia vista grossa. Uma vez na plateia, teria que esperar uma eternidade para finalmente ver o que de fato interessava; teria que passar por dois filmes de kung fu, daqueles produzidos na China, com legendas em português.           Nos primeiros anos da década de 1970, as pornochanchadas que alvoroçavam meus hormônios eram produções ingênuas e leves, se comparadas às de hoje – no máximo exibia...

Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes

Imagem
Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes: direção de Guy Ritchie AÇÃO INTELIGENTE, COM MUITO CHARME E ESTILO Esbarrei em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes , filme dirigido em 1998 por Guy Ritchie, há dois anos; o título entrou na grade da TV por assinatura, justo num horário em que decidi me estatelar no sofá e zapear sem rumo. Não tenho o hábito de pescar (muito menos a habilidade necessária), mas me senti como se tivesse apanhado um peixão. O filme já tinha mais de 20 anos e ainda exalava muito frescor; misturava ação, comédia, violência e gângsteres ingleses, numa história inusitada, com narrativa ágil, repleta de diálogos inteligentes e uma linguagem audiovisual bem elaborada. Ah, e como esbanjava estilo!           Uso os verbos no passado na tentativa de expressar meu entusiasmo enquanto aproveitava, no conforto do sofá, aqueles momentos mágicos para qualquer cinéfilo; o filme continua exalando frescor e ainda carrega motivos de sobra entusiasmar....

O Troco: thriller catártico e divertido

Imagem
O Troco: direção de Brian Helgeland SÓ NOS RESTA TORCER PELO ANTI-HERÓI Jamais assisti a O Troco numa sala de cinema. Dirigido em 1999 por Brian Helgeland, o filme não despertou meu interesse na época; imaginei que contasse uma daquelas histórias rasas de vingança. Tempos depois, tropecei com o título na grade de programação da TV por assinatura e constatei que é isso mesmo. Mas o longa irradia tanto charme que se torna divertido e envolvente. Adorei! Claro que o vingativo protagonista não tem a profundidade de um Hamlet, que vê seu mundo corroído por causa de um desejo de vingança cultivado com afinco. Porém, tem o carisma de um Mel Gibson implacável, determinado a recuperar o que lhe roubaram.           Se citei Hamlet , foi apenas para lembrar que histórias de vingança não são necessariamente rasas; para além da explosão emocional, os autores sempre encontram densidade para alicerçar o desejo de desforra: a necessidade de obter reparação pelos danos; de...

O Infiltrado: remake hollywoodiano de um filme francês

Imagem
O Infiltrado: direção de Guy Ritchie UM HOMEM FURIOSO E ENVOLTO EM MISTÉRIOS Realizar um filme de ação é como preparar uma pizza. Antes que você engasgue com a arrogância da minha afirmação, deixe-me desenvolver essa metáfora gastronômica. Um pizzaiolo cuida de preparar a massa conforme a tradição, para mantê-la saborosa, crocante e com a textura que todos conhecemos; depois, usa um molho com personalidade e aplica um bom muçarela. Por fim, usa a criatividade para cobrir sua obra com as mais inusitadas combinações de ingredientes, a gosto do freguês. Mas há limites: extravagâncias descaracterizam o produto. Para não servir uma gororoba que apenas vagamente lembre uma pizza, o pizzaiolo sensato tem que se ater ao... arquétipo da pizza. Usar apenas ingredientes consagrados.           O diretor de um filme de ação segue a mesma receita. Pega um mote envolvente, concentra-se na essência do protagonista e destaca os elementos dramáticos que desencadeiam a ação. ...

Zona de Risco: tiros, drones e tecnologia da comunicação

Imagem
Zona de Risco: direção de Willian Eubank UM VISLUMBRE DA MODERNA GUERRA DE DRONES Quem aprecia um bom filme de ação, já não cai mais nesse tipo de armadilha: colocam na capa, com destaque, o nome de um ator hollywoodiano consagrado no gênero – um com idade avançada – e capricham na foto. Depois de dar o play, você descobre que o tal astro faz apenas uma ponta insignificante, sem qualquer relevância para o conteúdo dramático do filme. Cabe ao restante do elenco, composto por novatos inexpressivos, a tarefa de prender a atenção do espectador; geralmente não conseguem, porque o roteiro é mal costurado, as linhas de diálogo são óbvias e a trama vem ancorada apenas nas cenas de ação, repletas de clichês.           – Puxa vida! Como é que um ator com tão boa reputação veio parar num filme B? – você se pergunta, sem vontade de ouvir a resposta.           Confesso que quando me deparei no serviço de streaming com o filme Zona de Risco ...

O Assassino: adaptação de uma ótima HQ francesa

Imagem
O Assassino: direção de David Fincher UM PROTAGONISTA ABJETO, CAINDO EM CONTRADIÇÃO Cinema e histórias em quadrinhos sempre se resvalaram. Há pontos de intercessão entre ambos, que funcionam como estímulo para os artistas interessados em expandir seus recursos narrativos. Will Eisner experimentou planos cinematográficos que depois inspiraram cineastas. Stan Lee alfabetizou o público na linguagem que agora domina o cinema de ação. Frank Miller expropriou a articulação narrativa do cinema noir... Inúmeros artistas foram além das idiossincrasias e estabeleceram novas maneiras de contar histórias.           É nas diferenças entre as duas formas de arte, no entanto, que encontramos os grandes rompantes artísticos. A trilha sonora como condutora da jornada emocional do espectador, a decupagem dos movimentos para ampliar a acuidade visual do leitor, o distanciamento da tela e a proximidade tátil no virar de cada página, os cheiros da pipoca e do papel... Criar par...

300: dos quadrinhos para as telas

Imagem
300: direção de Zack Snyder COMBATEREMOS À SOMBRA! A Batalha de Termópilas aconteceu há 2.500 anos. Todos já aprendemos sobre ela nos bancos escolares: durante três dias, 300 espartanos liderados pelo Rei Leônidas encurralaram 300 mil persas numa passagem estreita e resistiram até a morte para defender os valores que ergueram a civilização ocidental. Os gregos já empreendiam a busca racional pela verdade e entendiam que ela é tarefa de cada indivíduo. Já os persas, estavam mais preocupados em expandir seu império exuberante e multicultural, mas controlado por um poder central onipresente.           Aqueles espartanos corajosos, unidos pelo ideal de liberdade e independência, viraram símbolo de heroísmo. Além de inspirar as demais cidades-estados gregas a seguir na resistência aos invasores adeptos da servidão coletiva, protagonizaram um episódio incrível, que nos instiga até hoje. Quem se encantou com essa história desde garoto foi o escritor e desenhista F...

Dredd: juiz, mas também policial, promotor, júri e carrasco

Imagem
Dredd: filme dirigido por Pete Travis UM SISTEMA INFECTADO DE CINISMO E HIPOCRISIA Para escrever sobre o ótimo Dredd , filme de ação e ficção científica com estética cyberpunk, dirigido em 2012 por Pete Travis, quero falar de... pragmatismo! Baseado na história em quadrinhos criada em 1977 por John Wagner e Carlos Ezquerra e publicada na revista inglesa 2000 AD, o filme mantém a essência do protagonista, que combate o crime em Mega City One, uma megalópole distópica incrivelmente violenta. Lá, o tal Juiz Dredd exerce as funções de policial, promotor, juiz, júri e carrasco, tudo ao mesmo tempo. Sim, ele e seus colegas juízes, que estão na rua para impor a lei e a ordem, agilizam o processo. Ganham tempo e poupam os recursos dos pagadores de impostos. São legitimados por um sistema pragmático, desenhado pelos detentores do poder para garantir resultados palpáveis, medidos estatisticamente.           Quando comecei a frequentar os bancos da universidade, meus ...

Plano de Fuga: filmado numa prisão verdadeira no México

Imagem
Plano de Fuga: direção de Adrian Grumberg UM ANTI-HERÓI, NUM MUNDO PIOR DO QUE ELE Nós, cinéfilos, quando apertamos o play em um filme de ação, sabemos bem o que esperar: cenas empolgantes, repletas de tiros, socos, pontapés e perseguições, editadas com precisão para comunicar agilidade, velocidade e fúria. Trata-se normalmente de uma produção endinheirada, repleta de efeitos especiais e feita para cultuar um herói – ou um anti-herói – que invariavelmente consegue derrotar a encarnação do mal, representada pelo vilão.           Sobre este gênero, pairam duas confusões sobre as quais gostaria de refletir. A primeira delas é quanto ao emprego do termo ação. Ora, todo filme tem ação! São os atos praticados pelos personagens que impulsionam a história e costuram o enredo. A diferença é que nos chamados filmes de ação, os personagens agem como resposta aos imperativos do mundo que os cerca. Os realizadores não têm tempo, nem disposição, para investigar os impac...

Siga a Crônica de Cinema