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Mostrando postagens com o rótulo Musical

Elvis: o cantor refém do seu empresário vilão

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Elvis: filme dirigido por Baz Luhrmann UM FILME ESFUZIANTE, QUE SÓ FAZ PRESERVAR O MITO Quando entrei na sala de exibição para assistir ao filme Elvis , esperava conhecer mais sobre a pessoa que ele foi. Queria ser apresentado às diferentes camadas da sua personalidade, saber das escolhas e renúncias que precisou fazer para se tornar um astro global e me emocionar com as alegrias e angústias que pontuaram sua vida acelerada... É claro que não esperava uma cinebiografia densa, afinal, filme sobre o Rei do Rock tem que enfatizar o mito que ele foi. Tem que ser sobre música e espetáculo! Tem que reproduzir a magia que só acontece nos palcos. Porém, confesso que não estava preparado para as idiossincrasias do diretor Baz Luhrmann, cujo nome é o que aparece com mais insistência durante a rolagem dos créditos – a sua personalidade permanece intermediando o espetáculo o tempo todo. Devia ter imaginado que isso aconteceria, considerando a pompa dos seus filmes anteriores, Moulin Rouge e O Gra

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

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Sweeney Todd: filme dirigido por Tim Burton UM MUSICAL COM JEITO DE ÓPERA E VISUAL DE FILME DE TERROR Meu pai costumava nos levar, meu irmão mais novo e eu, para cortar o cabelo na barbearia de um amigo. Éramos novinhos de tudo e encarávamos a missão com impaciência. Os minutos sentados na cadeira do barbeiro, enquanto a máquina com ímpeto militar ia raspando bem rente, eram intermináveis e enfadonhos. Mas então, vinha a recompensa: enquanto saboreávamos as balas e pirulitos, podíamos assistir ao barbeiro fazendo a barba do meu pai. Ficávamos estáticos, quase sem respirar, enquanto o sujeito raspava a navalha por todo o seu rosto. Meu pai era um homem de coragem! E se o barbeiro cometesse uma... barbeiragem? E se ele fosse um mal-intencionado? Meu pai devia confiar muito naquele seu amigo!           Desde que me surgiram as barbas na cara, foram pouquíssimas as vezes em que precisei dos serviços de um barbeiro – imagino que todo homem, lá no fundo, bendiga a invenção do americano King

Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres

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Gainsbourg: Filme dirigido por Joann Sfar O ÍCONE DA CULTURA POP FRANCESA RETRATADO POR UM DOS MAIORES NOMES DOS QUADRINHOS Dentro de todo autor de histórias em quadrinhos vibra uma alma de cineasta e todo cineasta é aficionado por histórias em quadrinhos. É claro que uma afirmação tão categórica soa arrogante e generalista, mas é a impressão que se tem depois de assistir ao filme Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres . Realizado por Joann Sfar em 2010, o filme é uma cinebiografia de Serge Gainsbourg, o ícone da cultura pop francesa, que fez sucesso como compositor, poeta, músico e pintor, além de ter transitado pelo cinema. Polêmico, para dizer o mínimo, foi profícuo em provocar e escandalizar os franceses ao longo de décadas.           Já o diretor Joann Sfar, também francês, tornou-se um dos mais consagrados artistas do mundo dos quadrinhos e é autor de inúmeros títulos que se tornaram best-sellers. É um contador de histórias inveterado, e desenvolveu um estilo inconfundível, q

La La Land - Cantando Estações: renovação nos musicais

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La La Land - Cantando Estações: filme dirigido por Damien Chazelle UMA HOMENAGEM AOS GRANDES MUSICAIS, MAS COM UMA ATMOSFERA CONTEMPORÂNEA           Pegue uma história e a dramatize por meio de encenações coreografadas, ao som de composições que unem canto e música instrumental. O resultado é... ópera! Sim, os musicais do cinema nasceram em berço nobre! Antes mesmo de ganhar voz, o cinema já empregava músicos nas salas de exibição para emular os espetáculos operísticos. Mais tarde, a criação de trilhas sonoras serviu de trincheira para músicos eruditos que batalhavam para sobreviver. Hoje, sem uma música elaborada não se narra um bom filme. Ela vem para enfatizar a imagem, criar ambientação e conduzir nossas emoções.           Com o passar das décadas, os grandes musicais foram perdendo apelo comercial e espaço no circuito de exibição. Até que Damien Chazelle, que também dirigiu Whiplash, fincou o pé e conseguiu realizar La La Land – Cantando Estações em 2016. Para narrar o romance en

Mussum, Keanu Reeves e os Beatles: uma combinação inusitada

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Submarino Amarelo: filme dirigido por George Dunning SARGENT PEPPER E SUA BANDA ACABAM COM QUALQUER PANDEMIA DE TRISTEZA Alguém aí anotou a placa do ano que furou o sinal, atropelou nossos planos e passou por cima das nossas rotinas? Como diria o Mussum, Keanu Reeves! Começamos 2020, ano em que eclodiu a pandemia do Coronavirus, ambicionando prosperar, mas tivemos que nos contentar em apenas sobreviver. 2021, 2022 e 2023 não foram diferentes. O que esperar de 2024?           A politicagem berrou o ano inteiro, desafinada e estridente, com uma insistência de enlouquecer. Falsas dicotomias surgiram a cada dia nos noticiários, insinuando que o bem comum e os direitos individuais são irreconciliáveis. Escolhemos um dos lados e nos entrincheiramos nas redes sociais, disparando sem piedade contra quem está erradamente indo contra as nossas certezas. Angustiados, estamos na iminência de explodir.           Enquanto escrevo, olho pela janela e não encontro o costumeiro movimento de carros e g

Fama: o musical de Alan Parker que marcou os anos 80

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Fama; filme dirigido por Alan Parker UM FILME QUE FALOU COM A JUVENTUDE DOS ANOS 80 Depois de realizar O Expresso da Meia Noite , Alan Parker deu um salto temático e caiu em uma escola de artes performáticas de Nova Iorque, para contar as aventuras, desventuras e sonhos de jovens aspirantes ao competitivo mundo do showbizz. O filme  Fama , que realizou em 1980, fez imenso sucesso e marcou toda uma geração, ditando moda, inspirando a abertura de escolas de artes em todo o mundo e emplacando canções inesquecíveis.           Inspirado no musical A Chorus Line , que mostra dançarinos disputando vaga em um musical durante as audições de seleção do elenco, o produtor David De Silva imaginou contar a história pregressa dos candidatos, desde a formação na escola de artes. Contratou Christopher Gore para escrever o roteiro e viabilizou a produção junto a um grande estúdio. O projeto caiu nas mãos do inglês Alan Parker, diretor consagrado, com sólida experiência no mercado da publicidade.     

Hair: uma renovação importante na arte dos musicais

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Hair: filme dirigido por Milos Forman ANUNCIANDO A POTÊNCIA ARTÍSTICA E MUSICAL DA ERA DE AQUÁRIO Um bando de hippies praticando paz e amor, enquanto festejam o hedonismo, bradam contra a guerra, repudiam o conservadorismo e pregam a contracultura. Parece antiquado e datado? Nas mãos de Miloš Forman, não! Em Hair , filme de 1979, ele faz uma adaptação para o cinema de um musical de sucesso na Broadway e extrai dele uma enorme potência artística e musical. O roteiro de Michael Weller cria um enredo e direciona o fluxo dramático da cantoria, trabalhando os personagens com mais detalhes.           Apenas privilegiados tiveram a oportunidade de assistir ao musical Hair , escrito por James Rado e Gerome Ragni, que estreou na Broadway em 1968. Mas qualquer um de nós tem acesso ao filme. Sua adaptação para o cinema não se limitou ao registro das canções marcantes e inesquecíveis, ou do peculiar visual da tribo hippie. O diretor soube desenvolver os personagens e criou uma trama envolvente. Se

Get on Up - A História de James Brown: uma das melhores cinebiografias musicais

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Get on Up - A História de James Brown: Filme dirigido por Tate Taylor NÃO PRECISA SER FÃ DE CARTEIRINHA PARA EMBARCAR NESSA HISTÓRIA Ah, as cinebiografias musicais! Formam um gênero complexo, que vem sendo cultivado em larga escala pela indústria do cinema. Todo cantor, compositor ou músico de sucesso precisa ter a sua. É uma oportunidade para polir a imagem do biografado, corrigindo defeitos e enaltecendo qualidades, enquanto se tenta não decepcionar as legiões de fãs e alcançar novas faixas de público. O objetivo, no final das contas, é perpetuar o sucesso do artista para... vender mais!         Acontece que realizar uma cinebiografia assim não é empreendimento fácil. Ao contrário, as dificuldades são imensas: repetir na tela a mesma performance artística do biografado, lidar com as exigências dos fás, definir uma narrativa que permita combinar dramatizações com apresentações musicais, recrutar um ator que possa ser identificado com o personagem e que tenha recursos técnicos para can

Minha Fama de Mau: o título de uma canção emblemática

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Minha Fama de Mau: filme de Lui Farias UM FILME LEVE, CRIATIVO E REPLETO DE CONTEÚDO Vivemos tempos esquisitos! As grandes estrelas pop que dominam o imaginário do público e infestam a mídia com sufocante onipresença são os... políticos! Nada contra a política. Ela é imprescindível para viabilizar a vida em sociedade. Mas tudo a favor de dar um tempo na lengalenga eleitoreira, cuspida por gente cujo único propósito é se apoderar do estado – essa máquina artificial que fingem ser tão vital quanto o ar que respiramos. Lembro de uma época em que podíamos fechar os ouvidos para o rosnado dos rabugentos e relaxar. Uma época quando o mundo era da comunicação de massa e havia uma diversidade de artistas, cantores, músicos, atores, diretores de cinema e promoters, todos empenhados em impulsionar uma fervilhante cena cultural. Os políticos ficavam em segundo plano, disputando as migalhas de visibilidade que sobravam.           É claro que também havia os patrulheiros de plantão, cuidando para q

Ray: narrativa afiada e talento legítimo, num dos melhores musicais já realizados

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Ray: filme dirigido por Taylor Hackford O QUE É PRECISO PARA INTERPRETAR UM GÊNIO DA MÚSICA? SER UM BOM MÚSICO! Poucos artistas no mundo da música ganharam uma cinebiografia tão bela e bem realizada quanto Ray Charles. Em Ray , filme independente de 2004 escrito, dirigido e produzido por Taylor Hackford, a carreira do músico é dramatizada com notável sensibilidade artística e competência técnica. Os méritos, em primeiro lugar, são do diretor, que lutou por 15 anos para conseguir financiar seu projeto, já que todos os estúdios se recusaram a fazê-lo. A ideia parecia mais talhada para a televisão e a indústria achava difícil fazê-lo chegar às telas dos cinemas.           Hackford apostou na qualidade narrativa de sua história, pois ela alcança não apenas os fãs de Ray Charles, mas também o público em geral, que desconhece alguns detalhes surpreendentes sobre a vida do artista. De fato, o que acompanhamos em Ray são dramas e personagens mais comumente encontrados nas obras de ficção. O d

Amadeus: Um filme sobre Mozart e sua genialidade

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Amadeus: filme dirigido por Milos Forman UM FILME QUE NOS ENSINOU A AMAR MOZART E REPUDIAR ANTÔNIO SALIERI Quando me interessei por escrever histórias, comecei a investigar em detalhes os filmes que me impactaram, para aprender com eles. Pus no papel alguns títulos de vários gêneros, todos assinados por grandes diretores: Kubrick, Fellini, Polanski, Truffaut... Quando conferi a lista, um nome me saltou aos olhos: Miloš Formam, que estava lá por causa do filme Amadeus , que realizou em 1984. Fiquei intrigado. Por que raios esse filme estaria lá, bem no topo da minha lista?          – Ah, é um filme maravilhoso – disse Ludy, quando leu minha lista. E continuou elogiando: – a música, a recriação da época, os atores... Tudo emocionante!          – Sim, mas tem uma história simples, com quase três horas de duração!           –  Jura? A gente nem percebe!          Minha mulher estava certa. Na primeira vez que assisti ao filme Amadeus , à época do seu lançamento em 1984, nem vi o tempo p

Whiplash - Em Busca da Perfeição: tudo para ser o melhor bateirista

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Whiplash - Em Busca da Perfeição: dirigido por Damien Chazelle EGOS INFLADOS MUNIDOS DE INSTRUMENTOS MUSICAIS O jovem diretor Damien Chazelle criou suas próprias oportunidades na indústria do cinema. Seu projeto de se tornar cineasta do primeiro time vingou de modo espetacular, materializado num filme vigoroso e arrebatador, que foi premiado com três estatuetas no Óscar: Whiplash – Em Busca da Perfeição , dirigido por ele em 2014. Com esse filme independente, Chazelle alcançou grande visibilidade e catapultou sua carreira – na sequência ele já realizou La La Land , O Primeiro Homem e Babilônia .           Antes de se dedicar à carreira no cinema, Chazelle labutou no universo da música. Frequentou aulas de bateria e tocou em uma banda de jazz – uma das mais competitivas e exigentes – durante o ensino médio em Princeton, Nova Jersey. Veio daí a experiência de vida que lhe serviu de base para escrever Whiplash – Em Busca da Perfeição . O filme é uma obra de ficção, sobre um aluno escolhi

Yesterday: filme com ótima ideia, mas roteiro fraco

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Yesterday: filme dirigido por Danny Boyle COMO DESPERDIÇAR UMA ÓTIMA IDEIA Já pensou acordar e descobrir que você é o único no planeta que se lembra das canções dos Beatles? Vasculha a internet e não encontra uma única vírgula sobre o quarteto de Liverpool. Mas você sabe de cor as letras, os acordes, os arranjos... Em certo momento você pensará que as canções são criações da sua mente. Num arroubo pretencioso, chegará a posar de compositor diante do espelho. Mas terminará consciente de que é proprietário de um acervo tão valioso, que não poderá ficar enfurnado nos confins da sua memória. Terá que assumir a responsabilidade de divulgá-lo para o mundo.           Pena que essa grande ideia tenha sido desperdiçada num filme... medíocre, por assim dizer. Dirigido por Danny Boyle, escrito por Richard Curtis e estrelado por Himesh Patel, o longa carece de personagens carismáticos, segue uma narrativa apática e é escasso de sensibilidade artística. Uma tal sentença pode parecer exagero, consid

Simonal: a cinebiografia de Wilson Simonal

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Simonal: filme dirigido por Leonardo Domingues SÓ ESQUECERAM DE MOSTRAR O CANTOR ALEGRE E CARISMÁTICO Lembro com saudosismo do astro Wilson Simonal. Sua música era contagiante, com letras fáceis e um balanço alegre, que irradiava brasilidade. Ouvi-lo no rádio, ou dar de cara com ele nos programas de auditório da TV, era sempre uma festa. Ao pronunciar seu nome, a palavra que me vêm à mente é alegria.           – Mas foi justamente essa palavra que ficou faltando no filme – exclamou Ludy com certa indignação, enquanto fazíamos nossa caminhada no parque.          Tive que concordar. Simonal , dirigido em 2018 por Leonardo Domingues, nesse sentido, foi uma decepção!  Caprichar no repertório não foi o suficiente para resgatar a alegria e o carisma daquele que se destacou como um dos maiores nomes do show business brasileiro.          Durante todo o trajeto da nossa caminhada, m inha mulher continuou a conversa. Lembrou dos tempos de criança, quando ouvia no rádio

Nasce Uma Estrela: já são cinco versões!

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Nasce Um Estrela: direção de Frank Pierson RECEITA DE SUCESSO, QUE JÁ RENDEU CINCO VERSÕES Já faz tempo que a palavra sucesso vaga pelas nossas falas e conversas, rondando feito assombração. Sibila provocações, atiçando as almas ambiciosas e aquelas em busca de reconhecimento. Sopra insinuações, para nos fazer acreditar que só há êxito verdadeiro quando os aplausos são ensurdecedores, quando os “likes” se contam aos milhões, quando nossos feitos alcançam multidões. Foi quando passou a andar abraçado com a fama que o sucesso deixou de ter escala individual. Ganhou dimensão coletiva, medida em cifras. Sem fama, não há sucesso. Sucesso é a escada que leva à fama!           Para muitos, sucesso e fama se tornaram objetivos de vida. Há dois caminhos para alcançá-los, o mais difícil é seguir pelo trabalho duro, obstinado e disciplinado. O mais fácil – e também o menos acessível – é encontrar um atalho, geralmente proporcionado por um patrocinador. O primeiro caminho é pavimentado pelo mérit

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