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Mostrando postagens com o rótulo Baseado em Literatura

O Conde de Monte Cristo: mais uma versão

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O Conde de Monte Cristo: direção de Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière UM UNIVERSO DRAMÁTICO... REPAGINADO! O clássico da literatura O Conde de Monte Cristo é um dos romances mais populares do escritor francês Alexandre Dumas; foi publicado pela primeira vez como folhetim em 1844. Já inspirou diversas adaptações para o teatro e para o cinema – desde que o cinema foi inventado, a cada década uma nova versão é lançada, para deleite dos cinéfilos mais exigentes. Não é para menos: a trama minuciosa e envolvente traz elementos de ação, suspense, drama, romance e aventura; além disso, a história poderosa tem um protagonista multifacetado e nos apresenta a uma variedade de personagens odiosos, além de outros que conquistam a nossa simpatia.           Todos nós já conhecemos a sinopse de O Conde de Monte Cristo , já que o livro está na grade curricular do ensino médio – ao menos estava quando frequentei os bancos escolares, mas como isso já tem pratic...

Sobre Meninos e Lobos: o perturbador Mystic River

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Sobre Meninos e Lobos: direção de Clint Eastwood PROFUNDIDADE DRAMÁTICA E CINEMA MINUCIOSO Sobre Meninos e Lobos , dirigido em 2003 por Clint Eastwood, não é um filme fácil. É doloroso, incômodo e provocador; obriga o espectador a encarar uma gama de emoções fortes, experimentadas por personagens introspectivos, com os quais é difícil estabelecer empatia – não desejaria de estar no lugar de nenhum deles! Ainda assim, é um grande filme, que merece ser visto e revisitado; oferece cinema de qualidade e tem lugar de destaque na filmografia de um diretor ousado o suficiente para transitar na contramão do cinema comercial – ao invés de impor um ritmo vertiginoso, pontuado com cenas rápidas, editadas em frenesi, prefere os planos longos, que capturam as minúcias do que seus atores têm para oferecer.           Antes de falar do filme, porém, gostaria de lembrar do material original, que foi adaptado para as telas: o livro Sobre Meninos e Lobos – Mystic River , escr...

O Talentoso Ripley: um remake imprescindível

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O Talentoso Ripley: direção de Anthony Minghella UMA ILHA DE GÉLIDA PSICOPATIA, CERCADA DE BELEZAS Tempos atrás, escrevi uma crônica sobre a minissérie Ripley , dirigida em 2024 por Steven Zailian. Lembro que Ludy e eu maratonamos os oito episódios com avidez, hipnotizados por aquela produção envolvente; minha mulher, inclusive, ficou interessada em rever o filme O Talentoso Ripley , dirigido em 1999 por Anthony Minghella – o que fizemos dias depois. Num primeiro momento, considerei desnecessário escrever sobre essa adaptação do romance de Patricia Highsmith; seria cair em redundância, já que o personagem e a trama de assassinatos que ele protagoniza estão descritos no meu texto anterior. Acontece que a qualidade do cinema realizado por Minghella é tão notável que mudei de ideia; decidi revisitar o mundo do psicopata gélido que consegue se safar da punição por seus crimes, graças a uma combinação de sorte com uma gélida meticulosidade.           O romance d...

Conclave: suspense papal voltado para os não católicos

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Conclave: direção de Edward Berger NARRATIVA MANIPULADORA, PERSONAGENS CARICATOS Esta crônica contém spoilers . Um tal alerta logo de início não é comum aqui na Crônica de Cinema; por regra, evito revelar detalhes cruciais, para não estragar a surpresa dos cinéfilos. No entanto, Conclave , filme de 2024 dirigido por Edward Berger, pisa num terreno tão escorregadio que decidi fazer uma exceção. Caso você ainda não tenha assistido a esse filme, sugiro que o faça antes de continuar a leitura; mas peço que tenha em mente alguns pontos importantes: o filme descarta o conteúdo religioso, para se concentrar nos meandros da disputa eleitoral de um novo papado; esboça os embates políticos de forma caricata e desenha personagens estereotipados; escancara um viés progressista, com uma narrativa manipuladora em favor de mudanças na Igreja; desconsidera a fé como princípio vital que há dois mil anos rege o catolicismo – ao contrário, o filme enaltece a dúvida!          ...

O Leopardo: minissérie épica em seis episódios

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O Leopardo: direção de Tom Shankland DRAMATURGIA ITALIANA COM TEMPERO BRITÂNICO O escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa escreveu O Leopardo , mas não viveu para testemunhar seu incrível sucesso editorial;  publicado postumamente em 1958, depois de recusado por vários editores, o romance histórico alcançou um lugar de destaque na literatura do seu país – muitos agora se referem a ele como o Guerra e Paz da Itália! O autor se inspirou na história dos seus antepassados e desenrolou uma trama épica, repleta de intrigas, romances e disputas pelo poder.           O Leopardo é um livro conciso, com apenas 384 páginas. Mas quanta literatura! As entrelinhas vêm abarrotadas de referências e imagens tão ricas que se desdobram em acontecimentos na mente do leitor. Começa em 1860, em pleno declínio dos Bourbon, quando os Camisas Vermelhas de Garibaldi invadem a Sicília para anexá-la à Itália, nos momentos cruciais do Risorgimento, o movimento que unificou...

O Último Duelo: uma superprodução ousada

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O Último Duelo: direção de Ridley Scott UM DRAMA, TRÊS PONTOS DE VISTA O Último Duelo , dirigido por Ridley Scott em 2021, é uma prova de que a sétima arte já não é mais a mesma. O filme tem DNA de cinemão e consumiu um orçamento polpudo, mas amargou um retumbante fracasso nas bilheterias – não arrecadou 20% do que os investidores aportaram. É um filme ruim? Longe disso! É cinema de primeira, bem realizado, com ótimas atuações e uma história envolvente. Mas o público não se dispôs a visitá-lo nas salas de exibição;  parece que, ultimamente, está mais cômodo ficar em casa e consumir as ofertas do streaming.           Produções caras viraram artigos exclusivos para poucos cineastas – os Nolans, Camerons e Villeneuves da vida – ou restritos a temáticas infantilizadas – Godzillas, Coringas, Wolverines e Deadpools... Ousadias como O Último Duelo terão que se contentar com orçamentos modestos. O fracasso financeiro do filme é algo a se lamentar, pois arrefe...

Fomos Heróis: assim começou a guerra do Vietnã

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Fomos Heróis: direção de Randall Wallace VISÃO PLENA DE TODO O TEATRO DE OPERAÇÕES Nem todos os cinéfilos apreciam filmes de guerra. Alguns evitam exposições à violência, como quem evita tomar vento pelas costas, para se proteger das gripes e resfriados. Não abrem mão de suas suscetibilidades. O fato é que todos ficamos resfriados, em algum momento! Para quem gosta da sétima arte, certos filmes de guerra são inevitáveis, especialmente os que ampliaram os cânones do gênero e modelaram o jeito de fazer cinema. Apocalypse Now , O Resgate do Soldado Ryan , Nascido Para Matar , Platoon , Nada de Novo no Front ... São alguns dos títulos que me ocorrem quando quero falar de qualidade, para chamar a atenção dos cinéfilos mais... pacifistas.           Fomos Heróis , filme de 2002 dirigido por Randall Wallace, talvez não seja uma dessas obras inovadoras, que merecem estar no topo da lista, mas possui qualidades inegáveis. Trata-se da adaptação para as telas do livro ...

Vestígios do Dia: um clássico dos anos 1990

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Vestígios do Dia: direção de James Ivory O PRIVILÉGIO DE PODER CONSUMIR ALTA CULTURA Que serventia tem a cultura, afinal? Ela é para nos lembrar que somos mais do que bichos! Somos humanos, capazes de nos pôr em contemplação diante da existência. E como tal, alcançamos outras realidades além daquela governada pelas leis da física e da química. Para nutrir a alma, precisamos mais do que pão – ou picanha. Precisamos de cultura! Mas não daquela cultura industrial, na qual vivemos imersos desde pequenos. Aliás, o propósito dos produtos culturais, que jorram da mídia e das instituições de ensino, parece ser o de nos conduzir na direção contrária. Tentam nos arrebanhar feito gado apaziguado pelo consenso coletivista.           Se consumimos essa cultura popular é por razões utilitaristas, e também porque ela nos inicia no exercício da contemplação. Bichos não degustam vinhos, não combinam sabores, não leem poesia, não apreciam pinturas, não se arrepiam com passag...

Era Uma Vez um Sonho: a história do vice de Donald Trump

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Era uma Vez um Sonho: direção de Ron Howard UM LAMENTO CAIPIRA Isso mesmo, leitor. O protagonista de Era uma Vez um Sonho , filme dirigido em 2020 por Ron Howard, é o mesmo J. D. Vance que se tornou vice-presidente na chapa de Donald Trump, na corrida de 2024 à Casa Branca. Personagem da cena política americana embrulhado em polêmicas e controvérsias, a simples menção do seu nome é suficiente para dissolver a isenção dos cinéfilos mais engajados. Uns torcerão o nariz e gritarão que o filme é ruim. Outros erguerão o punho, para garantir que é cinema de qualidade.           Antes de escrever sobre esse filme – para evitar os veredictos prévios decididos com o fígado – será mais prudente examinar quem é esse tal de J. D. Vance e entender a sua trajetória. Ele ficou famoso de repente, em 2016, quando publicou seu livro de memórias intitulado Hillbilly Elegy: A Memoir of Family and Culture in Crisis . Foi um grande e inesperado sucesso editorial! Além de contar ...

Kramer vs. Kramer: o mais importante acontece fora dos tribunais

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Kramer vs. Kramer: direção de Robert Benton AUTOAPRENDIZADO INTENSIVO Quando foi lançado, em 1979, Kramer vs. Kramer , dirigido por Robert Benton, alcançou grande sucesso junto à crítica e também ao público. Na festa do Óscar, arrebatou cinco estatuetas: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado. Entrou para a história do cinema como uma unanimidade e continua lá, na prateleira, onde acumula pó. Passados 45 anos, pode ser encontrado a vagar pelos serviços de streaming, à espera de espectadores que ousem apertar o play.           Se você é daqueles que, como eu, assistiu ao filme na época do lançamento e nunca mais se lembrou de visitá-lo, sugiro que o faça. Fiz isso há dias e constatei:  Kramer vs. Kramer envelheceu muito bem! Talvez você se lembre dele como um... filme de tribunal, mas não é bem assim. Apesar do que sugere o título, trata-se de um filme sobre amadurecimento, de um pai, de uma mãe e ...

Uma Ponte Longe Demais: a história real da Operação Market Garden

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Uma Ponte Longe Demais: direção de Richard Attenborough UMA FAÇANHA LOGÍSTICA MOVIDA PELA VAIDADE Por qual motivo alguém ousaria realizar um filme como Uma Ponte Longe Demais , dirigido em 1977 por Richard Attenborough? Antes de começar a especular, vamos examinar do que ele trata. É um drama de guerra, estrelado por um elenco de famosos, que narra os meandros da fracassada Operação Market Garden, criada em setembro de 1944 pelo ambicioso general britânico Bernard Montgomery. O objetivo era pôr fim à Segunda Guerra Mundial antes daquele Natal. Foi a maior operação de paraquedistas da história, quando 41 mil homens saltaram atrás das linhas alemãs que dominavam a Holanda, com a missão de proteger algumas pontes estratégicas. Enquanto isso, os britânicos avançariam com seus blindados até a cidade de Arnhem e atravessariam a última ponte sobre o rio Reno, para finalmente invadir a Alemanha.           Uma sucessão de erros – rádios defeituosos e estradas estrei...

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