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Mostrando postagens com o rótulo Baseado em Literatura

O Último Duelo: uma superprodução ousada

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O Último Duelo: direção de Ridley Scott UM DRAMA, TRÊS PONTOS DE VISTA O Último Duelo , dirigido por Ridley Scott em 2021, é uma prova de que a sétima arte já não é mais a mesma. O filme tem DNA de cinemão e consumiu um orçamento polpudo, mas amargou um retumbante fracasso nas bilheterias – não arrecadou 20% do que os investidores aportaram. É um filme ruim? Longe disso! É cinema de primeira, bem realizado, com ótimas atuações e uma história envolvente. Mas o público não se dispôs a visitá-lo nas salas de exibição. Parece que, ultimamente, está mais cômodo ficar em casa e consumir as ofertas do streaming.           Produções caras viraram artigos exclusivos para poucos cineastas – os Nolans, Camerons e Villeneuves da vida – ou restritos a temáticas infantilizadas – Godzillas, Coringas, Wolverines e Deadpools... Ousadias como O Último Duelo terão que se contentar com orçamentos modestos. O fracasso financeiro do filme é algo a se lamentar, pois arrefece o í...

Fomos Heróis: assim começou a guerra do Vietnã

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Fomos Heróis: direção de Randall Wallace VISÃO PLENA DE TODO O TEATRO DE OPERAÇÕES Nem todos os cinéfilos apreciam filmes de guerra. Alguns evitam exposições à violência, como quem evita tomar vento pelas costas, para se proteger das gripes e resfriados. Não abrem mão de suas suscetibilidades. O fato é que todos ficamos resfriados, em algum momento! Para quem gosta da sétima arte, certos filmes de guerra são inevitáveis, especialmente os que ampliaram os cânones do gênero e modelaram o jeito de fazer cinema. Apocalypse Now , O Resgate do Soldado Ryan , Nascido Para Matar , Platoon , Nada de Novo no Front ... São alguns dos títulos que me ocorrem quando quero falar de qualidade, para chamar a atenção dos cinéfilos mais... pacifistas.           Fomos Heróis , filme de 2002 dirigido por Randall Wallace, talvez não seja uma dessas obras inovadoras, que merecem estar no topo da lista, mas possui qualidades inegáveis. Trata-se da adaptação para as telas do livro ...

Vestígios do Dia: um clássico dos anos 1990

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Vestígios do Dia: direção de James Ivory O PRIVILÉGIO DE PODER CONSUMIR ALTA CULTURA Que serventia tem a cultura, afinal? Ela é para nos lembrar que somos mais do que bichos! Somos humanos, capazes de nos pôr em contemplação diante da existência. E como tal, alcançamos outras realidades além daquela governada pelas leis da física e da química. Para nutrir a alma, precisamos mais do que pão – ou picanha. Precisamos de cultura! Mas não daquela cultura industrial, na qual vivemos imersos desde pequenos. Aliás, o propósito dos produtos culturais, que jorram da mídia e das instituições de ensino, parece ser o de nos conduzir na direção contrária. Tentam nos arrebanhar feito gado apaziguado pelo consenso coletivista.           Se consumimos essa cultura popular é por razões utilitaristas, e também porque ela nos inicia no exercício da contemplação. Bichos não degustam vinhos, não combinam sabores, não leem poesia, não apreciam pinturas, não se arrepiam com passag...

Era Uma Vez um Sonho: a história do vice de Donald Trump

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Era uma Vez um Sonho: direção de Ron Howard UM LAMENTO CAIPIRA Isso mesmo, leitor. O protagonista de Era uma Vez um Sonho , filme dirigido em 2020 por Ron Howard, é o mesmo J. D. Vance que se tornou vice-presidente na chapa de Donald Trump, na corrida de 2024 à Casa Branca. Personagem da cena política americana embrulhado em polêmicas e controvérsias, a simples menção do seu nome é suficiente para dissolver a isenção dos cinéfilos mais engajados. Uns torcerão o nariz e gritarão que o filme é ruim. Outros erguerão o punho, para garantir que é cinema de qualidade.           Antes de escrever sobre esse filme – para evitar os veredictos prévios decididos com o fígado – será mais prudente examinar quem é esse tal de J. D. Vance e entender a sua trajetória. Ele ficou famoso de repente, em 2016, quando publicou seu livro de memórias intitulado Hillbilly Elegy: A Memoir of Family and Culture in Crisis . Foi um grande e inesperado sucesso editorial! Além de contar ...

Kramer vs. Kramer: o mais importante acontece fora dos tribunais

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Kramer vs. Kramer: direção de Robert Benton AUTOAPRENDIZADO INTENSIVO Quando foi lançado, em 1979, Kramer vs. Kramer , dirigido por Robert Benton, alcançou grande sucesso junto à crítica e também ao público. Na festa do Óscar, arrebatou cinco estatuetas: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado. Entrou para a história do cinema como uma unanimidade e continua lá, na prateleira, onde acumula pó. Passados 45 anos, pode ser encontrado a vagar pelos serviços de streaming, à espera de espectadores que ousem apertar o play.           Se você é daqueles que, como eu, assistiu ao filme na época do lançamento e nunca mais se lembrou de visitá-lo, sugiro que o faça. Fiz isso há dias e constatei:  Kramer vs. Kramer envelheceu muito bem! Talvez você se lembre dele como um... filme de tribunal, mas não é bem assim. Apesar do que sugere o título, trata-se de um filme sobre amadurecimento, de um pai, de uma mãe e ...

Uma Ponte Longe Demais: a história real da Operação Market Garden

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Uma Ponte Longe Demais: direção de Richard Attenborough UMA FAÇANHA LOGÍSTICA MOVIDA PELA VAIDADE Por qual motivo alguém ousaria realizar um filme como Uma Ponte Longe Demais , dirigido em 1977 por Richard Attenborough? Antes de começar a especular, vamos examinar do que ele trata. É um drama de guerra, estrelado por um elenco de famosos, que narra os meandros da fracassada Operação Market Garden, criada em setembro de 1944 pelo ambicioso general britânico Bernard Montgomery. O objetivo era pôr fim à Segunda Guerra Mundial antes daquele Natal. Foi a maior operação de paraquedistas da história, quando 41 mil homens saltaram atrás das linhas alemãs que dominavam a Holanda, com a missão de proteger algumas pontes estratégicas. Enquanto isso, os britânicos avançariam com seus blindados até a cidade de Arnhem e atravessariam a última ponte sobre o rio Reno, para finalmente invadir a Alemanha.           Uma sucessão de erros – rádios defeituosos e estradas estrei...

Ficção Americana: a armadilha dos estereótipos

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Ficção Americana: dirigido por Cord Jefferson CINEMA ENVOLVENTE, ELEGANTE E INTELIGENTE Com o olhar difuso, miro algum ponto focal dentro da minha mente e bebo outro gole de café. Tal gesto mecânico denuncia: opero no modo divagação, enquanto tento preencher a tela em branco do computador. Desta vez, meu esforço é para compreender os fatores críticos que me trouxeram até aqui e determinaram a vida que levo. Que estabeleceram quem sou, o que tenho, o que posso, o que me resta... Gostava de pensar que a minha inteligência está no ponto zero. A partir dela, tudo o mais se deriva: meus desejos, meus humores, meus amores, minhas capacidades, meus talentos... Em razão disso, cultivar conhecimento e exercitar os neurônios sempre foram essenciais no meu modo de vida.           Com a idade, percebi que nem todos se medem pela mesma régua. Alguns elegem a fé como ponto zero, outros, escolhem a sensualidade. Há quem considere mais importante ter e exercer o poder, que...

Ripley: minissérie com suspense em profundidade

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Ripley: minissérie dirigida por Steven Zaillian RETRATO EM PRETO-E-BRANCO DE UM PSICOPATA Afinal de contas, o que é um psicopata? Os especialistas em psicologia levantarão o dedo e bradarão definições amparadas nos diagnósticos das várias doenças mentais, que afetam o caráter e causam desvios de comportamento. Falarão em atitudes antissociais, rompantes impulsivos e reações violentas... Porém, ressaltarão que, a depender do contexto, o diagnosticado pode não ser agressivo, nem representar perigo real para outras pessoas.           Já nós, os cinéfilos, reconhecemos de imediato um psicopata: ele costuma transitar pelas histórias mais escabrosas do cinema. É frio, desprovido de empatia e... maligno! Jamais sente remorso ou culpa. É calculista, cruel e quase sempre desempenha o papel do vilão. Um bom psicopata – bom num sentido fático, é claro – é um ingrediente especial em qualquer thriller policial ou de mistério. Vai elevar os níveis de suspense e nos causa...

O Paciente Inglês: personagens reais, numa história fictícia

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O Paciente Inglês: direção de Anthony Minghella UMA FAÇANHA CINEMATOGRÁFICA Que achado! Encontrar O Paciente Inglês disponível no serviço de streaming foi a salvação para este cinéfilo entediado, aborrecido com tamanha oferta de bobagens que prevalece nesses nossos dias apressados. Realizado em 1996 por Anthony Minghella, o filme conquistou seu lugar no panteão da sétima arte – ficou com nove Óscares e mais uma avalanche de prêmios internacionais até mais importantes. Virou consenso: trata-se de um grande filme, para ser apreciado em suas minúcias e revisitado sempre que precisarmos relembrar como é que se faz cinema de verdade.           Sim, O Paciente Inglês é uma façanha cinematográfica, mas escrever sobre o filme é transitar pela ponte pênsil que separa o cinema da literatura. É assumir de uma vez por todas que se trata de uma adaptação, um produto diferente do romance que o originou. Os fãs do mundo inteiro que se deliciaram com as páginas escritas,...

Amor Esquecido: inspirado em fatos

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Amor Esquecido: direção de Michal Gazda UMA PRODUÇÃO COMPETENTE, MAS COM SABOR AÇUCARADO Serei sincero! A foto do ator polonês personificando um andarilho sem rumo, utilizada para ilustrar a curta sinopse na plataforma de streaming, deixou-me tomado por dúvidas. Seria mais um daqueles dramalhões apelativos, criado apenas para provocar torrentes de lágrimas? Sem pestanejar, Ludy avisou que a busca terminara. Minha mulher tem preferência por romances e farejou a ótima oportunidade de entretenimento. É claro que concordei! Assistimos ao filme Amor Esquecido , dirigido em 2023 por Michal Gazda e fizemos bom proveito.           Sim, esse é um filme com vocação para entreter, que intercala passagens dramáticas com outras românticas. Parece que está sempre a um passo de ser apelativo, mas o diretor consegue a proeza de se conter. É verdade que fica ao nível dos estereótipos, sem se aprofundar na psique dos seus personagens, mas sua direção é segura e compenetrada....

Coração Satânico: desconfortável e assustador

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Coração Satânico: direção de Alan Parker CINEMA COM SINTAXE DE PURO PESADELO Não sei se já aconteceu com você, mas comigo é frequente: assisto a um filme tantas vezes, em partes, por inteiro, pausadamente... Até que meu objeto de estudo se esfarela em banalização. Vira massa homogênea de obviedades, que decido pôr para descansar, coberta por um pano de prato, antes de levar ao forno. E fica lá, esquecida, até que decido retomar de onde parei. Então recupero a memória e me dou conta dos motivos que me levaram a ver, rever, pausar, adiantar, voltar... Meu Deus! Como pude esquecer um filme desses? Nada tem de banal. Nem de óbvio! Coração Satânico , filme de 1987 dirigido por Alan Parker é desse tipo de filme. Gosto de saboreá-lo de tempos em tempos. Aproveito que já virou lembrança embaçada na minha mente de cinéfilo – talvez para ter a sensação de aproveitar uma iguaria recém-saída do forno.           Ao chegar às salas de cinema, Coração Satânico exalava no...

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