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O Último Duelo: uma superprodução ousada

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O Último Duelo: direção de Ridley Scott UM DRAMA, TRÊS PONTOS DE VISTA O Último Duelo , dirigido por Ridley Scott em 2021, é uma prova de que a sétima arte já não é mais a mesma. O filme tem DNA de cinemão e consumiu um orçamento polpudo, mas amargou um retumbante fracasso nas bilheterias – não arrecadou 20% do que os investidores aportaram. É um filme ruim? Longe disso! É cinema de primeira, bem realizado, com ótimas atuações e uma história envolvente. Mas o público não se dispôs a visitá-lo nas salas de exibição. Parece que, ultimamente, está mais cômodo ficar em casa e consumir as ofertas do streaming.           Produções caras viraram artigos exclusivos para poucos cineastas – os Nolans, Camerons e Villeneuves da vida – ou restritos a temáticas infantilizadas – Godzillas, Coringas, Wolverines e Deadpools... Ousadias como O Último Duelo terão que se contentar com orçamentos modestos. O fracasso financeiro do filme é algo a se lamentar, pois arrefece o í...

Jurado Nº 2: os dilemas de se fazer justiça

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Jurado No 2: direção de Clint Eastwood UM PROFUNDO RESPEITO AO DEBATE Aos 93 anos, Clint Eastwood resolve rodar um novo filme. Os cinéfilos que acompanham sua carreira esfregam as mãos, ansiosos. Conferir a proeza, que o diretor realiza com invejável lucidez, é uma reverência obrigatória. Entretanto, Jurado Nº 2 , lançado em 2024, é mais do que uma curiosidade ou um produto do oportunismo comercial. É cinema pulsante, envolvente e repleto de conteúdo para ser degustado com prazer e, sim, reverência.           Vamos direto ao ponto: Jurado Nº 2 é um drama de tribunal, confinado no espaço mental em torno de um julgamento, onde o aparato do sistema judiciário é posto à prova em sua capacidade de fazer justiça. O cinéfilo atento já deve ter remontado ao clássico 12 Homens e Uma Sentença , dirigido em 1957 por Sidney Lumet. Lá, os jurados tentam decidir o destino de um jovem acusado de assassinar o próprio pai. Onze deles o consideram culpado, mas um tem dúvida...

Zona de Risco: tiros, drones e tecnologia da comunicação

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Zona de Risco: direção de Willian Eubank UM VISLUMBRE DA MODERNA GUERRA DE DRONES Quem aprecia um bom filme de ação, já não cai mais nesse tipo de armadilha: colocam na capa, com destaque, o nome de um ator hollywoodiano consagrado no gênero – um com idade avançada – e capricham na foto. Depois de dar o play, você descobre que o tal astro faz apenas uma ponta insignificante, sem qualquer relevância para o conteúdo dramático do filme. Cabe ao restante do elenco, composto por novatos inexpressivos, a tarefa de prender a atenção do espectador. Geralmente não conseguem, porque o roteiro é mal costurado, as linhas de diálogo são óbvias e a trama vem ancorada apenas nas cenas de ação, repletas de clichês.           – Puxa vida! Como é que um ator com tão boa reputação veio parar num filme B? – você se pergunta, sem vontade de ouvir a resposta.           Confesso que quando me deparei no serviço de streaming com o filme Zona de Risco ...

Um Feliz e Próspero 2025

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MINHAS PREVISÕES PARA 2025 Descobri que tenho capacidades premonitórias. Sério! Ainda não compreendi como elas funcionam, se é que funcionam de fato. Sei apenas que funcionaram, dia desses, quando fui alcançado por uma visão perturbadora: Ludy escorregava e levava um tombo na esquina de casa, enquanto ia para a academia. Vi isso claramente pela manhã, ao passar pelo local enlameado e escorregadio, por causa de uma obra da prefeitura. Durante meu treino, não tirei a imagem da cabeça e ao voltar para casa, tratei de alertar minha mulher. À tarde, não a deixei sair sem antes recomendar novamente que tomasse cuidado naquela esquina. Ludy prometeu que se cuidaria.           Pois não é que a danada voltou para casa toda machucada? A queda foi feia, mas não aconteceu na esquina da academia, como tinha visualizado. Foi na esteira! Uma senhora caiu enquanto caminhava e Ludy foi tentar ajudá-la, mas teve que passar por sobre uma outra esteira, que alguém esqueceu lig...

Uma crônica de Natal

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AH, ENTÃO É ISSO QUE SIGNIFICA! “Feliz Natal”. Já repeti essa frase incontáveis vezes, desde que aprendi a falar. De início, a pronunciava de modo mecânico. As duas palavras ainda não formavam significado nos murais da minha mente. Apenas as repetia, numa apropriação do que diziam minha mãe e meu pai. “Feliz” foi a primeira que compreendi: sorrisos, carinho, atenção, conforto, segurança... “Natal” também não foi tão complicada: doces, presentes, festa, brincadeiras... Os anos passaram e “Natal” virou aniversário do “papai do céu” – na verdade, um garotinho pobre que cresceria para ser morto de forma horrível, pregado numa cruz.           Aos nove anos, já conhecia essa história em detalhes, depois de passar pelo catecismo e fazer a primeira comunhão. Daí em diante, minha religiosidade desceu ladeira abaixo. Voltei a pronunciar a frase “Feliz Natal” de forma mecânica, já que os murais da minha mente ficaram abarrotados de outros significados, que estavam aga...

Melhor É Impossível: personagens com trajetórias previsíveis

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Melhor É Impossível: direção de James L. Brooks CINEMA COM SOTAQUE DE SITCOM Tenho preguiça de assistir a certos filmes. Ludy já me disse que não se trata de preguiça: é rabugice, mesmo! Minha mulher acha que me apego a certos preconceitos e me empanturro de impaciência, até não deixar espaço para as novidades. Talvez seja verdade. Mas no caso de Melhor É Impossíve l, filme de 1997 dirigido por James L. Brooks, o que me fez evitá-lo por anos foi a montanha de outros filmes mais atraentes que encontrei pelo caminho e o eclipsaram. O empurraram lá para o final da lista. Até outro dia, quando Ludy encontrou o filme no serviço de streaming e avisou:           – Pronto! É esse que vamos assistir!           Imediatamente me lembrei do motivo  de tanta preguiça: a foto promocional com a estampa cínica de Jack Nicholson e um cãozinho nos braços, a curta explicação de que ele interpreta um escritor nova-iorquino antissocial e repug...

Dúvida: na disputa pelo poder, há mais espaço para as certeza

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Dúvida: direação de John Patrik Shanley DUELO ENTRE CINEMA E TEATRO O suporte audiovisual do cinema oferece uma experiência sensorial que tende mais para o realismo. O suporte audiovisual do teatro promove mais o fantasioso. O que vemos na tela, vem direto do mundo como o conhecemos. O que vemos no palco, precisa ser intermediado pela imaginação. É claro, isso tudo a grosso modo! Cinema e teatro são igualmente aptos a contar todo tipo de histórias, mas se valem de linguagens diferentes. Oferecem produtos culturais diferentes, ainda que compartilhem diversos recursos narrativos.           Talvez o principal ponto de interseção entre o cinema e o teatro seja o ator. Na tela ou no palco, é ele quem comanda o espetáculo – na percepção do espectador sentado na plateia, bem entendido. Os profissionais da atuação sabem, no entanto, que uma performance teatral exige recursos diversos daqueles que empregarão numa performance cinematográfica. Descer aos detalhes pode...

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