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Mostrando postagens com o rótulo Thriller

Sangue e Ouro: uma espécie de western germânico

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Sangue e Ouro: direção de Peter Thorwarth CONTRIBUIÇÃO DOS ALEMÃES PARA O CINEMA DE AÇÃO Os filmes de bangue-bangue espaguete foram uma invenção inusitada no início dos anos 1960. Rodados na Sicília e na Espanha por diretores italianos em busca da mesma atmosfera dos westerns americanos, trouxeram um sopro de renovação para o gênero, além de toques de um humor mais... mediterrâneo. E trouxeram também a certeza de que outras nacionalidades poderiam ousar seus próprios faroestes, apropriando-se dos clichês narrativos consolidados por cineastas como Sergio Leone e seus seguidores.           Dentre todos os países, o mais improvável de tal ousadia seria a Alemanha. Não por incompetência, é claro! Seu cinema de peso e repleto de contribuições significativas para a construção da sétima arte está nítido na mente de todo cinéfilo. Mas porque é dos alemães que nos costumam chegar algumas das produções mais compenetradas. Títulos como Metrópolis , O Enigma de Kaspar Hauser e Asas do Desejo  , j

Atirador: a história de Bob Lee Swagger

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Atirador: direção de Antoine Fuqua TEM COISAS QUE SÓ CONSEGUIMOS RESOLVER A BALA! Depois de um dia intenso de trabalho, são diversos os motivos que nos fazem deitar no sofá e assistir a um filme. O mais comum é a busca por diversão – que tal qual a busca pela felicidade, é sempre uma jornada individual. Porém, às vezes, levamos sorte e topamos com cinema de qualidade, aquele que surpreende e entrega mais do que mero entretenimento. Traz reflexões, provocações, dúvidas, elevação intelectual, regozijo estético... Atirador , filme de 2007 dirigido por Antoine Fuqua, definitivamente não é esse tipo de filme. Mas traz um bônus valioso: catarse!           Não me refiro ao efeito que os psicólogos adoram provocar nos seus pacientes, cutucando o inconsciente para fazer jorrar as emoções traumáticas que ficaram represadas desde a infância. A catarse aqui é justamente aquela aristotélica, que tem função purificadora e purgatória, usada desde a tragédia grega para trazer alívio ao espectador, liv

Treze Dias Que Abalaram o Mundo: a crise dos mísseis cubanos

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Treze Dias Que Abalaram o Mundo: direção de Roger Donaldson POLÍTICA É UM PROBLEMA, MAS TAMBÉM É A SOLUÇÃO! John F. Kennedy foi aquele presidente americano que teve um caso com a loira Marilyn Monroe e acabou morto enquanto passeava de conversível com a Jaqueline Onassis, ao levar um tiro na cabeça disparado por Lee Harvey Oswald. Resumi de forma tosca? Sim! Mas é praticamente tudo o que o grande público de hoje guarda na memória sobre um dos presidentes mais populares dos Estados Unidos. É curioso como ninguém mais se refere a esse personagem glamouroso como um político. Como tal, era dado a politicagens e badalações, mas sua curta carreira não foi uma festa permanente. Kenedy precisou lidar com o estresse de um dos episódios mais tensos da Guerra Fria. É assim que ele aparece em Treze Dias Que Abalaram o Mundo , filme de 2000 dirigido por Roger Donaldson.           O filme vai se esgueirando pelos bastidores da crise dos mísseis de Cuba, que em 1962 colocou o mundo à beira de uma gue

O Pacto: será uma história é real?

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O Pacto: direção de Guy Ritchie NÃO SENTI FALTA DA TRADICIONAL EXTRAVAGÂNCIA DO DIRETOR No agitado mundo dos filmes de ação, o diretor britânico Guy Ritchie é uma usina de criatividade a serviço da diversão e do entretenimento. Desde que surgiu em 1998 com seu ótimo Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes , dirigiu vários sucessos, entre eles Sherlock Holmes , Snatch: Porcos e Diamantes , O Agente da U.N.C.L.E. e mais recentemente, Esquema de Risco - Operação Fortune . A narrativa sempre ágil e envolvente, os letreiros invadindo a tela, os diálogos afiados e o humor inteligente se tornaram suas marcas registradas. Esperava ver todos esses elementos reunidos em O Pacto , filme que ele dirigiu em 2023, mas não! Ao invés disso, assisti a um thriller de guerra compenetrado, com boa profundidade dramática, um enredo sólido e altas doses de tensão.           Devo dizer que a tradicional extravagância de Guy Ritchie não faz a menor falta em O Pacto . Ao invés dela, o diretor preferiu ressalt

Vidas em Jogo: thriller envolvente com a grife David Fincher

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Vidas em Jogo: direção de David Fincher O JOGO MAIS ESTIMULANTE É AQUELE ENTRE O DIRETOR E O ESPECTADOR Onde estava em 1997? Deixe-me ver... Estava aqui mesmo, em Curitiba. Ocupado demais tentando ganhar a vida numa agência de publicidade que acabara de fundar com outros dois sócios. A paixão pelo cinema estava em segundo plano, dadas as circunstâncias estressantes – a ousadia de virar empresário cobrava seu preço e os filmes viraram artigo de luxo, presentes apenas nos poucos momentos em que podia relaxar. Numa época sem internet e com a TV a cabo recém-nascida, acompanhar as novidades do cinema era uma dificuldade. Por isso não assisti a Vidas em Jogo , dirigido naquele ano por David Fincher. Por isso nem sequer tomei conhecimento da existência desse filme.           – Mas que cinéfilo de araque – diriam os enciclopédicos, diante das minhas desculpas esfarrapadas. Ao invés disso, prefiro dizer que sou um cinéfilo redimido! Dia desses, zapeando pelo serviço de streaming, tropecei no t

O Plano Perfeito: enaltecendo a esperteza de um reles ladrão

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O Plano Perfeito: direção de Spike Lee O DIRETOR FICOU REFÉM DE UM ROTEIRO IMPERFEITO Um assalto à filial de um grande banco em Nova Iorque, que envolve reféns e acaba se tornando um espetáculo midiático, mexe com a imaginação dos nova-iorquinos. Não, não se trata de Um Dia de Cão , dirigido em 1975 por Sidney Lumet. O objeto desta crônica é O Plano Perfeito , dirigido em 2006 por Spike Lee. Apesar das referências – e da franca homenagem ao trabalho de Lumet – esse filme traz diferenças substanciais. Ao invés de partir de um evento destrambelhado para nos revelar personagens complexos, destrincha uma sequência de acontecimentos bem planejados, sem se preocupar em investigar os personagens para além das camadas epidérmicas. É um thriller policial ágil e envolvente, estrelado por nomes famosos, mas sem fôlego para deixar a sala de cinema. Vale o preço do ingresso, porém oferece conteúdo esquecível.           É verdade que este cronista tem uma certa implicância com histórias que enaltece

Os Infiltrados: Scorsese finalmente pôs as mãos num Óscar

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Os Infiltrados: direção de Martin Scorsese UMA TRANSPOSIÇÃO CULTURAL E CINEMATOGRÁFICA Conflitos Internos , dirigido em 2002 pela dupla Andrew Lau e Alan Mak foi um estrondoso sucesso em Hong Kong. Filme de ação, bem ao gosto do público asiático, traz aquele tipo de cinema frenético e estilizado, produzido em grande escala para proporcionar entretenimento descartável. Com toques de melodrama, conta a história de dois personagens em lados opostos da lei. Um é policial e se infiltra no crime organizado, para tentar acabar com a festa dos bandidos. O outro foi recrutado pelo crime organizado, para se tornar policial e tentar proteger os interesses dos bandidos. A existência de ambos é descoberta, mas não suas identidades. O jogo que se inicia, então, é aquele de gato e rato, com direito a lances violentos e todo tipo de dissimulações, até que um deles seja desmascarado por primeiro e eliminado.           O ator Brad Pitt se uniu ao produtor Brad Gray e os dois compraram os direitos dessa

Inimigo Íntimo: o último filme de Alan J. Pakula

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Inimigo Íntimo: direção de Alan J. Pakula CINEMA SUFICIENTE PARA COMPORTAR DOIS PROTAGONISTAS O diretor americano Alan J. Pakula realizou uma extensa filmografia, mas é lembrado de imediato por títulos como Todos os Homens do Presidente e A Escolha de Sofia , que alcançaram lugar de destaque entre os grandes filmes de Hollywood. Sua última obra foi Inimigo Íntimo , realizada em 1997, um ano antes da sua morte. Na época do seu lançamento, o filme veio cercado de polêmicas, alimentadas pela mídia em torno de uma suposta guerra de egos travada nos bastidores pelos astros Brad Pitt e Harrison Ford. Se ela aconteceu, evaporou-se em irrelevância, passando despercebida pelos cinéfilos que hoje visitam o filme para fruir seu cinema de qualidade e sua história muito bem contada.           Porém, quero mencionar aqui o embate entre os atores, porque talvez ele tenha contribuído para deixar essa história envolvente ainda mais densa. Os críticos especializados costumam ressaltar as qualidades do

A Viatura: respiramos a mesma atmosfera dos westerns spaghetti

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A Viatura: filme dirigido por Jon Watts UM CONTO CRIADO PARA AS TELAS, FILMADO COM NATURALIDADE Procurar um filme para assistir no serviço de streaming é uma atividade arriscada. Por mais que os algoritmos se esforcem para “adivinhar” suas preferências, eles acabam indicando uma diversidade muito grande de filmes. Alguns são facilmente descartáveis, a maioria não empolga e alguns poucos atiçam a curiosidade. Mas há aqueles que nos põem diante de um dilema: a sinopse é de filme B, mas a embalagem insinua que pode haver algum cinema que se aproveite. Foi essa a minha dúvida quando dei de cara com A Viatura , filme de 2015 dirigido por Jon Watts. Motivado pela presença do ator Kevin Bacon, decidi correr o risco, mas segui temeroso de que assistiria apenas a cenas de ação desenfreada e violência gratuita. Para minha satisfação, não foi nada disso! O filme é bem realizado e traz uma história formatada para as telas com precisão, onde a narrativa visual fluente remonta à atmosfera de tensão

As Duas Faces de um Crime: o final é surpreendente

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As Duas Faces de um Crime: direção de Gregory Hoblit A PRESENÇA MEMORÁVEL DE UM COAJUVANTE TALENTOSO Nos anos 1990, a indústria cultural fabricava um produto com grande saída junto ao público americano: o telefilme. O formato era um pouco diferente daquele adotado nas produções para o cinema. A estrutura dos atos era construída de modo a acomodar os vários intervalos comerciais, deixando espaço para que os patrocinadores pudessem vender seus peixes. As cenas e sequências eram captadas em planos mais próximos, privilegiando closes dos atores, para que ficassem mais visíveis nas telinhas da TV. E os temas eram apresentados com dramaticidade atenuada, já que, em casa, os sofás das salas estavam ocupados por famílias inteiras. Telefilmes eram produtos de segundo escalão, mas nem por isso menos populares. Um diretor que se adaptou muito bem ao formato, tornando-se um dos principais nomes da TV dos Estados Unidos, foi Gregory Hoblit. Quando migrou para a tela grande, estreou com um estrondos

O Espião Inglês: história real de um homem comum colhido pela guerra fria

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O Espião Inglês: direção de Dominic Cooke UM THRILLER ORIGINAL E MEMORÁVEL Serviços investigativos sempre me deixam esgotado. O pior deles é sentar diante da TV e investigar a oferta nos serviços de streaming, até encontrar um bom filme. Na maioria das vezes acabo me detendo num título conhecido, ao qual já assisti uma ou duas vezes, mas que é confiável o bastante para garantir momentos de agradável entretenimento. Raramente me deparo com algo novo, que desperte minha empolgação. Outro dia tive sorte: encontrei a capa de O Espião Inglês , dirigido em 2020 por Dominic Cooke, onde reconheci a foto do ator Benedict Cumberbatch.           – Esse talvez valha a pena conferir! – pensei, enquanto dedilhava no celular em busca de mais informações.           Foi um grande erro! Caí num desses sites de cinema apressados, que pautam suas críticas por algum viés ideológico, onde rotularam esse filme como... esquecível. Apesar de envolvente, dizem eles, não inova. Senti-me provocado. Fui para outro

72 Horas: escapando da penitenciária

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72 Horas: Direção de Paul Haggis NO FINAL, PERMANECE A DÚVIDA Veja que curioso: o que temos aqui é um remake hollywoodiano, com final em aberto, de um original francês com final francamente feliz. Nos acostumamos a ver o cinema americano produzindo versões mais palatáveis de dramas amargos, que os europeus fazem questão de cultivar. Mas 72 Horas, dirigido por Paul Haggis em 2010, veio na contramão. Estrelado por Russell Crowe e Elizabeth Banks, esse thriller ágil e repleto de suspense pisa num terreno escorregadio, onde os dilemas éticos e morais pipocam ao longo de todo o enredo. Há dois motivos para isso e o primeiro está diretamente relacionado ao diretor. Haggis, que tem predileção pelos dramas densos e com finais contundentes, ganhou destaque na indústria do cinema por dois ótimos filmes. Como roteirista, foi responsável pela criação de Menina de Ouro , dirigido por Clint Eastwood, que lhe valeu o Óscar de melhor roteiro original em 2004. No ano seguinte, lá estava ele novamente,

Decisão de Risco: um thriller eletrizante sobre a guerra de drones

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Decisão de Risco: filme de Gavin Hood O DILEMA ÉTICO DA CADEIA DE COMANDO Olhe em volta! Estamos entrando no último trimestre de 2022. A tecnologia digital não pára de nos surpreender, causando estrondosos impactos no nosso cotidiano. Com nossos celulares, somos mais rápidos, mais eficientes e conectados uns aos outros em tempo real. Quero, então, fazer uma provocação: se nós, cidadãos comuns, somos capazes de façanhas que eram inimagináveis 15 ou 20 anos atrás, calcule o poderio dos militares, que sempre se põem na vanguarda da tecnologia e a canalizam para uso bélico. Talvez já estejam lidando com conceitos que só vemos na ficção científica.           No filme Decisão de Risco , dirigido em 2016 por Gavin Hood, temos um vislumbre do que acabou se tornando a guerra moderna, nas mãos dos militares e dos políticos. Mas é bom lembrar que esse thriller eletrizante começou a ser gestado em 2008, quando Guy Hibbert, por encomenda da BBC Films, iniciou suas pesquisas para escrever o roteiro.

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