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Mostrando postagens com o rótulo Suspense

Ripley: minissérie com suspense em profundidade

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Ripley: minissérie dirigida por Steven Zaillian RETRATO EM PRETO-E-BRANCO DE UM PSICOPATA Afinal de contas, o que é um psicopata? Os especialistas em psicologia levantarão o dedo, bradando definições amparadas nos diagnósticos das várias doenças mentais que afetam o caráter e causam desvios de comportamento. Falarão em atitudes antissociais, rompantes impulsivos e reações violentas... Porém, ressaltarão que, dependendo do contexto, o diagnosticado pode não ser agressivo, nem representar perigo real para outras pessoas.           Já nós, os cinéfilos, reconhecemos de imediato um psicopata: ele costuma transitar pelas histórias mais escabrosas do cinema. É frio, desprovido de empatia e... maligno! Jamais sente remorso ou culpa. É calculista, cruel e quase sempre desempenha o papel do vilão. Um bom psicopata – bom num sentido fático, é claro – é um ingrediente especial em qualquer thriller policial ou de mistério. Vai elevar os níveis de suspense e nos causar arrepios de medo. Vai inclusi

Vidas em Jogo: thriller envolvente com a grife David Fincher

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Vidas em Jogo: direção de David Fincher O JOGO MAIS ESTIMULANTE É AQUELE ENTRE O DIRETOR E O ESPECTADOR Onde estava em 1997? Deixe-me ver... Estava aqui mesmo, em Curitiba. Ocupado demais tentando ganhar a vida numa agência de publicidade que acabara de fundar com outros dois sócios. A paixão pelo cinema estava em segundo plano, dadas as circunstâncias estressantes – a ousadia de virar empresário cobrava seu preço e os filmes viraram artigo de luxo, presentes apenas nos poucos momentos em que podia relaxar. Numa época sem internet e com a TV a cabo recém-nascida, acompanhar as novidades do cinema era uma dificuldade. Por isso não assisti a Vidas em Jogo , dirigido naquele ano por David Fincher. Por isso nem sequer tomei conhecimento da existência desse filme.           – Mas que cinéfilo de araque – diriam os enciclopédicos, diante das minhas desculpas esfarrapadas. Ao invés disso, prefiro dizer que sou um cinéfilo redimido! Dia desses, zapeando pelo serviço de streaming, tropecei no t

Mente Criminosa: pacote completo com ação, ficção científica, espionagem e suspense

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Mente Criminosa: direção de Ariel Vromen ROTEIRO BEM COSTURADO E UM ELENCO CARISMÁTICO Com perdão do pleonasmo, gosto de definir os enredos de filmes de ação como peças cinematográficas por excelência. Quero com isso dizer que, em geral, não são adaptações de romances, história em quadrinhos ou videogames. São criados para as telas e formatados a partir do uso otimizado da linguagem audiovisual. Normalmente, o gênero não abre espaço para investigações aprofundadas sobre o mundo interno dos personagens. O que interessa são as decisões que eles tomam, quase sempre sob pressão de forças externas urgentes. Filmes de ação não demandam longas cenas expositivas, nem subtramas costuradas com apuro. Basta a boa e velha narrativa linear e a escolha dos melhores pontos de vista para expor a ação – normalmente o assumido pelo protagonista heroico ou pelo antagonista abjeto. Mente Criminosa , dirigido em 2016 pelo israelense Ariel Vromen, é um filme de ação, mas recebeu alguns “upgrades” extraídos

O Inquilino: um filme sobre a perda da própria identidade

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O Inquilino: direção de Roman Polanski SUSPENSE, TERROR PSICOLÓGICO E SUSTOS MAIS... DURADOUROS Era um garoto de 16 anos quando entrei numa sala de cinema para assistir ao filme O Inquilino , dirigido e estrelado por Roman Polanski em 1976. Saí de lá um garoto de 16 anos... assustado! Estava numa idade marcada pela busca da própria identidade e ainda não sabia ao certo o que fazer com as revoluções transformadoras causadas pela puberdade. Por isso, um filme de suspense e terror psicológico onde o protagonista deixa de se reconhecer no espelho, acabou tendo seus efeitos potencializados sobre este cinéfilo em formação. Voltei no dia seguinte para uma nova sessão, ainda incomodado com a possibilidade devastadora de uma tal paranoia, mas dessa vez tive a sensatez de prestar atenção na obra cinematográfica em si. E que obra! O mestre Polanski, contando com a ajuda de Sven Nykvist, o diretor de fotografia que fez um trabalho impecável em diversos filmes de Ingmar Bergman, consegue um refinam

O Melhor Lance: romance e suspense no sofisticado mundo da arte

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O Melhor Lance: direção de Giuseppe Tornatore NO AMOR E NA ARTE, O FALSO E O AUTÊNTICO SE CONFUNDEM Giuseppe Tornatore se tornou um dos nomes mais aclamados do cinema italiano. Seu Cinema Paradiso , filmado como uma sincera homenagem à sétima arte, arregimentou fãs incondicionais no mundo todo e o consagrou como cineasta sensível e habilidoso em lidar com as forças emocionais dos seus personagens. Sua parceria com o compositor Ennio Morricone, que rendeu nove longas e vários comerciais, ajudou a consolidar seu estilo envolvente e fortemente agarrado às tradições do audiovisual italiano. Assim, quando realizou O Melhor Lance , em 2013, o fez cercado de expectativas, tanto por parte da crítica como dos cinéfilos: seria seu primeiro filme falado em inglês! Mais que isso, seria seu primeiro filme digital! Como Tornatore se sairia longe da prosódia que dá sabor ao idioma italiano e sem a sensação tátil que nos chega vibrante por meio do celuloide? Muito bem, devo dizer!           O segredo

Sleepers: A Vingança Adormecida: uma história real, mas não muito

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Sleepers: A Vinganã Adormecida: Direção de Barry Levinson A VERACIDADE FICA EM SEGUNDO PLANO Realidade e ficção são dois conceitos antagônicos, que sempre ocuparam lugar central na criação literária. Histórias que aconteceram de fato, ainda que contadas com ênfase na dramatização, ganham profundidade emocional e arrebatam a atenção do leitor. Histórias inventadas, quando costuradas com engenhosidade, ganham verossimilhança e geram encantamento. Porém, quando a fronteira entre realidade e ficção se confunde, quem surge para atrapalhar é o descrédito, comprometendo o alcance da obra. Por certo que na pena de um Jorge Luis Borges, as tintas da fantasia, do sonho e da realidade conseguem criar um universo ampliado, para deleite dos aficionados por boas histórias, mas entrar no terreno do realismo fantástico não foi a intenção do escritor americano Lorenzo Carcaterra, quando publicou seu romance Sleepers , em 1995. Disposto a causar impacto, ele garantiu que sua triste história era verdadei

O Grande Truque: o segredo é surpreender no final

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O Grande Truque: direção de Christopher Nolan O MUNDO DA MÁGICA TRATADO COM FANTASIA E IMAGINAÇÃO Já não há mais palcos para os espetáculos de magia em nossos tempos digitais. Mas no final do século XIX, os mágicos de fraque e cartola eram celebridades, que assombravam as plateias com truques desconcertantes. Faziam questão de atiçar a curiosidade do público e jamais revelavam seus segredos. Alguns fizeram fama e fortuna, até o momento em que as façanhas da tecnologia começaram a criar outras atrações mais... midiáticas.         O escritor britânico Christopher Priest se interessou por esses tempos áureos da mágica e encontrou assunto para escrever seu romance Prestige , publicado em 1996. Partiu da história real do mágico chinês conhecido como Ching Ling Foo, cuja especialidade era fazer surgir objetos por debaixo de seu lenço de seda. Alguns eram grandes e pesados, como um aquário cheio d’água contendo vários peixes dourados. Ninguém sabia como ele conseguia tal façanha, já que era u

Sinais: suspense à moda antiga

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Sinais: direção de M. Night Shyamalan SUSPENSE COM ABORDAGEM TRADICIONAL, MAS ELETRIZANTE De certa forma, o espectador já sabe o que esperar de um filme de M. Night Shyamalan: suspense, temas sobrenaturais e uma reviravolta ao final da trama, com capacidade para surpreender até os mais atentos na plateia. Fez isso em O Sexto Sentido e conquistou a fama de herdeiro de Hitchcock, como rei do suspense. Em seu filme de 2002, Sinais , o diretor parece levar a sério tal honraria. Logo na abertura, lança mão de uma trilha sonora de impacto, criada por James Newton Howard, bem ao estilo daquelas compostas por Bernard Herrmann para o filme Psicose . Tal ardil surte efeito: o espectador agora é pura expectativa! Porém, não é o sobrenatural que inunda a atmosfera de mistério. O que nos faz contorcer na poltrona é a possibilidade de uma invasão extraterrestre com implicações apocalípticas.           Segundo Shyamalan, a ideia para o filme nasceu quando imaginou o susto de uma família de fazendeir

Tempo: um mistério enrolado em questões éticas

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Tempo: filme de M. Night Shyamalan ENVELHECENDO SEM O BÔNUS DA EXPERIÊNCIA DE VIDA O que é o tempo? A tirada espirituosa de Santo Agostinho, no seu livro autobiográfico As confissões , já virou resposta clássica: “Se ninguém me pergunta, eu o sei, mas se me perguntam, e quero explicar, não sei mais nada.” A frase se popularizou, porque a maioria de nós não quer se perder com divagações. Sempre de olho no relógio, estamos mais preocupados com os compromissos a cumprir. Feito peixes que se movem sem atinar para a existência da água, seguimos com a vida, distraídos para a passagem do tempo. Segundo os físicos, ele é de uma constância implacável: não se apressa, não se cansa, não pára. Mas não é o que diz o senso comum. Quando estamos nos divertindo, o tempo voa, quando estamos na cadeira do dentista, ele se arrasta. Na medida em que o tempo flui, ficamos mais velhos. E se ficamos mais velhos, é porque acumulamos mais tempo de vida. Essa lógica cristalina vai por terra no filme Tempo , dir

Clube da Luta: proposta anarquista para desvendar o sentido da vida

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Clube da Luta: dirigido por David Fincher LUTANDO PARA PREENCHER O VAZIO EXISTENCIAL Quando penso no filme Clube da Luta , dirigido em 1999 por David Fincher, a primeira palavra que me vem à mente é "publicidade". A matéria me interessa profundamente, tanto que a escolhi como profissão – isso no comecinho dos aos 1980, quando tinha 18 anos e ainda não sabia exatamente onde estava me metendo. Mas tinha plena noção de que trabalharia numa atividade motora do capitalismo, crucial para alimentar a sociedade de consumo. Eram outros  tempos: os consumidores sabiam exatamente quando estavam sendo abordados por mensagens publicitárias. Elas chegavam pelos comerciais de rádio e TV, dos jornais e revistas, placas na rua... Hoje, nos meios digitais, informação e persuasão estão de mãos dadas e nem sempre a publicidade se mostra explícita os consumidores.            Conhecer por dentro o mecanismo astuto da publicidade não me imunizou dos seus efeitos. Por várias vezes sucumbi às pressõe

A Mulher na Janela: crime de verdade é esse roteiro!

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A Mulher na Janela: filme dirigido por Joe Wright SUSPENSE PSICOLÓGICO COM FINAL NADA SUTIL Ah, os testes de audiência! Para a indústria da comunicação – especialmente para os operários da publicidade – submeter uma peça acabada à avaliação de grupos focais para descobrir se ela funcionará com o grande público, é parte de um processo já estabelecido. Há custos envolvidos, mas para quem está investindo seu dinheiro suado, é uma forma de obter alguma segurança. Há também muitas técnicas envolvidas, dominadas por marqueteiros e pesquisadores, mais preocupados com os resultados financeiros do que com as idiossincrasias artísticas. Os criativos odeiam a ditadura dos grupos focais. Os marqueteiros, no final das contas, se acham os mais criativos!           A indústria do cinema, especialmente em Hollywood, transformou os testes de audiência em gênero de primeira necessidade. Filmes com orçamento polpudo jamais chegam às salas de cinema com o mesmo corte idealizado pelo diretor. São reeditado

O Exorcista: um clássico que continua assustador

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O Exorcista: filme dirigido por Willian Friedkin EFEITOS ESPECIAIS AJUDAM, MAS O IMPORTANTE É SABER CONTAR A HISTÓRIA Quando foi lançado em 1973, O Exorcista virou fenômeno por toda a mídia. Nas rodas de conversas, era assunto obrigatório. Nunca um filme de terror havia conquistado tanto espaço no imaginário do público, nem na crítica especializada. Para um garoto de 14 anos, interessado em cinema, assistir ao filme seria uma conquista – prova de coragem e oportunidade de se aproximar do mundo adulto. O problema é que ele não era permitido para menores de 18 anos. Naquela época, a censura era dura e implacável!           Mas encontrei a solução: um amigo três anos mais velho me emprestou um exemplar do livro O Exorcista , escrito por William Peter Blatty, também autor do roteiro que foi às telas de cinema. A capa, que não seguia o padrão gráfico dos cartazes do filme – lembro que trazia uma ilustração medieval – era mais artística do que assustadora. Mergulhei na leitura.           Pe

Cabo do Medo: filme estrelado por Robert De Niro

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Cabo do Medo: filme dirigido por Martin Scorsese UM THRILLER COM PERSONALIDADE, QUE PERMANECE ASSUSTADOR Há muito não visitava Cabo do Medo , realizado em 1991 por Martin Scorsese. Fiz isso outro dia – reconheci a capa navegando por um serviço de streaming e cliquei de imediato. No cinema, quando assisti ao filme pela primeira vez, o impacto foi brutal. Saí impressionado com tanta violência psicológica. Desde então já assisti a muitos filmes violentos e me imaginava calejado o suficiente, a ponto de subestimar uma história contada há décadas. Nada disso! Ela continua perturbadora.           Cabo do Medo é uma refilmagem de Círculo do Medo, dirigido em 1962 por J. Lee Thompson e baseado no romance The Executioners , escrito por John D. MacDonald. A película em branco e preto era estrelada pelos astros Gregory Peck e Robert Mitchum e apresentava a estética clássica dos thrillers Hollywoodianos que reverenciavam as fórmulas de Alfred Hitchcock. Martin Scorsese resgatou essa atmosfera,

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