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Mostrando postagens com o rótulo Drama de Guerra

O Franco Atirador: filme de 1978 vencedor do Óscar

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O Franco Atirador: filme de Michael Cimino AS CONSEQUÊNCIAS DEVASTADORAS DA GUERRA DO VIETNÃ É lamentável ter que começar uma crônica sobre o filme O Franco Atirador , realizado em 1978 por Michael Cimino, falando do seu título. Sempre me incomodei com ele. Primeiro, porque a expressão franco-atirador leva hífen – sinal que nesse caso específico resistiu bravamente aos acordos ortográficos. Depois, porque a expressão está longe de manter diálogo com o título original, The Deer Hunter . Compreendo os motivos que levaram os distribuidores aqui no Brasil a evitar a mera tradução. O caçador de veados, naquele final dos anos 1970, estaria mais para título de pornochanchada e suscitaria alguns mal-entendidos. Em Portugal foram mais assertivos. Batizaram o filme de O Caçador .           A questão é que a expressão franco-atirador remete a um soldado, com ímpeto militar, envolvido em batalhas, com sangue nos olhos. Mas o protagonista de O Franco Atirador não é nada disso. É um jovem trabalhad

Sangue e Ouro: uma espécie de western germânico

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Sangue e Ouro: direção de Peter Thorwarth CONTRIBUIÇÃO DOS ALEMÃES PARA O CINEMA DE AÇÃO Os filmes de bangue-bangue espaguete foram uma invenção inusitada no início dos anos 1960. Rodados na Sicília e na Espanha por diretores italianos em busca da mesma atmosfera dos westerns americanos, trouxeram um sopro de renovação para o gênero, além de toques de um humor mais... mediterrâneo. E trouxeram também a certeza de que outras nacionalidades poderiam ousar seus próprios faroestes, apropriando-se dos clichês narrativos consolidados por cineastas como Sergio Leone e seus seguidores.           Dentre todos os países, o mais improvável de tal ousadia seria a Alemanha. Não por incompetência, é claro! Seu cinema de peso e repleto de contribuições significativas para a construção da sétima arte está nítido na mente de todo cinéfilo. Mas porque é dos alemães que nos costumam chegar algumas das produções mais compenetradas. Títulos como Metrópolis , O Enigma de Kaspar Hauser e Asas do Desejo  , j

O Pacto: será uma história é real?

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O Pacto: direção de Guy Ritchie NÃO SENTI FALTA DA TRADICIONAL EXTRAVAGÂNCIA DO DIRETOR No agitado mundo dos filmes de ação, o diretor britânico Guy Ritchie é uma usina de criatividade a serviço da diversão e do entretenimento. Desde que surgiu em 1998 com seu ótimo Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes , dirigiu vários sucessos, entre eles Sherlock Holmes , Snatch: Porcos e Diamantes , O Agente da U.N.C.L.E. e mais recentemente, Esquema de Risco - Operação Fortune . A narrativa sempre ágil e envolvente, os letreiros invadindo a tela, os diálogos afiados e o humor inteligente se tornaram suas marcas registradas. Esperava ver todos esses elementos reunidos em O Pacto , filme que ele dirigiu em 2023, mas não! Ao invés disso, assisti a um thriller de guerra compenetrado, com boa profundidade dramática, um enredo sólido e altas doses de tensão.           Devo dizer que a tradicional extravagância de Guy Ritchie não faz a menor falta em O Pacto . Ao invés dela, o diretor preferiu ressalt

Midway – Batalha em Alto Mar: fatos históricos e personagens reais

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Midway - Batalha em Alto Mar: direção de Roland Emmerich UM FILME DE AÇÃO FIEL AOS FATOS Nas mãos de Roland Emmerich, até a guerra vira entretenimento! E dos bons! Mais conhecido por seus filmes de catástrofe, como O Dia Depois de Amanhã , 2012 , Idependence Day e Moonfall , o diretor alemão se tornou uma das máquinas mais lucrativas de Hollywood. Especializou-se num tipo de espetáculo grandioso, que atrai pelo ritmo acelerado e pela profusão de cenas de destruição, às quais jamais poderemos assistir no mundo real – provavelmente estaremos mortos antes de atinar para os acontecimentos ao redor! Em Midway – Batalha em Alto Mar , seu filme de 2019, Emmerich lança mão de todos os seus truques para narrar uma das mais importantes batalhas navais da Segunda Guerra Mundial, mostrando a estratégia e as ações tanto dos americanos como dos japoneses. E faz isso agarrado a uma notável precisão histórica.           Por vinte anos, Emmerich alimentou o desejo de realizar um filme sobre a batalha

O Último Samurai: até que ponto essa história é verdadeira?

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O Último Samurai: direção de Edward Zwick PERSONAGENS FICTÍCIOS E PREMISSAS VERDADEIRAS Há uma interseção entre os faroestes americanos e os filmes japoneses sobre samurais. Um gênero sempre inspirou o outro. Mais que isso, nutriram-se! Os arquétipos apresentados pelo mestre Akira Kurosawa em Os Sete Samurais , realizado em 1954 como uma homenagem aos cowboys, serviu de munição para filmes como Sete Homens e Um Destino , tanto o de 1960, dirigido por John Sturges, como o remake de 2016, de Antoine Fuqua. Cito aqui o exemplo mais óbvio, mas os cinéfilos antenados certamente serão capazes de resgatar outros, ainda mais surpreendentes. Mas em O Último Samurai , realizado em 2003 por Edward Zwick, os elementos se cruzaram para compor um drama épico, pontuado com cenas de guerra e personagens marcantes.           O filme conta a história de Nathan Algren (Tom Cruise), um atormentado capitão do exército americano – durante a Guerra Civil, participou do massacre de milhares de nativos durante

A Promessa: denunciando o genocídio do povo armênio

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A Promessa: direção de Terry George CINEMA DENSO, EMOCIONANTE E ÁGIL Numa época em que a indústria do cinema está mais dedicada a oferecer entretimento fácil, voltado para um público concentrado apenas em se divertir, já não há mais cineastas interessados naquele tipo de cinema sério e grandiloquente, assinado por nomes como David Lean. Títulos como Lawrence da Arábia e Doutor Jivago , por exemplo, hoje estão arquivados na prateleira dos... antiquados. Que outro diretor se arriscaria no formato, correndo o risco de se distanciar do público jovem? Terry George, é claro! Em pleno 2016 ele arregaçou as mangas e realizou A Promessa , um filme denso e envolvente, com o porte de uma adaptação literária clássica: conta uma história de amor em primeiro plano, enquanto deixa que o espectador acompanhe no pano de fundo os tristes desdobramentos de fatos históricos marcantes.           Nascido em Belfast, Terry George construiu uma carreira sólida, cutucando temas incômodos, mas sempre relaciona

Tempo de Glória: o melhor filme sobre a Guerra Civil Americana

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Tempo de Glória: direção de Edward Zwick UM DRAMA DE GUERRA EMOCIONANTE Filmes que narram dramas de guerra são aqueles aos quais costumo assistir sozinho, geralmente tarde da noite, quando Ludy está dormindo. Minha mulher não gosta do gênero. A violência que exibe e a tristeza que provoca a incomodam. Por isso, quando avisei que ia assistir a Tempo de Glória , dirigido em 1989 por Edward Zwick, ela torceu o nariz e retrucou que preferia se agarrar a um livro. Mas, enquanto se preparava, ficou sentada na beiradinha do sofá, só observando. E foi ficando, cena após cena, até se esquecer de que não gosta de dramas de guerra e de que a violência a entristece. Foi vencida por um cinema emocionante e de alta qualidade!           Tempo de Glória é um grande filme, capaz de deixar qualquer cinéfilo de olhos arregalados. Baseado em fatos históricos, é construído com sólido material ficcional e nos apresenta a personagens desenvolvidos com grande habilidade. A história, que se passa durante a Gu

Resistência: será que Marcel Marceau fez isso tudo?

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Resistência: direção de Jonathan Jakubowicz SOBROU AÇÃO E FALTOU PROTAGONISTA Ah, o impulso de contar histórias! Para os amantes da sétima arte ele é praticamente vegetativo – é como respirar! Mas há os apressados, que não conseguem se conter e saem tagarelando de empolgação, assim que encontram uma trama das boas. O diretor venezuelano Jonathan Jakubowicz – conhecido por seu filme Mãos de Pedra – encontrou uma com potencial de sensibilizar a audiência, mas dessa vez meteu os pés pelas mãos! Seu filme de 2020, intitulado Resistência , embora bem produzido, tropeçou na narrativa. Soa incompleto, raso e só faz atiçar a vontade de conhecer mais a fundo o personagem que homenageia.           Sua história é protagonizada por ninguém menos do que Marcel Marceau, um artista superlativo, considerado um dos maiores mímicos de todos os tempos, que também atuou como coreógrafo. Criou personagens inesquecíveis e encantou plateias do mundo todo, com performances silenciosas, mas eloquentes, que fa

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles

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Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles: direção de Jonathan Liebesman DIVERSÃO COSTURADA COM REALISMO, HUMOR E CRIATIVIDADE Este é um filme dirigido por um sul-africano, que fala de alienígenas chegando ao planeta Terra e foi filmado com a câmera no ombro, para conseguir uma atmosfera realista e documental. Mas observe que não se trata de Distrito 9 , a distopia inteligente e original realizada em 2009 por Neill Blomkamp. Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles é uma produção hollywoodiana, dirigida em 2011 por Jonathan Liebesman, outro sul-africano que, para deleite dos amantes de ficção científica, conseguiu seguir os passos do conterrâneo e fundiu dois gêneros capazes de proporcionar ótimas sequências de ação: guerra e invasão alienígena.           Antes de mais nada é preciso que se diga: a origem dos dois diretores não é mera coincidência. Liebesman, é claro, tornou-se admirador do cinema inovador de Blomkamp e foi pedir ajuda a ele quando decidiu entrar na disputa para concor

Nada de Novo no Front: jovens matando jovens numa guerra sem sentido

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Nada de Novo no Front: direção de Edward Berger ENFIM, UMA ADAPTAÇÃO ALEMÃ DESSE CLÁSSICO ANTIGUERRA O título do livro Nada de Novo no Front , escrito em 1929 por Erich Maria Remarque, tem ligação direta com seu epílogo. O protagonista, o recruta Paul Bäumer, encontra seu trágico destino alguns dias antes do término da guerra, de modo corriqueiro, num dia tão calmo, que o relatório do exército se limitou a reportar que não havia nada digno de nota acontecendo no front de batalha. Tal ironia não é sequer citada no remake de Nada de Novo no Front , realizado em 2022 pelo diretor alemão Edward Berger. Outras passagens do livro também são omitidas no filme, enquanto grande quantidade de detalhes são acrescentados livremente pelo diretor e seus corroteiristas, o que levou muitos críticos a questionar a qualidade dessa adaptação. Mas Berger tem argumentos para sustentar o posicionamento que assumiu – talvez, além da adequação às necessidades dramáticas da narrativa audiovisual, o mais sólido

Ran: épico sobre um senhor da guerra enlouquecido

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Ran: direção de Akira Kurosawa O CINEMA ENCONTRA SUA ELOQUÊNCIA NO VISUAL Convulsões políticas me põem angustiado. Elas me obrigam a refletir sobre essa falsa dicotomia entre o individual e o coletivo. Desde que fui apresentado à alteridade, ainda nas fraldas, aprendi a enxergar os indivíduos que me cercam. A coletividade, essa abstração enevoada, começou a tomar forma na adolescência, mas só ganhou nitidez em momentos específicos: a vibração da plateia num show de rock, as vestimentas da moda imperando nas vitrines, a explosão no momento do gol... Virou habitat natural para os interesses midiáticos. A necessidade de fazer escolhas políticas, porém, sempre tentou se impor, atropelando feito manada de búfalos destrambelhados, com o propósito de abafar as manifestações individuais. Sempre tentou, mas jamais conseguiu. Somos indivíduos, lidando com a realidade nas dimensões física, psicológica e espiritual. A coletividade só existe como somatória de indivíduos e sempre que o sistema tenta

Coração Valente: um patriota clamando por liberdade

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Coração Valente: direção de Mel Gibson A DIFERENÇA ENTRE SER PATRIOTA E SER NACIONALISTA Quando decide escavar a história, para desenterrar enredos com potencial de atrair público pagante, o cinema quase sempre se mete em imprecisões. Os realizadores que escolhem carregar nas tintas e abusar das licenças poéticas, o fazem em nome da preservação do fluxo dramático. Todo cinéfilo se torna caçador desses pequenos deslizes e gosta de examinar os enredos com atenção, para se certificar de que não está sendo enganado. O filme Coração Valente , dirigido em 1995 por Mel Gibson, é uma dessas produções grandiosas, que apresenta personagens e eventos pouco conhecidos – ao menos para nós, brasileiros – e tem potencial de nos deixar intrigados: será que o diretor não exagerou no romance e na narrativa heroica?           Há, porém, um fato inquestionável: nesse segundo filme da carreira como diretor, Mel Gibson esbanjou ousadia e astúcia. Decidiu apostar todas as fichas rodando um épico espetacular,

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