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Mostrando postagens com o rótulo Comédia

Uma Saída de Mestre: remake hollywoodiano de um clássico inglês

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Uma Saída de Mestre: Direção de F. Gary Gray VEROSSIMILHANÇA? QUEM ESTÁ PREOCUPADO COM ISSO? Ah, a vida moderna! Ela às vezes se parece com um massacre de dificuldades. Nos atinge com insistentes golpes de aborrecimentos e consegue nos molestar com os assuntos mais desagradáveis: os preços pela hora da morte, a falta de segurança nas ruas, a avalanche de impostos, a selvageria do trânsito, a cara de pau dos políticos desonestos... Ainda bem que a vida moderna também nos deixa experimentar a contraparte da realidade: o escapismo! É ótimo chegar em casa, largar-se no sofá, vasculhar os serviços de streaming e mergulhar no oceano de entretenimento ligeiro. Há dias em que tudo o que precisamos é tropeçar em um filme leve, despretensioso, raso e descomplicado. Há dias em que tudo o que precisamos é encontrar Uma Saída de Mestre , filme de 2003 dirigido por F. Gary Gray!           Não estou pregando o escapismo como norma! Lembro apenas que até mesmo os cinéfilos mais engajados, de vez em qu

A História do Mundo - Parte 1: Mel Brooks dá sua versão dos fatos

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A História do Mundo - Parte 1: direção de Mel Brooks HUMOR POLITICAMENTE INCORRETO, COMO DEVE SER! Não, Mel Brooks nunca teve a intenção de realizar uma segunda parte para o filme, A História do Mundo - Parte 1 , que escreveu, dirigiu e produziu em 1981. O título nasceu como uma piada, que ele fez questão de contar em uma entrevista: estava dirigindo a caminho do trabalho quando foi abordado por um conhecido inoportuno. O abusado emparelhou com seu carro é gritou:           – E então, está trabalhando em mais um filme grandioso?           – Sim, vai se chamar A História do Mundo – retrucou Brooks, inventando na hora o título mais grandiloquente que conseguiu imaginar.           – Nossa! Como vai conseguir contar tudo em um único filme? – especulou o sujeito. Mel Brooks não perdeu a oportunidade e se saiu com a tirada:           – Tem razão! Acho que vou chamá-lo de A História do Mundo - Parte 1 !           Considerei essa passagem bastante crível, ainda que inusitada. Cheguei a visuali

A Balada de Buster Scruggs: a mitologia do velho oeste tratada com humor inteligente

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A Balada de Buster Scruggs: dirigido pelos irmãos Coen CINEMA DE QUALIDADE MULTIPLICADO POR SEIS Como um garoto urbano, nascido em 1960, fui criado na frente do aparelho de TV, aquele móvel imenso, que ocupava todo um canto da sala, mas tinha uma tela proporcionalmente pequena. Era dotado de um tubo de raios catódicos, que quando atiçado por uma insondável traquitana eletrônica valvulada, exibia imagens em preto-e-branco. O tubo demorava alguns segundos para... esquentar, até que a imagem ficasse clara o suficiente. E com sorte, também ficaria nítida, se as condições atmosféricas não atrapalhassem. Chuviscos e fantasmas eram a regra e acabaram se incorporando à linguagem da televisão, uma mídia ainda jovem, mas esforçada em entregar uma programação variada: desenhos, novelas, esportes, shows de auditório, seriados e... filmes!           Foi através da TV que o cinema entrou no meu cotidiano. Porém, os filmes exibidos na telinha eram... velhos! Novidades? Só nas salas de exibição. Na ma

Fargo: personagens fictícios inspirados em eventos reais

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Fargo: direção de Joel Coen EIS QUE ENTRA EM CENA UMA PERSONAGEM ADORÁVEL Ludy ficou interessada em Fargo . Estávamos fuçando no serviço de streaming quando minha mulher reparou na capa com a foto da atriz Frances McDormand e me perguntou que tipo de filme era aquele. Gaguejei para responder:           – Olha... É uma comédia, mas não é filmada exatamente como uma comédia. Tem muito humor, mas é meio sombrio. É baseado em uma história real, mas nem tanto, já que os roteiristas acrescentaram pencas de elementos ficcionais. É um filme violento, mas tem passagens ternas e sutis. É um filme policial americano, mas se passa numa região com jeitão dos países nórdicos...           Depois da enxurrada de conjunções que derramei, ela ficou mais interessada ainda. Apertei o play e nos deliciamos com esse belo filme realizado em 1996 por Joel e Ethan Coen. Fargo é assim mesmo: uma produção que, por irradiar muita originalidade, alçou o nome dos seus criadores entre os principais da indústria do

O Grande Lebowski: o filme mais engraçado dos irmãos Coen

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O Grande Lebowski: direção de Joel Coen QUAL A MELHOR RECEITA PARA FAZER COMÉDIA? O homem conta histórias desde os primórdios, algumas tristes, outras engraçadas. Para começar a encená-las, foi preciso apenas um estalo de dedos. No princípio as encenações tinham função religiosa, mas as motivações festivas se impuseram. Surgiram a tragédia e a comédia, que apesar de distintas, sempre foram faces da mesma moeda – a da dramatização. No entanto, na história das artes narrativas, logo ficou evidente que fazer rir demandava mais esforço. Ironia, sarcasmo, carisma, espontaneidade... Para o comediante, não bastava talento dramático, era preciso muito mais. Passados milênios, eles são os primeiros a admitir: não há fórmula garantida para provocar o riso. Pode-se pegar ingredientes testados e consagrados, misturá-los na sequência certa, deixá-los descansar, sovar, levá-los ao forno e caprichar na apresentação... Nada disso garante que o riso será ouvido na plateia. Os irmãos Ethan e Joel Coen s

Agente 86: remake da série dos anos 60

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Agente 86: filme dirigido por Peter Segal O VELHO TRUQUE DO REMAKE QUE FAZ JUS À SÉRIE ORIGINAL Para se divertir assistindo ao filme Agente 86 , realizado em 2008 e dirigido por Peter Segal, não é necessário que o espectador tenha acompanhado a série homônima apresentada na TV dos anos 60. Mas quem teve esse prazer, certamente fará melhor proveito, lendo com maior fluência as espaçosas entrelinhas que se formam entre uma piada hilariante e outra.           Para começo de conversa, o nome mais vistoso por trás do filme é o de... Mel Brooks, que se tornaria um dos grandes nomes da comédia no cinema. Junto com Buck Henry, ele foi responsável pela criação do personagem e pela formatação da série, exibida entre 1965 e 1970 ao longo de cinco temporadas, totalizando 138 episódios. Depois da primeira temporada, Mel Brooks teve pouco envolvimento com a produção, que serviu de base para esse remake de 2008. A sinopse de ambos é a mesma:           Maxwell Smart, o tal Agente 86 , acaba de ser pro

Klaus: um jeito diferente de enxergar o Papai Noel

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Klaus: filme dirigido por Sergio Pablos UM JEITO DIFERENTE DE ENXERGAR O PAPAI NOEL Ao longo da vida já enxerguei a noite de Natal por diferentes ângulos. Quando criancinha, olhando os adultos de baixo para cima, sonolento dado o avançar das horas, só prestava atenção no colorido dos papéis de presente, tentando adivinhar qual deles seria o meu. Quando cresci e passei a enxergar o tampo da mesa, só tinha olhos para a fartura da ceia. Quando comecei a trabalhar, senti o prazer de poder presentear. Quando me casei, precisei me desdobrar em dois, um ano lá outro cá. Quando minha filha nasceu me peguei olhando de cima para baixo, tentando manter as tradições. Quando amadureci, entendi que confraternizar era mais do que apenas levantar brindes e tilintar os copos.         Aprendi os significados religiosos do Natal e ao longo dos anos percebi os laços familiares se apertando ao meu redor, conforme os mais singelos presentes eram trocados. Senti a falta dos que partiram. Comemorei a chegada

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa: um ponto de virada nas comédias românticas

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Noivo Neurótico, Noiva Nervosa: Woody Allen IMAGINE SE O PERSONAGEM NEURÓTICO DE WOODY ALLEN TIVESSE NAS MÃOS UM... CELULAR! O filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é de 1977. Dirigido por Woody Allen, marca um ponto de virada na carreira do cineasta, até então conhecido do grande público por suas comédias escrachadas. Venceu quatro óscares: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz para Diane Keaton e melhor roteiro original, para Woody Allen em parceria com Marshall Brickman. Volta e meia esse filme me vem à mente, por dois motivos. Primeiro, por causa do seu título.         Cá entre nós, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa é um título ridículo! Suspeito que os distribuidores no Brasil tentaram manter algum vínculo com a imagem do Wood Allen destrambelhado que fazia rir em O Dorminhoco , Bananas e Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre o Sexo - Mas Tinha Medo de Perguntar . Não perceberam que o diretor chegava com uma abordagem diferente. Essa comédia romântica exigia mais do espectad

Jovem Frankenstein: comédia de Mel Brooks em parceira com Gene Wilder

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Jovem Frankestei: filme dirigido por Mel Brooks HUMOR REFINADO, COM ÓTIMAS GAGS VISUAIS E UM TEXTO IMPECÁVEL Nos meados dos anos 1970, um filme em branco e preto era sinônimo de velharia, o nome Frankenstein já não metia medo e Gene Wilder não era um ator consagrado no Brasil. O que me levou a entrar no cinema para assistir ao filme Jovem Frankenstein foi mesmo a chancela de Mel Brooks, a mesma que reconheci na hilariante série Agente 86. Quando saí, demorei um bom tempo até parar de rir. Havia sido contaminado por um tipo de humor elaborado, produzido de olho nos detalhes. Um humor refinado, trabalhado em palavras, mas também em imagens.           Imagino que Gene Wilder e Mel Brooks devem ter se divertido muito enquanto escreviam o roteiro de Jovem Frankenstein . Seguiram a trilha aberta pela escritora Mary Shelley, que imortalizou o personagem do cientista brincando de Deus, mas não ficaram no terreno da paródia. Foram além, inventando ótimas piadas pelo caminho. Comparada com as c

De Volta Para o Futuro: trilogia sobre viagem no tempo

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De Volta Para o Futuro: filme dirigido por Robert Zermeckis O GRANDE TRUNFO DESSE FILME SÃO SEUS PERSONAGENS Com o perdão do trocadilho, De Volta Para o Futuro é um dos filmes mais amados de todos os tempos. Se tivesse que escolher uma única palavra para defini-lo, seria “diversão”, mas há outros elementos responsáveis pelo sucesso dessa produção de 1985 dirigida por Robert Zemeckis. Seu principal trunfo está nos personagens, criados pelo roteirista Bob Gale e por Zemeckis. É ao redor deles que orbitam todas as grandes sacadas criativas que transformaram o filme numa das obras-primas da cultura pop.           De Volta Para o Futuro conta a história de Marty McFly, um garoto de 17 anos que leva uma vida normal em uma cidadezinha da Califórnia. Tem problemas na escola, problemas com a família, quer um carro para sair com a namorada, sonha em ter uma banda... A única anormalidade na sua vida é a amizade que mantém com o Doutor Emmet Brown, um cientista alucinado que converteu seu DMC De

A Vida de Brian: Monty Python mostra o lado bom da vida

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A Vida de Brian: filme dirigido por Terry Jones OS MARUJOS INGLESES PREFEREM OLHAR A VIDA SEMPRE PELO LADO BOM Só me dei conta da existência do grupo inglês Monty Python no começo dos anos 1980, quando entrei numa sala de cinema por acaso. Não fazia ideia do que encontraria pela frente. Comprei o ingresso porque gostei do cartaz e da possibilidade de assistir a uma comédia despretensiosa. Contei pouco mais de dez pessoas na plateia – lembro bem, era uma tarde de quarta-feira e tinha saído mais cedo do trabalho. Quando começou a projeção de Em Busca do Cálice Sagrado , minha vida se transformou. Jamais foi a mesma. Experimentei um choque de diversão! No final, continuei na poltrona e assisti ao filme de novo, na sessão seguinte.           Com o passar dos anos fui descobrindo que a trupe de humoristas ingleses também era culpada por programas de TV, músicas, livros, filmes… O humor anárquico, inteligente e sempre atual que produziram inspirou gente do mundo inteiro e fez escola, inclus

Meu Malvado Favorito

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UM DIVERTIMENTO ONDE A LINGUAGEM DO CINEMA É TRATADA COM SERIEDADE   Meu Malvado Favorito: animação dirigida por Chris Renaud e Pierre Coffinos Em que tipo de produção um diretor poderia abusar dos estereótipos e clichês, indo além do razoável, sem acabar crucificado? Numa comédia de animação para crianças, é claro. Em Meu Malvado Favorito, Chris Renaud e Pierre Coffinnos nos apresentam a personagens encantadores e hilários, que vivem aventuras deliciosamente absurdas num universo criado com coerência narrativa e refinamento estético. Só adultos incuráveis resistem a tanta criatividade! ------------------------------ Um vilão do bem, garotinhas órfãs e encantadoras e um bando de... Minions, todos envolvidos em uma trama digna dos melhores espiões do cinema e usando traquitanas tecnológicas improváveis. Chamaria essa mistura de minha animação favorita, mas o nome correto é Meu Malvado Favorito, filme de 2010. Os roteiristas Cinco Paul, Ken Daurio e Sergio Pablos capricharam nas referên

Escola do Rock: aprendendo com as crianças

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Escola do Rock: filme de Richard Linklater MANDANDO A VEROSSIMILHANÇA ÀS FAVAS EM NOME DA DIVERSÃO Cinema é para ser levado a sério. Isso não impede que todos se divirtam exageradamente durante o processo de realização. É o que vemos em Escola do Rock , filme de 2003 dirigido por Richard Linklater. Os atores estão tão à vontade e parecem se divertir tanto que conseguem contagiar o espectador, a ponto de deixar um gostinho de quero mais no final. É um dos poucos filmes que conseguiram me manter hipnotizado durante toda a rolagem dos créditos finais – fiquei concentrado, como quem tenta “espremer” a garrafa de um bom vinho, na esperança de que ainda caiam algumas gotas na taça!           O filme Escola do Rock é uma espécie de Sociedade dos Roqueiros Vivos. Fico tranquilo para citá-la facilmente como uma das melhores comédias desse começo de século. O diretor Richard Linklater foi além do humor escrachado e conseguiu um certo refinamento em todas as cenas. O roteirista Mike White escrev

Em Busca do Cálice Sagrado

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O SANTO GRAAL DO HUMOR ANÁRQUICO, SURREALISTA E ETERNAMENTE ATUAL Monty Python: Terry Gillian dirigiu esse filme da trupe O cinema parecia apenas um veículo para que os Monty Python transportassem seu humor criativo e revolucionário. Mas Terry Gillian estava lá para fazer cinema de verdade! Foi o cartunista americano que assinou as sequências de animação nos filmes da trupe inglesa.  Dirigiu Em Busca do Cálice Sagrado , Os 12 Macacos, Brazil – O Filme, Os Irmãos Grimm... É um contador de histórias com uma assinatura inconfundível e total domínio das técnicas narrativas. ------------------------------ Só me dei conta da existência do Monty Python depois de assistir a  Em Busca do Cálice Sagrado  no cinema. Foi um choque de diversão! Só depois descobri os programas de TV, as músicas, os livros... O humor dos ingleses é inspirador!

M*A*S*H: nasceu filme e depois virou série

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M*A*S*H: direção de  Robert Altman O CASO DE UM FILME BRILHANTE, OFUSCADO PELO PRÓPRIO SUCESSO Talvez muitos não se lembrem, mas M*A*S*H nasceu como filme, dirigido em 1970 por Robert Altman e estrelado pelos jovens Donald Sutherland e Elliott Gould. Venceu o Óscar de melhor roteiro adaptado e surgiu como um sopro de novidade, apesar de ser politicamente incorreto, sexista, ácido e irreverente. Comportado, se comparado ao humor escrachado dos filmes de hoje, mas trazia uma comédia arrojada e moderna quando foi lançado, naqueles anos agitados! Retratou uma juventude transgressora, antibelicista e... hippie. De imediato, o filme inspirou a realização de uma série de TV, que alcançou estrondoso sucesso por 11 anos. Terminou ofuscado por ela!           Antes de chegar às salas de cinema, essa história teve um longo período de gestação. Foi concebida como um romance, intitulado M*A*S*H: A Novel About Three Army Doctors , escrito em 1968 por Richard Hooker – esse era na verdade o pseudônimo

Sou ou Não Sou: comédia zoando com os nazistas

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Sou ou Não Sou: direção de Alan Johnson HUMOR REFINADO SOBRE NAZISTAS, COM TIMING PRECISO Mel Brooks numa comédia refinada, onde Hitler e seus nazistas são retratados com deboche? O primeiro filme que veio à sua mente provavelmente foi o ótimo Primavera Para Hitler ( The Producers , no original), que o comediante realizou em 1968. Mas o tema desta crônica é outro: quero falar do filme Sou ou Não Sou , dirigido em 1983 por Alan Johnson. Esse é um trabalho menos conhecido de Mel Brooks, onde ele, Anne Bancroft e Charles Durning dão um show de carisma e talento. Trata-se de um remake da produção homônima dirigida em 1942 por Ernst Lubitsch, cineasta alemão que desde a década de 1920 vinha atuando em Hollywood.           À primeira vista, Sou ou Não Sou é apenas um filme antiquado, mas na medida em que vai desfiando suas cenas engraçadas e inteligentes, torna-se cativante e envolvente. Sua trama é ágil e bem costurada, seguindo um timing preciso e impondo um tom teatral que presta homena

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