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Mostrando postagens com o rótulo Comédia

O Dorminhoco: descongelaram o judeu novaiorquino neurótico politicamente incorreto!

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O Dorminhoco: direção de Woody Allen UM OLHAR NOSTÁLGICO PARA O FUTURO Como foi que deixamos o mundo ficar tão aborrecido? Reduzimos o espaço reservado ao humor e permitimos que a rabugice politicamente correta se esparramasse pelos vasos comunicantes da cultura popular; sobrou apenas a sisudez dos conteúdos que se levam a sério demais e não admitem críticas nem julgamentos. A mídia mainstream se esqueceu como se faz sátira, blague, paródia, humor negro, pastelão, stand-up... Quando queremos dar boas risadas, tudo o que nos resta são as comédias infantilizadas, com tiradas picantes, bordões manjados e escatologias apelativas...           Hoje em dia, fazer humor é perigoso: no Brasil, dá até cadeia! Quem se atreve a ser humorista precisa, antes de tudo, acertar-se com um bom advogado – ou mais eficientemente, com algum juiz poderoso! E se antes de pisar no palco, o pretencioso espiar a plateia pela fresta da cortina, ouvirá ameaças taxativas:    ...

Os Vigaristas: uma comédia dramática envolvente

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Os Vigaristas: filme de Ridley Scott UM FILME REPLETO DE VIGARICES Para iniciar minha crônica sobre o filme Os Vigarista s, dirigido em 2003 por Ridley Scott, pensei em duas abordagens distintas. A primeira tem relação com seu título original, Matchstick Men – numa tradução livre, algo como “homens palito de fósforo” –, que inglês é uma gíria para vigaristas ou amigos do alheio; há, porém, uma sutileza: a sonoridade é bastante próxima à expressão Majestic Men – numa tradução livre, algo como “homens majestosos”. Um anglófono, portanto, entende que a estampa majestosa de um vigarista é parte integrante do seu ser, e que ela se desmanchará depois que a vítima tomar consciência de que foi tapeada; será apenas um inútil palito de fósforo carbonizado e deformado. Ou seja: só esse título original já fez rodar um filme inteiro na minha cabeça de cinéfilo ansioso.           A segunda abordagem está relacionada com episódios reais que vivenciei. Lembro que minha mã...

Pequenas Cartas Obscenas: uma comédia de mistério

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Pequenas Cartas Obscenas: direção de Thea Sharrock UMA HISTÓRIA REAL, CONTADA DE MANEIRA INVENTIVA Uma história pode ser contada de muitas maneiras; tão diversas que, depois de comparar as versões produzidas, talvez duvidemos que possa se tratar da mesma história. Exagero? Não! Os cinéfilos experientes sabem ao que me refiro – já devem ter lembrado de alguns filmes que guardam poucas relações com seus remakes, para além da sinopse básica. As feições de um filme primeiro são determinadas pelas decisões narrativas que os roteiristas tomam, quando começam a costurar a história; depois, temos as decisões do diretor durante as filmagens, que afetam a natureza audiovisual da obra; finalmente, temos aquelas tomadas durante o processo de edição, que provavelmente são as mais decisivas e determinam seu tom, seu ritmo e sua atmosfera. Como um cinéfilo curioso, minha maior diversão é perceber como essas variáveis pipocam na tela.           Assim que comecei a assistir...

Melhor É Impossível: personagens com trajetórias previsíveis

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Melhor É Impossível: direção de James L. Brooks CINEMA COM SOTAQUE DE SITCOM Tenho preguiça de assistir a certos filmes. Ludy já me disse que não se trata de preguiça: é rabugice, mesmo! Minha mulher acha que me apego a certos preconceitos e me empanturro de impaciência, até não deixar espaço para as novidades. Talvez seja verdade. Mas no caso de Melhor É Impossíve l, filme de 1997 dirigido por James L. Brooks, o que me fez evitá-lo por anos foi a montanha de outros filmes mais atraentes que encontrei pelo caminho e o eclipsaram. O empurraram lá para o final da lista. Até outro dia, quando Ludy encontrou o filme no serviço de streaming e avisou:           – Pronto! É esse que vamos assistir!           Imediatamente me lembrei do motivo  de tanta preguiça: a foto promocional com a estampa cínica de Jack Nicholson e um cãozinho nos braços, a curta explicação de que ele interpreta um escritor nova-iorquino antissocial e repug...

Os Três Patetas: divertida homenagem aos reis da comédia pastelão

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Os Três Patetas: direção de Peter e Bobby Farrelly INCRÍVEL COMO O TRIO SE ENQUADROU BEM NA TV Tinha 9 anos e isso foi lá em 1969. Naquela tarde, estava na frente da televisão, aquela caixa valvulada que ficava na sala de estar e tinha uma tela em preto-e-branco. Distraía-me com as imagens chuviscadas de baixa resolução, quando o aparelho deixou de funcionar. Minha mãe chamou o técnico, que prometeu uma visita para aquela mesma tarde. Ela, porém, precisou sair. Quando o técnico deu as caras, estava sozinho em casa. Mostrei-lhe o aparelho e em poucos minutos apresentou o diagnóstico: havia uma válvula queimada que precisava ser substituída. Que droga! O sujeito chegou a me dar o preço em cruzeiros novos.           Aterrorizado com a possibilidade de ver meu pai chegar à noite do trabalho, só para esbravejar furioso diante da televisão quebrada, não pensei duas vezes. Fui até a gaveta da cômoda, onde minha mãe escondera o dinheiro dado por minha avó para comp...

Uma Saída de Mestre: remake hollywoodiano de um clássico inglês

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Uma Saída de Mestre: Direção de F. Gary Gray VEROSSIMILHANÇA? QUEM ESTÁ PREOCUPADO COM ISSO? Ah, a vida moderna! Ela às vezes se parece com um massacre de dificuldades. Nos atinge com insistentes golpes de aborrecimentos e consegue nos molestar com os assuntos mais desagradáveis: os preços pela hora da morte, a falta de segurança nas ruas, a avalanche de impostos, a selvageria do trânsito, a cara de pau dos políticos desonestos... Ainda bem que a vida moderna também nos deixa experimentar a contraparte da realidade: o escapismo! É ótimo chegar em casa, largar-se no sofá, vasculhar os serviços de streaming e mergulhar no oceano de entretenimento ligeiro. Há dias em que tudo o que precisamos é tropeçar em um filme leve, despretensioso, raso e descomplicado. Há dias em que tudo o que precisamos é encontrar Uma Saída de Mestre , filme de 2003 dirigido por F. Gary Gray!           Não prego o escapismo como norma! Lembro apenas que até mesmo os cinéfilos mais eng...

A História do Mundo - Parte 1: Mel Brooks dá sua versão dos fatos

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A História do Mundo - Parte 1: direção de Mel Brooks HUMOR POLITICAMENTE INCORRETO, COMO DEVE SER! Não, Mel Brooks nunca teve a intenção de realizar uma segunda parte para o filme  A História do Mundo - Parte 1 , que escreveu, dirigiu e produziu em 1981. O título nasceu como uma piada, que ele fez questão de contar em uma entrevista: dirigia a caminho do trabalho quando foi abordado por um conhecido inoportuno. O abusado emparelhou com seu carro é gritou:           – E então, está trabalhando em mais um filme grandioso?           – Sim, vai se chamar A História do Mundo – retrucou Brooks. Inventou na hora o título mais grandiloquente que conseguiu imaginar.           – Nossa! Como vai conseguir contar tudo em um único filme? – especulou o sujeito. Mel Brooks não perdeu a oportunidade e se saiu com a tirada:           – Tem razão! Acho que vou chamá-lo de A Históri...

A Balada de Buster Scruggs: a mitologia do velho oeste tratada com humor inteligente

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A Balada de Buster Scruggs: dirigido pelos irmãos Coen CINEMA DE QUALIDADE MULTIPLICADO POR SEIS Como um garoto urbano, nascido em 1960, fui criado na frente do aparelho de TV, aquele móvel imenso, que ocupava todo um canto da sala, mas tinha uma tela proporcionalmente pequena. Era dotado de um tubo de raios catódicos, que quando atiçado por uma insondável traquitana eletrônica valvulada, exibia imagens em preto-e-branco. O tubo demorava alguns segundos para... esquentar, até que a imagem ficasse clara o suficiente. E com sorte, também ficaria nítida, se as condições atmosféricas não atrapalhassem. Chuviscos e fantasmas eram a regra e se incorporavam à linguagem da televisão, uma mídia ainda jovem, mas esforçada em entregar uma programação variada: desenhos, novelas, esportes, shows de auditório, seriados e... filmes!           Foi através da TV que o cinema entrou no meu cotidiano. Porém, os filmes exibidos na telinha eram... velhos! Novidades? Só nas sala...

Fargo: personagens fictícios inspirados em eventos reais

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Fargo: direção de Joel Coen EIS QUE ENTRA EM CENA UMA PERSONAGEM ADORÁVEL Ludy ficou interessada em Fargo . Vasculhávamos o serviço de streaming quando minha mulher reparou na capa com a foto da atriz Frances McDormand e me perguntou que tipo de filme era aquele. Gaguejei para responder:           – Olha... É uma comédia, mas não é filmada exatamente como uma comédia. Tem muito humor, mas é meio sombrio. É baseado em uma história real, mas nem tanto, já que os roteiristas acrescentaram pencas de elementos ficcionais. É um filme violento, mas tem passagens ternas e sutis. É um filme policial americano, mas se passa numa região com jeitão dos países nórdicos...           Depois da enxurrada de conjunções adversativas que derramei, ela ficou mais interessada ainda. Apertei o play e nos deliciamos com esse belo filme realizado em 1996 por Joel e Ethan Coen. Fargo é assim mesmo: uma produção que, por irradiar muita originalidade, a...

O Grande Lebowski: o filme mais engraçado dos irmãos Coen

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O Grande Lebowski: direção de Joel Coen QUAL A MELHOR RECEITA PARA FAZER COMÉDIA? O homem conta histórias desde os primórdios, algumas tristes, outras engraçadas. Para começar a encená-las, foi preciso apenas um estalo de dedos. No princípio as encenações tinham função religiosa, mas as motivações festivas se impuseram. Surgiram a tragédia e a comédia, que apesar de distintas, sempre foram faces da mesma moeda – a da dramatização. No entanto, na história das artes narrativas, logo ficou evidente que fazer rir demandava mais esforço. Ironia, sarcasmo, carisma, espontaneidade... Para o comediante, não bastava talento dramático, era preciso muito mais. Passados milênios, eles são os primeiros a admitir: não há fórmula garantida para provocar o riso. Pode-se pegar ingredientes testados e consagrados, misturá-los na sequência certa, deixá-los descansar, sovar, levá-los ao forno e caprichar na apresentação... Nada disso garante que o riso será ouvido na plateia. Os irmãos Ethan e Joel Coen s...

Agente 86: remake da série dos anos 60

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Agente 86: filme dirigido por Peter Segal O VELHO TRUQUE DO REMAKE QUE FAZ JUS À SÉRIE ORIGINAL Para se divertir assistindo ao filme Agente 86 , realizado em 2008 e dirigido por Peter Segal, não é necessário que o espectador tenha acompanhado a série homônima apresentada na TV dos anos 60. Quem teve esse prazer, no entanto, certamente fará melhor proveito; lerá com maior fluência as espaçosas entrelinhas que se formam entre uma piada hilariante e outra.           Para começo de conversa, o nome mais vistoso por trás do filme é o de... Mel Brooks, que se tornaria um dos grandes nomes da comédia no cinema. Junto com Buck Henry, ele foi responsável pela criação do personagem e pela formatação da série, exibida entre 1965 e 1970, ao longo de cinco temporadas que totalizaram 138 episódios. Depois da primeira temporada, Mel Brooks teve pouco envolvimento com a produção, que serviu de base para este remake de 2008. A sinopse de ambos é a mesma:    ...

Klaus: até Papai Noel deixou de ser o mesmo

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Klaus: filme dirigido por Sergio Pablos PAPAI NOEL PERDE A AURA ESPIRITUAL QUE ENVOLVE SÃO NICOLAU Ao longo da vida já enxerguei a noite de Natal por diferentes ângulos. Quando criancinha, sonolento dado o avançar das horas,  olhava os adultos de baixo para cima e  só prestava atenção no colorido dos papéis de presente, para tentar adivinhar qual deles seria o meu. Cresci e passei a enxergar o tampo da mesa, só para arregalar os olhos com a fartura da ceia. Comecei a trabalhar e senti o prazer de poder presentear. Casei-me e precisei me desdobrar em dois, um ano lá outro cá. Minha filha nasceu e me flagrei a olhar de cima para baixo, já que agora era responsável por manter as tradições.           Amadureci e entendi que confraternizar era mais do que apenas levantar brindes e tilintar os copos. É claro que a prendi os significados religiosos do Natal, mas influenciado pela mentalidade consumista, continuei concentrado na prática da confraternizaçã...

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