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Cabrini: cinebiografia da padroeira dos imigrantes

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Cabrini: dirigido por Alejandro Monteverde HISTÓRIA INSPIRADORA, CINEMA CONSISTENTE Ao se deparar nos serviços de streaming com o filme Cabrini , dirigido em 2024 por Alejandro Monteverde, alguns cinéfilos talvez se ponham de sobreaviso. Primeiro, porque aparenta se tratar apenas de uma obra religiosa. Segundo, porque o diretor e o roteirista são os mesmos que assinaram Som da Liberdade , filme que dividiu opiniões por toda a mídia. Terceiro, porque é uma realização da Angel Studios, a produtora especializada em temas cristãos, responsável pelas bem-sucedidas campanhas de crowdfunding que viabilizaram sucessos estrondosos, como a série The Chosen .           Se você é apegado aos valores conservadores, é claro que esses pontos que listei já são motivos sobrados para apertar o play. Minha crônica, entretanto, está voltada para os cinéfilos interessados em cinema de qualidade. Cabrini é uma obra consistente, com sólidos atributos cinematográficos, narrativa...

Reagan: uma cinebiografia bem realizada

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Reagan: filme de Sean McNamara A LUTA SEM TRÉGUAS CONTRA O COMUNISMO Bem, caro leitor, devo começar esta crônica com um alerta: Reagan , dirigido em 2024 por Sean McNamara, é o pior filme daquele ano; na opinião da imprensa que cobre a cena de Hollywood, bem entendido! Segundo os sites agregadores de resenhas, 82% dos críticos odiaram o filme. Já o público, gostou! 98% dos que assistiram dão notas altas e o recomendam. Este cronista está com o público, assisti dia desses e adorei!           É claro que Reagan fala mais diretamente aos admiradores do 40º presidente dos Estados Unidos e aos que defendem sua cruzada contra o comunismo. Junto com Margareth Thatcher e o Papa João Paulo II, ele compôs o triunvirato que derreteu a cortina de ferro e pôs fim ao pesadelo da Guerra Fria. Já os progressistas de plantão, talvez prefiram assistir às produções mais alinhadas aos seus apetites ideológicos – Marighellas, Bacurais e outros tais... É do jogo!    ...

O Troco: thriller catártico e divertido

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O Troco: direção de Brian Helgeland SÓ NOS RESTA TORCER PELO ANTI-HERÓI Jamais assisti a O Troco numa sala de cinema. Dirigido em 1999 por Brian Helgeland, o filme não despertou meu interesse na época; imaginei que contasse uma daquelas histórias rasas de vingança. Tempos depois, tropecei com o título na grade de programação da TV por assinatura e constatei que é isso mesmo. Mas o longa irradia tanto charme que se torna divertido e envolvente. Adorei! Claro que o vingativo protagonista não tem a profundidade de um Hamlet, que vê seu mundo corroído por causa de um desejo de vingança cultivado com afinco. Porém, tem o carisma de um Mel Gibson implacável, determinado a recuperar o que lhe roubaram.           Se citei Hamlet , foi apenas para lembrar que histórias de vingança não são necessariamente rasas; para além da explosão emocional, os autores sempre encontram densidade para alicerçar o desejo de desforra: a necessidade de obter reparação pelos danos; de...

O Leopardo: minissérie épica em seis episódios

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O Leopardo: direção de Tom Shankland DRAMATURGIA ITALIANA COM TEMPERO BRITÂNICO O escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa escreveu O Leopardo , mas não viveu para testemunhar seu incrível sucesso editorial;  publicado postumamente em 1958, depois de recusado por vários editores, o romance histórico alcançou um lugar de destaque na literatura do seu país – muitos agora se referem a ele como o Guerra e Paz da Itália! O autor se inspirou na história dos seus antepassados e desenrolou uma trama épica, repleta de intrigas, romances e disputas pelo poder.           O Leopardo é um livro conciso, com apenas 384 páginas. Mas quanta literatura! As entrelinhas vêm abarrotadas de referências e imagens tão ricas que se desdobram em acontecimentos na mente do leitor. Começa em 1860, em pleno declínio dos Bourbon, quando os Camisas Vermelhas de Garibaldi invadem a Sicília para anexá-la à Itália, nos momentos cruciais do Risorgimento, o movimento que unificou...

Armadilha: thriller psicológico bem arquitetado

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Armadilha: direção de M. Night Shyamalan HIPNOTIZADOS, SÓ QUEREMOS SABER COMO TERMINARÁ! Gosto de assistir aos filmes de M. Night Shyamalan. Às vezes me decepciono; na filmografia do diretor, há vários títulos que me desagradam e que não pretendo revisitar. Há outros que revi e pretendo rever de novo. Tal irregularidade não é um demérito. As ressalvas que tenho aqui e ali são todas por causa da temática ou da abordagem personalista. Não têm relação com o cinema que que ele pratica. Aliás, ele tem pleno domínio da linguagem cinematográfica e se tornou um criativo narrador audiovisual. Por isso, nunca deixo de assistir aos seus longas.           Armadilha , seu filme de 2024, é um thriller de suspense, onde ele aborda o tema perturbador e violento dos assassinos em série. O bom é que dessa vez o diretor resistiu à tentação de enveredar por caminhos sobrenaturais. Evitou empregar elementos de mistério para alimentar pontos de virada que surpreendam o espectad...

O Artista: um filme mudo, eloquente e emocionante

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O Artista: direção de Michel Harzanavivius CINEMA NUM FORMATO HÁ MUITO ABANDONADO O Artista , dirigido em 2011 por Michel Hazanavicius, é um filme mudo; tem formato de tela mais estreito e é inteiro em preto-e-branco. Ou seja, é um filme como aqueles feitos até o final dos anos 1920. Um cinéfilo distraído talvez não se dê conta de que se trata de um produto do século XXI; o ritmo, os enquadramentos, a iluminação, a performance dos atores... Tudo parece genuíno, até que começamos a reconhecer alguns atores e atrizes frequentadores de filmes mais modernos. A grande pergunta que fica, então, é: por que raios alguém gastaria seu tempo realizando um filme... mudo?           Quando dei o play em O Artista , já imaginava a resposta: seria por puro experimentalismo. Esperei ansioso pelo momento em que tudo viraria um divertido exercício de metalinguagem, com tiradas inteligentes e divertidas sobre o próprio fazer cinematográfico e sobre a evolução técnica que nos t...

O Infiltrado: remake hollywoodiano de um filme francês

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O Infiltrado: direção de Guy Ritchie UM HOMEM FURIOSO E ENVOLTO EM MISTÉRIOS Realizar um filme de ação é como preparar uma pizza. Antes que você engasgue com a arrogância da minha afirmação, deixe-me desenvolver essa metáfora gastronômica. Um pizzaiolo cuida de preparar a massa conforme a tradição, para mantê-la saborosa, crocante e com a textura que todos conhecemos; depois, usa um molho com personalidade e aplica um bom muçarela. Por fim, usa a criatividade para cobrir sua obra com as mais inusitadas combinações de ingredientes, a gosto do freguês. Mas há limites: extravagâncias descaracterizam o produto. Para não servir uma gororoba que apenas vagamente lembre uma pizza, o pizzaiolo sensato tem que se ater ao... arquétipo da pizza. Usar apenas ingredientes consagrados.           O diretor de um filme de ação segue a mesma receita. Pega um mote envolvente, concentra-se na essência do protagonista e destaca os elementos dramáticos que desencadeiam a ação. ...

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