O Refém - Atentado em Madri

O Refém - Atentado em Madri: direção de Daniel Calparsoro
UM HOMEM COMUM GOLPEDO PELO DESTINO
Com tantas opções nos serviços de streaming, como escolher o filme certo? Enquanto dedilho o controle remoto com gestos apressados, sigo um método criterioso, que desenvolvi ao longo de décadas no exercício da cinefilia: tomo decisões emocionais! É claro que ao me deixar guiar pelo estado de espírito, corro o risco de tropeçar nos preconceitos e ignorar títulos proveitosos; quantos ótimos filmes fui conferir com anos de atraso, só porque impliquei com algum detalhe da sinopse ou da ficha técnica? Muitos! Mas é do jogo. O Refém - Atentado em Madri, filme de 2023 dirigido por Daniel Calparsoro, é um desses casos: quando percebi que esse thriller policial foi produzido na Espanha, torci o nariz, afinal, o gênero é dominado pelos anglo-saxões, que moldaram seus elementos e seus clichês; os espanhóis, por outro lado, têm maior tendência ao melodrama e costumam derrapar nas cenas de ação.Por sorte, vivi um momento de lampejo e decidi conferir. Fiz muito bem! O Refém - Atentado em Madri é um filme envolvente e bem realizado, que oferece entretenimento de qualidade. O diretor segue à risca o arcabouço usual dos filmes de ação, enquanto mantém um ritmo ágil e acelerado; deixa que os clichês do gênero floresçam de forma orgânica, sem desprezar a verossimilhança; segue ancorado em personagens bem desenhados, que expressam alguma verdade emocional. Os espectadores calejados já apostam todas as fichas num final feliz e quando ele chega, não há decepção. E aquela tal inclinação ao melodrama, quem diria, torna-se um ótimo atrativo! Antes de entrar nos detalhes, vejamos a sinopse:
O filme conta a história de Santi (Luis Tosar), um homem comum, que trabalha como taxista. Ele passa por uma crise depressiva e o vemos se arrastar pelas ruas de Madri, até ser colhido pelo acaso: enquanto deixa um passageiro no aeroporto, experimenta os horrores de um atentado terrorista; homens-bomba se explodem e fazem dezenas de vítimas. Prestativo, Santi corre para ajudar, mas, sem saber, traz para o seu taxi um dos jihadistas. Agora ele é feito refém e acaba envolvido numa trama insana: é vestido com explosivos pelos líderes terroristas e obrigado a se movimentar em um local público; se parar, voará pelos ares. A chefe de polícia, Pilar Montero (Inma Cuesta) fará de tudo para salvá-lo, mas terá que ser mais ousada do que os terroristas abjetos. A esposa de Santi, Laura (Patricia Vico) e seu filho Raúl (Lucas Nabor) acompanham tudo em tempo real pela internet e vivem seus piores dias de agonia.
O roteiro de O Refém - Atentado em Madri é assinado por Gemma Ventura, que já havia colaborado com Daniel Calparsoro em seu filme anterior, Centauro. O diretor interferiu na trama e promoveu várias alterações em relação ao primeiro tratamento; o roteiro efetivamente filmado terminou centrado em um drama familiar, enquanto a ação policial corre em paralelo, para criar os elementos de tensão e suspense que prendem a atenção do espectador. Na direção, Calparsoro mostrou habilidade em manipular os clichês e provou que domina a linguagem cinematográfica – sua experiência nas séries para a TV e nos longas de ação o consagrou como um dos principais nomes do cinema comercial na Espanha.
O ponto que se destaca em O Refém - Atentado em Madri – e o torna um thriller fora da curva – é o seu protagonista. Santi é um sujeito comum, como tantos outros que transitam diluídos na banalidade e na agitação das cidades modernas. Um homem sem talentos imediatamente reconhecíveis, sem habilidades especiais e sem recursos emocionais que o levem a se tornar um herói. E ele segue assim até o final! Não é o tipo de protagonista que descobre forças internas adormecidas e se supera. Continua o mesmo Santi de sempre, mas esgarçado pelos golpes que o destino fez questão de lhe desferir. É claro que ele passa por transformações – uma tal experiência, que o fez confrontar a morte por diversas vezes, é de virar do avesso! Aliás, todos os demais personagens também descrevem arcos perceptíveis, o que é notável para um filme de ação.
O Refém - Atentado em Madri é antes de tudo um melodrama, mas pontuado com cenas de ação e suspense, executadas com competência e precisão. Irradia modernidade e toca em um tema delicado entre os europeus: o terrorismo islâmico. Entretanto, ao contrário de filmes que abordam acontecimentos reais, como O Dia do Atentado – um thriller sobre o ataque à maratona de Boston –, aqui os realizadores nos acenam com uma história fictícia, mas plausível. Evitaram abordagens panfletárias e trataram o tema com clareza e objetividade: os terroristas são criminosos covardes, aliciados por líderes fanáticos ainda mais covardes; fazem as primeiras vítimas entre os seus próprios familiares, que sofrem tanto quanto os inocentes por eles assassinados. Precisam ser combatidos por forças policiais devidamente preparadas.
Ano de produção: 2023
Direção: Daniel Calparsoro
Roteiro: Gemma Ventura
Elenco: Luis Tosar, Inma Cuesta, Nourdin Batan, Roberto Enríquez, Patricia Vico, Lucas Nabor, Fernando Cayo, Antonio Buíl, Fátima-Zohra Mohamed, Intissar El Meskine, Joan Solé, Anna Alarcón, Bernabé Melendrez, Milo Taboada, Eugenio Villota, Abdelatif Hwidar, Moussa Echarif e María Jáimez
Resenha crítica do filme O Refém - Atentado em Madri
Título original: Todos los nombres de DiosAno de produção: 2023
Direção: Daniel Calparsoro
Roteiro: Gemma Ventura
Elenco: Luis Tosar, Inma Cuesta, Nourdin Batan, Roberto Enríquez, Patricia Vico, Lucas Nabor, Fernando Cayo, Antonio Buíl, Fátima-Zohra Mohamed, Intissar El Meskine, Joan Solé, Anna Alarcón, Bernabé Melendrez, Milo Taboada, Eugenio Villota, Abdelatif Hwidar, Moussa Echarif e María Jáimez
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