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Mostrando postagens de abril, 2020

1917: atravessando a Terra de Ninguém durante a Primeira Guerra Mudial

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1917: filme dirigido por Sam Mendes O PRINCIPAL PERSONAGEM É A CÂMERA! Há tempos li uma entrevista concedida por Stanley Kubrick, onde ele é questionado sobre o motivo pelo qual jamais filmou uma história de sua autoria. De fato, a filmografia do aclamado diretor é composta por obras de vários gêneros, mas todas escritas por terceiros. Kubrick alegou acreditar na beleza e no impacto de se ouvir uma história pela primeira vez.         Em sua reposta mostrou que eram justamente esses dois valores, beleza e impacto, que tentava passar aos espectadores. Para tanto, precisava, ele mesmo, vivenciá-los antes de assumir seu papel de contador de histórias. Segundo o diretor, durante o processo de construir uma história partindo do zero, tendo que aparar arestas e solucionar a trama, o encanto inicial acaba se quebrando. Por isso preferia filmar histórias cuja magia da primeira leitura ainda carregasse viva na memória.         Talvez essa tenha sido apenas uma desculpa – ou palavras de efeito

Jojo Rabbit: drama temperado com doses de humor

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Jojo Rabbit: filme dirigido por Taika Waititi O DESCABIDO AMIGO IMAGINÁRIO DÁ PERSONALIDADE AO FILME Outro dia, Ludy e eu decidimos assistir ao filme Jojo Rabbit , dirigido em 2019 por Taika Waititi. Minha mulher não tinha opinião formada – não fora contaminada pelo falatório em torno desse vencedor do Óscar de melhor roteiro original. Quanto a mim, bombardeado pelos palpites dos cinéfilos nas redes sociais, acreditava que assistiria a uma comédia animada, engajada nas causas antinacionalistas e feita para destilar ironia ácida sobre o nazismo atroz e ultramilitarizante, que robotizou a juventude alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Estava enganado. Descobri que o filme não é propriamente uma comédia, mas um drama sensível e criativo, bem temperado com doses generosas de humor. A história que ele nos conta é consistente, focada em personagens cativantes.         Depois do filme me perguntei:         – Mas por que raios continuo me empanturrando nesse banquete de críticas e resenhas

O Oficial e o Espião: o caso real de Dreyfus narrado como um thriller

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O Oficial e o Espião: filme dirigido por Roman Polanski ROMAN POLANSKI NOS LEMBRA COMO SE FAZ CINEMA DE VERDADE Acomodados no sofá, controle remoto nas mãos, Ludy e eu vasculhamos o serviço de streaming à cata de algo que valha a pena. Tarefa exaustiva, essa. Examina-se as capas dos filmes, lê-se as sinopses sintéticas e quase sempre mal redigidas, procura-se por mais informações no celular... Enquanto isso, o tempo passa e a impaciência aumenta. Mas num dia desses , a busca terminou de repente. Ludy até se espantou quando gritei:         – Uau! Esse é o último filme do Polanski! Vai ser esse e pronto!         Ludy não questionou meu arroubo autoritário. Ela também aprecia o talento do diretor. Clicamos no play e em instantes estávamos assistindo a um dos melhores filmes do ano: O Oficial e o Espião , realizado com requinte e competência em 2019, por um dos mais brilhantes diretores da história do cinema. É cinema de qualidade, como não se vê com frequência.         Bem, talvez o meu

Busca Implacável: o ator Liam Neeson faz a diferença num filme de ação

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Busca Implacável: filme dirigido por Pierre Morel UM PRODUTO HONESTO, QUE CUMPRE A PROMESSA DE BOM ENTRETENIMENTO O que há de cativante no filme  Busca Implacável ? Ele foi dirigido por Pierre Morel em 2008 e contabilizou enorme sucesso comercial. A história de um pai feroz, lutando para resgatar a filha das mãos de traficantes de mulheres, oferece oportunidades dramáticas para construir várias cenas de ação e suspense. Luc Besson e Robert Mark Kamen souberam aproveitá-las: escreveram um roteiro objetivo, simples e eficiente. Porém, o grande trunfo acabou  sendo o ator Liam Nesson, que emprestou seu nome e reputação ao filme, em troca do ingresso num nicho de mercado bastante lucrativo.        Perseguições a pé e de carro, socos e pontapés, tiros, facadas, explosões, mortes… Muitas mortes! Não há surpresas em Busca Implacável e talvez seja essa a razão para que ele resulte tão cativante. O espectador prepara seu balde de pipoca, abre a garrafa de refrigerante, aperta o play e por uma

Bastardos Inglórios: Quentin Tarantino subverte a verdade em favor do bom cinema

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Bastardos Inglórios: filme de Quentin Tarantino UMA TRILHA SONORA REPLETA DE BOAS SURPRESAS Ludy detesta filmes violentos e não compartilha meu gosto por thrillers de guerra. Quando decido revisitar um desses filmes pela enésima vez, minha mulher se lembra que tem mais o que fazer e sai da sala. Prefere me deixar sozinho, exercendo minha obsessão de cinéfilo esmiuçador. Entre os filmes que faço questão de rever de vez em quando está Bastardos Inglórios , de 2009, escrito e dirigido por Quentin Tarantino. Tenho vários motivos para fazê-lo, mas hoje quero falar da trilha sonora que o diretor escolheu.           Ninguém consegue ficar impassível diante de  Bastardos Inglórios . É amá-lo ou odiá-lo! O senso de humor peculiar, a preferência pelas cenas violentas retratadas com requintes gráficos, a precisão dos diálogos conduzindo a narrativa afiada e ritmada... Tarantino é único. Mas confesso que o filme me pegou logo na cena inicial. Para ilustrar meu ponto, deixe-me tentar descr

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