Boyhood: da Infância à Juventude: quanto tempo bem aproveitado!

Cena do filme Boyhood: da Infância à Juventude
Boyhood: o diretor Rchard Linklater filmou por 12 anos

COMO NA VIDA, A PASSAGEM DO TEMPO SIMPLESMENTE ACONTECE

Ao invés de rodar um drama sensível e envolvente, Richard Linklater poderia ter se contentado em realizar um documentário com vocação para estudo acadêmico. Mas não! Manteve a determinação de produzir uma obra com relevância artística. Boyhood: da Infância à Juventude, seu filme de 2014 exigiu paciência, domínio das técnicas narrativas, muita sensibilidade e maturidade para lidar com os percalços da vida.

        O diretor Richard Linklater levou 12 anos captando as imagens que usaria em seu filme, para contar a história de Mason, um garoto de seis anos criado por pais separados, ao longo se sua trajetória entre a infância e a ju8ventude, até ingressar na faculdade, aos 18 anos. O projeto cinematográfico foi bem idealizado e realizado com método e paciência: a cada ano, a equipe de filmagem se reunia com os atores por três ou quatro dias, para ajustar o roteiro e filmar. Linklater estava concentrado em realizar um filme sobre o que é ser criança e examinar a paternidade – e a maternidade – sob a ótica do seu pequeno protagonista. Vamos elaborar um pouco mais essa sinopse:
        O filme flagra o protagonista Mason Evans Jr. (Ellar Coltrane) vivendo com sua irmã Samantha (Lorelei Linklater) e a mãe Olivia (Patricia Arquette). O pai, Mason (Ethan Hawke), deixou a família depois que se divorciou de Olivia. Estamos em 2002, numa pacata cidadezinha do Texas, onde todos vivem as suas rotinas. Acontece que Olivia quer seguir com a vida e tem planos para estudar. Mudam-se para Houston onde ela passa a frequentar a universidade. Lá se envolve com seu professor, Bill Welbrock (Marco Perella). Enquanto isso, Mason, que apesar de ausente, mantém sua presença como modelo de pai e estabelece laços afetivos com os filhos, dá as caras e interfere nos planos da família. Na medida em que os anos vão passando acompanhamos a dinâmica dos relacionamentos na família, os encontros e desencontros, seus desentendimentos e aproximações. As crianças vão crescendo, os pais amadurecendo, a vida vai impondo surpresas e estabelecendo uma rotina pontuada por acontecimentos banais... mas sempre recheados de sentimentos verdadeiros e emoções que conhecemos muito bem – vividas com nossas próprias famílias. E assim seguirmos até o final do filme, que termina porque precisa acabar. A vida, não! Essa continua, do mesmo jeito que a deixamos quando entramos no cinema e a flagramos agora, na saída, enquanto rolam os créditos finais.
        Em Boyhood: da Infância à Juventude, Richard Linklater, conhecido por ter dirigido Escola do Rock – filme onde as crianças quase roubam o protagonismo de Jack Black – soube se desviar de todas as armadilhas que sua ideia criativa e original poderia lograr. Posicionou sua câmera com discrição, enquadrou seus personagens com respeito e deixou que eles decidissem os rumos da história. Mas em momento algum permitiu que a passagem do tempo se tornasse a atração principal. Como na vida, só nos damos conta dela pelos rastros que deixa; pelos sobressaltos que ela causa nos momentos de reflexão, quando olhamos os rostos que nos cercam e nos assombramos com as mudanças.
        O curioso sobre esse filme é imaginar que todos os envolvidos no filme percorreram uma trajetória de 12 anos, envelhecendo e amadurecendo no processo. E isso não incluiu apenas os atores. Inclui também o próprio diretor! É justo pensar que sua abordagem cinematográfica e sua forma de ver a arte tenham amadurecido e se modificado ao longo de todo esse tempo. Mas é notável como ele conseguiu manter uma unidade estética do começo ao fim. Em momento algum somos submetidos a uma colagem de cenas captadas ano após ano. O que temos é um filme coeso e consistente, não só em relação ao design de produção, mas também em termos narrativos. O enredo veio sendo desenhado por Linklater na medida em que o ator Ellar Coltrane ia crescendo e trabalhando a composição do personagem de acordo com o seu próprio processo de amadurecimento – como indivíduo e como ator.
        Em Boyhood: da Infância à Juventude, Linklater fez mágica. Enquanto mostrou seu elenco envelhecendo, sofrendo a ação dos anos, desenhou um retrato sensível de como é o dia-a-dia de um garoto comum, seus dramas, suas alegrias e sua visão do mundo que o rodeia. Seu filme recebeu seis indicações para o Óscar e saiu da festa com a estatueta de melhor atriz coadjuvante para Patricia Arquette. Mas foi premiado em praticamente todos os mais importantes festivais de cinema ao redor do mundo. Não é para menos. É um filme sensível e envolvente, para ser visto e revisto.

Resenha crítica do filme Boyhood: da Infância à Juventude

Ano de produção: 2014
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater, Libby Villari, Marco Perella, Brad Hawkins, Jamie Howard, Andrew Villarreal, Jenni Tooley, Richard Andrew Jones, Karen Jones, Bill Wise, Zoe Graham, Charlie Sexton, Barbara Chisholm, Cassidy Johnson, Richard Robichaux, Steven Chester, Tom McTigue, Will Harris, Andrea Chen, Maximillian McNamara, Taylor Weaver e Jessi Mechler

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