Rocketman: verdade dramatizada tocando nos temas polêmicos

Cena do filme Rocketman
Rocketman: filme estrelado por Taron Egerton

CINEBIOGRAFIA SINCERA, COMO AS CANÇÕES DE ELTON JOHN

Cinéfilo desatento às dinâmicas do show business, cliquei no serviço de streaming para assistir a Rocketman, filme de 2019 dirigido por Dexter Fletcher. Acreditava que veria apenas uma resposta comercial aos artistas rivais, retratados em Bohemian Rhapsody. Tinha bons motivos para pensar assim: esse mesmo diretor havia trabalhado um bom tanto naquela cinebiografia de Freddie Mercury e abandonou o projeto por divergências criativas com os produtores, deixando a bomba nas mãos de Bryan Singer. Ledo engano! Fletcher abraçou Rocketman com grande avidez e o dotou com luz própria. Retratou a vida de Elton John com mais competência, desenvoltura narrativa e sensibilidade artística. E embora a obra nos chegue com aquela aparência de... cinebiografia autorizada, foi construída com a mesma sinceridade que percebemos nas canções de Elton John.
        Tudo que vem de Elton John é complicado e sua cinebiografia não poderia ser diferente. Há décadas congestionada nos trâmites da indústria cinematográfica, a produção finalmente teve início em 2018. E que produção! O elenco arrasa em interpretações que esbanjam talento e naturalidade, mas o destaque vai para Taron Egerton, que consegue grande semelhança física com o cantor – lembrei daquela história de um sósia de Charlie Chaplin, vencedor de um concurso de imitação de Carlitos. Ele encarnou o personagem melhor do que o próprio, que também participava incógnito! A comparação não é exagero. Egerton nos faz enxergar Elton John o tempo todo e interpreta todas as canções, dispensando as dublagens. Seu talento legítimo e sua competência artística elevam a qualidade do filme a níveis surpreendentes. Mas antes de continuar, vamos à sinopse do filme:
        Rocketman captura o menino Reginald Dwight na década de 1950, no seio de uma família pouco amorosa e despreocupada com suas carências de infância. Seu interesse pela música e seu talento prodigioso estão despontando nas aulas de piano. Das apresentações em pequenos pubs ao ingresso em bandas semiamadoras é um pulo. Mas de repente, o jovem Reginald descobre que pretende trilhar sozinho os caminhos do sucesso. Adota Elton John como nome artístico, encontra acesso a uma gravadora e conhece o letrista Bernie Taupin (Jamie Bell), com quem passa a compor canções icônicas. A partir daí, acompanhamos sua ascensão espantosa e sua rápida transformação em uma das maiores estrelas pop em escala global. E acompanhamos também os altos e baixos emocionais, que conduzem o protagonista por temas polêmicos: drogas, alcoolismo, depressão, relacionamentos amorosos tempestuosos, a esfuziante vida sexual marcada por excessos... E vamos presenciar também a sua volta por cima no começo dos anos 1990.
        O roteiro original de Rocketman foi escrito pelo roteirista britânico Lee Hall, que soube desenhar um retrato tocante de Elton John, alternando momentos reais com passagens de ficção, sempre abordadas com honestidade emocional. Lee Hall, um velho amigo de Elton John, já havia trabalhado com ele em Billy Elliot, tanto no musical como no filme. Seu esforço maior foi o de reunir as memórias do artista e encontrar um sentido narrativo para a história. Mas quando Dexter Fletcher entrou no projeto, não havia nada além do roteiro. Ao contrário de outras cinebiografias que nascem antes como musicais ou shows de palco, não havia concepções estéticas para balizar a obra. A equipe do diretor teve 12 semanas de preparação, para incorporar música e dança ao esforço narrativo.
        O grande salto de qualidade se deu quando Taron Egerton ingressou no projeto. O ator conheceu Elton John no set de filmagem de Kingsman: O Círculo Dourado e depois disso se reuniu com ele diversas vezes. O maior desafio dos realizadores foi trabalhar com canções que, juntas, não foram criadas para contar uma história. Precisaram incorporar novos significados e estabelecer novas interpretações, de forma a alcançar um fluxo narrativo coeso, dentro da perspectiva dos vários personagens que aparecem no filme. A estrutura foi montada a partir dos diversos números musicais, trabalhados individualmente e à exaustão. O esforço valeu a pena! Rocketman se consolidou como um belo e empolgante musical. Chegou ao Óscar e levou a estatueta de melhor canção original: (I'm Gonna) Love Me Again, assinada por Elton John e Bernie Taupin.
        O espectador conhece o personagem e sabe tudo sobre sua vida. Onde vai acertar, porque vai errar, quando vai vencer... Ainda assim consegue se surpreender, porque os realizadores souberam mostrar o drama onde a mídia só costuma enxergar a fama. As canções de sucesso foram intercaladas com critério e atreladas à narrativa, mostrando que os realizadores não estavam interessados somente em falar aos fãs, mas também em alcançar novos públicos, renovando o fôlego da máquina Elton John de fazer dinheiro.
        Em Rocketman há momentos tratados com sensibilidade e emoção, principalmente os que envolvem o relacionamento criativo entre o cantor e seu letrista. Prodígio, ousadia, criatividade, excessos, arrependimentos, sucesso… Está tudo lá. É entretenimento de qualidade, para ser degustado com prazer!

Resenha crítica do filme Rocketman

Ano de produção: 2019
Direção: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Elenco: 
Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones, Stephen Graham as Dick James, Steven Mackintosh, Tate Donovan, Charlie Rowe e Tom Bennett

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