Estrelas Além do Tempo: elas tiveram papel importante nas conquistas da NASA

Cena do filme Estrelas Além do Tempo
Estrelas Além do Tempo: filme dirigido por Theodore Melfi

PARA CONQUISTAR O ESPAÇO FOI PRECISO VENCER AS BARREIRAS DA INTOLERÂNCIA

Ser um garotinho durante os anos áureos da corrida espacial foi divertido. Meu imaginário estava repleto de heróis autênticos, de carne e osso. Ao invés dos capitães Kirks e dos Senhores Spocks, confinados na telinha em branco e preto na sala de estar, os astronautas da NASA habitavam os jornais, as revistas e os noticiários – que era onde a realidade dava de lavada na ficção científica! Armstrong, Aldrin, Collins... Além de conhecer a vida dos personagens, sabia tudo sobre o enredo: foguete em três estágios, módulo de comando, módulo de pouso, dificuldades do acoplamento, ponto cego durante as órbitas na Lua... Tudo envolto numa atmosfera de vitória e superação. A história da conquista da Lua podia ser vivida em tempo real, como uma epopeia repleta de atos de coragem. Material mais do que suficiente para render muitos e muitos filmes empolgantes.
        Já foram realizadas incontáveis produções sobre a corrida espacial, algumas estão aferradas à linguagem documental, outras resgatam elementos de dramatização para ressaltar as múltiplas facetas dos personagens envolvidos. Algumas privilegiam a ação, explorando estereótipos que o público identifica facilmente, outras investigam os arquétipos consolidados ao longo da trajetória humana. Estrelas Além do Tempo, filme de 2016 dirigido por Theodore Melfi, lida com os dois na medida certa. Há personagens que estão ali apenas para representar o preconceito e a intolerância que marcaram um período triste de segregação racial nos Estados Unidos. Mas há os que personificam o impulso humano, que nos move na direção das grandes conquistas.
        O filme trata de uma face pouco lembrada da corrida espacial nos anos 60: enquanto os americanos tentavam superar os soviéticos, mostrando que o capitalismo era mais eficiente e produtivo que o emperrado socialismo, tinham que lidar com a chaga do segregacionismo, que separava brancos e negros em todos os lugares públicos. Dentro da NASA não era diferente. Katherine G. Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson eram três mulheres inteligentes, talentosas e supercapacitadas, que precisavam fazer seu trabalho com precisão e ainda carregar o peso do preconceito à cor de suas peles. Tiveram papel importante nas conquistas da NASA: uma era computadora e lidava com cálculos cruciais, outra era pioneira na programação dos imensos computadores que prometiam substituir os humanos e a terceira era engenheira, com atributos de inventividade e criatividade que a destacavam. Vejamos a sinopse do filme:
        O ano é 1961, quando os Estados Unidos parecem estar levando a pior na corrida espacial. Katherine Johnson (Taraji P. Henson) trabalha num certo “departamento de computadoras negras”, em Langley, na Virgínia. Transferida para o Grupo de Tarefas Espaciais, chefiados por Al Harrison (Kevin Costner), ela come o pão que o diabo amaçou, enquanto tenta dar vazão à sua comprovada genialidade em matemática. Já Mary Jackson (Janelle Monáe) tem tudo para ser uma excelente engenheira, menos o diploma. Encorajada pelos supervisores que reconhecem seu talento, ela tenta se inscrever num curso noturo – segregado e proibido para mulheres! Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) descobre que o gigantesco IBM em instalação numa sala próxima, vai tirar o emprego dos computadores humanos. Ela se apressa em aprender a programar a máquina e treinar sua equipe para os desafios do futuro. A vida das três amigas é atribulada pelo racismo e pelo machismo, mas todas permanecem focadas num objetivo maior: contribuir para que a maior conquista da humanidade enfim se realize. Não importa que continuem heroínas anônimas diante do imenso aparato da NASA.
        O roteiro de Estrelas Além do Tempo é assinado por Allison Schroeder. Ela atuou em estreita colaboração com Margot Lee Shetterly, a autora destacada para escrever o romance com o mesmo título. Livro e roteiro foram escritos simultaneamente. Ocorre que a roteirista tem um profundo envolvimento com a NASA: seus avós trabalharam lá e ela mesma fez estágio na agência espacial. Formada em economia, trabalhou em uma empresa de lançamentos de misseis! Allison Schroeder se lembra quando, ainda criança, testemunhou a explosão da Challenger, enquanto acompanhava o lançamento in loco. Portanto, seu envolvimento emocional com o tema foi crucial para chegar a um roteiro tão envolvente.
        O diretor Theodore Melfi percebeu a qualidade do roteiro e se engajou de corpo e alma no projeto. Fez pequenos ajustes para acomodar a sua visão estética e garantiu oportunidades dramáticas para as atuações de Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe. Kevin Costner, é bom lembrar, também convence como o diretor visionário que coloca a administração do seu projeto à frente de qualquer preconceito.
        Resumindo: Estrelas Além do Tempo é um filme edificante. O roteiro segue linear, mas num ritmo orgânico e fluente. Passa por cenas óbvias, mas necessárias para transmitir sua mensagem contundente, onde os personagens fazem exatamente o que se espera deles. Por isso não decepcionam! As barreiras raciais nos Estados Unidos ainda estão longe de serem vencidas, mas ao menos nesse filme elas foram chutadas para o espaço.

Resenha crítica do filme Estrelas Além do Tempo

Data de produção: 2016
Direção: Theodore Melfi
Roteiro: Allison Schroeder e Margot Lee Shetterly
Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kevin Costner, Kirsten Dunst, Jim Parsons, Glen Powell, Mahershala Ali, Donna Biscoe, Karan Kendrick, Rhoda Griffis, Maria Howell, Aldis Hodge, Paige Nicollette, Gary Weeks e Saniyya Sidney

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