Náufrago: numa ilha deserta, na companhia de Wilson
Náufrago: filme dirigido por Robert Zemeckis
A QUINTESSÊNCIA DO MERCHANDISING NO CINEMA
Náufrago é um filme de sucesso. Estrondoso, aliás! Dirigido em 2000 por Robert Zemeckis, ele primeiro fez barulho nos cinemas, enfileirando espectadores na frente das bilheterias. Depois, continuou brilhando no videocassete. Depois, no DVD, na TV por assinatura, na TV aberta, nos serviços de streaming... Náufrago é cercado de sucesso por todos os lados e às vezes me pergunto: há algum vivente nesse planeta que ainda não tenha assistido a esse filme? Só se for algum sujeito isolado, sobrevivendo em algum lugar remoto e inacessível – com o perdão do trocadilho!Mas se ao invés disso resolvermos perguntar por que motivos esse filme chegou ao topo, as respostas virão certeiras: por causa do carisma de Tom Hanks, do marketing milionário, do merchandising das bolas de vôlei e empresas de entrega expressa, da simplicidade do roteiro, da temática rasa e popular, das velhas fórmulas consagradas em Hollywood, do apelo fácil às emoções superficiais, da prioridade em entreter... Náufrago é objeto de desdém de muita gente, que não aceita o óbvio: chegou ao topo porque é um grande filme!
Veja o seu protagonista, Chuck Noland (Tom Hanks). Ele é um engenheiro focado em administração, que persegue o sucesso profissional, tenta fazer carreira num emprego estável, está apaixonado por Kelly Frears (Helen Hunt), é interessado em construir família e seguir um caminho reto, honesto e valoroso, que o levará diretamente até... a aposentadoria. Muitos podem discordar do seu estilo, mas todos reconhecem a sua índole de bom sujeito. Entendemos suas motivações e as suas verdades. Por isso, quando ele naufraga e se vê obrigado a sobreviver em uma ilhota deserta, nós vamos juntos com ele!
Esse é o primeiro ponto positivo que ressalto em Náufrago: encontramos coerência, tanto no personagem como nas situações que ele enfrenta, o que nos leva a reconhecer vários elementos da vida real. Por isso enxergamos verossimilhança. Nos perguntamos: no lugar dele, como agiríamos? Nós, que vivemos num mundo para o qual fomos preparados, conseguiríamos sobreviver num local isolado? Onde tudo o que sabemos é inútil? Onde o passar do tempo se torna desimportante? Onde a fome e a sede sufocam todos os outros sentimentos? Onde não há para quem expressar nossa individualidade?
Tom Hanks conta que a ideia para realizar Náufrago veio de um artigo que leu sobre a quantidade de aviões da FedEx que circulam sobre o Oceano Pacífico transportando encomendas. Ficou curioso para saber o que aconteceria se um desses aviões sumissem. Então convocou o roteirista Willian Broyles Jr., que partiu para uma abordagem ousada: em 1999 ele mesmo viveu isolado numa ilha do México por 10 dias, sem comida, ferramentas ou abrigo. Precisou aprender na prática o bê-á-bá da sobrevivência. Foi lá que Broyles encontrou várias sacadas para o roteiro – inclusive encontrou na praia uma bola de vôlei da marca Wilson, que transformou numa companhia imaginária e depois em elemento central do filme.
O roteiro de Broyles não tem nada de simples. É fruto de pesquisa e de uma sensibilidade comovente. Ele compreendeu a necessidade imperativa de ter alguém com quem se relacionar e soube contar sua história com pouquíssimo elementos narrativos. Fez questão de dispensar trilhas sonoras musicais, concentrando os sentidos do espectador no som do mar e no silêncio ardido da solidão. O roteirista também dedicou esforço notável na construção do personagem, tanto no primeiro ato, que precede o naufrágio, como no último, quando conclui o seu arco de transformação.
Por óbvio, é preciso dizer que Chuck Noland também é uma criação de Tom Hanks. E isso vai além da mera caracterização do personagem. Mas antes de falar dele, deixe-me lembrar de um outro elemento importante em Náufrago: a direção de Robert Zemeckis. Quando ele entrou no projeto trouxe junto várias soluções que viabilizaram o filme. Mas o trio de criativos ainda não sabia ao certo o que aconteceria com o protagonista. Experimentaram várias possibilidades. Foi quando o roteirista veio com a ideia de dar a Chuck Nolan a oportunidade de tentar escapar da ilha, ou morrer tentando! Pronto! Zemeckis encontrou uma linha dramática que podia ser contada em um filme.
O diretor então usou seu notável talento de contador de histórias para criar a linha visual do filme. Repare que ele empregou três técnicas diferentes de filmagem, uma para cada ato. No primeiro, antes do acidente aéreo, o ritmo é mais intenso, com movimentos ágeis de câmera. Na ilha, a câmera está o tempo todo parada – no máximo há uma panorâmica ou outra. Quem se move é o ator, sempre numa velocidade constante. No terceiro ato temos planos bem abertos, captados do alto, em gruas.
Foi de Zemeckis a ideia de filmar toda a primeira parte da produção e fechar os trabalhos por um ano inteiro, para que Tom Hanks perdesse os 23 quilos, deixasse crescer a barba e os cabelos e pegasse um bronzeado tropical. O diretor ainda se valeu de um truque sutil durante as filmagens. Tom Hanks nunca era informado sobre quando a câmera estava ou não gravando. Ele de fato teve que improvisar ao tentar abrir cocos, fazer fogo ou amarrar a sua jangada. E convenhamos, é justamente esse excelente trabalho de ator que nós, mortais espectadores, trazemos na memória quando saímos do cinema.
Mas talvez Náufrago seja lembrado eternamente como sendo a quintessência do merchandising no cinema. O filme veio com pequenas grandes sacadas que foram incorporadas à cultura pop. Seus realizadores usaram uma empresa de entregas expressas como elemento essencial da trama e transformaram uma bola de voleibol em ator coadjuvante. Talvez tenha sido justamente essa aproximação com o mundo real e cotidiano da publicidade que trouxe a necessária credibilidade para conquistar o espectador desde o primeiro momento. Ou talvez tenha sido o fato de que esse é, sem dúvida, um grande filme!
Tom Hanks conta que a ideia para realizar Náufrago veio de um artigo que leu sobre a quantidade de aviões da FedEx que circulam sobre o Oceano Pacífico transportando encomendas. Ficou curioso para saber o que aconteceria se um desses aviões sumissem. Então convocou o roteirista Willian Broyles Jr., que partiu para uma abordagem ousada: em 1999 ele mesmo viveu isolado numa ilha do México por 10 dias, sem comida, ferramentas ou abrigo. Precisou aprender na prática o bê-á-bá da sobrevivência. Foi lá que Broyles encontrou várias sacadas para o roteiro – inclusive encontrou na praia uma bola de vôlei da marca Wilson, que transformou numa companhia imaginária e depois em elemento central do filme.
O roteiro de Broyles não tem nada de simples. É fruto de pesquisa e de uma sensibilidade comovente. Ele compreendeu a necessidade imperativa de ter alguém com quem se relacionar e soube contar sua história com pouquíssimo elementos narrativos. Fez questão de dispensar trilhas sonoras musicais, concentrando os sentidos do espectador no som do mar e no silêncio ardido da solidão. O roteirista também dedicou esforço notável na construção do personagem, tanto no primeiro ato, que precede o naufrágio, como no último, quando conclui o seu arco de transformação.
Por óbvio, é preciso dizer que Chuck Noland também é uma criação de Tom Hanks. E isso vai além da mera caracterização do personagem. Mas antes de falar dele, deixe-me lembrar de um outro elemento importante em Náufrago: a direção de Robert Zemeckis. Quando ele entrou no projeto trouxe junto várias soluções que viabilizaram o filme. Mas o trio de criativos ainda não sabia ao certo o que aconteceria com o protagonista. Experimentaram várias possibilidades. Foi quando o roteirista veio com a ideia de dar a Chuck Nolan a oportunidade de tentar escapar da ilha, ou morrer tentando! Pronto! Zemeckis encontrou uma linha dramática que podia ser contada em um filme.
O diretor então usou seu notável talento de contador de histórias para criar a linha visual do filme. Repare que ele empregou três técnicas diferentes de filmagem, uma para cada ato. No primeiro, antes do acidente aéreo, o ritmo é mais intenso, com movimentos ágeis de câmera. Na ilha, a câmera está o tempo todo parada – no máximo há uma panorâmica ou outra. Quem se move é o ator, sempre numa velocidade constante. No terceiro ato temos planos bem abertos, captados do alto, em gruas.
Foi de Zemeckis a ideia de filmar toda a primeira parte da produção e fechar os trabalhos por um ano inteiro, para que Tom Hanks perdesse os 23 quilos, deixasse crescer a barba e os cabelos e pegasse um bronzeado tropical. O diretor ainda se valeu de um truque sutil durante as filmagens. Tom Hanks nunca era informado sobre quando a câmera estava ou não gravando. Ele de fato teve que improvisar ao tentar abrir cocos, fazer fogo ou amarrar a sua jangada. E convenhamos, é justamente esse excelente trabalho de ator que nós, mortais espectadores, trazemos na memória quando saímos do cinema.
Mas talvez Náufrago seja lembrado eternamente como sendo a quintessência do merchandising no cinema. O filme veio com pequenas grandes sacadas que foram incorporadas à cultura pop. Seus realizadores usaram uma empresa de entregas expressas como elemento essencial da trama e transformaram uma bola de voleibol em ator coadjuvante. Talvez tenha sido justamente essa aproximação com o mundo real e cotidiano da publicidade que trouxe a necessária credibilidade para conquistar o espectador desde o primeiro momento. Ou talvez tenha sido o fato de que esse é, sem dúvida, um grande filme!
Resenha crítica do filme Náufrago
Título original: Cast AwayTítulo em Portugal: Cast Away - O Náufrago
Data de produção: 2000
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Willian Broyles Jr.
Elenco: Tom Hanks, Helen Hunt, Nick Searcy, Chris Noth, Lari White, Vince Martin, Michael Forest e Jay Acovone
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