O Discurso do Rei: uma história verdadeira de superação

Cena do filme O Discurso do Rei
O Discurso do Rei: filme de Tom Hooper

UMA HISTÓRIA COM DNA DE RADIONOVELA, JEITO DE TEATRO E VOCAÇÃO PARA CINEMÃO

O que pode haver de mais intimidador para um gago? Falar em público, ora! E se esse gago precisa se comunicar pelo rádio, meio onde a expressividade depende unicamente da voz, o desafio é ainda mais assustador. Agora, imagine que o tal gago seja um rei, às portas da Segunda Guerra Mundial, que precisa unir o povo em torno das decisões cruciais que está prestes a tomar. Pode haver pressão mais cruel? Essa história real de superação é contada em O Discurso do Rei, filme de 2010, dirigido por Tom Hooper, com roteiro de David Seidler e atuações de Colin Firth e Geoffrey Rush.
        Quando Bertie – o rei George VI, pai da rainha Elizabeth II e avô do rei Carlos III – se viu obrigado a assumir o trono do Reino Unido, o rádio estava criando líderes por toda a Europa. Havia também os cinejornais, que anunciavam os feitos de grandes oradores, como Mussolini e Hitler, personagens políticos que estavam se impondo como inimigos da nação. Enquanto isso, a Inglaterra tinha Bertie, que quando abria a boca, era motivo de piadas. A gagueira que o atormentava desde a infância tinha que ser superada.
        Em O Discurso do Rei vemos como Elizabeth (Helena Bonham), esposa de Bertie (Colin Firth) chega até o terapeuta e fonoaudiólogo Lionel Logue (Geoffrey Rush) na esperança de conseguir um tratamento eficiente. Apesar de não concordar com os métodos de Logue, que colocam terapeuta e paciente em pé de igualdade e os faz revirar questões pessoais durante as sessões, o rei concorda, já que, como membro da realeza, precisa se expressar em público com frequência. Mas então vem a abdicação do rei Edward, irmão mais velho de Bertie. Obrigado a assumir o trono, Bertie vai contar com Logue, de quem se torna amigo pessoal, para superar os desafios da coroação e vencer o medo do microfone, durante a transmissão de rádio mais importante da sua vida, quando a Alemanha invade a Polônia e a guerra precisa ser declarada.
        O escritor inglês David Seidler – que também era gago – conhecia essa história e a materializou num roteiro original e edificante. Ele usou a passagem do discurso como clímax, mas focalizou a narrativa no forte vínculo de confiança e amizade que acabou se estabelecendo entre Bertie e Logue. Percebeu que o elemento central estava naqueles dois homens, sozinhos numa sala, lutando para vencer um inimigo feroz que estava à espreita do lado de fora. Talvez por isso Seidler, depois de concluir seu roteiro, tenha decidido reescrever sua história no formato de uma peça de teatro, que ganhou caimento perfeito para fazer bonito nos palcos.
        Para David Seidler O Discurso do Rei se configurou como uma empreitada pessoal – considerava Bertie um herói da infância e colecionava tudo a respeito da sua luta contra a gagueira. Para o diretor Tom Hooper, no entanto, a história serviu como uma luva em seu estilo elegante e apegado ao rigor histórico. Acostumado a visitar temas ligados à realeza nas produções 
que dirigiu para a TV, como Elizabeth I e Longford, ele soube retratar o aspecto humano de um personagem que, apesar de estar em um pedestal no imaginário do público, sofre como gente de carne e osso.
        Colin Firth e Geoffrey Rush arrasaram nos seus papéis. O Óscar reconheceu as qualidades da produção com quatro estatuetas: melhor filme, melhor diretor, melhor ator e melhor roteiro original. A direção de arte, a fotografia, a música e a brilhante construção dos diálogos nos levam a uma clara compreensão do drama vivido por esse personagem superexposto, que carrega um grande fardo nas costas.

Resenha crítica do filme O Discurso do Rei

Data de produção: 2010
Direção: Tom Hooper
Roteiro: David Seidler
Elenco: Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham, Guy Pearce, Timothy Spall, Derek Jacobi, Jennifer Ehle, Michael Gambon, Anthony Andrews, Eve Best, Freya Wilson, Ramona Marquez e Claire Bloom

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