O Homem nas Trevas: suspense e terror num filme autoral

Cena do filme O Homem nas Trevas
O Homem nas Trevas: Fede Alvarez

TENSÃO, SUSPENSE E EXCELÊNCIA NARRATIVA

Filmes de terror não são meus favoritos. Prefiro investir meu tempo em outros gêneros, que não me tiram o sono, não me deixam apreensivo ao entrar em quartos escuros e não me causam asco a ponto de querer vomitar. Às vezes, porém, resolvo dar uma espiada em alguns títulos, por razões puramente cinematográficas. Quando o faço, jamais confio nas sinopses publicadas nos serviços de streaming; corro atrás de referências e recomendações, geralmente com amigos ou junto a resenhas em sites especializados. Foi assim com O Homem nas Trevas, filme de 2016 escrito e dirigido por Fede Alvarez. Apertei o play e não me arrependi!
        Tamanha cautela com os filmes de terror é justificável; o gênero abraça os mais variados temas, que costumam ser classificados em três subgêneros: há os filmes de mistério, onde o pavor é resultado de forças perfeitamente explicáveis, a partir de abordagens racionais – maníacos assassinos em série, monstros alienígenas, aberrações científicas ou forças da natureza. Já nos filmes de terror sobrenatural, o medo vem de forças inexplicáveis, oriundas de reinos habitados por espíritos e demônios. Um terceiro subgênero, que não sei como chamar, cuida de não explicar nem desesplicar: o terror brota não se sabe de onde, nebuloso, mas palpável o suficiente para nos fazer arranhar os braços da poltrona.
        Filmes de terror estão sempre a testar os limites do mau gosto. Avançam para o grotesco sem receio de causar repulsa e incomodar; aliás, o objetivo é mesmo incomodar! Quem gosta do gênero, quer sentir medo, emoção primária que nos põe adiante desde que nos entendemos por humanos; causa excitação, atiça nossa curiosidade mórbida, testa nossos próprios limites. Ver outros em maus lençóis, enquanto permanecemos em segurança, é um exercício de perversão – inofensiva, se estamos numa sala de cinema. Além do mais, com a chegada dos créditos finais, vem também o alívio. É quando nos atrevemos a dar boas risadas!
        O Homem nas Trevas se enquadra no primeiro subgênero. Avança na direção do mau gosto em vários momentos, mas fica dentro de limites sensatos para os padrões hollywoodianos. É um filme de mistério, com doses generosas de suspense; transcorre numa Detroit falida e vazia por causa da crise econômica, onde três jovens assaltantes descobrem uma barbada: invadir a casa de um velho cego, que tem muito dinheiro guardado. O que eles não sabem é que a vítima também guarda segredos – e é dono de uma fúria insana! A tensão crescente é de grudar na poltrona. Nessa história onde todos são bandidos, quase não dá tempo para respirar. Vamos à sinopse:
        O filme conta como Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto) descobriram um jeito fácil de assaltar casas: vasculham o cadastro da empresa de segurança do pai de Alex e escolhem as melhores oportunidades para agir. Quando os três delinquentes descobrem que o velho Norman Nordstrom (Stephen Lang), um ex-combatente cego, que vive sozinho num bairro abandonado, guarda pelo menos 300 mil dólares em casa, decidem que aquela é a chance perfeita para mudar de vida; invadem a casa sem hesitação. De fato, o velho cego tem dinheiro guardado no cofre – o recebeu como indenização pela morte da filha, vitimada em um acidente de carro. Mas os três meliantes encontram mais do que esperavam: encontram um soldado feroz, habilidoso e sem limites morais, que não precisa da visão para lutar. E para complicar, o velho cego guarda segredos estarrecedores.
        O Homem nas Trevas está longe de contar uma história edificante, mas é bem realizado e tem todos os elementos para agradar os amantes do gênero: provoca sustos, surpreende e é imprevisível. Os pontos de virada se sucedem, mas o roteiro não vem com manipulações malandras; é assinado pelo diretor, em parceria com Rodo Sayagues e foi escrito para ser simples e direto. Os personagens são apresentados de forma clara e rápida, em cenas explicativas bastante objetivas; depois, partem de uma vez para as tomadas de decisão que desencadeiam toda a ação. E quanta ação!
        O design de produção entrega cenários sinistros e assustadores. A trilha sonora assinada por Roque Baños é de dar nos nervos e a fotografia dirigida por Pedro Luque garante um visual sombrio do começo ao fim. Mas o que salta aos olhos é mesmo o trabalho de direção de Fede Alvarez − o jovem prodígio uruguaio descoberto por Hollywood. Este é o seu segundo longa, que vem na esteira do sucesso de A Morte do Demônio, realizado por ele em 2013. Trata-se de um remake do filme com o mesmo título escrito e dirigido por Sam Raimi em 1981 – este sim, um dos pioneiros do cinema trash, que se tornou objeto de culto entre os cinéfilos.
        Eis aqui um filme conciso; traz uma história enxuta, que funciona bem por causa do domínio da linguagem cinematográfica manifesto por Fed Alvarez. É uma experiência de puro entretenimento, ancorada em ótimo elenco – Stephen Lang domina as cenas, mas Jane Levy, Dylan Minnette e Daniel Zovatto conseguem dar credibilidade aos seus personagens. É claro que o sucesso motivou a realização de O Homem nas Trevas 2, ao qual assisti com grandes expectativas, mas elas não se confirmaram. A continuação é uma brande bobagem desnecessária!

Resenha crítica do filme O Homem nas Trevas

Título original: Don't Breathe
Título em Portugal: Nem Respires
Data de produção: 2016
Direção: Fede Alvarez
Roteiro: Fede Alvarez e Rodo Savagues
Elenco: 
Jane Levy, Dylan Minnette, Stephen Lang, Daniel Zovatto, Sergej Onopko, Jane May Graves, Jon Donahue, Katia Bokor, Christian Zagia e Emma Bercovici

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