O Impossível: a história real da família de María Belón

O Impossível: filme de Juan Antonio Bayona
REALISMO NÃO BASTA, É PRECISO EXTRAIR EMOÇÃO
Quando a costa da Tailândia foi arrasada por um tsunami, no Natal de 2004, as imagens da destruição entulharam nossas televisões e inundaram de tristeza as comemorações de final de ano em todo o mundo; foram mais de 230 mil vítimas fatais e uma quantidade inimaginável de feridos – física e emocionalmente. As narrativas do desastre ocuparam espaço em toda a mídia, sempre numa abordagem jornalística. Acontece que reportagens, mesmo as que elevam o tom para entrar na disputa pela audiência, costumam priorizar o conteúdo informativo e mostram respeito para com os que sofreram perdas. Já o cinema, com sua vocação para a dramatização, está mais interessado na emoção, na dor e no sofrimento. Quando decidi assistir ao filme O Impossível, dirigido em 2012 pelo espanhol Juan Antonio Bayona, tive receio de tropeçar em mais uma produção apelativa do gênero catástrofe, recheada de efeitos especiais realistas, planejados para chocar.Não é nada disso! O filme foge dos padrões hollywoodianos e não abre espaço para aquele tradicional desfile de personagens desconectados uns dos outros, mencionados só para criar suspense antes do desastre. Também não há tramas paralelas de heróis socorristas, em luta contra os elementos da natureza para tentar salvar quantas vidas puderem. O Impossível foi baseado na história real da médica espanhola Maria Belón e se detém no drama vivido por sua família – ao contrário de todas as expectativas, todos conseguiram sobreviver àquela tragédia.
Bem, caro leitor, não tenho receio de ter estragado a sua surpresa, afinal, o próprio título do filme, de certa forma, já é um spoiler; se uma família é colhida por uma tragédia tão devastadora, é de se imaginar que alguns não sobrevirão, mas não foi assim. Aqui, o impossível de fato acontece! O filme mostra María (Naomi Watts) e seu marido Henry (Ewan McGregor) ao chegar com os filhos Lucas (Tom Holland), Thomas (Samuel Joslin) e Simon (Oaklee Pendergast) para passar as férias na Tailândia; instalam-se num agradável hotel e aproveitam as festas de final de ano no descontraído clima tropical.
De repente, sem mais, o tsunami rosna monstruoso; sem previsão, sem explicações, sem chances de defesa. Maria luta para não se afogar, mas sai gravemente ferida pelos entulhos. Por obra do que ela só consegue definir como um milagre, encontra Lucas e os dois se agarram à tarefa de ajudar-se mutuamente. Não sabem se sobreviver foi sorte ou sina. E pior, a julgar pelo mar de destroços e cadáveres ao redor, perdem a esperança de reencontrar os outros membros da família.
A história verídica de Maria Belón foi amplamente divulgada na época e o diretor Juan Antonio Bayona percebeu a oportunidade de levá-la para além do discurso documental. Fez o espectador mergulhar no caldo de choque e perplexidade, para confrontar primeiro a dor, o desespero, o sacrifício e o sentimento de perda, para só depois encontrar esperança, alívio, alegria e gratidão. Pelos olhos dos personagens, temos a possibilidade de compreender o que se passou com aquela família abençoada – tão comum que bem poderia ser a nossa! –, submetida a circunstâncias incrivelmente dramáticas. Tamanha provação escancarou a fragilidade da condição humana!
Enquanto está na plateia de O Impossível, você, caro cinéfilo, pode projetar sua condição de mãe, pai, filho, irmão, avô, avó, amigo... A nacionalidade dos personagens não importa, nem seu padrão de vida ou sua bagagem cultural; você apenas segue os fatos como eles aconteceram, num ritmo frenético e eletrizante de tensão e alívio. Tal agilidade foi estabelecida por Sergio G. Sanchez, o roteirista. Ele trabalhou diretamente com Maria Belón e os demais membros da família, para colher relatos detalhados. Também conversou com outros sobreviventes, parentes das vítimas e voluntários, para construir um painel realista, não só em termos factuais, mas principalmente emocionais.A história verídica de Maria Belón foi amplamente divulgada na época e o diretor Juan Antonio Bayona percebeu a oportunidade de levá-la para além do discurso documental. Fez o espectador mergulhar no caldo de choque e perplexidade, para confrontar primeiro a dor, o desespero, o sacrifício e o sentimento de perda, para só depois encontrar esperança, alívio, alegria e gratidão. Pelos olhos dos personagens, temos a possibilidade de compreender o que se passou com aquela família abençoada – tão comum que bem poderia ser a nossa! –, submetida a circunstâncias incrivelmente dramáticas. Tamanha provação escancarou a fragilidade da condição humana!
A verossimilhança emocional é a grande força de O Impossível, mas não a única. O realismo que o diretor trouxe para a tela é impressionante, resultado de um excelente trabalho técnico e artesanal; as cenas da onda gigante, que duram pouco mais de dez minutos, demandaram um ano do planejamento. Há poucos efeitos digitais de pós-produção e muito esforço durante as filmagens. Além da direção segura de Juan Antonio Bayona, é preciso registrar as ótimas interpretações de Naomi Watts, Ewan McGregor e do garoto Tom Holland, que já revelava seu potencial de grande astro do cinema. Vale a pena conferir!
Resenha crítica do filme O Impossível
Data de produção: 2012
Direção: Juan Antonio Bayona
Roteiro: Sergio G. Sanchez
Elenco: Naomi Watts, Tom Holland, Ewan McGregor, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast, Sönke Möhring, Geraldine Chaplin e Emilio Riccardi
Direção: Juan Antonio Bayona
Roteiro: Sergio G. Sanchez
Elenco: Naomi Watts, Tom Holland, Ewan McGregor, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast, Sönke Möhring, Geraldine Chaplin e Emilio Riccardi
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