Escritores da Liberdade: uma professora de literatura muda a vida dos alunos
Escritores da Liberdade: filme dirigido por Richard LaGravenese
Aos dezesseis, abri a gaveta e esbarrei no livro. Para minha surpresa, as letras já não estavam embaralhadas e as frases agora faziam sentido. Segui página por página com atenção e consegui decifrar o conteúdo em poucas semanas. O que havia mudado? Certamente, a minha cabeça! Meu cérebro em formação havia passado para uma nova fase; aparelhou-se para alcançar conhecimentos mais elevados. Se um ano antes me senti um burro tacanho, agora estava exultante de tanta inteligência. “A partir daqui, será ladeira acima!”, concluí, com a confiança renovada.
Ah, a adolescência! É apenas uma estação de baldeação, onde desembarcamos com pouca bagagem e muita desorientação. Quando e de onde sai, afinal, o próximo trem? Enquanto nosso esforço vai todo para a tarefa de afirmar ao mundo quem somos, não percebemos que personificamos a própria transformação. Compreender que essa é uma premissa biológica, contribui para aliviar um fardo incômodo; perceber que esta é uma vantagem competitiva, porém, é redentor! É libertador! Os adolescentes que compreendem isso tornam-se adultos mais aptos para chegar ao sucesso; a maioria de nós, entretanto, precisa que alguém nos indique o caminho.
Uma que se dispôs a desempenhar esse papel de sinaleiro foi a professora Erin Gruwell, que começou a lecionar no ensino médio em Long Beach, na Califórnia, em 1994. Ela se viu diante de uma turma considerada de alto risco, composta por negros, latinos e asiáticos, todos raivosos membros de gangues. Disposta a salvar aqueles adolescentes enjeitados, que cotidianamente entravam na sala de aula vitimados por tensões étnicas e sociais – e pelo convívio com a violência –, ela conseguiu realizar algo que parecia impossível: os transformou a todos em escritores! Essa história verdadeira e inspiradora é contada com empolgação no filme Escritores da Liberdade, escrito e dirigido em 2007 por Richard LaGravenese.
O filme é baseado no livro O Diário dos Escritores da Liberdade, escrito pela professora Erin Gruwell em conjunto com os seus alunos da Escola Secundária Woodrow Wilson, publicado em 1999. Ao propor o formato de diário, a professora motivou cada um dos jovens a encontrar sua própria voz e narrar suas pesadas histórias de vida; deu-lhes uma ferramenta para lidar com as desventuras e incutiu-lhes a noção de tolerância como mediadora das relações humanas. O diretor Richard LaGravenese conheceu essa história por meio de um programa de entrevistas na televisão; leu o livro e cismou em adaptá-lo para as telas. Durante seis anos tentou obter financiamento, mas só viu o projeto se concretizar quando a atriz Hilary Swank decidiu se engajar, inclusive como produtora executiva.
Logo no início de Escritores da Liberdade, quando professora Erin Gruwell (Hilary Swank) chega para o seu primeiro dia de aula, vestida num elegante traje vermelho, ornado com um ostentoso colar de pérolas, o espectador não tem dúvidas: ela será massacrada. Os adolescentes em ebulição, segmentados em gangues rivais, a enxergam como uma inimiga em comum, perfeita representante de um sistema opressor dominado pelos brancos e ricos; e o pior: uma sem noção, que não tem nada para ensinar além de... literatura!
Para complicar, além de conquistar o respeito dos alunos, Erin Gruwell precisará vencer a forte oposição dos diretores da escola, contrários aos seus métodos. Às derrotas e contratempos, pequenas vitórias se sobrepõem aqui e ali; quando nos damos conta, a suavidade persistente da professora vence. Mas estamos apenas na metade do filme! O que vem a seguir é surpreendente. Alunos e professora dão passos gigantescos, muito além do que ousaríamos imaginar nas primeiras cenas. As conexões entre a literatura, a história da humanidade e a própria realidade enfrentada pelos alunos ganham contornos mais nítidos. A criatividade e a ousadia viram forças motivadoras para que a turma realize feitos inimagináveis – e reais!
O diretor Richard LaGravenese tem larga experiência na indústria do cinema – escreveu O Pescador de Ilusões, O Encantador de Cavalos e As Pontes de Madison, entre outros. Para Escritores da Liberdade ele chegou a escrever 21 tratamentos, até encontrar o tom certo da história. Fez uma busca exaustiva para escalar os atores e depois os submeteu a um curso similar àquele ministrado pela professora Gruwell: tiveram que escrever seus próprios diários e passar pelos mesmos processos de aprendizado dos personagens.
A direção de Richard LaGravenese é convencional e eficaz; não se arrisca com ousadias ou inovações, mas tenta tirar proveito de todos os recursos que tem à disposição – em especial o carisma de Hilary Swank, que domina o filme. Depois dos inevitáveis estereótipos que o diretor nos apresenta no primeiro ato, ele nos deixa ver os personagens com um pouco mais de profundidade no decorrer do filme. A narrativa segue fluente, num ritmo seguro, amparada por um texto bem escrito, que dá ao elenco a oportunidade de passar credibilidade.
Para quem se preocupa com os rumos da educação, Escritores da Liberdade traz uma mensagem otimista e edificante, focada no esforço pessoal e na importância das interações sociais. Apesar do tratamento VIP que recebeu no filme, o livro não conheceu um mar de rosas na vida real; acusado de promover a pornografia e estimular a sexualidade precoce, encontrou resistência em vários círculos conservadores e acabou banido de várias escolas americanas. A propósito, seu título original é The Freedom Writers Diary: How a Teacher and 150 Teens Used Writing to Change Themselves and the World Around Them. Numa tradução livre, seria algo como O Diário dos Escritores da Liberdade: Como Uma Professora e 150 Adolescentes Usaram a Escrita Para Transformar a Eles Próprios e o Mundo ao Seu Redor.Título original: Freedom Writers
A LITERATURA TRANSFORMA VIDAS
Aos quinze anos já me interessava por linguagem e comunicação. Adorava desenhar e corria o risco de criar minhas próprias histórias em quadrinhos, mas não conseguia avançar para além da primeira página; resolvi o problema numa passagem pela livraria da escola: comprei um livro sobre o tema, de autoria do professor Moacy Cirne, intitulado Para Ler os Quadrinhos. Foi frustrante! Não consegui entender nada. Patavina! Sem apreender o sentido das frases, engavetei o livro e lamentei o dinheiro gasto com tamanha inutilidade.Aos dezesseis, abri a gaveta e esbarrei no livro. Para minha surpresa, as letras já não estavam embaralhadas e as frases agora faziam sentido. Segui página por página com atenção e consegui decifrar o conteúdo em poucas semanas. O que havia mudado? Certamente, a minha cabeça! Meu cérebro em formação havia passado para uma nova fase; aparelhou-se para alcançar conhecimentos mais elevados. Se um ano antes me senti um burro tacanho, agora estava exultante de tanta inteligência. “A partir daqui, será ladeira acima!”, concluí, com a confiança renovada.
Ah, a adolescência! É apenas uma estação de baldeação, onde desembarcamos com pouca bagagem e muita desorientação. Quando e de onde sai, afinal, o próximo trem? Enquanto nosso esforço vai todo para a tarefa de afirmar ao mundo quem somos, não percebemos que personificamos a própria transformação. Compreender que essa é uma premissa biológica, contribui para aliviar um fardo incômodo; perceber que esta é uma vantagem competitiva, porém, é redentor! É libertador! Os adolescentes que compreendem isso tornam-se adultos mais aptos para chegar ao sucesso; a maioria de nós, entretanto, precisa que alguém nos indique o caminho.
Uma que se dispôs a desempenhar esse papel de sinaleiro foi a professora Erin Gruwell, que começou a lecionar no ensino médio em Long Beach, na Califórnia, em 1994. Ela se viu diante de uma turma considerada de alto risco, composta por negros, latinos e asiáticos, todos raivosos membros de gangues. Disposta a salvar aqueles adolescentes enjeitados, que cotidianamente entravam na sala de aula vitimados por tensões étnicas e sociais – e pelo convívio com a violência –, ela conseguiu realizar algo que parecia impossível: os transformou a todos em escritores! Essa história verdadeira e inspiradora é contada com empolgação no filme Escritores da Liberdade, escrito e dirigido em 2007 por Richard LaGravenese.
O filme é baseado no livro O Diário dos Escritores da Liberdade, escrito pela professora Erin Gruwell em conjunto com os seus alunos da Escola Secundária Woodrow Wilson, publicado em 1999. Ao propor o formato de diário, a professora motivou cada um dos jovens a encontrar sua própria voz e narrar suas pesadas histórias de vida; deu-lhes uma ferramenta para lidar com as desventuras e incutiu-lhes a noção de tolerância como mediadora das relações humanas. O diretor Richard LaGravenese conheceu essa história por meio de um programa de entrevistas na televisão; leu o livro e cismou em adaptá-lo para as telas. Durante seis anos tentou obter financiamento, mas só viu o projeto se concretizar quando a atriz Hilary Swank decidiu se engajar, inclusive como produtora executiva.
Logo no início de Escritores da Liberdade, quando professora Erin Gruwell (Hilary Swank) chega para o seu primeiro dia de aula, vestida num elegante traje vermelho, ornado com um ostentoso colar de pérolas, o espectador não tem dúvidas: ela será massacrada. Os adolescentes em ebulição, segmentados em gangues rivais, a enxergam como uma inimiga em comum, perfeita representante de um sistema opressor dominado pelos brancos e ricos; e o pior: uma sem noção, que não tem nada para ensinar além de... literatura!
Para complicar, além de conquistar o respeito dos alunos, Erin Gruwell precisará vencer a forte oposição dos diretores da escola, contrários aos seus métodos. Às derrotas e contratempos, pequenas vitórias se sobrepõem aqui e ali; quando nos damos conta, a suavidade persistente da professora vence. Mas estamos apenas na metade do filme! O que vem a seguir é surpreendente. Alunos e professora dão passos gigantescos, muito além do que ousaríamos imaginar nas primeiras cenas. As conexões entre a literatura, a história da humanidade e a própria realidade enfrentada pelos alunos ganham contornos mais nítidos. A criatividade e a ousadia viram forças motivadoras para que a turma realize feitos inimagináveis – e reais!
O diretor Richard LaGravenese tem larga experiência na indústria do cinema – escreveu O Pescador de Ilusões, O Encantador de Cavalos e As Pontes de Madison, entre outros. Para Escritores da Liberdade ele chegou a escrever 21 tratamentos, até encontrar o tom certo da história. Fez uma busca exaustiva para escalar os atores e depois os submeteu a um curso similar àquele ministrado pela professora Gruwell: tiveram que escrever seus próprios diários e passar pelos mesmos processos de aprendizado dos personagens.
A direção de Richard LaGravenese é convencional e eficaz; não se arrisca com ousadias ou inovações, mas tenta tirar proveito de todos os recursos que tem à disposição – em especial o carisma de Hilary Swank, que domina o filme. Depois dos inevitáveis estereótipos que o diretor nos apresenta no primeiro ato, ele nos deixa ver os personagens com um pouco mais de profundidade no decorrer do filme. A narrativa segue fluente, num ritmo seguro, amparada por um texto bem escrito, que dá ao elenco a oportunidade de passar credibilidade.
Para quem se preocupa com os rumos da educação, Escritores da Liberdade traz uma mensagem otimista e edificante, focada no esforço pessoal e na importância das interações sociais. Apesar do tratamento VIP que recebeu no filme, o livro não conheceu um mar de rosas na vida real; acusado de promover a pornografia e estimular a sexualidade precoce, encontrou resistência em vários círculos conservadores e acabou banido de várias escolas americanas. A propósito, seu título original é The Freedom Writers Diary: How a Teacher and 150 Teens Used Writing to Change Themselves and the World Around Them. Numa tradução livre, seria algo como O Diário dos Escritores da Liberdade: Como Uma Professora e 150 Adolescentes Usaram a Escrita Para Transformar a Eles Próprios e o Mundo ao Seu Redor.
Resenha crítica do filme Escritores da Liberdade
Ano de produção: 2007
Direção: Richard LaGravenese
Roteiro: Richard LaGravenese
Direção: Richard LaGravenese
Roteiro: Richard LaGravenese
Elenco: Hilary Swank, Imelda Staunton, Patrick Dempsey, Scott Glenn, April L. Hernandez, Jacklyn Ngan, Kristin Herrera, Mario Barrett, Sergio Montalvo, Jason Finn, Deance Wyatt, Vanetta Smith, Gabriel Chavarria, Hunter Parrish, Antonio García, Giovonnie Samuels e Pat Carrol
Vi este filme. Muito bom. Fala de pessoas que fazem a sua parte. Bom exemplo de que muitas vezes mesmo em situação difícil dá para fazer alguma coisa de valor.
ResponderExcluir