Klaus: um jeito diferente de enxergar o Papai Noel

Cena do filme Klaus
Klaus: filme dirigido por Sergio Pablos

UM JEITO DIFERENTE DE ENXERGAR O PAPAI NOEL

Ao longo da vida já enxerguei a noite de Natal por diferentes ângulos. Quando criancinha, olhando os adultos de baixo para cima, sonolento dado o avançar das horas, só prestava atenção no colorido dos papéis de presente, tentando adivinhar qual deles seria o meu. Quando cresci e passei a enxergar o tampo da mesa, só tinha olhos para a fartura da ceia. Quando comecei a trabalhar, senti o prazer de poder presentear. Quando me casei, precisei me desdobrar em dois, um ano lá outro cá. Quando minha filha nasceu me peguei olhando de cima para baixo, tentando manter as tradições. Quando amadureci, entendi que confraternizar era mais do que apenas levantar brindes e tilintar os copos.
        Aprendi os significados religiosos do Natal e ao longo dos anos percebi os laços familiares se apertando ao meu redor, conforme os mais singelos presentes eram trocados. Senti a falta dos que partiram. Comemorei a chegada dos agregados. Lamentei ausências, troquei abraços, conquistei respeito, agradeci por estar ao lado dos que me são mais caros...
        Já comemorei 60 Natais, alguns na companhia de muitos, outros, cercado de poucos. Em alguns fui com certo entusiasmo consumista, em outros com uma postura mais espiritual. Hoje, observo Ludy se dedicando às minúcias da ceia e me ponho mais reflexivo. Aprendi com minha mulher que o espírito do Natal é feito de caridade e que caridade tem um tanto de beneficência para dez tantos de simples vontade de fazer o bem. Que os pequenos gestos altruístas e desinteressados têm grande valor.
        Para expressar a necessidade de ser caridoso e mostrar que para receber uma caridade é preciso fazer por merecer, nós ocidentais criamos toda uma simbologia ao redor do Natal. Um dos símbolos mais onipresentes em todas as comemorações é o Papai Noel, um personagem descrito em incontáveis lendas e contos. Foi inspirado em São Nicolau e ganhou popularidade nos anos 1930 graças a uma campanha da Coca-Cola.
        Quando pensava que não havia nada mais a ser dito sobre o Papai Noel, eis que surge um animador espanhol e decide recontar sua história, explicando as origens do seu trenó voador, das renas, do traje vermelho, das chaminés... Sergio Pablos, um dos roteiristas e criadores de Meu Malvado Favorito, realizou em 2019 a animação Klaus e conseguiu agradar tanto as crianças como os adultos com sua abordagem original, criativa e sensível.
        Imagino que para costurar seu roteiro, Pablos deve ter feito a si mesmo uma pergunta crucial: qual é o elemento que faz a ligação entre o bom velhinho e as crianças ansiosas por presentes? O Carteiro, ora! A partir daí o diretor inventou a história de Jesper, um filhinho de papai mimado, despachado para as lonjuras das terras nórdicas onde tem que administrar uma agência dos correios numa cidade onde os habitantes só pensam em guerrear. Para gerar demanda, ele estimula as crianças a escrever cartas pedindo presentes a um certo Klaus, um sujeito que ainda nem sabe que acabará se tornando Papai Noel – ou Santa Claus para as anglófonos.
        Para que as cartas cheguem ao velho Klaus, as crianças precisam... aprender a escrever! Para que os presentes sejam entregues é preciso... vontade de fazer o bem! As complicações em série vão criando situações divertidas, tratadas em tom de aventura e também com algo de poesia. Os personagens vão ganhando profundidade, as mesquinharias vão dando lugar ao altruísmo e no final temos uma história envolvente, em total coerência com o espírito do Natal.
        A concepção visual de Klaus é bastante elaborada, apresentando uma mistura entre a linguagem em 3D das animações digitais e os belos traços em 2D das animações tradicionais. A trilha sonora assinada por Alfonso González Aguilar é ágil e moderna, mas também eficiente em criar atmosferas sentimentais e envolventes. Na versão brasileira, as vozes são de Rodrigo Santoro, Fernanda Vasconcellos e Daniel Boaventura.
        O personagem do carteiro fútil e egoísta, que termina por encontrar dentro de si a imensa satisfação em praticar a caridade, funciona como complemento à lenda do Papai Noel. Ao mesmo tempo, ao mostrar que o bom velhinho tem uma natureza humana e que as lendas ao redor dele foram construídas a partir de experiências na vida real, Sergio Pablos cria novas camadas para o personagem e fortalece os laços de empatia com os espectadores – em especial com as crianças.
        Klaus é uma animação de qualidade, que nos leva a enxergar o natal por um ângulo diferente. Vale a pena reunir a família e dar o play!

Resenha crítica do filme de animação Klaus

Ano de produção: 2019
Diretor: Sergio Pablos
Roteiro: Sergio Pablos, Jim Mahoney e Zach Lewis
Vozes na versão em português: Rodrigo Santoro, Fernanda Vasconcellos e Daniel Boaventura, com direção de dublagem de Manolo Rey

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