Looper - Assassinos do Futuro: thriller sobre viagem no tempo

Cena do filme Looper - Assassinos do Futuro
Looper - Assassinos do Futuro: filme dirigido pot Rian Johnson

VIAGEM NO TEMPO, NUM ÓTIMO TRABALHO DE ATRORES

Os cinéfilos da minha geração aprenderam desde cedo que as viagens no tempo são perfeitamente possíveis. Nasci em 1960, o mesmo ano em que foi lançado o filme A Máquina do Tempo, dirigido por George Pal. Trata-se de uma adaptação do romance de 1895 escrito por H. G. Wells, o autor que trouxe o tema para a linha de frente da ficção científica. Só fui assistir a esse filme nos anos 1970, quando foi exibido na televisão; o acompanhei com certo desinteresse, já que não percebi grandes novidades na trama – o tema era repisado com insistência semanal na série O Túnel do Tempo, a minha favorita na infância.
        Ah, que série memorável! Foram 30 episódios levados ao ar entre 1966 e 1967. As peripécias dos dois cientistas que saltavam a esmo pela quarta dimensão, enquanto tomavam parte em eventos históricos e esbarravam em grandes vultos, mexiam com a minha imaginação de criança. As tramas irradiavam ingenuidade e dispensavam grandes explicações científicas; tudo o que precisávamos saber é que a tal máquina do tempo era parte de um megaprojeto governamental, enterrado vários andares no meio do deserto – por certo o mesmo que testemunhou o nascimento da bomba atômica. Depois de cada episódio, era só interrogar o professor de história na sala de aula, para saber sobre os erros e os acertos no roteiro.
        O fato é que o diretor e produtor Irwin Allen acertava sempre! Ele também era o principal nome por trás de outras séries populares da televisão, como Perdidos no Espaço, Terra de Gigantes e Viagem ao Fundo Mar; e foi além das séries moldadas para a telinha: dirigiu megassucessos do cinema catástrofe, como O Destino do Poseidon e Inferno na Torre. Era um sujeito com vocação para o espetáculo e contribuiu para preencher o imaginário de uma geração inteira com seus devaneios futuristas.
        Dentre todas as substâncias manipuladas pela ficção científica, a viagem no tempo é a mais fascinante, mas é algo espinhosa. Criar uma trama convincente, com idas e vindas temporais verossímeis, exige elaboração em alto nível de detalhamento; o pretenso roteirista tem que ser capaz de fornecer explicações plausíveis para qualquer ação que escape ao senso comum. É aí que está o problema: fica difícil evitar as cenas explicativas, o que pode arrastar a narrativa para o terreno do didático e do enfadonho. Um dos filmes mais consistentes sobre o tema é Looper – Assassinos do Futuro, filme de 2012 dirigido por Rian Johnson. O cineasta conseguiu contornar essa dificuldade e escreveu um ótimo thriller de ação, com fartas doses de ficção científica.
        Nessa produção empolgante, Joe é um “looper”, um matador de aluguel pago por gângsteres do futuro, que despacham suas vítimas para serem executadas e desovadas no passado. O protagonista faz seu trabalho com afinco e sem remorsos; sabe que, cedo ou tarde, verá o seu próprio eu do futuro surgindo na sua frente, amarrado e encapuzado, para que ele mesmo o mate. Esse é o combinado e é isso que Joe pretende fazer, sem pestanejar.
        O problema é que quando o Joe do futuro aparece, 30 anos mais velho, consegue escapar da morte e causar um rebuliço entre os gângsteres. O jovem Joe, viciado em drogas, moralmente fraco e aferrado ao código de honra dos bandidos, tem que fugir para não ser punido com a morte, enquanto persegue seu eu do futuro, para executá-lo sem piedade – só pensa em se redimir. Já o velho Joe, calejado e moldado pelos anos, tem forte motivo para permanecer vivo: vingar a morte da mulher que no futuro se tornará o grande amor da sua vida.
        O ponto alto de Lopper – Assassinos do Futuro é juntamente o confronto de Joe consigo mesmo. O jovem, interpretado por Joseph Gordon-Levitt, rivaliza em frieza e determinação com o velho, vivido por Bruce Willis. O trabalho dos atores é excelente, mas o roteiro bem estruturado de Rian Johnson, com diálogos afiados, também elevou o nível da produção. E é preciso destacar também a participação de Emily Blunt, que enche a tela com sua presença hipnótica – aliás, todo o elenco desse filme está de parabéns!
        Apesar de realizar um filme independente, com grande potencial para discutir temas maduros em maior profundidade, o diretor não resistiu à tentação de ampliar o espectro de público. Incluiu sequências mais palatáveis aos jovens que apreciam o universo das produções ao estilo X-Men. Agiu correto do ponto de vista comercial e conquistou espaço na indústria do cinema para realizar sucessos como Star Wars: Os Últimos Jedi e Entre Facas e Segredos; nos cinéfilos mais exigentes, porém, só conseguiu atiçar o desejo de assistir a um filme sobre viagem no tempo mais denso e elaborado. Pelo menos conseguiu nos entregar entretenimento de qualidade.

Resenha crítica do filme Looper: Assassinos do Futuro

Ano de produção: 2012
Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Elenco: Bruce Willis, Joseph Gordon-Levitt, Emily Blunt, Paul Dano, Noah Segan, Piper Perabo e Jeff Daniels

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