O Substituto: os dramas pessoais de um professor
O Substituto: filme dirigido por Tony Kaye
DENSO E DELICADO, UM FILME QUE TEM MUITO A ENSINAR
Há tempos – antes da pandemia – assisti a uma palestra onde o palestrante, para desenvolver seu raciocínio sobre a dinâmica do aprendizado, estabeleceu a diferença entre ser um aluno e ser um estudante. Usou uma das palavras para se referir à postura acomodada de quem só consome o conhecimento posto à sua frente; a outra palavra ele usou para ressaltar a atitude proativa de quem vai além e busca por mais conhecimento.
– Que bobagem! – pensei. – Aluno e estudante são sinônimos. E quanto à predisposição em buscar mais conhecimento, é uma característica individual. Ponha 30 jovens numa sala de aula e terá 30 atitudes diferentes! O que realmente faz a diferença é o professor!
Por definição, um aluno ou estudante é alguém orientado por um mestre. Não tenho formação em pedagogia e minha única experiência em sala de aula é a dos que se sentam nas carteiras; sei, no entanto, que o aprendizado é muito mais rápido e efetivo quando vem sistematizado por alguém que se disponha a ensinar; a compartilhar experiências. O argumento do palestrante caiu por terra e ao invés de prestar atenção na sua retórica, passei a divagar sobre o filme O Substituto, de 2011, dirigido por Tony Kaye.
Havia assistido a esse filme fazia poucos dias e a trama ainda estava fresca na minha memória: o protagonista é Henry Barthes, um professor de literatura do ensino médio, que parece estar em perfeita sintonia com os jovens aos quais ensina, mas faz questão de não estabelecer vínculos duradouros com eles. O título original em inglês, Detachment – um termo que pode ser traduzido como distanciamento, indiferença ou... desapego! – nos dá uma pista do estado de espírito do protagonista; um professor substituto que cobre, por curtos períodos, a ausência de professores titulares; de escola em escola, de turma em turma, transita por um sistema educacional cheio de falhas, convive com professores desmotivados, alunos desinteressados, pais displicentes...
Por definição, um aluno ou estudante é alguém orientado por um mestre. Não tenho formação em pedagogia e minha única experiência em sala de aula é a dos que se sentam nas carteiras; sei, no entanto, que o aprendizado é muito mais rápido e efetivo quando vem sistematizado por alguém que se disponha a ensinar; a compartilhar experiências. O argumento do palestrante caiu por terra e ao invés de prestar atenção na sua retórica, passei a divagar sobre o filme O Substituto, de 2011, dirigido por Tony Kaye.
Havia assistido a esse filme fazia poucos dias e a trama ainda estava fresca na minha memória: o protagonista é Henry Barthes, um professor de literatura do ensino médio, que parece estar em perfeita sintonia com os jovens aos quais ensina, mas faz questão de não estabelecer vínculos duradouros com eles. O título original em inglês, Detachment – um termo que pode ser traduzido como distanciamento, indiferença ou... desapego! – nos dá uma pista do estado de espírito do protagonista; um professor substituto que cobre, por curtos períodos, a ausência de professores titulares; de escola em escola, de turma em turma, transita por um sistema educacional cheio de falhas, convive com professores desmotivados, alunos desinteressados, pais displicentes...
Em O Substituto, acompanhamos o recorte de um mês na vida de Henry Barthes (Adrien Brody), enquanto o vemos se relacionar com vários professores, administradores e alunos do ensino médio. Eis que três mulheres distintas cruzam sua vida: Erica (Sami Gayle), uma prostituta adolescente que ele decide acolher em sua própria casa, Sarah (Christina Hendricks), uma professora com quem vale a pena se relacionar e Meredith (Betty Kaye), uma adolescente às voltas com problemas próprios da idade. As três o levam a confrontar seus próprios problemas e reviver os demônios internos que o assombram desde a infância.
Não espere uma reviravolta ou um ponto de virada, como acontece nos filmes edificantes, que festejam as grandes parcerias entre mestres e seus alunos. O Substituto é denso, introspectivo e delicado. Está focado num personagem complexo, ciente dos seus talentos para ensinar, que cai numa turma de alunos problemáticos e divide sua vocação com a necessidade de dar conta dos seus dramas pessoais. O diretor Tony Kaye nos conduz por um meio ambiente de tristeza e introspecção, focalizando os personagens com sua câmera displicente; mas também busca enquadramentos amplos e despojados, que ressaltam a solidão e colocam o espaço urbano, repleto de miséria e melancolia, como um incômodo pano de fundo.
Não espere uma reviravolta ou um ponto de virada, como acontece nos filmes edificantes, que festejam as grandes parcerias entre mestres e seus alunos. O Substituto é denso, introspectivo e delicado. Está focado num personagem complexo, ciente dos seus talentos para ensinar, que cai numa turma de alunos problemáticos e divide sua vocação com a necessidade de dar conta dos seus dramas pessoais. O diretor Tony Kaye nos conduz por um meio ambiente de tristeza e introspecção, focalizando os personagens com sua câmera displicente; mas também busca enquadramentos amplos e despojados, que ressaltam a solidão e colocam o espaço urbano, repleto de miséria e melancolia, como um incômodo pano de fundo.
O roteiro que ele filmou é muito bem escrito, com diálogos afiadíssimos. O roteirista Carl Lund, ele mesmo um professor que vivenciou a realidade exposta em O Substituto, não se apega apenas aos elementos perturbadores da história; consegue explorar o tema e retirar algo de instigante e inspirador para prender a atenção do espectador. Seu estilo narrativo prioriza o contar ao invés do dramatizar, o que tem o efeito de eliminar as pieguices melodramáticas; o roteirista prefere usar e abusar das referências literárias, preenchendo as linhas de diálogo com versos e citações. Recebemos do filme mais do que pacotes prontos de emoções, mas oportunidades para refletir sobre as dores e anseios dos personagens, suas perdas e ganhos, seus desejos crenças e valores. Tudo isso num tom poético, maduro e, de certa forma, edificante.
Depois de assistir a O Substituto, concluí que todos nós, em algum momento, nos tornamos professores. Dos nossos filhos, dos nossos amigos, colegas, conhecidos... Não é tarefa fácil, mas há recompensas. Como faz Henry Barthes, só precisamos tentar dar conta das transformações que o ato de ensinar gera em todos, tanto nos que ensinam como nos que aprendem.
Depois de assistir a O Substituto, concluí que todos nós, em algum momento, nos tornamos professores. Dos nossos filhos, dos nossos amigos, colegas, conhecidos... Não é tarefa fácil, mas há recompensas. Como faz Henry Barthes, só precisamos tentar dar conta das transformações que o ato de ensinar gera em todos, tanto nos que ensinam como nos que aprendem.
Resenha crítica do filme O Substituto
Título original: DetachmentAno de produção: 2011
Direção: Tony Kaye
Roteiro: Carl Lund
Elenco: Adrien Brody, Marcia Gay Harden, Christina Hendricks, William Petersen, Bryan Cranston, Tim Blake Nelson, Betty Kaye, Sami Gayle, Lucy Liu, Blythe Danner, James Caan, Louis Zorich, Isiah Whitlock Jr., Brennan Brown, Renée Felice Smith, Doug E. Doug, Ronen Rubinstein e Stefan Avramoski
Direção: Tony Kaye
Roteiro: Carl Lund
Elenco: Adrien Brody, Marcia Gay Harden, Christina Hendricks, William Petersen, Bryan Cranston, Tim Blake Nelson, Betty Kaye, Sami Gayle, Lucy Liu, Blythe Danner, James Caan, Louis Zorich, Isiah Whitlock Jr., Brennan Brown, Renée Felice Smith, Doug E. Doug, Ronen Rubinstein e Stefan Avramoski
Pena! Não ví. Um elenco e tanto!!
ResponderExcluirÉ um filme muito bem escrito e interpretado, com uma direção madura e afiada. Vale a pena conferir.
ExcluirFilme espetacular! Merece ser assistido. Recomendo.
ResponderExcluirDeve ser muito interessante. Espero encontrar em alguma plataforma de streaming
ResponderExcluirAh, recentemente vi o filme na grade de programação da HBO.
ExcluirVou ver se encontro em alguma plataforma.
ResponderExcluirVale a pena buscar. Vou procurar também e se encontrar aviso aqui nos comentários.
ExcluirEstá na Pluto TV de graça
ExcluirAh, obrigado, Cleusa! É bom saber que o filme está facilmente disponível!
Excluirhttps://click.justwatch.com/a?r=https://www.justwatch.com/br/filme/o-substituto?utm_source=share&utm_medium=android
ResponderExcluirNão vi o filme, sua análise perfeita paro pra pensar ,vc é genial instigando desejo de ver o filme e sua análise
ResponderExcluirQue me fez pensar.Bom dia Mestre
É sempre um prazer ler as suas crônicas.
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