Uma Segunda Chance: filme estrelado por Harrison Ford

Cena do filme Uma Segunda Chance
Uma Segunda Chance: filme dirigido por Mike Nichols

UM GRANDE ROTEIRO DESPERDIÇADO 

Entre os incontáveis títulos disponíveis nos serviços de streaming, há muitos que nem sequer conheço. Então, de vez em quando reservo um tempinho para o garimpo – atividade que exige paciência e nem sempre surte bons resultados. Nesta semana, o filme que caiu na minha bateia foi Uma Segunda Chance, de 1991, dirigido por Mike Nichols e estrelado por Harrison Ford.
        Indo direto ao ponto: o filme é uma grande decepção. Conta uma história envolvente, tem narrativa fluente, elenco competente e design de produção esmerado. Mas não funciona! Assistindo ao filme, na medida em que as cenas aconteciam, ficava cada vez mais intrigado: por que o filme não acontece? Por que não emociona?
        Uma Segunda Chance conta a história de Henry Turner, um advogado bem-sucedido, que está no topo da cadeia alimentar do mundo dos negócios em Nova Iorque. É dono de uma ambição desmedida e de um caráter duvidoso, que não o impede de trapacear para vencer. É um péssimo pai, um marido infiel e... um fumante! Certa noite sai para comprar cigarros e é baleado na cabeça. Com danos cerebrais, vira uma criança sem memória. Agora precisa reaprender a viver ao lado da família, mas tem também uma nova chance para corrigir sua conduta e melhorar como ser humano.
        Harrison Ford entregou uma ótima atuação, contida e sensível. Annette Bening e o restante do elenco deram conta do recado. As cenas são bem escritas e os diálogos impecáveis. A culpa, concluí, foi mesmo do diretor. Sua filmografia é diversificada e incluí títulos como A Gaiola das Loucas, Closer – Perto Demais e Jogos do Poder. Mas aqui ele não encontrou o tom certo. Desafinou ao rodar um melodrama, quando deveria ter percebido a vocação de comédia romântica estabelecida pelo roteiro.
        Ver Mike Nichols desperdiçar ótimas cenas e textos inspirados, mantendo sua câmera longe demais, sem movimentá-la, me fez contorcer na poltrona. Não havia densidade dramática para o que ele estava tentando fazer com os personagens. Ao mesmo tempo, fiquei impressionado com o roteiro bem construído. Nas mãos de outro diretor mais inspirado renderia um filme emocionante.
        Quando terminou, retornei ao começo para examinar os créditos e descobrir quem era o roteirista: um tal de Jeffrey Abrams. A ficha só caiu quando fui pesquisar sobre ele na internet. Ora, trata-se de ninguém menos que J J Abrams, o garoto prodígio de Hollywood que se tornou um dos maiores nomes do cinema arrasa quarteirão. Ele escreveu o roteiro de Uma Segunda Chance aos 23 anos – foi o segundo que vendeu para um grande estúdio.
        Aprendi muito assistindo a esse filme. Primeiro, identificando a pontuação e os ganchos narrativos indicados no roteiro, que o diretor não soube aproveitar. Depois, percebendo que seguir protocolos não é suficiente para realizar um bom filme. É preciso usar o estilo certo na hora de vestir uma história. Acho que o filme merecia uma segunda chance, ou melhor, um remake!

Resenha crítica do filme Uma Segunda Chance

Ano de produção: 1991
Direção: Mike Nichols
Roteiro: J. J. Abrams
Elenco: Harrison Ford e Annette Bening

Comentários

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema