A Dama Dourada: a história real do retrato de Adele Bloch-Bauer

Cena do filme A Dama Dourada
A Dama Dourada: filme dirigido por Simon Curtis

UM FILME ELEGANTE E SENSÍVEL, COM DOSES EXATAS DE DRAMATIZAÇÃO

Gustav Klimt conquistou um lugar especial como expoente da Art Nouveau. Seus quadros são facilmente reconhecidos pela beleza extravagante, pela originalidade e pela exuberância do estilo dourado, uma fase do seu trabalho que acabou perdendo a força com a ascensão do expressionismo. Tornou-se um orgulho do povo austríaco e conquistou seu lugar de destaque na história da arte. Quando pintou o retrato de Adele Bloch-Bauer, em 1907, por encomenda de Ferdinand, marido da socialite, o artista estava no seu auge. Quando os nazistas tomaram o poder na Áustria, a obra foi pura e simplesmente confiscada – junto com todo o valioso acervo da família!
        Depois da guerra, o quadro foi parar na Austrian State Gallery, virou patrimônio cultural do país e ficou por isso mesmo. Até que a descendente de Adele, sua sobrinha Maria Altman, conseguiu recuperar o quadro depois de uma árdua batalha jurídica. Essa história envolvente foi contada no documentário Roubando Klimt, realizado em 2007 pela BBC para a sua série Imagine. O diretor inglês Simon Curtis assistiu ao documentário e percebeu que a história merecia ser dramatizada, para mostrar o enorme custo emocional e revelar as nuances dos personagens interessantes que a protagonizaram. Foi o que fez no filme A Dama Dourada, que realizou em 2015.
        O filme é estrelado por Helen Mirren, no papel de Maria Altman e Ryan Reynolds, interpretando Randy Schoenberg, o jovem advogado que conseguiu uma proeza considerada impossível: vencer o estado Austríaco e recuperar uma propriedade tão icônica para sua dona legítima. Tal gesto teve um leve sabor de redenção para o povo judeu, que sofreu tantas perdas e injustiças irreparáveis.
        O roteiro do filme A Dama Dourada ficou a cargo de Alexi Kaye Campbell, inglês de origem grega, que depois de várias peças de teatro fez dessa a sua estreia no cinema. Ele desvendou a história densa e complexa de Maria Altman, com desdobramentos em diferentes épocas, e costurou um roteiro preciso, repleto de flashbacks pertinentes, onde mostrou o convívio da protagonista com a tia Adele Bloch-Bauer, seu relacionamento com os pais e a fuga para os Estados Unidos.
        Quanto ao advogado Randy Schoenberg, o roteirista encontrou um excelente gancho para inseri-lo no contexto dramático do filme A Dama Dourada. Como neto do grande compositor e teórico da música Arnold Shoenberg, o personagem resgata sua descendência austríaca e estabelece fortes vínculos emocionais com a dor dos seus antepassados, enquanto perambula pelos labirintos legais e tenta conseguir apoio para sua causa. Foi o que encontrou em Hubertus Czernin, o jornalista austríaco que lhe forneceu o caminho das pedras e conseguiu informações cruciais.
        Filmado em Londres, com locações em Viena e Los Angeles, o filme A Dama Dourada se vale de uma fotografia bela e elegante, assinada por Ross Emery. O período áureo de Klimt, o período nazista e os dias atuais foram retratados em paletas de cores com diferenças sutis, que denotaram sensibilidade artística. E em se tratando de uma produção britânica, vale dizer que a trilha sonora é impecável. Composta pelo grande Hans Zimmer, em parceira com Martin Phipps, ela dá ao filme uma atmosfera de thriller, conduzindo a expectativa da plateia que certamente já conhece o final dessa história.
        No filme A Dama Dourada, quem brilha é Helen Mirren, perfeita no papel, mas Ryan Reynolds também fez um excelente trabalho, assim como Tatiana Maslany, que interpreta Maria na juventude. Porém, quem consegue ofuscar nossa visão é mesmo Gustav Klimt, o grande artista cujas obras continuam hipnóticas e arrebatadoras.

Resenha crítica do filme A Dama Dourada

Ano de produção: 2015
Direção: Simon Curtis
Roteiro: Alexi Kaye Campbell
Elenco: Helen Mirren, Ryan Reynolds, Daniel Brühl, Katie Holmes, Tatiana Maslany, Max Irons, Charles Dance, Elizabeth McGovern e Jonathan Pryce

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