O Último Grande Herói: sátira inteligente dos filmes de ação, com toques de metalinguagem

Cena do filme O Último Grande Herói
O Último Grande Herói: filme de John McTiernan

UM COMPLETO E INESPERADO EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM

Minhas postagens na Crônica de Cinema são sempre aleatórias, resultado do meu humor e estado de espírito. É assim que garanto o caráter autoral do blog. Mas, de vez em quando, na hora de escolher um filme para comentar, esbarro numa boa sugestão dos amigos. Dessa vez, quando li o comentário da Jane Chiesse Zandonadi sobre o filme O Último Grande Herói, pensei: – Boa ideia! Eis aqui um filme que pode render uma boa conversa com os cinéfilos!
        Para quem ainda não associou o nome à figura, o filme em questão é aquela comédia de ação de 1993 estrelada por Arnold Schwarzenegger e dirigida por John McTiernan, sobre o garoto que, de repente, se vê transportado para a realidade paralela dos filmes de ação. Tornou-se um estrondoso fracasso de bilheteria, causado por uma série de decisões equivocadas tomadas pelos marqueteiros do estúdio – foi lançado praticamente junto com Jurassic Park - Parque dos Dinossauros, do Steven Spielberg, esse sim um arrasa-quarteirão!
        A sinopse de Último Grande Herói é simples: Danny Madigan, interpretado por Austin O'Brien, é um garoto que acaba de perder o pai para o câncer e encontra nos filmes de ação que enaltecem a violência uma forma de lidar com o luto e a tristeza. É fã incondicional de Jack Slater, o tipo infalível interpretado por Arnold Schwarzenegger, que nos filmes jamais morre e, portanto, jamais irá abandoná-lo. Quando ganha um ingresso mágico para uma sessão exclusiva, o garoto vai parar dentro do filme de Jack Slater e passa a fazer parte da trama. O problema é que, assim como o garoto conseguiu entrar no filme, a magia do ingresso permite que os bandidos deixem a tela e venham para o mundo real, causando dor e violência.
        O Último Grande Herói foi realizado como uma sátira aos filmes de ação de Hollywood, geralmente rasos, fúteis e construídos ao redor de clichês. Trouxe incontáveis oportunidades cômicas, fazendo referências a sucessos comerciais como O Exterminador do Futuro e Instinto Selvagem, além de abrir espaço para que inúmeras celebridades do cinema pudessem se promover fazendo pontas – O próprio Schwarzenegger, ator no mundo real, se vê envolvido com o Jack Slater que interpreta no filme... Mas espere aí! Estamos assistindo a um filme dentro de um filme! Hollywood visitando Hollywood! Em diversos momentos, esse exercício de metalinguagem funcionou muito bem e conseguiu efeitos relevantes, estabelecendo um diálogo inusitado com o espectador.
        Quando assisti a esse filme, lembro que o terceiro ato, sombrio e violento, causou surpresa. Não esperava que aquela comédia de ação pudesse enveredar pelo drama com alguma densidade. O efeito foi positivo para o filme: os clichês e amenidades do começo deixaram de ser pretexto para as boas risadas e ganharam sentido quando contrapostos às amarguras da realidade. Retrataram a superação do luto e o amadurecimento do garoto, ao mesmo tempo em que escancararam a natureza escapista do cinema comercial.
        O roteiro de O Último Grande Herói é uma colcha de retalhos, mas bem costurada. Foi escrito por Zak Penn e Adam Leff, dois jovens recém-formados em cinema, que tiveram a ideia para o filme – nada tão original, já que Woody Allen já havia singrado esses mares em 1985, quando realizou A Rosa Púrpura do Cairo. Conseguiram vender o roteiro para um grande estúdio, mas até que o filme fosse realizado, praticamente todas as cenas foram recriadas. David Arnott, Carrie Fisher e William Goldman foram alguns dos roteiristas que meteram o dedo na história, cujo tratamento final foi assinado por Shane Black – ironicamente, o roteirista de filmes como Máquina Mortífera e O Último Boy Scout, os tais filminhos de ação que Zak Penn e Adam Leff tiveram a ideia de satirizar.
        O próprio diretor John McTiernan, também egresso dos filmes de ação, tinha no currículo filmes como Duro de Matar e Caçada ao Outubro Vermelho. Mas é preciso dizer que seu trabalho de direção em O Último Grande Herói irradiou competência e segurança. O filme ganhou consistência e se tornou o mais importante na carreira de Arnold Schwarzenegger – pelo menos o que lhe proporcionou as melhores oportunidades de exercitar sua musculatura de ator.

Resenha crítica do filme O Último Grande Herói

Ano de produção: 1993
Direção: John McTiernan
Roteiro: Shane Black e David Arnott, baseados no roteiro original de Zak Penn e Adam Leff
Elenco: Arnold Schwarzenegger, F. Murray Abraham, Charles Dance, Tom Noonan, Austin O'Brien, Art Carney, Robert Prosky, Anthony Quinn e Bridgette Wilson

Comentários

Confira também:

Tempestade Infinita: drama real de resiliência e superação

Menina de Ouro: a história de Maggie Fitzgerald é real?

Siga a Crônica de Cinema