Encontro Marcado: explicando para a morte qual é o sentido da vida

Encontro Marcado: direção de Martin Brest
SE TIVESSE MAIS COMÉDIA, SERIA MELHOR
O que poderia dar errado? Você tem dois atores no auge da popularidade, que atuaram juntos em 1994 no sucesso Lendas da Paixão. Você tem um diretor festejado em Hollywood, que contabilizou em 1992 o estrondoso sucesso comercial chamado Perfume de Mulher. Você tem uma história charmosa, filmada e testada pela primeira vez em 1934, com o título de Uma Sombra que Passa – Death Takes a Holiday, no original. Você tem um certo verniz de dramaturgia, que marcou o teatro com a peça La Morte in Vacanza, escrita em 1923 pelo italiano Alberto Casella. Mas esse histórico de sucesso de nada adiantou quando Encontro Marcado, filme de Martin Brest, foi lançado em 1998: o ceifador cobrou seu preço nas bilheterias e o diretor ficou em maus lençóis com os executivos do estúdio – estourou cronogramas, foi além do orçamento e entregou um filme excessivamente longo, que desagradou a audiência e os exibidores.Passados todos esses anos, Encontro Marcado encontrou seu lugar de descanso nas TVs por assinatura e nos serviços de streaming. Esse drama fantasioso, com doses generosas de romantismo, consegue bons índices de audiência, garantidos por cinéfilos dispostos a acompanhar suas três horas de duração, desde que seja no conforto do lar. O filme traz acertos pontuais: uma interpretação segura de Anthony Hopkins, o visual impecável de Brad Pitt, o charme discreto de Claire Forlani e a celebração do luxo e da elegância, ao nos deixar bisbilhotar o mundo dos riquíssimos. Mas tropeça em defeitos: uma abordagem excessivamente dramática, ao distanciar o enredo da sua vocação de comédia romântica, um roteiro despreocupado em estabelecer linhas de diálogo inteligentes, personagens estereotipados, tratados com superficialidade, ritmo arrastado e... uma hora a mais de enrolação! Ao menos a sinopse do filme pode ser posta com objetividade. Vamos a ela:
Encontro Marcado conta a história de William Parrish (Anthony Hopkins), um magnata das comunicações ocupado demais em usufruir com gosto o poder e a influência que conquistou. Mas eis que Joe Black (Brad Pitt) aparece em sua porta para anunciar que o fim chegou. Trata-se da personificação da morte, vinda ao mundo na pele de um desafortunado, que morreu atropelado. O ceifador, agora com estampa de galã de cinema, traz uma proposta curiosa: deseja conhecer o mundo dos homens e aprender o que é a vida – seu exato oposto. Para isso, precisa de um cicerone e o multimilionário Parrish foi o escolhido. Terá alguns dias a mais de vida, até completar seus 65 anos de idade, desde que se disponha a guiá-lo pelo seu mundo – que não é propriamente o mundo dos cidadãos comuns. Mas, enfim, o Magnata não está em posição de recusar nada. Enquanto assiste ao ceifador se deliciar com o exercício da sensualidade, percebe que ele se apaixonou por sua filha, Susan (Claire Forlani), uma médica devotada. Agora, posando de Joe Black, a morte só pensa em voltar para a eternidade, levando junto sua amada.
A peça escrita por Alberto Casella já tinha formato cinematográfico. Em três atos, conta como a morte decide tirar merecidas férias e encarna o corpo do adoentado Príncipe Sirki de Vitalba Alexandri. Passa três dias acompanhando o Duque de Lambert em busca de experiências, mas acaba se apaixonando pela mulher que estava prestes a se casar com o filho do príncipe. Então, a morte decide encerrar as férias e acaba levando sua amada consigo. Depois de fazer sucesso na Itália, a peça conquistou os anglo-saxões, ganhando encenações nos Estados Unidos e na Inglaterra, até virar filme em Hollywood. O diretor Martin Brest percebeu a oportunidade de realizar um remake já nos anos 1980, mas só recebeu sinal verde para produzi-lo em 1996. E agarrou o controle criativo com unhas e dentes. O corte final de Encontro Marcado chegou aos cinemas conforme ele havia decidido, sem concessões aos interesses comerciais do estúdio.
O personagem Joe Black encenado por Brad Pitt carece de qualquer profundidade. Não está disposto a perder tempo com partidas de xadrez – prefere pasta de amendoim! Fala em voz baixa, mais interessado em seduzir o espectador do que interagir com os humanos que conhece. Justificável, já que tirando o milionário William Parrish, nenhum deles é retratado além das camadas mais epidérmicas – a culpa certamente foi do time de roteiristas, com a conivência do diretor. Assistindo ao filme recentemente, pela primeira vez, concluí que Brad Pitt merece ser absolvido. Fez na época o que precisava ser feito, já que estava sendo pago para exercer a função de galã. Hoje, talvez, não seria criticado se tivesse recusado o papel.
Outro pensamento que me ocorreu foi mais provocativo: e se o diretor tivesse escalado para desempenhar o papel de ceifador um ator mais multifacetado, como... Johnny Depp? Seria um filme melhor! Desde que Martin Brest fosse mais enxuto, assumindo o tom de comédia romântica e exigindo mais apuro literário por parte dos roteiristas.
Resenha crítica do filme Encontro Marcado
Título original: Meet Joe BlackAno de produção: 1998
Direção: Martin Brest
Roteiro: Bo Goldman, Kevin Wade, Ron Osborn e Jeff Reno
Elenco: Brad Pitt, Anthony Hopkins, Claire Forlani, Jake Weber, Marcia Gay Harden, Jeffrey Tambor, Lois Kelly, David S. Howard, Marylouise Burke, June Squibb e Stephen Adly Guirgis
Achei este filme um porre.
ResponderExcluirTinha tudo para ser ótimo, mais ainda sim é um bom filme.
ResponderExcluirSim, é um bom filme, tanto que continua conquistando público ao longo dos anos.
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