Tempos Modernos: até hoje, o ícone mais palpável da modernidade

Cena do filme Tempos Modernos
Tempos Modernos: filme de Charlie Chaplin

A PANTOMIMA QUE RESISTE AO CINEMA FALADO

Não há escapatória! Os profissionais da comunicação que criam para a internet, concebendo anúncios, postagens, vídeos e peças promocionais, precisam lançar mão de um recurso gráfico que se tornou obrigatório: o ícone. Esses signos, pequenas imagens que carregam extraordinário poder de síntese, valem por todas as palavras que não pronunciamos porque estamos sempre apressados. Decidiu qual produto comprar? Então clique no desenho do carrinho de supermercado. Quer mostrar seu apreço pela foto postada por um amigo? Então clique no desenho da mão gesticulando um positivo. Tudo muito intuitivo, rápido e fácil, como nos cabe nesses... tempos modernos!
        Por óbvio que os ícones não são invenções dessa geração que agora está no comando. Remontam ao surgimento da própria escrita e são utilizadas desde sempre para representar variados conceitos. Não sei se Charlie Chaplin os tinha em mente quando criou seu personagem Carlitos, mas a expressão gráfica que deu a ele é tão sintética e bem desenhada que muitos concordarão: virou ícone! O chapéu coco, o bigodinho, a casaca, a bengala... Tudo em alto contraste, num jogo de claro e escuro que segue os ditames da Gestalt. Tal estampa ganhou o mundo e ficou impressa na memória de gerações. A última vez que foi vista no cinema foi em Tempos Modernos, filme que Charlie Chaplin realizou em 1936 – há exatos 85 anos!
        Estamos falando de um filme mudo, realizado em branco e preto, que ainda hoje é capaz de nos fazer sentar na poltrona, arrancar boas risadas e nos emocionar. A modernidade a qual ele se refere ainda é palpável. A mensagem que ele sugere ainda nos faz pensar. É um filme onde Carlitos se vê imerso num mundo em transformação, que já não lhe oferece espaço. Mas o coitado não pode fazer nada. Ele existe e pretende continuar existindo. Segue lutando. Vamos examinar a sinopse:
        Em Tempos Modernos, Carlitos (Charlie Chaplin) é um trabalhador labutando em uma linha de montagem. Só faz apertar parafusos. Ele bem que tenta entrar em sintonia com as máquinas que o controlam, mas acaba sofrendo um colapso nervoso. Vai parar no hospital e quando sai, está sem o emprego. Depois de se meter por engano em uma manifestação de trabalhadores, acaba preso. Sofre poucas e boas, mas consegue sair da cadeia. É quando conhece Ellen Peterson (Paulette Goddard), uma garota solitária que leva uma vida de pobreza. Os dois se envolvem e tentam levar uma vida melhor, mas Carlitos, como sempre, é vítima das próprias trapalhadas e volta diversas vezes para a prisão. Como tantos outros trabalhadores que sofreram durante a grande depressão econômica da década de 1930, ele enfrentará problemas não muito diferentes daqueles que conhecemos nos dias de hoje: desemprego, greves, violência urbana, embates políticos, o imperativo das novidades tecnológicas, o consumo de drogas...
        Os filmes já eram falados há quase uma década quando Charlie Chaplin filmou Tempos Modernos. A linguagem do cinema como a conhecemos estava praticamente consolidada e o público já não via sentido em filmes mudos. O cineasta, no entanto, não pensava assim. Ele era uma lenda e apostava que o respeito e a admiração que havia conquistado serviriam de capital para que perpetuasse seu estilo de fazer cinema. Chaplin construiu sua arte baseado na linguagem gestual da pantomima, cujo alcance sempre foi universal. Ao invés de palavras, ele usava todo o corpo para narrar suas histórias. Se desse uma voz – e o idioma inglês – para seu personagem, temia perder público ao redor do mundo.
        Às voltas com o dilema imposto pela modernidade trazida com o cinema falado, Chaplin flertou com as linhas de diálogo. Ele preparou um roteiro com falas para todas as cenas de Tempos Modernos e chegou a realizar algumas gravações experimentais, mas mudou de ideia. Povoou o universo sonoro do seu filme apenas com música – composta por ele mesmo e arranjada por Alfred Newman – e efeitos sonoros. As poucas vozes ouvidas no filme são incidentais. Porém, em certa cena, podemos ouvir a voz de Carlitos: é quando ele dá uma de garçom cantor, improvisando uma canção com sotaque italiano. Foi a primeira vez que as plateias de todo o mundo puderam ouvir a voz do personagem.
        Tempos Modernos é um filme verdadeiramente autoral. Foi escrito, produzido, dirigido, musicado e estrelado por Charlie Chaplin, como uma peça de despedida para o personagem que encantou plateias em todo o mundo por mais de duas décadas. Porém o mundo que se despedia de Carlitos estava mudado. Era mais moderno, mais incerto, mais convulsionado. Esse mundo continuou em transformação e passados 85 anos, guarda poucas semelhanças estéticas com aquele registrado na obra de Chaplin. Mas o personagem do vagabundo de bom caráter e bom coração continua vivo, como um ícone que nos remete aos conceitos de criatividade e bom humor com toques de uma deliciosa liberdade anárquica.

Resenha crítica do filme Tempos Modernos

Sinopse: esta comédia muda e em preto-e-branco, realizada por Charlie Chaplin em 1936, conta a história de Carlitos (Charlie Chaplin), que trabalha em uma linha de montagem. De tanto apertar parafusos, tem um colapso nervoso e vai parar no hospital. Quando sai, está desempregado. Mete-se por engano numa manifestação de trabalhadores e acaba preso. Quando sai da cadeia se envolve com Ellen Peterson (Paulette Goddard), uma garota solitária e pobre. Nesse filme, Carlitos enfrenta problemas parecidos com os de hoje em dia: desemprego, greves, violência urbana, embates políticos, o imperativo das novidades tecnológicas, o consumo de drogas... Vale a pena conferir!

Ano de produção: 1936
Direção: Charlie Chaplin
Roteiro: Charlie Chaplin
Elenco: Charlie Chaplin, Paulette Goddard, Henry Bergman, Tiny Sandford, Chester Conklin, Al Ernest Garcia, Stanley Blystone, Richard Alexander, Cecil Reynolds, Mira McKinney, Murdock MacQuarrie, Wilfred Lucas, Edward LeSaint, Fred Malatesta, Sammy Stein, Hank Mann, Louis Natheaux e Gloria DeHaven

Comentários

  1. Sem retoques
    Comédia chapliana como dura crítica social
    Até na universidade é referência pra análise duma sociedade

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    1. Ah, Alexander, o que mais me encana nesse filme é como Chaplin consegue pintar um retrato da sociedade sem nunca deixar de ressaltar as cores do indivíduo.

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  2. Sem retoques
    Comédia chapliana como dura crítica social
    Até na universidade é referência pra análise duma sociedade

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