Feliz Ano Novo!


PRETENDO OLHAR PARA O CÉU NOTURNO E ENXERGAR MAIS DO QUE FOGOS DE ARTIFÍCIO

A luz elétrica revolucionou a vida em nosso planeta e alçou a humanidade a um patamar de conforto antes inimaginável, mas nos impôs um efeito colateral. Nossas cidades iluminadas ofuscaram o céu noturno e nos deixaram cegos para o esplendor da abóbada celeste. Aquilo que maravilhava nossos ancestrais cotidianamente, os intrigava e incitava a imaginação, apagou-se. Da minha varanda, numa noite sem nuvens e sem a luz do luar, tudo o que consigo enxergar olhando para cima são vários pontos luminosos, esparsos. Ainda assim suficientes para me pôr divagando sobre a imensidão do universo e as razões da existência.
        Quando era garoto, aprendi na escola que a Terra está localizada na Via Láctea, uma galáxia como tantas outras. Lembro de uma foto num livro de geografia onde uma seta indicava o local exato. Fiquei intrigado: como é possível saber isso com tanta precisão, apenas olhando para o céu? O próprio nome da galáxia era curioso. Se o sistema solar, com apenas nove planetas, já era gigante, como lidar com tantas estrelas e galáxias? Vez ou outra olhava para o céu noturno tentando desvendar o mistério.
        O choque de realidade veio por volta dos dezoito anos, quando fui acampar com amigos na Serra do Mar. O céu estava limpíssimo e a Lua minguante não atrapalhou quando anoiteceu. Mal pude acreditar no céu que se acendeu diante dos meus olhos! Jamais poderia imaginar a vastidão que era possível enxergar a olho nu. A primeira revelação foi a Via Láctea. Ela estava lá, clara e óbvia, como um rastro leitoso escorrendo pelo céu. A segunda revelação foi a natureza estática do céu. Todas as estrelas estavam fixas na abóboda e era ela quem se movia ao longo da noite. Dei-me conta do estado de ignorância em que me encontrava em relação aos assuntos astronômicos. Nossos ancestrais já sabiam muito, só de olhar para cima, mas de alguma forma esse conhecimento se perdeu para o homem comum, habitante das grandes cidades.
        Há centenas de milhares de anos, o ser humano enxerga sempre a mesma configuração no céu noturno. Previsível, a abóbada celeste é a personificação da confiabilidade. Enquanto aqui na Terra impera o caos e a imposição dos fenômenos imprevisíveis, lá no céu há paz, constância, serenidade... Se há um paraíso, ele só pode ficar lá em cima! Para o homem primitivo foi fácil identificar os ciclos, que se repetem com absoluta precisão, para criar os calendários e marcar os pontos de recomeço.
        Nós, cidadãos modernos, ficamos apenas com o caos e a aleatoriedade dos fenômenos imprevisíveis, que regem nosso espaço urbano hiperiluminado. Não temos o alento de olhar para cima e encontrar um pouco de paz, de racionalidade... Mas ficamos com o calendário! Seguimos computando o passar dos dias e meses, à espera de que um novo ciclo recomece e nos permita iniciar uma nova jornada. Assumir atitudes diferentes, para tentar obter resultados diferentes. Corrigir erros e estabelecer novas metas. Tudo isso porque temos certeza de que há uma regularidade no universo. De que os ciclos se repetirão, como vem acontecendo há centenas de milhares de anos.
        Esse é o sentido da esperança. Pôr-se à espera do que virá, com a certeza de que os movimentos do universo seguem caminhos de racionalidade. Manter a fé na regularidade e na confiabilidade que continuaremos enxergando no céu noturno. Acreditar que sempre será possível tentar um recomeço.
        Para encerrar essa minha divagação de ano novo, quero mencionar uma ideia que me ocorreu: a tradição de queimar fogos de artifício na noite de réveillon não seria uma forma de intervenção na tranquilidade do céu noturno? Somos capazes de ofuscar o universo e respingar a abóboda celeste com nossas próprias estrelas, muito mais ágeis e espetaculares, ainda que efêmeras. Nós, modernos cidadãos urbanos, quase nunca olhamos para o céu, e quando o fazemos, na noite de virada para um novo ano, é para contemplar as nossas próprias proezas científicas e tecnológicas. Ficamos com a impressão de que o calendário é uma mera planilha de números, elaborada pelos burocratas para marcar as datas de pagamento de impostos e tributos. Uma contagem regressiva para o dia das eleições. Um instrumento para nos lembrar de pagar as contas...
        O novo ciclo que começa é real e quem nos diz isso não é a folhinha na parede – ou o aplicativo de agenda no celular. Quem nos lembra disso é o universo! É para ele que pretendo olhar hoje à noite, na varanda do meu apartamento. Ainda que não consiga enxergá-lo, saberei que ele segue seu caminho regular e preciso.
        Aproveito para desejar a você um feliz 2022, próspero e esperançoso. Com saúde e paz de espírito para encarar os desafios que virão – e sabemos que eles serão muitos e difíceis. E como já é tradição, desejo muito dinheiro no bolso, suficiente para que tenha o conforto e a tranquilidade que merece – depois de descontados os malditos impostos, infelizmente!

Comentários

  1. Feliz Ano Novo! Muita Paz e Saúde. Obrigada pela belíssima reflexão. Olhemos mais para cima! Tudo perfeito e gratuito para nós.

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    1. Obrigado!!!! Desejo um Feliz Ano Novo para você e toda a sua família. Abraços!

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    2. Bela mensagem. Feliz ano novo pra você também .

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    3. Valeu, Jorge!!! Feliz Ano Novo como muita saúde e garra!!! Abração!

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    4. Bela reflexão Fábio. Um feliz ano Novo pra você e pra toda família. Que seja muito estrelado e com muita luz.

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    5. Obrigadíssimo, Clovis. Um abração e um 2022 cheio de saúde e prosperidade, pra você e a sua família. Valeu!!!!

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  2. Belo texto, Fabio. Ótimo 2022. Com aquela dinheirama toda. E Saúde... perfeita.... sempre!!!! Abraço!

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    1. Grande, Nelson!!!! Um forte abraço! Um próspero 2022, para você e toda a sua família!

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