Uma crônica de Natal


UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA

Os círculos nas plantações, as luzes piscando no céu noturno, as abduções... Era tudo verdade! Os alienígenas do espaço chegaram numa embarcação tetradimensional. Com graciosos movimentos metafísicos ela pousou no heliporto de um prédio vizinho ao meu. Incrédulo, fui recepcioná-los.
        Com a ajuda de um desses googletranslators conseguimos iniciar uma conversa. Objetivos e racionais – como era de se esperar de alienígenas autênticos – foram direto ao ponto: perguntaram o significado do evento que mobilizava o planeta inteiro naquele dia 25 de dezembro.
        – Ih, rapaz! Perguntaram para o sujeito errado. Não sou muito ligado a assuntos religiosos... Acho que um padre explicaria melhor.
        Como os visitantes permaneceram impassíveis, com os imensos olhos atentos, não tive alternativa senão apresentar uma resposta. Ela foi saindo de improviso, entre frases gaguejadas:
        – Vejam... Como eu disse, é um evento religioso, em comemoração ao aniversário de Jesus Cristo, um cara que nasceu há exatos 2.022 anos. Para vocês terem uma ideia de como ele foi importante, saibam que a humanidade divide sua história em dois períodos: AC e DC. Para os cristãos, ele foi o filho de Deus. Vocês sabem, não é? Deus! O criador do universo, o Logos, a entidade inteligente que fundamenta a razão...
        Os homenzinhos do espaço se entreolharam. Como não esboçaram reação, continuei:
        – Bem, o que importa é que Jesus Cristo era o próprio Deus, que nasceu homem. Veio ao mundo numa noite fria, no seio de uma família muito pobre. Seus pais estavam de passagem por Belém, lá no Oriente Médio. Como não tinham onde dormir, ficaram numa estrebaria. O bebê nasceu e foi colocado numa manjedoura, uma espécie de bacia usada para alimentar os animais. Vejam só! Uma divindade, nascendo em total estado de penúria!
        De novo, os visitantes não se mostraram impressionados. Tentei outra abordagem:
        – Pois é... Foi inventada toda uma simbologia para consolidar essa história incrível: a estrela de Belém, os três reis magos, os animais no presépio... Tornou-se a história mais contada e recontada em todas as redondezas desse nosso planeta. Virou tema fundamental na nossa história da arte: pinturas, poemas, músicas, criações arquitetônicas... Se vocês tiverem um tempinho, não deixem de conhecer algumas das nossas catedrais. E ouçam também algumas das missas compostas por Mozart! São de arrepiar os cabelinhos dos braços!
        Um dos homenzinhos verdes correu os dedos por uma espécie de celular, em busca de informações. Aproveitei para enfatizar o clima festivo do Natal:
        – A cultura popular incorporou novos símbolos, que aos poucos foram extrapolando o caráter religioso das comemorações. Papai Noel, neve, árvore de Natal, troca de presentes... É claro que os interesses comercias, que movimentam a economia, acabaram contaminando a festa com um certo... espírito consumista. Mas quando chega a noite do dia 24 de dezembro, a tão esperada véspera de Natal, todos querem estar em família, confraternizando. Vocês sabem... Festejando a união com os parentes e amigos... Apertando os laços que nos trazem a noção de pertencimento... Buscando o bem comum...
        Nesse ponto, os alienígenas devem ter percebido meu tom emocionado. Um deles chegou a mudar de expressão, num tipo de espasmo que interpretei como um sorriso. Animado, continuei:
        – A mensagem de Cristo é substantiva. Fala em amor como expressão de doação e sacrifício, fala de tolerância, de esperança... Pensem... Se o próprio Deus se fez homem para trazer uma mensagem de redenção e salvação pela prática do que é justo e correto, então há uma razão para seguir na retidão! Não é só uma questão de fé... Até mesmo uma criança, agarrada ao presente que acabou de desembrulhar, entende que deve fazer por merecer. Percebe que há um caminho do bem a ser seguido. Não são todos os humanos que acreditam em Jesus Cristo, já que há diferentes religiões. Além disso, há os que não acreditam na existência de Deus.
        Os visitantes do espaço tornaram a se entreolhar. Achei mais oportuno concluir a minha divagação:
        – No Natal, todos arranjam desculpas para festejar, trocar presentes, confraternizar... Deixamos escapar um Feliz Natal aqui e ali, entre os amigos, colegas, vizinhos... Sem esse evento, nosso planeta seria árido! Mesmo um sujeito alheio aos temas religiosos, como eu, tem que reconhecer: o Natal traz uma sensação de unidade. Consigo visualizar as famílias reunidas, em diferentes arranjos e composições, independentemente de laços sanguíneos, fortalecendo seus valores em torno dessa expressão universal. E aproveito agora para estender essa mensagem a todos vocês, que vieram de tão longe nos visitar: Feliz Natal, caros alienígenas do espaço!
        Não sei dizer se eles ficaram satisfeitos com minha resposta. Entraram na sua embarcação tetradimensional, levantaram voo com movimentos lentos e metafísicos e sumiram em alta velocidade. Como seres objetivos e racionais – é o que se espera de alienígenas autênticos – devem ter partido à cata de outros entrevistados, buscando conhecer diferentes versões dessa história. Eventualmente você pode ser abordado por eles, portanto, é melhor ir pensando na resposta que vai dar.
        Ah! E aproveito para deixar aqui os meus votos de um Feliz Natal para você e toda a sua família!

Comentários

  1. Adorei a mensagem! Um Feliz e abençoado Natal para todos!

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  2. Obrigada. Feliz Natal pra vc!

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  3. Sua crônica é instigante, paro um pouco penso reflito e tem muito a considerar questionar dúvidas incertezas, assunto que necessita pesquisa esse seu encontro casual mais NATAL . PESQUISA E CRENÇA
    ONTERMINA ASSUNTO.
    FEKUZ NATAL MEU ABRAÇO A TODOS DESTA FAMÍLIA

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  4. Gostei muito dessa sua crōnica👍👍👍👍e um Natal abençoado prä todos nós!!!!

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    1. Muito obrigado! Desejo um Feliz Natal em família!

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