King Richard: Criando Campeãs: um mestre da autopromoção

Cena do filme King Richard: Criando Campeãs
King Richard: Criando Campeãs: filme de Reinaldo Marcus Green

UMA RAQUETADA NOS MEDÍOCRES!

Dia desses acordei revoltado com a pandemia de infantilidade que tomou conta do cinema mainstream e descarreguei minha ira numa crônica sobre a tolice dos filmes de super-heróis. Então, só para me fazer morder a língua, vem o cinema mainstream e aparece com King Richard: Criando Campeãs, filme de 2021 dirigido por Reinaldo Marcus Green. Finalmente, depois de anos, Hollywood decide investir em uma temática mais elevada, contando uma história real para enaltecer os valores familiares e mostrar que o esforço individual é o impulsionador das grandes conquistas. Esse drama biográfico nos apresenta um personagem desconhecido do público brasileiro: Richard Williams, pai e treinador das tenistas Venus e Serena Williams, duas das maiores atletas das últimas décadas. Mesmo quem não acompanha o tênis, conhece o impacto que as duas irmãs oriundas da plebe provocaram nas quadras desse esporte requintado e elitista. Mas, provavelmente, só os iniciados fazem ideia da figura rara e lendária que se tornou o tal King Richard.
        Estamos falando de um ótimo filme, com atributos de sobra para continuar relevante por anos – até mesmo depois que for morar lá na sessão da tarde. O ponto alto do filme King Richard: Criando Campeãs é seu roteiro, escrito para ressaltar todos os ganchos emocionais que conseguir, mas sem jamais cair no sentimentalismo barato. Logo nas primeiras cenas já percebemos para onde a história nos conduzirá, afinal, sabemos que o sucesso é a sina dos personagens. Mas seguimos curiosos para descobrir quanto pão amassado pelos demônios da inveja, do desestímulo, da incompreensão e da intolerância racial eles tiveram que comer. Então vem a surpresa: somos colocados diante de pessoas reais, repletas de conteúdo e densos de emoções verdadeiras. Mas antes de entrar nesses detalhes, vamos à sinopse do filme:
        King Richard: Criando Campeãs conta como no início dos anos 1990 o casal Richard (Will Smith) e Oracene (Aunjanue Ellis), vivendo com simplicidade em Compton, Califórnia, criam suas cinco filhas ao redor de um plano mirabolante: transformar as pequenas Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) nas duas maiores estrelas mundiais do tênis. A peregrinação pelos clubes, importunando empresários para tentar angariar patrocínio, é uma parte importante da rotina diária. A outra é dedicada aos treinamentos intensos, conduzidos pelo casal com rigor profissional. Então, vamos descobrindo que Richard e Oracene são mais do que ex-atletas rígidos e determinados. São pais amorosos e dedicados, empenhados em garantir para suas meninas uma formação sólida em educação, ensino, espiritualidade, valores morais... A certeza inabalável de que jamais poderão desistir – e o talento gritante das duas tenistas – os leva para o mundo profissional do esporte. Quem abre as primeiras portas é o técnico Paul Cohen (Tony Goldwyn), depois é o treinador Rick Macci (Jon Bernthal) quem se engaja de corpo e alma nos planos do patriarca da família Willians. Mas os caminhos para o sucesso serão tortuosos. Muitas decisões difíceis – e polêmicas – precisarão ser tomadas. Antes de Venus e Serena assumirem seu lugar no ranking da fama e da fortuna, seus pais preferem que elas estudem e vivam suas infâncias. Está tudo lá, no plano de 78 páginas escrito por King Richard, o sujeito que virou um ícone da autopromoção e conquistou uma montanha de espaço na mídia esportiva.
        Além de Venus e Serena Willians, que assumiram a produção executiva do filme, quem fez da tarefa de materializar King Richard: Criando Campeãs um imperativo foi o astro Will Smith. Apaixonado pela história da família Willians, ele assumiu a liderança e escolheu a dedo o diretor Reinaldo Marcus Green, em quem enxergou a experiência pessoal e a conexão emocional necessárias para ditar o caminho das dramatizações. O diretor correspondeu, exercendo uma direção segura e competente. Conseguiu extrair de Will Smith uma ótima atuação, mas foi no excelente roteiro original escrito por Zach Baylin que ele encontrou a base sólida para conduzir o filme.
        Em King Richard: Criando Campeãs, o roteirista Zach Baylin conseguiu um feito e tanto: encontrou o recorte perfeito para compor essa cinebiografia. Ele primeiro leu tudo o que havia disponível sobre o tema, ou seja, uma montanha de livros. Serena escreveu, Richard escreveu, os treinadores escreveram, os jornalistas especializados escreveram, a mídia esportiva produziu um sem números de artigos... Isso sem falar nas horas e horas de vídeo produzidos pelo patriarca da família. Mas foi do convívio com Richard Willians e sua esposa, Oracene, que Baylin extraiu as minúcias e descobriu as nuances que enriqueceriam sua história. O retrato que desenhou de cada personagem – em especial o de Oracene, que se agigantou durante o processo – veio mais nítido do que aqueles impressos no imaginário do público. Mas o roteirista deu um passo além: soube trabalhar as linhas de diálogo no calor dos sets de filmagem, aproveitando as contribuições dos atores e do diretor para aperfeiçoar o roteiro.
        King Richard: Criando Campeãs é um filme imperdível, não só pela temática empolgante, mas pela competência com que foi realizado. Alguns dirão que se trata de mais uma produção americana que se ufana de suas americanices, ou enxergarão seu acertado viés conservador como um vapor, que só vem para embaçar as críticas sociais e o calor dos conflitos raciais. Mas até esses, no final do filme, terão que admitir: uma família estruturada, determinada a jamais desistir dos seus sonhos, consegue fazer muita diferença nesse mundo governado pela mediocridade.

Resenha crítica do filme King Richard: Criando Campeãs

Ano de produção: 2021
Direção: Reinaldo Marcus Green
Roteiro: Zach Baylin
Elenco: Will Smith, Aunjanue Ellis, Saniyya Sidney, Demi Singleton, Jon Bernthal, Tony Goldwyn, Mikayla LaShae Bartholomew, Danielle Lawson, Layla Crawford, Erika Ringor, Dylan McDermott, Andy Bean, Kevin Dunn, Craig Tate, Josiah Cross, Calvin Clausell Jr., Vaughn W. Hebron, Christopher Wallinger, Chase Del Rey, Judith Chapman, Jessica Wacnik, Katrina Begin, Kaitlyn Christian, Marcela Zacarías, Rich Sommer, Erin Cummings

Comentários

  1. Amei esse filme e sua crónica está perfeitamente consistente e coerente.👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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