O Oscar 2022 e a cura da alopecia



QUANTO VALE UM TAPA?

A polêmica em torno do tapa de Will Smith na cara de Chris Rock durante a cerimônia do Óscar 2022 continua. Depois de incontáveis memes, alguns engraçados e outros desnecessários, foi a vez dos teóricos da conspiração assumirem a palavra, agora para esquadrinhar a provável armação que gerou um dos maiores espasmos de mídia espontânea dos últimos tempos. Não houve canto do planeta onde os nomes dos dois atores – e também o da senhora Jada Pinkett Smith – não tenham sido pronunciados.
        Mas não foi só isso! Um nome antes desconhecido, tornou-se mundialmente famoso da noite para o dia: alopecia aerata! Agora, todos os viventes desse mundo sabem como chamar a doença autoimune associada a fatores genéticos, que afeta os folículos capilares e causa falhas no couro cabeludo, na barba, nos cílios e sobrancelhas. E podemos ir mais longe! Os viventes que pesquisaram sobre a doença nos seus celulares agora sabem que há um remédio chamado baricitinibe, fabricado pelo laboratório Elli Lilly e já usado contra a artrite, mas que está se mostrando eficiente contra a alopecia em vários estudos. Pronto! Não é um prato cheio para alimentar incontáveis teorias da conspiração?
        Aqui na Crônica de Cinema já havia mencionado a conveniência de ter câmeras, microfones, iluminação e uma infinidade de aparatos tecnológicos à disposição para flagrar o ato destrambelhado de Will Smith contra o inoportuno Chris Rock. O roteiro estava posto: dois antagonistas que sabem se portar diante das câmeras, lutando por uma pobre mocinha indefesa que precisava ser salva. Agora entrou em cena um possível patrocinador, com claros interesses comerciais e capital suficiente para bancar os custos de veiculação do comercial. Aliás, com tamanha repercussão na mídia, fica até difícil de calcular quanto valeu aquele tapa em moeda sonante!
        Alguns conspiradores chegaram a envolver o nome da Pfiser nessa brincadeira, para provar que tudo não passou de armação. Outros insistiram em ficar no confronto ético entre o brutamontes e o desbocado. O bate-boca corre solto e não tem hora para terminar. O fato é que a durabilidade de uma armação promocional como essa é altíssima. Na próxima vez que Will Smith der um sopapo em algum vilão, no próximo arrasa-quarteirão que estrelar, o público certamente se lembrará da sonora bolacha aplicada na audiência do Óscar 2022. Para nós, cinéfilos atentos, esse episódio é um ótimo lembrete: o cinema que nos chega pela via da indústria traz embutido um mundo de significados que extrapolam as sinopses dos filmes. E para nos contar suas histórias, os realizadores lançam mão de todas as técnicas narrativas que encontram: filmes, séries, reality shows, videogames, programas de auditório... Vale tudo para nos fazer cabeça!

Comentários

  1. Muito boa a sua crônica Fábio. Acho bastante verossímil a estratégia de marketing da indústria farmacêutica, seja ela qual for. Aliás uma jogada de especialistas.

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    1. Obrigado. Cinema e teorias da conspiração sempre se entenderam bem!!!!

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