A Guerra do Amanhã: ação, drama familiar e uma premissa descabida

Cena do filme A Guerra do Amanhã
A Guerra do Amanhã: dirigido por Chris McKay

HAVERÁ FUTURO PARA NOSSOS FILHOS E NETOS?

Nesses dias conturbados, temos uma guerra entre russos e ucranianos sendo transmitida ao vivo por todas as plataformas. E uma das incômodas, que produzem cenas tristes, lamentáveis e absurdas de tanta destruição. Quando o conflito eclodiu, o que primeiro chamou a atenção da opinião pública foi a idade dos soldados no campo de batalha. Jovens de 18 ou 19 anos, metidos em uniformes e armados de fuzis, que não conseguem disfarçar a expressão assustada. Entretanto, não há novidade na convocação da juventude para encarar os horrores da guerra. A humanidade faz isso desde sempre. Deixa os donos do poder – eles mesmos os causadores das guerras – na retaguarda, para dar ordens e costurar as narrativas que julgarem apropriadas, enquanto os garotos morrem no front. Essa lógica cruel que rege as guerras de verdade aparece invertida no filme A Guerra do Amanhã, dirigido em 2021 por Chris McKay. Nessa ficção científica, quem vai encarar o inimigo cruel e mortalmente feroz são os mais velhos, pais de família, convocados compulsoriamente para lutar uma guerra praticamente perdida, na esperança de conquistar algum futuro para os próprios filhos e netos.
        O que temos aqui é um filme de ação, recheado de cenas de batalha e costurado ao redor de uma premissa descabida, mas que sempre consegue fisgar os apreciadores do gênero: a viagem no tempo. Essa produção endinheirada foi concebida para ser um arrasa-quarteirão, daqueles lançados no verão do hemisfério norte, mas por causa da pandemia do Covid19 acabou sendo adquirida por um serviço de streaming. Com muitos truques digitais e os temperos certos para agradar ao público adolescente, que precisa achar tudo engraçado, A Guerra do Amanhã também tenta proporcionar entretenimento para os mais velhos, tocando num tema caro: a família. Vamos ver uma rápida sinopse:
        O filme conta a história de Dan Forester (Chris Pratt) um professor de biologia com passado militar – fuzileiro com duas temporadas no Iraque – que vive com a mulher, Emmy (Betty Gilpin) e a filha de nove anos, Muri (Ryan Kiera). Também mantém um relacionamento conturbado com o pai, James (J. K. Simmons) um veterano da guerra do Vietnã que está longe de ser um modelo de paternidade. Imerso na rotina agitada de 2022, Dan assiste à Copa do Mundo de Futebol no Catar pela TV, quando o impensável acontece: soldados do futuro atravessam um portal do tempo que se abre em pleno estádio e trazem uma péssima notícia para a humanidade: alienígenas invadiram a terra em 2050 e estão exterminando os seres humanos. A última esperança de derrotá-los é recrutar gente do passado para engrossar as fileiras. Todos os homens e mulheres de 2022 em condições de lutar são convocados e precisam ser transportados para o futuro em pelotões. Poucos conseguem voltar, e os que o fazem trazem relatos estarrecedores: os alienígenas são monstruosos, rápidos, inteligentes e estão vencendo a guerra. É claro que Dan Forester será enviado para o front, dessa vez, para tentar dar algum futuro para sua própria família, lutando contra inimigos desumanos, que não se movem por ideologia, interesses econômicos ou desejo de poder.
        A Guerra do Amanhã traz para o primeiro plano um tema importante: qual futuro nossa geração pretende deixar para nossos filhos e netos e quanto sacrifício estamos dispostos a fazer para garantir a eles uma vida segura e sustentável? O roteirista Zach Dean – que também assinou o roteiro de A Fuga – procurou desenvolver o tema ao redor de uma história sobre a família. Aqui, o protagonista se ressente do abandono por parte do seu pai, mas quando chega no futuro, se depara com deslizes que comprometem sua postura de bom pai. Agora ele precisa se redimir com a filha, enquanto tenta ajudá-la a salvar a raça humana. É claro que esse raspão numa temática adulta não é suficiente para fazer desse filme de ação uma produção de destaque para os cinéfilos mais exigentes. Há muito humor e aventura, suficientes para prender a atenção do público mais jovem.
        O diretor Chris McKay é experiente no mundo da animação e trouxe para A Guerra do Amanhã um método de trabalho fluente e proveitoso. As imagens em computação gráfica são espetaculares e a ação se dá num ritmo frenético, mas em ondas narrativas bem estruturadas. Há momentos para o espectador respirar e para que os personagens principais vivam seus arcos de transformação. Não há excesso de personagens e como a questão da família é posta em primeiro lugar, a história funciona bem. Em vários aspectos, e
ssa produção lembra o filme No Limite do Amanhã, mas consegue mostrar personalidade, especialmente em relação à concepção gráfica dos alienígenas, cuja natureza biológica é mais elaborada.
        O público já se acostumou a ver o ator Chris Pratt fazendo o protagonista em filmes de ação. Aqui ele também se vale de um certo timing humorístico, o que serve para aliviar as tensões. Mas o diretor Chris McKay tentou extrair dele alguma profundidade psicológica, no que foi ajudado por um texto construído com habilidade. A Guerra do Amanhã não passa de um filminho de ação com final previsível, daqueles lançados no verão do hemisfério norte, para fisgar o público adolescente. Mas o cinéfilo que aprecia o gênero ficção científica – e que se dispuser a dar o play no serviço de streaming – será transportado para momentos de bom entretenimento.

Resenha crítica do filme A Guerra do Amanhã

Ano de produção: 2021
Direção: Chris McKay
Roteiro: Zach Dean
Elenco: Chris Pratt, Yvonne Strahovski, Ryan Kiera Armstrong, J. K. Simmons, Betty Gilpin, Sam Richardson, Edwin Hodge, Jasmine Mathews, Keith Powers, Theo Von, Mary Lynn Rajskub, Seychelle Gabriel, Mike Mitchell e Seth Scenal

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