Avatar: ficção científica com significados espirituais

Cena do filme AvatarAvatar: filme dirigido por James Cameron

VAMOS ACABAR FLUENTES NO IDIOMA NA’VI

Quando foi lançado em 2009, o filme Avatar, dirigido por James Cameron, extasiou os amantes da ficção científica. A promessa de imagens espetaculares, geradas por meio de tecnologias de ponta na computação gráfica, foi atrativo mais do que suficiente para me arrastar até um cinema IMAX, onde assisti ao filme em 3D. Precisei comprar os ingressos com antecedência – dois, porque fiz questão de levar Ludy comigo. Minha mulher não é exatamente uma entusiasta do gênero, mas entrou no cinema certa de que aproveitaria bons momentos de entretenimento. Saiu satisfeita, mas sem demonstrar um décimo da empolgação que se apoderou de mim. Na volta para casa, já fazia planos para revisitar o filme tantas vezes quanto fossem necessárias, até investigar todos os seus detalhes.
        Para os cinéfilos mais concentrados na arte cinematográfica, Avatar é cinema comercial por excelência, rotulado imediatamente como peça de entretenimento. E James Cameron nem é considerado propriamente um cineasta. Está mais para um megaempreendedor, homem de negócios, supergerente... Acontece que o visionário diretor de arrasa-quarteirões como Titanic e O Exterminador do Futuro é um realizador autoral: escreveu os roteiros de todos os filmes que dirigiu e sua competência só não é maior do que sua ambição. Coloca sua máquina endinheirada para transformar seus devaneios em realidade, para deleite dos amantes da ficção científica.
        Escrever sobre Avatar – principalmente às vésperas do lançamento da sua tão aguardada sequência – pode se tornar um exercício de redundância, caso me atenha às proezas tecnológicas ou ao universo ficcional criado por James Cameron. Então, pretendo abordá-lo por outro ângulo. O filme é feito a partir de uma deliciosa mistura de gêneros, que junta western, aventura na selva, conquista do espaço, romance, guerra e drama épico. Há uma infinidade de provocações científicas, todas elas apresentadas com assombrosa verossimilhança. E convence principalmente por causa do seu roteiro, consistente em explorar a verdade emocional dos seus personagens. Mas antes de continuar, é preciso examinar sua sinopse!
        Avatar conta a história de Jake Sully (Sam Worthington) um fuzileiro espacial que chega ao planeta Pandora, lua do planeta Polifeno localizado em Alpha Centauri. O ano é o longínquo 2154 e sua missão é substituir o irmão gêmeo, que morreu enquanto trabalhava no programa Avatar. Apesar de estar paraplégico, Jake tem as mesmas características genéticas que lhe permitirão operar o corpo híbrido criado à semelhança dos Na'vi, humanoides nativos de Pandora. Ele integra a equipe liderada pela Dra. Grace Augustine (Sigourney Weaver), com o objetivo de se misturar ao primitivo povo Na'vi, para desenvolver estudos, digamos... antropológicos. Ocorre que a presença humana em Pandora não se dá apenas por interesses científicos. Uma companhia mineradora administrada localmente por Parker Selfridge (Giovanni Ribisi) e apoiada por uma poderosa força militar, trabalha na exploração de um minério chamado Unobtainium, cujas propriedades supercondutoras o tornam valiosíssimo. Quando Jake acidentalmente se perde na floresta e é salvo da morte certa por Neytiri (Zoë Saldaña), uma princesa Na'vi, ele tem a chance inédita de se enfronhar da cultura da tribo. E na medida em que se envolve emocionalmente com o povo local, que leva uma vida simples e integrada à natureza, o fuzileiro passa a contrariar os interesses corporativos que financiam sua presença em Pandora. E uma tamanha traição, o Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), que está no comando do exército de ocupação, não deixará barato! Os humanos não terão escrúpulos em usar a superioridade tecnológica para dizimar os nativos e pôr as mãos no precioso minério. Jake ficará no meio dessa disputa e já sabe por qual lado decidirá lutar.
        Apenas o conceito presente na palavra avatar – encarnação de uma divindade na forma humana, segundo a religião hinduísta – já renderia uns bons parágrafos explorando o alcance espiritual do filme de James Cameron. Seu protagonista tem a oportunidade de experimentar a vida em um outro corpo, ao mesmo tempo em que descobre as conexões dos Na’vi com sua divindade planetária, que opera como uma verdadeira rede neural. Mas o que pretendo ressaltar aqui é o elemento que despertou minha atenção na segunda vez que assisti ao filme: o idioma Na´vi, presente em grande parte das suas linhas de diálogo.
        Fiquei impressionado com a consistência das palavras e com o modo fluente como são pronunciadas pelos atores. Simular uma fala complexa não é tarefa simples, que se faça rapidamente no improviso dos sets de filmagem. É trabalho para especialistas! Quando parti para pesquisar sobre o filme, descobri que o diretor foi meticuloso também nesse ponto. Contratou o linguista Paul Froemer, chefe do departamento de linguística da Universidade do Sul da Califórnia, que passou anos desenvolvendo o idioma Na´vi. Além do vocabulário com cerca de 1.200 palavras, ele desenvolveu uma linguagem completa, com fonética, morfologia e sintaxe totalmente consistentes – e por exigência de James Cameron, ainda por cima precisava ser agradável ao público e soar bem no cinema. Paul Frommer pessoalmente ensinou os atores a falar o idioma e permaneceu a postos nos sets de filmagem, para dar suporte nas eventuais improvisações. Tal façanha já havia sido realizada por outro linguista, o Dr. Marc Okrand, que criou o idioma klingon para os filmes da série Star Trek, mas isso é tema para outra crônica!
        James Cameron escreveu seu primeiro tratamento para o roteiro de Avatar em 1995, mas só conseguiu iniciar a produção em 2006, quando teve acesso aos recursos tecnológicos necessários para realizá-lo. O universo ficcional que criou, rendeu material suficiente para quatro filmes, que já estão todos roteirizados. O Avatar 2 deverá estar nos cinemas até o final deste ano, mas as cenas de Avatar 3 e parte de Avatar 4 já estão captadas. É... Os amantes da ficção científica ainda terão muitas oportunidades de praticar o idioma Na’vi!

Resenha crítica do filme Avatar

Ano de produção: 2009
Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Zoë Saldaña, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodriguez, Giovanni Ribisi e Joel David Moore

Leia também as crônicas sobre outros filmes dirigidos por James Cameron:

O Exterminador do Futuro
Titanic

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